
𝐌𝖾𝖽𝗈 𝗂𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝗈𝗅𝖺́𝗏𝖾𝗅
Blair não via Castiel desde aquele dia em que o beijou. Mas sabia que ele estava por perto, sempre estava. Era como se, depois daquele beijo, ela conseguisse sentir a presença dele o tempo todo. A Singer se pegava sorrindo sozinha de vez em quando, e os outros, claro, não deixavam de zoar. Sam, por outro lado, parecia ficar um pouco mais tenso, com aquele jeito enciumado que ele tentava esconder.
Ela costumava sentir uma presença todas as noites, um tipo de sensação que se arrastava suavemente por seu corpo enquanto ela dormia. Não era algo novo, nem surpresa, pois já fazia parte da rotina dela. Cada noite se parecia com a anterior, com aquela mesma sensação de que alguém estava ali, vigiando. Mas, estranhamente, aquilo não a incomodava. Não era um mal, não havia nada de errado com aquilo. Era uma presença familiar. A Singer sabia exatamente de quem se tratava. O anjo. Aquele maldito anjo.
Poderia até soar estranho, a ideia de que ele a observava, mas não era. Ela até gostava disso, pelo menos não se sentiria sozinha, nem teria que temer nada. Ele estava ali, de alguma forma, mesmo que não estivesse visível. Era só perceber a presença dele, e isso a fazia se sentir... segura.
Blair passava a maior parte do tempo dentro do quarto, a não ser quando estava caçando com os meninos. Quando não estava em ação, se isolava, imersa em seus pensamentos, como se tentasse bloquear o mundo ao seu redor. Quem observava de longe poderia jurar que ela estava bebendo mais do que Bobby, o que, convenhamos, não era pouca coisa. Mas, no fundo, ninguém se importava muito. Eles estavam cuidando dela, de um jeito ou de outro, e isso parecia o suficiente para ela naquele momento.
Quando Sam entrou no quarto, Blair estava sentada em sua escrivaninha, absorta na leitura. Folheava uma pilha de livros antigos, tentando entender o que realmente era e o que fazer com o que carregava dentro de si. Seus dedos deslizavam pelas páginas, mas sua mente estava distante, cheia de dúvidas e perguntas não respondidas.
Ele se aproximou com passos lentos, segurando um lanche embalado em papel e uma latinha de refrigerante. Também carregava uma porção de batatas, aquelas que ela sempre gostava.
— Blair! — falou, tentando chamar sua atenção. — Eu trouxe comida. Você não tem se alimentado direito nos últimos dias, percebi isso e seu pai também comentou.
— Se for aquelas comidas de coelho que você gosta, pode levar embora. — ela respondeu, sem olhar para ele, mas com um leve sorriso nos lábios.
— Não, não! — ele riu. — Dean foi comprar comida e eu pedi que trouxesse para você também.
A Singer finalmente fechou o livro, com um breve movimento que fez algumas mechas de seu cabelo balançarem. Ela então se virou, encarando-o, e se levantou, indo até ele.
— Obrigada! — ela sorriu, ainda que de maneira breve, mas sincera.
Sam observou atentamente enquanto Blair pegava o lanche das mãos dele e se sentava na cama. Ela tirou o hambúrguer do papel com uma rapidez surpreendente e deu uma grande mordida, como se estivesse realmente faminta, quase devorando o alimento. Ele não pôde deixar de sorrir ao vê-la comer, achou que ela iria recusar a comida, mas felizmente, foi o oposto. O Winchester se sentou ao lado dela, e o cheiro doce do perfume de Blair se misturava ao aroma da comida, criando uma sensação curiosa, quase reconfortante.
— Você quer conversar sobre algo? Sabe que não precisa passar por isso sozinha. — Sam comentou, tentando puxar assunto.
Blair parou de mastigar por um momento, olhando-o nos olhos. Um leve hesitar passou por seu olhar, como se ela estivesse procurando pelas palavras certas.
— Eu sei, Sam, mas não há muito que vocês possam fazer, não é?
— Pelo menos você não precisa passar por isso sozinha, nem ficar trancada aqui a maior parte do tempo. — Ele tentou suavizar a situação, oferecendo seu apoio de maneira sincera.
Blair deu de ombros, voltando a comer sem pressa, mas sem perder o ritmo.
— Você já contou ao Dean? — Ela perguntou, referindo-se ao sangue de demônio.
Sam balançou a cabeça em negação antes de responder.
— Não, ainda não! Ele provavelmente vai explodir quando eu contar.
A Singer soltou uma risada baixa, mas logo se recompôs, parecendo mais séria.
— Ainda bem que você já sabe. Eu acho que deveria parar com isso. Não acredito que exista um jeito de impedir o apocalipse e, com certeza, ela está te enrolando.
Sam suspirou, pensativo, e olhou para ela. — Eu também não confio totalmente nela, mas... e se houver uma chance? Talvez eu consiga tirar você do meio disso tudo também.
Blair olhou-o por um instante, antes de dar uma risadinha que fez Sam relaxar um pouco.
— Do apocalipse? — Ela riu, com um brilho travesso nos olhos. — Eu me escondo debaixo da cama quando isso acontecer. — Brincou, e a risada de Sam foi inevitável, a tensão entre eles se dissolveu por um momento.
— Olhando assim, parece até que você não tem medo. — Sam comentou, tentando quebrar o clima pesado.
— É, mas eu tenho, Sam! — ela exclamou, sem hesitar. — E eu tenho muito medo, medo do que pode acontecer, do que vou fazer e, principalmente... de perder todos vocês.
Blair soltou um suspiro, deixando os ombros caírem, e Sam percebeu o quanto estava sobrecarregada. Então, sem pensar duas vezes, colocou a mão no queixo dela, erguendo o rosto para olhá-la nos olhos.
— A gente sempre passa por coisas ruins, né? E no fim, sempre conseguimos resolver.
Blair deu um sorriso fraco, mas estava claramente distante.
— Mas agora é diferente, Sam. Quando eu ia imaginar que seria... droga, eu nem sei o que sou. Isso tem um nome? Eu devia ter perguntado pro Castiel.
Sam a observou por um momento, sabendo que as palavras não iam resolver. Ela precisava de algo mais, e ele estava ali, mesmo sem saber o que dizer.
— Isso não faz você deixar de ser a Blair que sempre foi. Eu queria que pudesse entender... — Sam disse, com uma sinceridade que ela sentiu pesar.
Blair olhou para ele e, sem saber ao certo o que a impulsionava, se aproximou um pouco mais. Seus lábios se encontraram nos dele em um selinho breve, mas suficiente para transmitir algo que nenhuma palavra poderia explicar.
Sam sorriu ao sentir o toque, e sem mais palavras, se encostou na cabeceira da cama, puxando Blair suavemente para que se acomodasse em seu peito. Ela se ajeitou sobre o colchão, relaxando, com a cabeça pousada sobre o peitoral dele. Continuava a comer, mas era como se o simples gesto de estar ali, com o caçador, a acalmasse. Ele a acariciava, passando os dedos pelos seus cabelos, em um movimento suave e reconfortante. Era como se, naquele momento, o mundo lá fora não existisse, e ela se permitia, ao menos por um instante, sentir a segurança que ele oferecia.
— Você quer? — ela perguntou, estendendo o lanche para Sam.
— Não, obrigado! — respondeu, inclinando-se para deixar um beijo suave sobre o topo da cabeça dela.
Blair deu de ombros e voltou a saborear o lanche, cada mordida, cada batata e gole da bebida pareciam ajudá-la a relaxar um pouco mais. Quando terminou, se levantou e começou a recolher as embalagens para jogá-las no lixo. Sam a seguiu, e eles saíram do quarto juntos.
Ao passarem pela sala, Dean fez um gesto com a mão, chamando a atenção dos dois. Eles pararam imediatamente, aguardando o que o mais velho teria a dizer. Dean falava ao celular, com o semblante sério, como se estivesse combinando algo com alguém. Sua postura indicava que tinha encontrado um novo caso. Bobby e Matt estavam por perto, ambos com uma garrafa de cerveja aberta em mãos, observando a cena sem muita pressa.
Quando Dean encerrou a ligação, guardou o celular no bolso e se levantou do sofá com as chaves do Impala balançando entre os dedos.
— A Lizzie ligou, ela quer nossa ajuda em um caso.
Blair arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Com "nossa ajuda", você quer dizer sua e do Sammy, certo?
Dean deu um meio sorriso, um tanto desconfortável. — Na verdade, ela pediu especificamente que você fosse.
— Eu? E por quê? Vocês dois podem muito bem dar conta disso sozinhos. — Ela revirou os olhos, já antecipando que algo estava fora do normal.
— Lizzie quer te ver e conversar sobre tudo isso que tá rolando. — Dean respondeu, tentando soar casual.
Blair soltou uma risada seca. — Ah, claro! Já foram fofocar pra ela, não é?
— Blair, minha filha! — Bobby interveio, aproximando-se com calma e tocando de leve o ombro dela. — Por que você não quer ir? Nunca se recusou a caçar, ainda mais quando é um pedido da Lizzie.
A Singer não respondeu de imediato. Seus lábios permaneceram fechados, e o ar ao redor parecia mais denso. Seus olhos estavam fixos em um ponto específico na sala, como se algo ou alguém estivesse ali. Não era Castiel. A sensação era diferente, pesada.
— Blair? — Sam chamou, franzindo a testa.
Ela piscou algumas vezes, como se despertasse de um transe, mas não moveu o olhar. Seus dedos começaram a tamborilar contra a lateral da coxa, denunciando sua inquietação.
— Tem algo errado? — Dean perguntou, o tom sério, observando a mudança repentina no comportamento dela.
Blair balançou a cabeça em negação repetidamente, como se estivesse tentando espantar algo invisível.
— Tá, tá, eu vou com vocês! — exclamou de repente, cortando o silêncio. — Vou pegar minhas coisas antes.
— Olha, Blair, se não quiser ir, tudo bem. — Sam falou, lançando-lhe um olhar compreensivo. — Nós levamos o Matt.
— Por que sempre sobra pra mim? — Matt retrucou, gesticulando como se aquilo fosse a pior ideia do mundo. — Eu hein, não vou nada!
Dean revirou os olhos.
— Ninguém tá falando que você vai, drama queen. Blair já disse que vai, então pronto.
Blair arqueou uma sobrancelha ao ouvir a troca de farpas e suspirou.
— Certo, meninos, parem de brigar antes que eu mude de ideia.
Ela deu meia-volta, saindo da sala para ir buscar suas coisas, enquanto Matt cruzava os braços e encarava Dean com irritação exagerada.
— Drama queen? Sério?
— Relaxa, Matt. — Dean retrucou com um sorriso sarcástico. — Você sabe que a coroa te cai bem.
Samuel revirou os olhos, passando as mãos pelo rosto enquanto observava a interação dos dois.
— Vocês são duas crianças! — retrucou, exasperado.
— Você é muito sem graça, Sammy! — Dean rebateu com um sorriso. — Vou esperar na baby.
Ele saiu da sala com as chaves do Impala em mãos, deixando Sam livre para ir atrás de Blair. Quando chegou ao quarto, o clima estava diferente. O ambiente parecia mais frio do que antes, como se algo invisível tivesse mudado a energia do lugar.
Assim que entrou, avistou Blair em silêncio, carregando a arma e ajustando-a no coldre. Ela parecia alheia à presença dele, concentrada demais. Foi então que ele notou a cruz na parede — estava virada de ponta cabeça.
— Blair? — chamou, o tom de voz preocupado, mas ela não respondeu.
O maior se aproximou devagar, parando ao lado dela, mas Blair ainda não o olhou. Continuava imóvel, os olhos fixos no coldre como se fosse a única coisa que importava no momento.
— Está tudo bem? — insistiu, agora com o cenho franzido.
Ela finalmente levantou o olhar, mas apenas por um breve segundo, antes de desviar e dar de ombros.
— Tá, Sammy, está tudo bem. Deve ter sido o vento ou sei lá. — respondeu, gesticulando vagamente para a cruz enquanto pegava a jaqueta.
Sam ficou parado por um momento, observando-a sair pela porta como se nada tivesse acontecido. Ele lançou mais um olhar para a cruz invertida, sentindo o peso daquela estranha mudança, antes de finalmente segui-la para fora.
Os dois seguiram juntos até o Impala, onde Dean já esperava, com o motor roncando e o som no último volume. Ele batucava o volante com os dedos e balançava a cabeça, totalmente imerso em "Back in Black" do AC/DC, seu clássico de sempre.
Sam abriu a porta do passageiro e entrou, ajustando o cinto enquanto lançava um olhar para o irmão.
— Alguma vez você ouve outra coisa? — perguntou, já sabendo a resposta.
— Quando algo é perfeito, não tem porque mudar, Sammy! — Dean respondeu, com um sorriso convencido.
Blair logo adentrou no banco de trás, jogando sua mochila de lado e ajustando o boné na cabeça. Era um hábito que ela havia herdado do pai, e Bobby, naturalmente, adorava vê-la assim, como se fosse uma extensão dele.
O Impala exalava um leve cheiro de fast food misturado com refrigerante velho, o que não era exatamente surpresa. Dean talvez não tivesse tido tempo de limpar, mas era fácil notar que, apesar da bagunça momentânea, ele sempre tratava o carro como um templo. O mesmo cuidado, claro, não se aplicava à sua vida pessoal.
A Singer esticou as pernas e soltou um suspiro, inclinando-se para frente para espiar os irmãos.
— Tá ficando relaxado, hein, Dean? Não lembra mais que seu precioso carro precisa brilhar? — provocou, apontando para um copo amassado jogado no chão.
Dean arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar pelo retrovisor.
— Ei, minha querida, esse carro tá mais limpo que o quarto do Sam!
— Muito engraçado! — Sam rebateu, revirando os olhos enquanto Blair dava uma risadinha.
— Nem quarto vocês têm, Dean. Nem sei como você tem coragem de usar isso como exemplo. Quando não dormem aqui em casa, dormem no motel. Inclusive, eu também. — Blair comentou, com um sorriso sarcástico.
— Ei, motel é luxo! — Dean retrucou, lançando um olhar pelo retrovisor, com aquele sorriso irônico característico. — Você já dormiu no porta-malas? Não? Então não reclama.
— Tá bom, Sr. Senso de prioridades, só não deixa a baby virar lixão, beleza?
Dean a olhou com um sorriso de canto e um erguer de sobrancelhas, ajeitando os óculos de sol de forma exagerada, como se estivesse em um comercial de carro.
O trio seguiu viagem, embalado pelo rock clássico que preenchia o Impala. Entre as provocações e as risadas, o clima no carro era familiar e leve, mas Blair sentia algo diferente. Sentada no banco de trás, ela olhava pela janela, distraída. O desconforto que carregava não era físico, era algo mais profundo, algo que ela ainda não conseguia colocar em palavras.
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A viagem foi longa, cheia de paradas — algumas para comer, outras só para revezar na direção. Quando finalmente chegaram a Rock Ridge, Colorado, o dia já estava claro. Eles estacionaram o Impala em frente ao pequeno motel onde Lizzie estava hospedada. Dean saiu do carro primeiro e caminhou até a porta, batendo algumas vezes antes de dar aquela pausa impaciente, como se o mundo estivesse sempre atrasado para ele.
Quando a porta se abriu, Lizzie apareceu. Ela mal teve tempo de dizer algo antes de Dean soltar aquele sorriso familiar, sem formalidades, do tipo que só se dá para quem se considera parte da família.
Blair e Sam logo se aproximaram, mas Liz ignorou completamente o Winchester, voltando sua atenção apenas para a Singer. Ela a abraçou com força, e Blair, um pouco sem jeito, retribuiu, mas logo afastou-se, dando um sorriso forçado.
— Tá bom, chega né? — disse, tentando interromper o abraço.
— Credo, babilota! — Liz fez um bico, com um sorriso travesso. — Estava com saudades e também preocupada com você.
— Aham! — Blair cruzou os braços, observando-a com um olhar curioso, como se notasse algo estranho nela. Algo inquietante, que ela nunca tinha percebido antes. — Que loucura...
— O que você disse?
— Hm? Ah, nada! Eu também estava com saudades, Liz.
Lizzie sorriu, afastando-se um pouco para que pudessem entrar. O quarto estava uma verdadeira bagunça, com pilhas de papéis espalhados pela mesa e o notebook aberto em uma das camas, refletindo a pressa com que ela estava lidando com o caso. O cheiro, no entanto, era agradável — uma mistura de produtos de limpeza com o frescor do perfume de Lizzie, criando um ambiente que, apesar da bagunça, ainda parecia acolhedor.
— Eu avisei que ela queria ver você. — Dean comentou, lançando um olhar para Blair, antes de se jogar no sofá com um suspiro, claramente já se acomodando para o que parecia ser mais uma conversa longa.
— Vocês precisam me atualizar sobre essa história toda de anjos e a babilota sendo filha de Lilith. E, a propósito, que tipo de ser você é, afinal? Não é tipo um anticristo? — Lizzie perguntou, com um sorriso irônico, claramente querendo entender mais sobre o que estava acontecendo.
Blair deu de ombros, jogando sua mochila na cama antes de se sentar, sem pressa de responder.
— Se é assim que você prefere chamar... — ela respondeu, meio que se entregando ao tom provocativo da conversa.
— Ok, Liz, fale sobre o caso! — Sam interveio, interrompendo a troca de olhares entre Blair e Lizzie, tentando puxar a conversa de volta ao motivo real da reunião.
— Bom... — Lizzie começou, pegando o jornal local que estava aberto em uma notícia específica. — Esse é Frank O'Brien, ele morreu de infarto há uns três dias.
— E por que isso parece coisa nossa? Infarto não é lá tão raro assim. — Dean comentou, com a típica leveza na voz.
— É, mas ele tinha 44 anos e estava em ótima forma. Nenhum histórico de problemas cardíacos. O mais estranho é que, apesar disso, foi um infarto repentino, sem sinais de estresse, nada que justificasse.
Sam deu um passo à frente, focando na conversa.
— E você soube de algo mais? — perguntou, olhando atentamente para Lizzie.
Ela deu uma pausa, como se estivesse processando tudo antes de falar.
— Eu soube que o legista não encontrou nada de anormal no corpo, mas ele também não sabia explicar o que causou o infarto.
Blair estava ali, escutando tudo em silêncio, mas parecia distante, como se algo estivesse pesando em sua mente. Lizzie então olhou para os dois caçadores.
— Eu preciso que vocês falem com o legista. Ele pode ter algo que não passou pela cabeça dele no momento. Enquanto isso, eu preciso conversar com a Blair. Há algo mais aqui, e sei que ela pode me ajudar a entender melhor.
Sam e Dean trocaram um olhar rápido, mas ambos concordaram.
— Tudo bem. A gente vai falar com ele. — Sam respondeu, beijando a bochecha de Blair e em seguida, caminhou em direção a porta.
Dean apenas acenou com a cabeça, se levantando logo atrás.
— Vamos lá então. — Dean comentou, jogando a chave do Impala para o ar e pegando-a.
Lizzie observou os dois saírem, antes de se voltar para Blair.
— Blair, precisamos conversar.
Blair estava visivelmente distraída, com os olhos fixos em algum ponto indefinido à frente. Demorou um tempo até que ela finalmente desviasse o olhar e encarasse Lizzie.
— Conversar sobre o quê? — perguntou, a voz um pouco distante, como se sua mente ainda estivesse em outro lugar.
Lizzie se aproximou, sentando-se ao lado dela com um suspiro preocupado. A expressão em seu rosto era séria, como se ela soubesse que precisava falar sobre algo importante.
— Sobre você, sobre tudo isso que tem acontecido. O seu pai me ligou, os Winchester também... e eu já sei de algumas coisas. Como, por exemplo, do anjo.
Blair a olhou com uma sobrancelha arqueada, visivelmente surpresa, mas sem mostrar muita emoção. Ela fez uma pausa antes de responder, seu olhar se aprofundando na amiga.
— E o que é que tem o Castiel? — indagou, tentando esconder a curiosidade por trás de um tom um pouco mais rígido.
— Você é quem deveria me dizer, não tem nada que queira falar com relação a ele? — Lizzie comentou, o tom descontraído, mas a preocupação ainda visível em seu olhar.
Blair a encarou por alguns segundos, o silêncio pesado entre elas. Ela desviou o olhar, como se tivesse fugido de algo que não queria admitir, e suspirou. Era difícil olhá-la. Difícil demais. Era como se Liz fosse um reflexo dela mesma, mas ao mesmo tempo, alguém completamente diferente.
— Castiel é... — Blair hesitou, mas um sorriso involuntário surgiu em seus lábios, algo que nem percebeu até que já estava ali. — Ele se importa comigo, e eu gosto de estar perto dele, de conversar... E, da última vez que o vi, eu... beijei ele.
— O quê?! — Lizzie arregalou os olhos, surpresa. — Você beijou o anjo? Nossa, que rápida! — Ela riu, mas logo a expressão se suavizou, tornando-se mais curiosa. — Achei que você gostasse do Sam, isso já passou?
Blair hesitou antes de responder, com um leve suspiro, um pouco perdida em seus próprios sentimentos.
— Eu gosto do Sam, sempre vou gostar. Mas... eu também quero estar perto de Castiel quase o tempo todo. Na verdade, eu quero estar perto dos dois... — Ela deu de ombros, o olhar distante. — Não sei, parece que os dois têm algo que me atrai de uma forma diferente.
Lizzie olhou para ela, ciente da complexidade da situação, e então fez uma piada, tentando aliviar a tensão.
— Você se apaixonou pelo anjo à primeira vista, né? Mas também, é apaixonada pelo Sam.
Blair se deitou na cama, com o olhar fixo no teto, pensando. O silêncio entre elas estava confortável, mas pesado.
— Eu acho que foi o Castiel quem se apaixonou à primeira vista, mas eu me deixei levar quando percebi isso. — Ela suspirou, passando uma mão pelo rosto, sentindo o peso de suas palavras. — Eu poderia ter os dois... mas...
— E o que te impede? — Lizzie perguntou, se deitando ao lado dela, com a voz suavemente curiosa.
Blair virou a cabeça para olhar Liz, seu olhar cheio de dúvidas e incertezas.
— O que impede é que eu não sei se o Sam gosta de mim da mesma forma. Sempre foram só momentos casuais entre nós. E o Castiel... — Ela riu, um pouco triste, como se se convencesse de que as coisas não eram tão simples. — Ele é novo nesse lance todo, não entende nada de relacionamentos. Eu não sei se ele estaria disposto a se arriscar comigo. Anjos não sabem lidar com esse tipo de coisa, com o que é sentir, com o que é gostar de alguém.
Lizzie ficou em silêncio por um momento, pensativa, antes de soltar uma sugestão que parecia tão simples, mas ao mesmo tempo difícil de implementar.
— E por que não ensina a ele?
— Ele anda me vigiando, deve estar ouvindo tudo isso. — Blair soltou uma risada, quase sem perceber. — Vamos ver o que o futuro me reserva... talvez seja só a morte, né?
— Você é muito negativa! — Lizzie deu uma olhada de lado, com um sorriso divertido. — Quanto ao Sam, acho que ele só tem medo, e nega para si mesmo que gosta de você. Ele tá sempre te dando satisfação das coisas, como se vocês estivessem em um relacionamento. Fica te dando beijinhos na testa, na bochecha… parece até outra pessoa quando tá com você.
Blair riu baixo, olhando para o teto enquanto refletia. Tentava entender o que Lizzie estava dizendo, mas ainda havia uma parte dela que duvidava.
— Tá, mas por que ele teria medo?
Lizzie se acomodou melhor, a expressão dela suavizando. Ela estava falando com a mesma franqueza de sempre, mas agora havia algo de mais sério em seu tom.
— Ele tem um problema em acreditar que pode amar alguém sem que algo de ruim aconteça com a pessoa. Sempre que se permite, acha que vai acabar perdendo quem ama da pior forma. E você sabe disso.
Blair ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Lizzie. Então, deu um sorriso fraco, tentando tirar o peso da conversa.
— Talvez você até tenha razão... Papai surtaria se soubesse que estamos tendo essa conversa. — Ela riu, descontraída, tentando aliviar o clima.
— É verdade! — Lizzie completou, dando uma risada baixa. — Imagina o Bobby sabendo que a filha quer estar no meio de um triângulo amoroso.
Robert Singer com certeza surtaria se soubesse que sua filha estava considerando um relacionamento a três. Para ele, Blair sempre seria sua garotinha, mesmo agora, com seus 25 anos e assumindo seu lugar no mundo. Bobby a tratava como alguém que ainda precisava de sua proteção constante, ignorando que ela já era uma mulher independente, com pensamentos e decisões próprias.
— Mas agora, mudando de assunto... — Liz começou, sentando-se na cama e puxando o travesseiro para o colo. — Como é ser o que você é? Tipo, você tem poderes, isso deve ser legal, né?
Blair se levantou devagar, sentando-se na beirada da cama e esfregando as mãos no rosto, como se aquilo fosse aliviar o peso da conversa.
— Talvez seja legal quando você sabe controlar. Fora isso, é um caos. Eu tento evitar ao máximo usar qualquer coisa relacionada a isso, mas nem sempre dá.
Lizzie parecia fascinada, com os olhos brilhando de curiosidade.
— Acho que eu queria ser assim. Algo meio demoníaco, sabe? Deve ser... poderoso.
Blair parou por alguns segundos, encarando a amiga com uma expressão que oscilava entre cansaço e inquietação.
— É... Nem te conto, Liz. — disse por fim, soltando um suspiro pesado.
Ela olhou para o chão, tentando encontrar as palavras certas, mas não havia muito a dizer. Lizzie parecia atraída pela ideia sem entender as sombras que vinham junto. Blair sentia algo estranho crescendo dentro de si, como se Liz estivesse à beira de algo perigoso e não percebesse.
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Depois de algum tempo, Dean ligou. Sua voz soava levemente apressada enquanto explicava o que precisava. Pediu para que Lizzie e Blair os encontrassem na delegacia local.
— Certo, já estamos indo. — Liz respondeu antes de desligar.
As duas rapidamente se aprontaram, trocando suas roupas para algo que combinasse com o disfarce e conferindo as identidades falsas. Lizzie pegou as chaves do carro e, juntas, elas saíram rumo à delegacia.
Ao chegarem, avistaram Sam e Dean na recepção. Os dois pareciam tentar manter a compostura enquanto observavam um policial sentado atrás de uma mesa. Ele mastigava um donut com tamanha voracidade que o açúcar em pó cobria os cantos de sua boca e até parte do uniforme.
Blair olhou para a cena, arqueando uma sobrancelha.
— Impressionante... — murmurou, cruzando os braços. — Acho que é assim que eles recrutam os melhores.
— Vocês demoraram. — Dean comentou, levantando-se e ajeitando o paletó que usava como parte do disfarce.
— Problemas com o trânsito. — Liz respondeu casualmente, mas o tom zombeteiro de Blair chamou a atenção do policial, que limpou apressadamente a boca com o dorso da mão e lançou um olhar desconfiado.
De repente, a porta do escritório do delegado se abriu, revelando um homem alto, de expressão firme, que os observou rapidamente antes de se virar para o policial.
— Esses são os agentes federais? — perguntou, apontando para o grupo.
— São sim, senhor. — respondeu.
O delegado deu um leve aceno e então olhou diretamente para Sam, Dean, Blair e Lizzie.
— Certo, podem entrar, mas deixem os sapatos aqui fora.
A instrução inesperada fez os quatro se entreolharem brevemente. Dean levantou uma sobrancelha, claramente intrigado.
— Isso é diferente... — murmurou, enquanto tirava os sapatos.
Sam o seguiu, tirando os seus em silêncio. Lizzie soltou uma risadinha discreta, enquanto Blair apenas revirou os olhos, tirando os dela de forma relutante.
— É sério isso? — Blair sussurrou para Lizzie, que respondeu com um encolher de ombros.
Os quatro entraram na sala e ocuparam as cadeiras disponíveis diante da mesa do delegado. Ele estava concentrado em espalhar álcool em gel pelas mãos, esfregando os dedos meticulosamente, como se estivesse tentando afastar algo mais do que apenas germes.
Blair cruzou os braços, lançando um olhar rápido para Lizzie, que apenas deu de ombros, claramente acostumada com excentricidades como aquela.
Sem demora, começaram a falar sobre Frank O’Brien, e o delegado não demorou a revelar que o falecido era um velho amigo seu.
— É ruim de ser um infarto. — Dean anunciou enquanto eles saiam da delegacia e caminhavam pelas ruas.
— Com certeza não! — Blair respondeu.
— Três vítimas e todas com marcas vermelhas. — Sam falou. — Todas foram de apavoradas a mortas em menos de 48 horas.
— É, alguém as matou de medo — Liz comentou.
— E o que pode fazer isso? — Sam perguntou.
— E o que não pode? — A Singer falou. — Fantasma, vampiro, chupa-cabra e mais uma centena de coisas.
— Então a gente faz uma lista e começa a riscar. — Liz respondeu.
Os quatro continuaram a caminhar em direção aos carros, mas foi então que Dean começou a agir de forma estranha, como se estivesse com medo de um grupo de adolescentes. Ele olhou para os lados com uma expressão desconfortável, quase como se esperasse algo surgir das sombras.
Eles foram falar com o vizinho de Frank, um homem que criava cobras — muitas cobras. Dean, desde o momento em que entraram na casa, estava visivelmente desconfortável, seus olhos se moviam inquietos, sempre atentos às cobras espalhadas pelo ambiente. Ele tentava manter a calma, mas a tensão estava estampada em seu rosto. Quando uma das cobras passou por ele, ele deu um pulo, claramente apavorado.
— Não se preocupe, ela não é venenosa — o dono das cobras disse, tentando aliviar o clima.
Mas, para Dean, isso não fez diferença. Ele estava tão apavorado que Blair não conseguiu segurar a risada. Ela soltou uma gargalhada baixa, mas suficiente para chamar a atenção de Dean, que a lançou um olhar irritado, mas, no fundo, ela sabia que ele estava mais envergonhado do que realmente bravo.
O vizinho de Frank relatou que, nas últimas horas de vida dele, ele estava completamente aterrorizado. O homem contou que Frank não conseguia parar de se preocupar com coisas simples do dia a dia e estava convencido de que havia uma bruxa má atrás dele. Isso foi algo que o assustou a ponto de não sair mais de casa, se isolando completamente. A menção à bruxa deixou todos no grupo mais intrigados, especialmente com as conexões que isso poderia ter com as mortes misteriosas que estavam investigando.
{...}
Eles passaram o dia inteiro investigando, tentando juntar as peças do quebra-cabeça sobre o que estava acontecendo. A cada novo passo, as coisas ficavam mais confusas, e a tensão aumentava. Mas, o que mais chamava a atenção era Dean. Ele estava cada vez mais estranho, seu comportamento estava mais nervoso e ele parecia inquieto. Aquele velho Winchester, normalmente confiante e destemido, agora estava demonstrando um medo palpável. Ele se afastava mais, olhava em volta com desconfiança e, às vezes, até evitava certos lugares, como se estivesse fugindo de algo invisível. Os outros não podiam deixar de notar.
Seja lá o que matou Frank O'brien, agora estava com Dean. Como? Eles não sabiam, mas era óbvio que algo estava acontecendo com ele. A mudança não era só na postura ou no jeito dele agir; era algo mais profundo, uma sensação de medo que o consumia aos poucos.
Sam ligou para Bobby, pedindo ajuda para procurar mais informações sobre o que estavam enfrentando. Enquanto isso, Blair estava sentada no capô do Impala, ao lado de Liz, observando a movimentação ao redor. Dean, por sua vez, estava dentro do carro, deitado no banco de trás, com o som ligado, ouvindo "Eye of the Tiger" e batucando no ar.
Samuel se aproximou um pouco mais e deu algumas batidas no teto do carro, fazendo Dean se assustar e desligar o som. Ele desceu do automóvel, e as meninas também se aproximaram, parando ao lado deles.
— Vai, Dean, mostra pra ele! — Blair exclamou, com uma leve preocupação na voz.
Dean arregaçou um pouco a manga da camisa, revelando a vermelhidão em seu braço. Era o mesmo tipo de marca que as vítimas tinham.
— Falei com o Bobby. — Sam comentou, olhando para Dean.
— E aí? — Dean perguntou, já se preparando para o pior.
— Você não vai gostar, Dean. — Sam deu um suspiro. — É um mal de fantasma.
— Mal de fantasma? — Dean repetiu, franzindo a testa.
— Isso! — Sam confirmou com um aceno.
— Eu nem sei o que é isso. — Dean resmungou, olhando para o braço e mexendo na manga da camisa, como se fosse a coisa mais absurda que ele já tivesse ouvido.
— Algumas culturas acreditam que certos espíritos podem infectar os vivos. Por isso, começaram a fazer velórios nas funerárias e não mais em casa. — Blair interveio, explicando.
— E qual é a parte boa? — Dean indagou, visivelmente assustado.
— Os sintomas começam com ansiedade, depois evoluem para medo, mais medo... e então o coração para. — Sam explicou, sério.
— Mas eu não vejo um fantasma há semanas. — Dean rebateu, franzindo a testa.
— Eu duvido que você tenha pego diretamente de um fantasma. — Sam respondeu. — Depois que o espírito infecta uma pessoa, o mal de fantasma se espalha como uma doença. É como uma gripe.
Dean parou por um momento, claramente tentando juntar as peças.
— O fantasma infectou o Frank, ele passou para os amigos, e eu peguei do cadáver dele? — questionou, como se raciocinar em voz alta fosse ajudá-lo a entender melhor.
— É basicamente isso. — respondeu Sam, com um leve suspiro.
— Então é isso? Tenho 48 horas antes de enlouquecer e o meu coração parar? — Dean perguntou, com uma mistura de incredulidade e nervosismo.
— Tá, mas para, 24 horas agora... — Sam respondeu, colocando as mãos nos bolsos do casaco.
— Mas por que eu e não você? Você quase bebeu a bílis do cara! — retrucou com uma expressão confusa no rosto.
— Bobby e eu temos uma teoria. Parece que as três vítimas tinham algo em comum: a personalidade. — Sam disse, olhando para o irmão.
— Tá, mas e daí? — Dean perguntou, levantando uma sobrancelha.
— Todos eram brigões... — Sam respondeu.
— Está dizendo que sou brigão? — indagou, encarando o outro.
— É sim. — Liz comentou com um sorriso, jogando a responsabilidade para Sam. — É isso que ele tá dizendo.
— As três vítimas usavam o medo como arma e agora a doença está devolvendo o favor. — Blair falou, olhando para todos.
— Eu não assusto as pessoas! — Dean protestou, cruzando os braços.
— Dean, a gente só assusta as pessoas. — Blair respondeu, revirando os olhos.
— Mas o Sam também é brigão! — Dean retrucou, apontando para o irmão.
— Aparentemente, não! — Liz respondeu, dando de ombros.
— E como acabamos com isso? — perguntou, passando a mão na cabeça.
— Em resumo, a gente pega o fantasma que começou tudo e aí, a doença vai embora. — Sam respondeu, tentando parecer mais otimista.
— Tá, mas e por que a Blair não dá um jeito nisso e me cura logo? — Dean insistiu, irritado.
— Porque não fui eu quem fez isso com você e, além do mais, não sou nenhum anjo. — rebateu, cruzando os braços.
Os quatro trocaram olhares, Dean parecia mais inquieto e assustado do que antes.
— E aí, por que estão parados aqui? — Sam perguntou, tentando entender o que estava acontecendo.
— Fala pra ele, Dean! — Blair não conseguiu segurar a risada.
Dean deu um suspiro fundo, parecendo incomodado, e balançou os braços de um jeito meio sem graça.
— O nosso quarto é no quarto andar.
— E daí?
— É... — fez uma pausa, gesticulando com as mãos, como se fosse algo evidente. — Alto!
Samuel olhou ao redor, suspirando enquanto Lizzie e Blair pareciam se empurrar como duas crianças.
— Tá, eu vou ver se consigo pedir para eles trocarem.
— Valeu! — Dean respondeu, mais aliviado.
{...}
Eles trocaram de quarto e desceram para o primeiro andar, assim Dean ficaria um pouco mais tranquilo. O dia parecia ter se arrastado, e Dean ficou em silêncio, apenas encarando o relógio. O único som no ambiente era o clique do ponteiro e o barulho da água correndo no banheiro, onde Blair tomava banho. Sam e Lizzie tinham saído, e estavam fora.
Quando Blair saiu do banheiro, envolta em um roupão, Dean estava ali, coçando o vermelhidão em seu braço, sem parar, enquanto bebia. Ela se aproximou e se sentou ao lado dele, observando-o com atenção.
— Tudo bem? — ela perguntou.
Dean assentiu com a cabeça, tentando responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele começou a se engasgar e a se desesperar. Blair rapidamente o levou até a pia e deu algumas batidas em suas costas. Após alguns segundos, Dean cuspiu um pedaço de madeira.
— O que é isso? — ele pegou o pedaço, entregando para Blair em seguida.
Blair olhou para ele com um olhar sério.
— Sabe de uma coisa? Estamos ignorando a melhor pista que temos.
Dean a encarou, confuso.
— Um pedaço de madeira? — ele perguntou, ainda tentando entender.
Blair balançou a cabeça.
— Não, você! — ela respondeu, apontando para ele com um leve sorriso.
Blair voltou para o banheiro, se trocou rapidamente e, ao terminar, pegou o celular. Ela ligou para Sam, combinando de se encontrarem no "Cassidy Mill and Sons". Depois de desligar, ela saiu com Dean.
— Dean, estaciona ali. — ela indicou, apontando para o local.
Dean estacionou o Impala com calma, seguindo as instruções. Eles desceram do carro e ficaram esperando. O lugar estava tranquilo, com o som suave do vento. Sammy e Liz ainda não tinham chegado, mas Blair sabia que não demorariam.
— Eu não vou entrar aí, não. — Dean comentou, olhando ao redor com um olhar desconfiado.
Blair suspirou, já sabia o que estava por vir. Ela cruzou os braços e deu um passo à frente, arqueando uma sobrancelha, enquanto observava Dean quase terminar a garrafa de bebida.
— Olha só, eu preciso de ajuda! Você vai entrar, Dean. — Blair insistiu.
Foi então que ela viu o carro de Lizzie chegando, o som do motor interrompendo o silêncio da situação.
A Singer abriu o porta-malas do Impala enquanto os outros dois desciam do carro e se aproximavam. O mais velho ficou parado ao lado dela, ainda com o olhar atento ao redor.
— Dá um pouco de medo, não dá? — Dean falou, olhando assustado para a estrutura à frente.
Blair apenas o encarou sem dizer nada, ignorando completamente o que ele falou. Em seguida, estendeu a arma para ele.
— Eu não vou levar isso não, pode disparar. — Dean respondeu, desviando dela e se abaixando para pegar a lanterna. — Eu vou... levar a lanterna.
Assim que entraram, o detector começou a apitar sem parar, mas também podia ser só por causa de Dean, que estava ali.
Enquanto isso, algo no chão chamou a atenção de Blair. Ela se abaixou e encontrou uma aliança. Ao olhar para dentro, leu a inscrição: "Com amor, Frank". Todos ficaram em silêncio, tentando entender o que isso significava. O que Frank teria feito ali?
Blair, sem conseguir se livrar da sensação estranha que tomou conta dela, fechou os olhos por um momento. Foi quando ouviu, claramente, seu nome sendo chamado. Ela deu um suspiro e tentou ignorar. Fechou os olhos, respirou fundo, contou até três e, como sempre, a sensação passou — pelo menos por enquanto.
Eles se aproximaram de um armário, e Sam deu uma olhada rápida para os outros antes de contar até três. Quando finalmente abriu a porta, Dean se assustou e deu um pulo, começando a gritar. Todos se viraram rapidamente, mas o que havia lá dentro não era nada demais: apenas um gato assustado, que saiu disparado assim que teve a chance de escapar.
— Sério, Dean? — Liz perguntou, observando-o respirar fundo, tentando se recompor.
— Eu me assustei! — Dean respondeu, ainda recuperando o fôlego.
— Ah, cê jura? — Blair falou, revirando os olhos, um sorriso de escárnio estampado no rosto.
Os quatro se entreolharam e continuaram vasculhando o lugar escuro e úmido. O clima estava tenso, e Dean parou de repente, os olhos fixos em algo à frente. Ele viu o fantasma e, no instante em que os outros se distraíram, saiu correndo sem pensar, como se nunca tivesse visto um espírito antes.
Blair, rápida como sempre, disparou a arma com os cartuchos de sal, afastando o espírito. Em seguida, correram atrás de Dean, que estava já abaixado ao lado do carro, bebendo como se a bebida fosse a única coisa capaz de ajudá-lo a esquecer o que acabara de ver.
— Parece que estamos no lugar certo. — Sam comentou, mostrando o crachá que havia encontrado lá dentro, com o nome "Luther Garland".
Eles então voltaram para a delegacia, pegaram as fichas e informações sobre Luther, e seguiram para a casa de idosos onde o irmão dele estava. A conversa foi longa e detalhada, mas o que o irmão de Luther disse esclareceu tudo: ele contou que Luther era uma boa pessoa, mas estava apaixonado pela mulher de Frank. E foi aí que descobriram que Frank havia matado Luther, e o mal de fantasma vinha dele, não da senhora O’brien, como inicialmente pensaram.
Dean estava cada vez pior, a febre subindo, o rosto marcado pela exaustão e pela desesperança. Não havia mais muito tempo. Assim que saíram do local, ele finalmente perdeu o controle, deixando a raiva e o medo falarem mais alto.
— Eu não aguento mais isso! — Ele gritou, virando-se para os outros com olhos flamejantes. — Eu não quero mais saber de monstros, de fantasmas, de seja lá o que a gente caça!
Blair cruzou os braços, tentando não perder a paciência.
— Precisamos pensar em outra coisa. — Liz comentou, cortando o silêncio desconfortável.
Dean riu, um riso ácido e desesperado.
— Outra coisa? E o que vamos fazer? — Ele perguntou, gesticulando de forma exagerada.
— Vamos caçar um fantasma! — Blair exclamou sem rodeios.
Dean virou para ela, incrédulo.
— Um fantasma? Quem faz isso? Só gente completamente doida!
— Nós fazemos isso, Dean! — Sam rebateu, tentando colocar alguma lógica na conversa.
— Exato! E é por isso que a nossa vida é uma droga! — Dean explodiu, arrancando as chaves do Impala do bolso e as jogando para Sam. — Sério, fala sério! A gente caça monstros, e pra quê? Pra acabar assim?
Ele saiu andando, sem direção certa, sem saber para onde os passos o levariam, ou se ainda teria tempo de chegar a algum lugar.
De algum jeito, ele conseguiu voltar ao quarto onde estavam hospedados, mas não antes de correr de um simples cachorro e obrigar Lizzie, Sam e Blair a procurarem por ele em toda parte. Blair parecia claramente irritada, mas não era só culpa do Dean. Algo a estava incomodando: os sussurros constantes, a dor de cabeça insistente e o que só podia chamar de alucinações começavam a mexer com ela.
— Como você chegou aqui? Nós o procuramos por toda parte! — Sam perguntou.
— Correndo! — Dean respondeu, ainda ofegante e visivelmente abalado. — O que fazemos agora? Tenho menos de quatro horas no relógio. Eu vou morrer!
— É, vai sim! — os três responderam em uníssono.
Mas aquilo não era real. Dean não estava vendo seu irmão, Lizzie e Blair ali. Aos seus olhos, eram três demônios: os olhos de Sam brilhavam em um tom amarelo intenso, os de Lizzie eram completamente negros, e os de Blair, brancos como neve. As palavras que eles diziam, mesmo sendo fruto de sua mente, eram cruéis e pesadas.
Dean saiu daquele estado depois de alguns minutos, respirando com dificuldade e coberto de suor. Ele olhou ao redor, visivelmente apavorado, enquanto os outros três o observavam, confusos e preocupados. Sabiam que aquilo estava indo longe demais e precisavam encontrar uma solução rápido.
— Bom, eu já volto. — Blair anunciou.
— Vai aonde? — Sam questionou.
— Preciso ver uma coisa. — Ela respondeu e saiu para o estacionamento, se acomodando no capô do Impala.
— Tá... — Ela suspirou, olhando ao redor. — Se você estiver por aí, e eu sei que está, pode aparecer, por favor...
Os minutos se arrastaram, e ela já pensava em desistir, até que Castiel surgiu ao seu lado, como sempre fazia, silencioso.
— Do que precisa? — Ele perguntou, com aquele olhar sereno e penetrante.
— Por que você sumiu? Eu sei que me observa, que está por perto, mas nunca de uma forma que eu possa ver. Por quê?
— Me desculpe... Acho que não sabia como agir depois daquele dia em que você...
— Te beijei? — Blair completou com uma risada curta. — Relaxa, você não precisa fazer nada. Mas, se quiser que eu faça de novo, prometo que não vou reclamar. — Ela deu de ombros, antes de mudar o tom. — Mas não é sobre isso que eu quero falar.
— Então, o que é? — Ele perguntou, pacientemente.
— Tem acontecido umas coisas estranhas comigo... — Ela hesitou, respirando fundo.
— Que tipo de coisas? — Castiel parecia já saber, mas queria ouvir dela.
— Primeiro, era só uma voz me chamando, mas comecei a ignorar. Depois, vi alguém que parecia meu pai, mas não era ele, porque ele estava comigo na hora. — Ela desviou o olhar, as mãos apertando os joelhos. — E agora... Minha cabeça, ela dói o tempo todo.
— Ele está tentando se conectar com você, Blair. A cada tentativa, fica mais fácil. — Castiel disse com firmeza.
— Ele? Quem "ele"? — Ela franziu o cenho.
— Lúcifer! — Ele respondeu sem rodeios. — Sua mãe está rompendo os selos, e quanto mais ela avança, mais poder ele ganha para chegar até você.
Blair sentiu o chão faltar. Ela balançou a cabeça, negando, enquanto as lágrimas ameaçavam cair.
— Primeiro: aquela desgraçada não é minha mãe. Segundo: faz isso parar, agora! — Ela exigiu, a voz embargada.
— Eu gostaria, mas não posso. — Castiel respondeu com sinceridade. — Posso, no entanto, ajudar com a dor de cabeça. — Ele tocou sua testa, e o alívio foi imediato. — E posso ficar com você nas noites difíceis, quando ele tentar contactar.
Blair suspirou, aliviada, e encostou a cabeça no ombro dele, seus dedos tocando levemente a mão do anjo.
— Obrigada por isso, Castiel... — Ela murmurou, sentindo-se um pouco mais forte.
{...}
No dia seguinte, Bobby apareceu, atendendo ao pedido de sua filha. Ele trouxe algo que poderia ajudar, enquanto Dean estava prestes a ter um ataque cardíaco. Eles explicaram tudo para Bobby, e as meninas seguiram com Sam e ele até a fábrica onde o espírito de Luther ainda estava. Samuel conseguiu atrair o fantasma, deixando-o furioso, enquanto Dean, cada vez mais fora de si, sentia seus batimentos acelerando e as feridas nos braços piorando, o que antes era só uma vermelhidão agora estava tomando proporções bem piores. Ele estava por um fio.
Foi aí que, com a ajuda de Bobby, Sam, Liz e Blair, conseguiram fazer o que Frank tinha feito com Luther em vida. Usaram as correntes e arrastaram o espírito com o carro, sem saber se aquilo realmente iria funcionar. Mas, sem que soubessem, Blair teve uma parte importante nisso tudo. Sem entender muito bem como, ela foi a responsável por desmaterializar o fantasma. Algo dentro dela havia feito isso, mas ela não contaria a ninguém. Pelo menos não agora. Talvez fosse hora de usar o que estava dentro dela para algo bom, mas guardaria isso para si, por enquanto.
Dean estava no meio de alucinações, vendo Lilith e ouvindo sua voz ameaçadora, prometendo levá-lo de volta para o inferno. Mas, de repente, tudo parou. Lilith sumiu e seus braços estavam normais novamente. Ele olhou para eles, sentindo o alívio tomar conta de si. Suspendeu a respiração por um momento, sabendo que finalmente tinham conseguido.
Quando voltaram ao motel, o clima estava bem mais leve. O trabalho estava feito, e a sensação de alívio era quase palpável. Enquanto guardavam as coisas e começavam a se organizar para ir embora, Lizzie, como sempre, já dava sinais de que seguiria seu próprio caminho em breve.
Do lado de fora, encostados nos carros, tentavam explicar a Dean como tudo tinha acabado. Ele, por outro lado, ainda parecia confuso com toda a história.
— Então vocês prenderam o fantasma com correntes e o arrastaram com o carro? — ele perguntou, franzindo o cenho como se aquilo fosse a coisa mais absurda que já tinha ouvido.
— Correntes banhadas com feitiço. — Sam respondeu, dando de ombros.
Blair permanecia em silêncio, os braços cruzados enquanto encarava o chão. Ela sabia que aquilo não tinha sido só sobre correntes e feitiços. O que quer que tivesse acontecido, sua interferência tinha feito diferença, mesmo que ela não soubesse explicar como.
— E você, Dean? O que viu lá quando estava morrendo? — Lizzie perguntou de repente, com aquele jeito direto de sempre.
— Além do xerife me socando? — Dean fez uma pausa, observando os três com atenção. Por um momento, parecia hesitar, como se tivesse visto algo estranho neles de novo. — Uma sala cheia de macaquinhos... Um monte deles.
Sam caiu na risada, balançando a cabeça.
— Ah, fala sério, Dean! — ele disse, ainda rindo.
Lizzie apenas revirou os olhos, enquanto Blair abriu um sorriso pequeno e discreto, mas continuou quieta. Apesar do tom descontraído, ela sabia que ainda tinha muito a processar sobre tudo o que havia acontecido.
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Olá, pessoal! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Primeiramente, peço desculpas pela demora na postagem e também por não entregar um capítulo que, na minha opinião, não ficou tão bom quanto eu gostaria. Mas espero que vocês gostem, mesmo assim!
Esse capítulo estava planejado para ser postado no sábado, mas, como mencionei anteriormente, tive alguns imprevistos e precisei ir à UPA. Por isso só consegui trazê-lo agora.
Apesar de eu ter resumido algumas partes, o capítulo ainda ficou um pouco longo. Espero que não esteja tão ruim!
Aproveito para avisar que decidi fixar os dias de postagem: serão às quintas e domingos. No entanto, enquanto me ajusto, pode ser que eventualmente eu atrase ou não consiga postar exatamente nesses dias.
Por fim, agradeço pela paciência e carinho de vocês. Até o próximo capítulo!
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