𓄹 𓈒 cap. 012
ATENÇÃO: CONTEÚDO SENSÍVEL!
( memórias de abuso )
Confesso que fiquei um pouco mal com o que a Hye-jin disse, não nego. Mas tô procurando esfriar a cabeça, a noite de hoje e os últimos dias não está sendo fácil para ninguém. Estamos no porão do Sr. Choi, bebendo. No caso, eles, eu não bebo. Depois de tudo o que passei com meu pai na infância, a última coisa que eu quero tomar é álcool.
Há um tempinho a Hye-jin subiu e não desceu. Eu percebi suas bochechas rosadas e ela também estava cambaleando um pouco. Acho que estava bêbada.
━━ Ae, Geon-Woo... ━━ Woo-Jin vem em minha direção, segurando um copo com wisk. Ele também está bem bêbado. ━━ Olha o que eu sei fazer.
Ele simplesmente consegue jogar o líquido para fora do copo e o pegar completamente com a boca. Aplaudo, e ele cai com tudo no sofá, rindo.
━━ Geon-Woo, vamos levar ele lá pra cima. O Woo-Jin já tá bêbado pra cacete.
Assinto para Hyeon-Ju e pego meu amigo, colocando-o em minhas cosas e subindo o elevador do porão. Chegando em seu quarto, eu o jogo na cama.
━━ Ele não disse que sabia beber?
━━ O Woo-Jin deve ter se empolgado. Você ainda vai descer?
━━ Não. Eu já vou dormir, e você?
━━ Vou falar com a minha mãe e ver uma coisa.
Hyeon-Ju faz um toque de mão comigo e sai. Vou em direção ao quarto da minha mãe e observo pela fresta da porta se ela está dormindo. Mamãe acaba despertando, mas digo que ela pode voltar a dormir.
Ando um pouco mais no corredor e ouço choro. Choro feminino. Hye-jin.
Ando algumas portas, indo atrás daquela melancolia.
━━ Filha, a mamãe te ama tanto, meu amor... ━━ ela está chorando e bebendo uma garrafa de wisk enquanto fala com a Jin-Ah.
━━ Mamãe, a senhora não bebe sempre, mas quando bebe, não brinca no ponto.
━━ Você tá tão espertinha... tinha mesmo que ser minha filhinha linda...
Ela da outro gole na bebida e eu entro rapidamente no cômodo, retirando a garrafa e o celular de suas mãos.
━━ Oi, Jin-Ah, tudo bem? Aqui é o tio Geon-Woo. Sua mamãe não tá... AI! ━━ Hye-jin deu uma mordida na minha panturrilha. Tento não demonstrar a dor e forço um sorriso.
━━ Solta a minha filha, Mieong-Gil!
O quê? Ela tá tão bêbada que tá me trocando com o Mieong-Gil??
━━ Um beijo, Jin-Ah. Vou cuidar da sua mamãe.
━━ Tá bom, tio, cuida dela. E assim que ela acordar, liga pra mim, para eu dar um puxão de orelha nela.
Desligo e a Hye-jin está tentando ficar de pé, apoiando-se na cama. Ela esquiva-se para pegar a garrafa de wisk da minha mão mas eu não deixo.
━━ Hye-jin, por favor, você tá bêbada. Vem, vou te colocar na cama.
Ela me olha com aqueles olhos lindos brilhantes e aquelas bochechas rosadas e faz uma cara de choro. De repente, observo seu corpo se contrair. Ela vai vomitar.
Rapidamente ponho minha mão em sua boca, para evitar que ela vomite no chão ou na própria roupa e a levo para o banheiro. Dito e feito. Mal chegou ao vaso e jogou tudo para fora. Lavo minhas mãos, pois estavam sujas e seguro seu cabelo.
Ela fica lá por um bom tempo, até se sentir bem o suficiente para dar descarga e se certificar de que não iria mais vomitar.
━━ Você tá bem? ━━ pergunto, após pegar um pano humido e passar em sua boca.
━━ Desculpa... ter vomitado na sua mão. Eu sujei sua roupa?
Nego, sorrindo.
━━ O importante é você estar melhor. Bebeu de barriga vazia?
━━ Eu comi algumas frutas mas antes eu já tinha enchido a cara. Deve ter sido isso. ━━ ela tosse e apoia a cabeça no vaso. ━━ Por favor, você me perdoa?
━━ Hã?
━━ Pelo o que eu te falei mais cedo, oras. Fui tão grossa. Você não merecia aquilo.
Ela começar a chorar bem alto, como uma criança, talvez ainda esteja um pouquinho, bem levemente alcoolizada.
━━ Ei, ei, já tá tudo bem, tá bom? Agora vem, levanta daí.
Eu a ajudo a levantar. Antes de sairmos do banheiro, ela lava o rosto e escova os dentes. Já no quarto, retira a blusa de manga longa que estava usando e fica apenas com uma blusa fina, sem manga. Logo de cara percebo que seu antebraço está com sangue. Chego mais perto.
━━ O que aconteceu com seu braço?
━━ Deve ter sido com o Jang-do.
━━ Posso cuidar? Daquela vez você cuidou de mim, posso fazer isso por você agora? ━━ ela permite.
━━ Passa naquele quartinho e me segue.
Não entendo, mas faço o que ela pede. Passo no quartinho e pego uma pomada e um curativo.
━━ Aonde vamos? Você tá realmente bem?
━━ Sim. Vem comigo. ━━ ela retira o cabelo do rosto e põe a mão na boca, engolindo seco.
Hye-jin ainda cambaleia um pouco, mas bem menos que antes. Ela me leva a outro pequeno cômodo e nele há uma escada. Ela sobe primeiro e vou logo em seguida, segurando-a em alguns tropeços pelo caminho.
━━ Chegamos.
Assim que chego ao topo, percebo que estamos no telhado da casa do Sr. Choi. Meu corpo todo treme.
━━ Aí, Hye-jin... t...tem certeza que vamos ficar seguros aqui em cima?
━━ Tá com medo, ex-fuzilieiro?
━━ Claro que não, oras. Mas é que você bebeu e... tô percebendo que tá um pouco tonta e... e... enfim.
━━ Acho mesmo que eu ainda tô um pouquinho bêbada. Mas só um pouquinho. ━━ ela faz o sinal de "pouquinho" com o dedão e o indicador.
━━ O...ok, cadê seu braço? Deixa eu ver.
Ela ergue o braço e percebo que o machucado não passava de alguns arranhões.
━━ Toma mais cuidado da próxima vez. ━━ digo enquanto passo a pomada. ━━ Não gosto de te ver machucada, pelo menor ferimento que for.
Ela não responde, apenas fica me olhando.
━━ O que foi? Eu sou tão bonito assim pra ficar me admirando?
━━ O pior que é. Você é bem bonito, Geon-Woo.
Eu coro. Já tinha ouvido isso algumas vezes, mas com a Hye-jin teve um significado mais profundo. Algo não só relacionado a minha aparência.
━━ Não só de rosto, mas de tudo. Nunca vi uma pessoa tão paciente e gentil como você. Naquele dia mesmo, em que você ajudou aquele motorista de ônibus, nossa, eu não teria tido toda aquela paciência e educação. Talvez eu tivesse estourado ali mesmo e dado logo um soco nele.
━━ V...você tava no ponto aquele dia?
Ela confirma e eu lembro. Lembro de uma mulher, segurando uma menininha. Era ela.
━━ Sua atitude foi linda. Sem violência ou coisas do tipo.
━━ É sempre bom sermos diplomáticos com estranhos... ━━ ela respira fundo. ━━ Tá com frio? ━━ antes mesmo de ter uma resposta, eu tiro meu casaco e coloco em seus ombros. ━━ Pode se resfriar se ficar assim, doutora. ━━ ela me olha e sorri.
━━ Meu pai me chamava assim.
Caramba, posso ter tocado na ferida.
━━ Se quiser, posso não te chamar mais.
━━ Pode continuar. Eu gosto. ━━ termino de colocar os bandaids.
━━ Quando meu pai batia na minha mãe, eu nunca podia fazer nada. Eu era menor que ele, ele tava sempre bêbado e... eu era fraco. Daí, resolvi lutar. Lutar para proteger minha mãe, a mim, proteger as pessoas que amo. Sempre que eu vejo alguém em perigo, eu parto para salvar ou pelo menos, tentar. A dor das pessoas, eu acabo sentindo em mim.
━━ Sei bem o que sente. Escolhi o boxe por quase os mesmos motivos. Eu vou te contar uma coisa que nem o Sr. Choi sabe. ━━ ela prossegue. ━━ Eu fui abusada pelo Mieong-Gil.
Eu estremeço e meu mundo cai. Não sei o que dizer, pensar ou muito menos agir.
━━ Você é o único a quem confiei esse segredo. ━━ ela para por alguns minutos mas logo volta a falar. ━━ Depois que meu pai morreu, eu passei a trabalhar naquela churrascaria que te falei aquele dia. O salário era mísero e nem um lugar para dormir eu conseguia. A nossa casa era alugada, e eu sabia que não iria conseguir manter. Até tentei continuar na medicina, mas se tornou cada vez mais difícil e cada vez mais longe o meu sonho, então, abandonei a faculdade. Eu tentava estocar dinheiro, mas era tão pouco que só dava muitas vezes para eu fazer uma refeição e olhe lá. Também tentei trabalhar em uma boate, a noite, servindo as pessoas; mas uma das clientes tentou roubar um drink, eu não deixei e você sabe, a culpa sempre cai pro lado mais fraco.
A cada palavra que ela dizia, era uma lágrima se formando em meus olhos.
━━ Então voltei para a churrascaria. Lá, conheci umas meninas... elas... elas trabalhavam para o Mieong-Gil. Vi que não tinha escolha... e, aceitei. Eu odiava aquilo. Odiava os rumos que eu tinha tomado. Odiava a minha vida após a morte do meu pai. ━━ ela tenta não chorar. ━━ Mas... com ele eu conseguia ao menos um quartinho para dormir. ━━ Hye-jin respira fundo e demora um pouco de voltar a falar. ━━ Até que um dia, algum plano dele deu errado ou sei lá o que aconteceu e acabamos brigando. Nisso, o Mieong-Gil me dopou. Colocou alguma porcaria na minha bebida e me empurrou de uma escada enquanto eu tentava fugir. Só lembro de acordar horas depois em uma vala, coberta por terra e cimento. Na mesma hora eu pensei: é o meu fim. Tentava me levantar e só sentia o peso sobre meu corpo. Chorei e tentei gritar, mas a terra fazia eu tossir e me entalar.
Neste momento eu já não enxergava mais nada, apenas o borrão de Hye-jin. Como minha garota passou por tanta coisa.
━━ Eu... eu resolvi orar. Pedia a Deus para me dar forças, para que eu achasse uma solução, e ele me deu, Geon-Woo. Eu tenho certeza que foi ele quem me ajudou. Senti-me forte novamente, com sede de sair daquele lugar. Assim que consegui ficar de pé e ver a luz das estrelas, acabei me deparando com minhas roupas. Tudo... tudo estava lá. Rasgadas, mas estavam. E a partir daquele momento, percebi que eu havia sido violada. Eu... eu nunca imaginei que minha vida poderia ter mudado tanto em um curto período...
Eu não aguento e a abraço. Abraço ela bem forte. Sinto suas lágrimas quentes sobre minha pele. Hye-jin para de falar e ficamos daquele jeito, quietos, inertes, estáticos e pensativos. Você é mais forte do que pensa, Hye-jin.
A partir de agora, eu sentia mais nojo pelo Mieong-Gil do que antes.
Aliso seu cabelo e suas mãos cravam em meus músculos. Mesmo doendo, eu deixo ela fazer isso. Ela está desabafando e precisa disso.
━━ Pode chorar, chore a vontade. Eu vou ficar aqui para o que precisar. Pode confiar em mim, eu nunca vou tocar em você sem sua autorização e muito menos te violentar, tá bom?
Ela soluça em meio às lágrimas e eu apenas faço cafuné em sua cabeça. Palavras não surgem mais em minha boca e permaneço calado, sei que ela necessita desse silêncio. Hye-jin libertou um grito que segurou por muito tempo.
Já estamos descendo do telhado e Hye-jin não falou nada, está apenas com seu braço transpaçado ao meu e com sua cabeça apoiada em meus ombros. Entramos em seu quarto e a garrafa de wisk ainda está em cima da mesa e aberta. O cheiro de álcool é forte no cômodo, então pego o líquido e o levo para fora.
━━ Geon-Woo.
Ela me olha com seu rosto vermelho e olhos inchados. O cabelo está preso em um pequeno rabo de cavalo e ela ainda usa minha blusa.
━━ A... ah, claro, já vou sair... ━━ sinto sua mão tocar meu pulso.
━━ Dorme aqui comigo.
Hesito.
━━ Eu só... , ah, pode ir pro seu quarto, eu devo estar ainda alcoolizada.
━━ Não. Eu durmo com você. Não tem problema.
Ela engole e dá um sorriso bem pequeno, quase imperceptível.
Ela se deita e eu me deito ao meu lado. Ambos estamos de barriga para cima mas logo viramos para a esquerda, ficando cara a cara um com o outro. Ela apenas me olha com seus lindos olhos, que mesmo inchados, não perdem o brilho único que tem.
━━ Eu... eu posso? ━━ pergunto, referindo-me a passar meus braços ao redor de seu corpo. Ela assente e se deita em meu braço.
━━ Obrigada por ser quem você é.
Depois dessa frase, ela fecha os olhos e adormece. Eu ainda fico acordado, admirando seu rosto, mas logo durmo também.
|● Divas, e aqui está a trajetória da Kwon Hye-jin nesses quatro anos após a morte de seu pai. Tive o maior cuidado ao escrever esse capítulo, pois sei que pode ser sensível a algumas pessoas. Espero que eu tenha conseguido fazer vocês entenderem.
|● Eu também atualizei os gráficos da história. Deem uma passadinha por lá.
|● Não esqueçam de interagir. Um abraço apertado, Wendy.
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