❪ 𝐎𝟐 ❫ ┆ ❛ 𝐖𝐀𝐒𝐍'𝐓 𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐀 𝐁𝐋𝐄𝐒𝐒𝐈𝐍𝐆?
CAPÍTULO DOIS
o amor não era uma benção?
A CHAMA DO CANDELABRO SE MOVIMENTANDO ATRAVÉS da janela escura dos Miller fez Devina dar um salto para trás, Hannah iria fazer aquilo mesmo, sairia no meio da noite para uma celebração duvidosa, mal podia crer que era a única a raciocinar até o momento. Abigail, afoita como de costume, havia ido um pouco antes em companhia de Isaac, um garoto bondoso e praticamente vizinho delas. Agora o trabalho difícil ficara consigo, entreter Constance até cair no sono enquanto a mesma não parava de reclamar, deitada em sua cama.
── Você também vai, não é? ── lhe questionou com um olhar penoso em total negação ao que faria. Sim, porque, ela estava cogitando aquilo.
── E deixar a minha irmãzinha favorita aqui, sozinha? De jeito nenhum! ── escolheu disfarçar, ainda que já mantivesse uma resposta ao impasse em seu interior, contudo esqueceu-se de que costumava ser realmente péssima em mentir e que a menor sempre fora bastante esperta para se deixar levar numa conversa tão fútil quanto aquela.
Devie queria muito ir porque, repentinamente, sentiu como se fosse a única jovem da vila que não compareceria e ela não anseava ficar de fora das novidades.
── Tá mentindo! Você só tá esperando eu dormir... Você e a Abigail nunca me levam a sério! ── Constance cobriu o rosto com a coberta feita com lã, cruzando os braços abaixo dela.
── Tá, tudo bem... ── a do meio se deu por vencida, a descobrindo ── Então, me diz o que você quer?
── Eu quero ir até floresta! Com vocês... ── e se inclinou para olhá-la novamente, desta vez com um olhar típico de alguém que quer muito convencer a pessoa a sua frente, e acreditem, se esforçou como nunca antes em toda a sua vida.
Devie respirou fundo, pois sabia que tinha um processo de argumentação longo pela frente:
── Haverá uma outra festa, daqui a três dias... ── iniciou, sendo interrompida pela mesma imediatamente.
── Não! Mas eu...
── Constance, só me escuta!... Se quer mesmo ir, tem que escrever o seu desejo aqui! ── a garota avançou até a penteadeira e alcançou uma folha de sálvia, junto de uma pluma e o tinteiro ── Quando colocá-lo em baixo do seu travesseiro, deve sonhar com o desejo que escreveu, e então ele se tornará realidade. ── piscou, depois de lhe entregar todos os objetos e aproximar a luz da vela que segurava para que pudesse ter uma visão mais vasta do que fazia.
── Isso funciona mesmo? ── a ruiva arregalou os olhos, incerta, mas a forma com a qual sua irmã havia dado ênfase a frase, muito a convenceu.
── Certamente. ── e levantou o queixo ao vê-la concentrar-se em terminar de anotar o pedido ── Mas se o que colocou aí não aparecer nos seus sonhos, tem que enterrar a folha ao lado de fora, no nosso quintal, entendeu? ── o questionamento mal foi ouvido por Constance que empolgada com a ideia, ajeitou a pequena folhinha esverdeada por debaixo de seu travesseiro e encostou sua cabeça contra ele, num bocejo demorado, seus olhos já estavam cansados de tanto esperar, ela estava com bastante sono, mas continuava sendo teimosa demais para admitir. Era de praxe acreditar que se o que anseava durante o sonho não acontecesse, consequências terríveis desencadeariam a partir disto, a menos que enterrasse o tempero em solo firme.
Quando a assistiu cair num ronco profundo, Devina sacudiu a cabeça, levantando-se num impulso e aproveitou para pegar sua capa rapidamente, o frio em seus dedos revelava o nervosismo presente. Aí estava mais uma mentira, não haveria outra festa daqui a três dias, a única oportunidade para saber o que a lua cheia da madrugada os aguardava era o agora, naquele pequeno segundo em que finalmente decidiu seguir seu instinto e atravessar a porta da frente, como na noite passada.
A capa negra se movimentando pela baixa vegetação a fez assimilar que tratava-se de Sarah quem vinha se aproximando de Hannah pela lateral da casa dos Miller, escondida, Berman sentiu todo o sangue fugir de seu rosto assim que elas se viraram para vê-la. Um olhar entusiasmado que a fez seguir em direção de ambas, ninguém queria comentar sobre as consequências daquilo, a ruiva também parecia ter se esquecido naquele instante.
── Então vocês vieram? Estou feliz que fizeram a escolha certa! ── a loira apertou os lábios, empolgada.
── É o que vamos descobrir... ── Devie semicerrou os olhos, um tanto desconfiada.
── Alguém aqui não tá aproveitando como deveria.... ── Fier fez bico, olhando de canto para a do meio.
── Eles podem nos pegar a qualquer momento... Isso não vai terminar bem! Não deveríamos estar festejando assim, às escondidas. ── se defendeu.
── Eles não vão! E se acontecer, nós seguramos nas mãos uma da outra e saímos correndo, pro mais longe que conseguirmos! ── Hannah entrelaçou seus dedos ao das duas outras, tomando a posição entre elas com um sorriso genuíno nos lábios, uma onda avassaladora de medo e um formigamento contínuo aqueceram seus corpos. Não conseguiam advinhar o que aquilo significava, mas pressentiam que durante a lua cheia tudo se tornava estranhamente possível e convidativo ── Não podem nos recriminar por querer se divertir!
── Mas Devie tem razão. ── a morena ponderou, quebrando os olhares concentrados ── Se não fomos agora, podemos ter problemas.
── Então vamos, vamos pegar os frutos com a viúva! ── Miller prosseguiu mais a frente, enquanto ambas se aproximavam dela correndo.
── Pode ser perigoso... ── a ruiva argumentou, não querendo levá-las até lá, embora houvesse aprendido o caminho.
── Lizzie disse que os frutos são confiáveis, apenas uma mordida... E eles nos permitem ver um mundo além do nosso! ── revelou, a curiosidade as inquietava.
Entraram uma a uma pela floresta, era mais amedrontador do que se lembravam, os galhos se entrelaçando uns aos outros permaneciam dificultando a passagem. Berman não queria fazer aquilo, mas olhando para dentro dos olhos das garotas ao seu lado, sentiu um arrepio intenso que a conduziu a fazer qualquer coisa que pedissem.
── Por que uma velha precisa disso? ── Sarah franziu a testa.
── Minha irmã diz que ela não é uma velha qualquer. A viúva tem mil anos de idade, ela bebe o sangue das virgens pra se manter jovem.
── Então Abigail e Lizzie estão a salvo! ── Fier debochou.
── As pessoas dizem que ela sacrificou o marido para se tornar a noiva do diabo. Foi como ganhou a vida eterna! ── Hannah acrescentou.
── Soube que ela conviveu com os nativos. E que ela até se apaixonou por um deles. Por isso ela foi exilada, e também aprendeu a medicina deles. O Solomon me contou, ele levou a esposa para vê-la, após perder a filha, mas, era tarde demais... ── informou, conforme atravessavam cuidadosamente um riacho, ajudando uma a outra, se divertindo enquanto os sons da natureza pareciam calmos.
── Tem certeza de que é o caminho certo? Você ainda se lembra como chegou aqui ontem a noite? ── Miller tocou novamente naquela informação e a de cabelos encaracolados as olhou com um semblante sério, como se não fosse deixar escapar o assunto dessa vez, ela queria estar à par de tudo.
── O que veio fazer aqui? Se consultar para descobrir quem vai ser o seu futuro amor? ── ajeitou a capa, rindo do que acabara de dizer, Sarah raramente levava as coisas a sério.
── Lembram quando Abigail estava com o anel em chamas? ── Devina balançou a lamparina que carregava, insinuando a situação ── Pois é, nós precisamos voltar aqui na noite passada, mas não se preocupem, já está tudo resolvido! Acreditem. Ela está bem, bem melhor do que eu... ── fechou os olhos num instante, tendo em vista que ela era a única a se preocupar com o que haviam feito.
── Abie estava se coçando como um cachorro durante o sermão do meu pai. Minha mãe disse que ela tinha dormido com um demônio. O presente do diabo! ── a loira comentou sorrindo, recebendo uma cotovelada de Fier, encarando Devie, então sentiu-se embaraçada ao notar a besteira que havia dito, afinal, a garota continuava sendo irmã dela ── Desculpa...
── Tudo bem. Com quem quer que tenha sido, esse é o menor dos problemas agora... ── murmurou.
── E a viúva a curou com bruxaria? ── Fier trocou de assunto, enquanto paralisavam diante da cabana ao centro da floresta, silenciosa e pouco iluminada.
── Sim. Bruxaria... E uma pasta fedorenta feita para vadias como a minha irmã. ── prosseguiu, com um sorriso de canto.
── Nós vamos mesmo fazer isso? ── pela primeira vez a autoconsciência da de cabelos negros disse mais alto, mas já era tarde demais para voltar atrás.
Além disso, Lizzie esperava pelos frutos que, uma vez, Hannah afirmara que levaria até ela durante a celebração, lhe dando plena certeza daquilo. A única alternativa aquela altura, era investigar.
── Viúva Mary? ── Devina chamou e seus passos se apertaram, entrando sorrateiramente. Ela esperou à porta por alguma surpresa, o que não aconteceu. Nenhum barulho na cabana, nem mesmo o corvo de outrora, então assentiu para as moças que a seguiram calmamente ── Ela não está! ── anunciou, se aprofundando no interior da residência provisória, afastando um tecido que separava os cômodos do local de moradia, seus olhos se fixaram sobre uma bandeja, algumas frutinhas circulares e azuladas estavam distribuídas ali, a ruiva arregalou os olhos, soltando o ar preso na boca de seu estômago, imaginando que as minúsculas esferas era o que tanto procuravam, um tanto aliviada, já que não nescessitariam fazer tanto esforço ── Acho que encontrei os frutos...
A jovem de vestido branco deu um pequeno salto e mordeu os lábios, orgulhosa, correndo para ajudá-la a pegá-los, lhe ofertando cobertura, procuraram agilizar os movimentos, escondendo tudo entre as saias. Mas Sarah não foi com elas, ficou para trás, contornando uma mesa que se centralizava praticamente aos fundos, se atentando a um baú reluzindo sob a meia luz das velas já pela metade, haviam carcaças de animais pelo chão, provavelmente já empalhados e a tampa da caixa revestida pela pelugem de um deles. Seus dedos incertos titubearam pela superfície, reconhecia estar sendo extremamente curiosa, mas quem não era quando se tratava de Mary? O que ela fazia ou parecia esconder naquele lugar tão apartado, vez ou outra, tornava-se tema das conversas mais banais pela vila. Ao erguer a tampa, seu olhar negro recaiu sobre um livro misterioso apertado ali dentro e não se moveu para longe até então, havia um pentagrama estampado em sua capa. Fier o colocou no chão, curvando os joelhos e aproximando o rosto para ler atentamente, o abrindo. Seus lábios separados em forma de surpresa, pois os desenhos esquisitos grafados ali a fizeram engolir em seco de medo. Passando o dedo indicador linha a linha para entender melhor o que aquelas palavras significavam, compreendendo apenas o título "Uma Simples Troca".
── Abadom, Azazel, Belzebu, Moloque, Satã... ── foi ditando os nomes num sibilar enigmático, enquanto o fogo crepitava mais alto.
── Pare! ── a voz saltando do escuro a fez se levantar em um pulo rápido.
O rosto cansado e bastante perturbado da mulher que surgiu ao corredor, provocando a cena mais assustadora que já presenciara, sobretudo pela faca brilhando em sua mão, roubando seu fôlego.
── Viúva? ── a morena quase engasgou, seus passos tão repentinos avançando em sua direção também a fizeram congelar, seu corpo se encostou na mesa atrás de si, vendo o objeto ser apertado contra seu queixo, enquanto Mary a paralisava com a outra mão.
── O véu se tornou fino com a virada da lua. E com ele nasce a estrela do amanhã. ── começou explicando, a respiração perto de seu rosto amedrontado ── Muito cuidado com o diabo, ele vive nesse livro. É como ele invoca. Ele sente você agora. E se você não tomar cuidado, ele se enfiará sob a sua pele e a consumirá de dentro pra fora.
O silêncio aterrorizante, no entanto, não durou muito tempo, sendo interrompido pelas garotas que retornaram ao perceber todo o barulho na parte primária do casebre.
── Sarah? ── os lábios trêmulos de Devie, a qual chegando mais perto a fim de fazer a mais velha reconsiderar, somente recebeu um olhar repleto de ódio em troca vindo da viúva.
── Você? ── reconheceu, ao semicerrar as pálpebras ── Ainda não satisfeita com a parcela de escuridão que recaiu sobre a sua família? ── indagou à Berman ── Mas o tempo irá mostrar a vocês! Sei que irá...
Ela ainda observou por cima de seus ombros mais uma vez, conforme deixava a de cabelos encaracolados se afastar de sua faca e unhas afiadas, notando a presença de Hannah por último. Seu coração explodia num misto de incrédulidade e revolta pela tamanha desobediência das jovens.
── Saiam! Saiam daqui! ── aumentou o tom, as empurrando para que fizessem aquilo o mais depressa possível. E o corvo que antes não estava em lugar algum, apareceu ao aterrizar pela janela, acompanhando sua dona na empreitada de afastar as três garotas ── Vão embora! ── bradou por último.
Correr naquela escuridão com a lamparina bambeando entre as mãos, a qual por sinal iluminava muito pouco a estrada por onde pisavam, foi um desafio e tanto. Contudo, as três não hesitaram, o desespero por fim passou quando se deram conta de que Mary não as perseguiria como imaginavam. Além disso, Sarah que não havia feito aquilo por mal, ainda memorizava as palavras que insistiam em não sair de sua mente, o livro havia mexido com ela e a ameaça da mulher também. Sem contar Devie que, ainda matutava atentamente o enigma da velha, mas sentia que no fundo, aquilo não a levaria a lugar algum. Protegendo os frutos entre os panos de suas roupas, ouviram seus corações se orientarem no ritmo correto das batidas mais suaves, sendo guiadas por um novo som, o qual deveria ser o de palmatórias sincronizadas e risadas ensurdecedoras, talvez até houvesse uma harpa ao fundo.
Se entreolharam numa cumplicidade invejável, como se pudessem ler o que se passava na cabeça uma da outra em segundos, estavam certas de que se encontravam bastante próximas a festa e, Hannah que não temia ao desconhecido, foi abrindo passagem entre os filetes das árvores, conforme as outras duas a alcançavam. Não estavam enganadas, a celebração acontecia bem próximo de onde fugiram. Todos os jovens de Union se localizavam ali, ao redor de uma fogueira enorme: ora dançando, ora gargalhando. Ora se embebedando em cuias, ora esfregando seus corpos um ao outro. De todas as outras, Devina era a que menos parecia confortável de fato, por isso Sarah agarrou seu braço e o entrelaçou ao seu, a surpreendendo. A ruiva retribuiu com um curto sorriso, era como se as coisas houvessem magicamente melhorado entre elas. A loira as encarou, um forte rubor em suas bochechas assim que sentiu Berman se aproximar e a respiração evaporar na curva de seu pescoço, distribuindo os frutos entre seus dedos, a fazendo abrir as mãos e juntá-las, apoiando as pequenas esferas sobre elas.
── Ah, aí estão vocês! ── elas olharam em direção a multidão, perdidas, mas logo avistaram que quem vinha de longe era Lizzie, a dona da pequena silhueta atravessando até as mesma que ainda pasmas com o ocorrido de antes, tentavam esquecer do nervosismo e relaxar com o momento.
── A gente já tava começando a ficar preocupado... ── um rapaz de cabelos claros que, a ruiva chutou ser Isaac, de acordo com as mil vezes em que sua irmã o descrevera, passou o braço por cima dos ombros dela.
── Então, você veio? ── um suspiro mais profundo ecoou na floresta. A de capa vermelha engoliu em seco ao notar sua irmã diante dela, parecia de certa forma incomodada, um frio intenso circulando no estômago. Embora a pergunta parecesse óbvia, Abigail se sentiu ameaçada de alguma forma.
── Bom, a lua cheia surge!... ── Hannah abriu um sorriso largo, os interrompendo, indicando os frutos entre seus dedos.
Os outros três se entusiasmaram em mesmo nível, afoitos a tomar uma porção para cada, se entreolhando ansiosos, o peito estufado, passada por passada de ar pelos pulmões cada vez mais bruscas.
Devina fitou Hannah que já deslizava o pequeno caroço pelo céu de sua boca molhada e depois atirou sua insegurança sobre a morena que, retribuiu com um olhar assustado, no entanto, mordeu o fruto rapidamente, como se não esperasse grande coisa vindo dele. O seu ficou por último e, como uma promessa de que não continuaria temendo à absolutamente nada naquela noite inquietante, o aproximou de seus lábios.
── Aos frutos da terra! ── ela o ergueu e depois espremeu entre os dentes, o mordiscando, o gosto era mais doce que esperava, brindando à situação.
Não soube exatamente quando aquilo fez efeito, mas supôs que o calor incomum queimando por debaixo de sua pele não fosse algo natural, pois ele foi o principal responsável por fazer com que se despisse de boa parte de suas vestes mais pesadas. Não se importou com o quê ou quem estivesse em volta, aliás, sua mente estava tão desconexa que o mundo parecia estranhamente escorregadio, além de trêmulo, difícil de raciocinar. Entretanto, para seu alento, os outros também estavam fazendo o mesmo. Ficando, inclusive, descalços para dançarem melhor ao som calmo de fundo, Devina quis fazer parte daquele mundo tão distante do seu, cansada de toda a obediência e cobrança, de toda saliva engolida à força para não contradizer aqueles que diziam a amar mais do que tudo, quando se importavam apenas com seus próprios umbigos. Pela primeira vez estava se curvando para os seus desejos e, aquela sensação fresca de liberdade, a inebriou. Sentia-se confortável e um tanto zonza, escutando as risadas ao entorno ficarem mais afastadas, haviam apenas dois pontos na multidão com quem se importava e enxergava de fato. O primeiro: as madeixas agora soltas e reluzente da loira, voando como um mar que a estava levando sem que pudesse controlar a direção, o arco de flores no tom púrpura feito por ela parecia complementar sua beleza, chamando atenção no topo de sua cabeça.
Hannah Miller parecia um anjo, vista assim de perto.
O segundo: Sarah Fier, com certeza tal sorriso bastante provocativo a desnorteou. Os olhos grandiosos, por sua vez, a fitando como se quisessem chegar a um ponto que Berman temia reconhecer ou ultrapassar. As três se movimentavam em êxtase, era nítida a felicidade resplandecendo em suas faces, esbarrando contra pessoas aleatórias, girando num mundo à parte, os olhares nunca foram quebrados desde o início da dança. Correntes invisíveis as apertavam, cada vez mais justas, como se alertassem que não tinham para onde correr, porque estavam sendo puxadas uma pela outra, conectadas pelo emaranhado invisível que as uniam. Quem sabe fosse só encanto do luar atípico; muito pouco provável, se considerou, pois mesmo elas sentiam que não era apenas isso... Tinha algo a mais, lá no fundo, como uma valsa terna e que ao mesmo tempo queimava, que nem a fruta que experimentaram um tanto mais cedo, as fazendo sentirem vivas como nunca. Mas a sequência de giros suaves e flutuantes foram interrompidas quando a loira esbarrou em alguém inconveniente o suficiente para despertar o instinto protetor de Devie que, se aproximando depressa de Miller ao ver o homem reagir agressivo. O rapaz impediu sua passagem e se deu conta do quão desesperado estava, extremamente bêbado, ao ponto de qualquer um conseguir sentir seu mal hálito, ainda que à distância.
Aquele homem era só mais um babaca da vila.
── Venha para a floresta... ── insistiu e a ruiva o ouviu sussurrar contra o cabelo da garota, demonstrando uma expressão de nojo, enquanto ele apertava a cintura dela e a própria tentava se desvencilhar de seus toques asquerosos.
── Vai se divertir com outra pessoa! ── Hannah empurrou seu peito, se afastando, conseguindo avistar por fim os olhos esverdeados e orgulhosos da Berman, os quais a aguardavam sem se mover, sorrindo para a do meio, quando foi agarrada novamente, os dedos dele a seguraram com mais força desta vez, a assustando ── Tire as mãos de mim, Caleb! ── gritou, se debatendo em seus braços, enquanto ele arrancava os cordões de sua camiseta, perto aos seios. Parecia tão perturbado que mal levava em conta a presença de quem quer que estivesse os olhando ao redor.
── Deixa ela em paz! ── a segunda empurrou seu corpo, não compreendendo muito bem de onde tirara tamanha força, mas o viu cambalear com o gesto, o que foi essencial para que se afastassem. Apesar disso, Caleb a fitou com um semblante sádico, ao tempo em que limpava o canto dos lábios úmidos por sua saliva. Mas ele não pararia com aquela ação, na verdade, estava satisfeito com o que acabara de ver.
── Tá disputando a vez com a sua amiguinha? Quer ser minha primeiro? Vocês duas podem entrar num consenso... Afinal, eu vou estar disponível a noite toda! ── se inclinou na altura da ruiva, a qual permaneceu com o semblante sério e um resquício de raiva entalado na garganta ── Ei, não me provoque, garota! ── Caleb se voltou a Miller quando notou que ela estava prestes a deixar a roda. Insistência e atrevimento pareciam ser o seu forte, porém havia igualmente uma clara obsessão.
── Ela não está provocando! ── uma voz cortou a respiração acelerada do rapaz, quando olhou para o lado, Devina assistiu Sarah se impor com um semblante indignado, seus olhos molhados, como se sentisse toda a vergonha que aquela atitude estava proporcionando as outras duas. Ela só queria preservá-las do sentimento incômodo, aquilo já estava passando de todos os limites ── Fique longe delas! ── alertou, o dedo apontando para seu queixo coberto pela barba mal feita.
── Está com ciúme, Sarah Fier?! Também quer um beijo? ── continuou, com o deboche estampado em seus lábios ── Sabe, talvez se não fosse uma cadela frígida...
Porém seu falatório foi interrompido por um soco, Fier fechou os dedos e o direcionou contra a boca do rapaz que virou o rosto com o impacto, o sangue saindo de suas bochechas manchou seus dentes.
── Aí está seu beijo! ── retrucou, nitidamente feliz com o que havia feito. Os outros jovens paralisaram o que quer que estivessem fazendo, se voltando para eles, prestando atenção na confusão que havia se formado. Enquanto a morena apontava em seguida para seu membro ereto no meio das pernas, ironizando com um sorriso travesso ── E se você continua ansioso, alguma mula amarrada há de ignorar suas falhas no escuro... ── a ruiva se escondeu atrás delas, deixando um suspiro escapar com seu riso leve.
Logo um coro de risadas foi ouvido, enquanto Caleb se afastada envergonhado. E as garotas sentiram pela primeira vez que, quando juntas, eram capazes de qualquer coisa.
Quando a de cabelos encaracolados tomou a do meio por sua mão direita e ela arrastou a filha do pastor consigo, as três sabiam que obviamente se apartavam o bastante de todos. Prova disso é que nada mais que seus risos irracionais repercutiam no local arriscadamente silencioso, porém ainda assim, não deram a mínima. Continuaram acreditando no instinto atrevido dentro de seus corações. Sempre que se encontravam sendo guiadas uma pela outra, não temiam a coisa alguma. Era fato, no entanto, que ficava cada vez mais tenebroso à medida que continuavam avançando, o bosque cercado de árvores misteriosas no qual entraram saltitantes e felizes, rodopiando sem soltar o braço uma da outra, muito se assemelhava ao centro de uma armadilha metódica.
── Você é totalmente louca! ── Hannah comentou com a voz embargada para a mais alta que se aproximou de uma pedra grande o bastante para repousarem nela.
── Que seja... Você é incrível! Ela protegeu a gente! ── Devina demonstrou um brio no olhar ao relembrar aquilo, se apoiando contra o objeto.
── Não. Eu só não tenho medo com vocês! ── retribuiu. E Miller que parecia mais delirante, se segurou nos ombros de ambas as garotas, aproximando seus rostos na luz fria do luar.
O que precisava ser levado em conta é que, as vendo agora, a fruta sugerida por Lizzie notava-se ser um tanto alucinógena, mas o sentimento que estava sendo escancarado graças a mesma, era sincero o suficiente e antigo. De modo que só conseguisse ser expressado com aquela ajuda em especial.
── É melhor voltarmos... ── Sarah sugeriu, tentando se estreitar da terrível sensação transgressora. Mas apesar disso, sua pele pulsava, como se uma força maior quisesse arrebentar todos os poros de seu corpo e libertar o que quer que estivesse dentro dela, aquele calor circulando entre o arfar de cada uma, doloroso e ao mesmo tempo afável, indicando que estava mentindo com o pedido falho.
── É... ── Berman orientou, constrangida, anseando igualmente dar um passo a diante, porém mentindo em palavras.
── Será mesmo? ── Miller foi a primeira que teve coragem em admitir, as instigando. E adicionou pequenas pétalas da coroa de flores sobre sua cabeça, entre as madeixas das que estavam em volta de si. Olhando para os lábios avermelhados, anseando o momento que poderia tocá-los, porque sem dúvidas: era uma sensação completamente nova, no fundo, ainda um medo implacável a dominava, mas não foi o que decidiu colocar em primeiro lugar naquele momento, não quando pela primeira vez sentiu seu espírito se completar de maneira ímpar.
── Não podemos. Isto é errado! ── a morena arqueou as sobrancelhas, os pelos se ouriçando com os dedos da loira deslizando pela região entre o pescoço e próximo aos seios, Devie discretamente enrolou um dos fios dela entre os seus, não que pudesse controlar, o cheiro doce que vinha de seu cabelo a fazendo encontrar dificuldade em resistir, foi inevitável.
── Não parece errado... ── Hannah olhou profundamente nos olhos verdes da jovem ao lado, puxando seu cabelo, arrastando os lábios contra suas bochechas, o alvo era outro na verdade: a boca, mas ela a desviou a tempo. Sarah apenas as encarou atordoada, sentindo a mão da que estava acima dela tocar seus seios delicadamente.
── O que os nossos pais diriam? ── o questionamento saiu mais como um gemido baixo, os olhos fechados, completamente entregue ao som de sua respiração.
── Eles não precisam saber. ── Miller declarou, concentrada, com as mãos no pescoço de Fier ── Bastam me dizer que devo parar! ── prosseguiu, desta vez acariciando a ponta do nariz da de olhos negros com o seu. Num instante, os queixos das três se esbarraram, Berman decidiu que participaria daquilo também. Então as línguas se encontraram ao mesmo tempo, rapidamente as três as movimentando com o beijo estalando na quietude do lugar. As mãos se entrelaçando ao entorno de seus corpos.
Sarah se debruçou sobre o corpo frágil da ruiva, enquanto Hannah apertava seu cabelo, enrolando os dedos entre seus cachos, distribuindo um beijo discreto no topo de sua orelha, se colocando atrás da mesma, os dedos apertando seu ombros. Ela se arrepiou e, aproveitou para descontar todo seu desejo sobre os lábios de Devina que, rapidamente estremeceu. Os corpos das três se aproximaram suavemente, as línguas de Sarah e Devie deslizando sob o brilho escasso do luar, ao tempo que um curto arfar saía de suas bocas entre uma pausa e outra que faziam para recuperar o ar. Miller puxou a blusa da morena mais uma vez, enquanto arrastava a língua por sua nuca, a mordendo fraco. Ela se virou para vê-la, os olhos claros da loira a devorando como um cordeirinho indefeso, prestes a atacar, assim o fazendo, ela puxou seu rosto contra sua boca delicada, prendendo seus lábios contra os dela, adentrando o céu de sua boca. Aquela energia era o que as mantinha tão hipnotizadas, havia algo especial naqueles toques.
Até que Hannah foi empurrada para o centro da pedra, as duas a encurralando, mas desta vez Berman liderava seus lábios, enquanto Sarah descia uma trilha de beijos por sua pele, agora se aproximando à sua barriga, lambendo os seios no percurso. A ruiva os apertou assim que Fier afastou as pernas trêmulas da loira, sentindo os dedos dela deslizarem por sua coxa, enquanto pescava sua saia com os mesmos, a levantando. Devina sentou-se sobre a pedra e, a morena levantou os tecidos da que estava ao centro, encarando suas coxas suadas, ela as abriu um pouco mais, desejando aquilo. Os dedos de Miller subiram mais do que deveriam pela silhueta de Berman, mas a garota não reclamou, enquanto apertava os fios do cabelo de Sarah com a mão esquerda, a qual afundou seus lábios, roçando a língua ao redor e para dentro dela. Os movimentos estavam ficando mais rápidos, a morena parecia empenhada naquilo, bebendo do prazer que era assisti-las tão entregue, o corpo dela se contorcendo ao senti-la e seus dedos começaram a se movimentar sútil pelo íntimo de Devie, a massageando delicadamente e a satisfazendo com todas as letras, a qual apertava seus braços num impulso, ambas ofegando e gemendo baixinho.
Fier se levantou extasiada, pronta para juntar seus lábios aos delas novamente e transferir o doce sabor para os mesmos. Mas ela recuou quando ouviu um som de galho quebrando e, as duas garotas cobriram-se novamente, se abraçando numa tentativa de protegerem uma a outra, os olhos arregalados e o semblante pálido. Era como se o sangue houvesse fugido e uma fisgada na ponta do estômago insistisse em deixá-las desconfortáveis.
── O que foi isso? ── Sarah questionou, com um nó na garganta.
── A gente tem que retornar! ── a ruiva praticamente ordenou, pois a mesma sensação ruim da noite passada, tornou a persegui-la.
Hannah ainda encontrava-se estagnada, ela sabia da responsabilidade que carregava nos ombros por ser filha de Cyrus Miller, então se alguém contasse a ele, ela mais do que qualquer outro tinha conhecimento sobre as consequências que sofreriam. Não que ele fosse propriamente mal, mas leis foram feitas para serem cumpridas.
Seu corpo só reagiu quando as outras duas jovens começaram a correr para longe do lugar onde se localizavam. Observaram as tochas nas portas de algumas casas brilhando entre os vãos dos troncos, o que as orientou, alertando que aceleravam próximo a vila. Tudo o que precisavam agora era estarem em casa, o quanto antes melhor, para não levantarem ainda mais suspeitas. Depois de minutos correndo até seus joelhos doerem, sem dar uma única espiada para trás. Elas desaceleraram próximo a residência dos Fier, suas capas absorvendo a poeira do chão ao se abaixarem. Segurando nas mãos umas das outras, os olhos apreensivos, cochichando num tom praticamente inaudível.
── Alguém estava lá! Alguém nos viu... ── a filha do pastor mordeu os lábios, apreensiva.
── Impossível! ── a de cabelos enrolados tentou tranquilizá-la.
── E se foi a viúva? Ou o Caleb? ── a ruiva ponderou, abraçando o próprio estômago.
── O caleb mal consegue achar o próprio membro! ── Sarah rebateu, a consolando.
── Mas se ele nos viu e decidir contar... ── Miller se encolheu, o suor escorrendo por sua face.
── Aquele fedelho mimado não me assusta! ── cerrou os punhos.
── Vão nos enforcar! ── ela alertou, com os olhos faíscando em desespero.
── É, é verdade. Eles vão nos matar! ── Berman concordou.
── Que nos enforquem então! Que nos matem lentamente... Até agora, eu não sentia que estava viva! ── Fier semicerrou os olhos, orgulhosa do que tinham vivido.
Elas se juntaram num abraço apertado, as bocas se entrelaçando numa mistura de pavor e desejo incontrolável.
No escuro, por detrás dos galhos sombrios, um sádico as observava, louco Thomas usou um tronco largo como proteção, se escondendo e gargalhando.
── Pecadoras... Pecadoras! ── ele murmurou e riu mais alto, ainda assim elas não o ouviram. O qual empurrou o cantil de bebida contra os lábios, bebericando numa única virada.
Quando Devie entrou para a sua residência outra vez, que por sinal, ficava bem próxima de onde se despediram. Ela não conseguia parar de pensar na experiência que tivera, tão mágica que se tornava inesquecível. Não estava raciocinando direito, porém a forma como Hannah e Sarah a tocaram, a fizeram alcançar o céu por um instante. Atravessando para o seu quarto, buscou dormir, mas não conseguiria pegar no sono com a imagem de ambas garotas rendidas aos seus beijos, ela deslizou os dedos por dentro de sua camiseta, a lamparina com a luz já escassa ao canto, pretendia acariciar-se um pouco mais, a chama que queimava seu ser a estava levando aquilo, no entanto, o passo esmagando a madeira do solo atrás de si provocou um assombro em sua alma, a culpa remoendo sua consciência, agora seus pés finalmente tocaram o solo, alcançando a realidade. Olhando sobre os ombros, viu o corpo magro e pequeno de Constance se aproximar timidamente, então encarou a cama ao lado, espantada por ter se distraído tanto ao ponto de não perceber que a menor estava em pé.
── Então você vai me explicar? ── ela lhe cobrou, com as sobrancelhas em riste.
── Explicar o quê? ── seus olhos molhados a fitaram com seriedade.
── Por que estava beijando duas garotas na frente da nossa casa?
── Quem te disse isso? ── a confrontou, em seu estado nervoso e zangado como jamais se presenciara antes.
── Eu vi! ── a caçula aumentou o tom e Devina pediu silêncio, encostando o indicador no curto bico que fizera.
── Não. Você não viu nada. ── e a empurrou pelos braços para sua cama.
── O papai vai ficar sabendo... ── ameaçou, um tanto resignada. A menina não costumava ser maldosa, aquilo era apenas birra e, estava obviamente chateada, além de magoada por não ter ido à festa na floresta, a mais velha rapidamente associou aquilo e buscou contê-la.
── Você não vai contar nada, Constance! ── arregalou os olhos, a advertindo. Cobrindo sua silhueta com o cobertor feito de lã, a protegendo ── E você é muito nova pra entender...
Seus olhos se perderam no vazio da escuridão de seu quarto, havia muito o que se pensar. Mas amanhã seria um novo dia, certo? E não era o próprio pai de Hannah que costumava dizer que o amor era uma benção? Porque pela primeira vez, sentia-se dessa forma. Ela não queria cogitar as consequências. Em sua opinião não havia feito nada demais, mas a forma como as pessoas certamente a encarariam se soubessem do ocorrido a deixou ligeiramente envergonhada. Abanou com a cabeça, afastando suas dúvidas. Talvez desconfiasse que uma série de desfortúnios estava realmente por vir, só não imaginava que seriam tão devastadores.
₍ 001 ₎ Hey amores, finalmente
cap novo! Consegui trazer uma
atualização nova em meio ao
caos que tá sendo minha vida
com essas volta as aulas. Ficou
um pouco grande, então peço
desculpas por isso. Mas espero
que tenham gostado!! ♡ Nosso
casal finalmente juntos! TUDO
PRA TODOS AH!! ♡
Sei que alguns que acompanham
essa história tbm acompanham
Haunted, então tô avisando por
aqui que em breve sai atualização
lá tbm, o mais rápido possível assim que
eu tiver um tempinho livre, prometo!! ♡♡
AH, PASSANDO PRA AVISAR TBM
QUE... O próximo cap vai conter alguns
temas fortes, então estejam bastante
preparados. Nos vemos em breve, amo
vcs! Obg por acompanharem essa
história! ♡♡♡
₍ 002 ₎ Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!
₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡
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