𝟏𝟒
Catarina Sartori
Acordo com o sol batendo na minha cara e o som do pagode no talo.
— ACORDA, CATZINHA!— Rafael grita, com seu copo em mãos, perto da churrasqueira, com Hugo e Léo Pereira e agora percebi que dormi no sofá.
Que horas são?
Me levanto, olhando para o quintal e percebo que já deve ser quase meio dia. As maravilhas da ressaca. Ignoro a dorzinha de cabeça chata e pego minha bolsa, me levantando e indo até o banheiro. Procuro meu telefone apenas para encontrá-lo sem bateria. Ótimo. Escovo os dentes e tomo um banho, trocando o biquíni marrom por um maiô azul e um shortinho branco. Volto para a área externa, procurando algo para comer, mas no caminho esbarro em Rafael. Ele está no telefone e parece preocupado, mas quando me vê afasta o telefone e tapa o microfone.
— Cat, eu tô tendo que resolver um probleminha com aquele patrocinador, mas minha mãe está chegando com o bolo, você pode ajudar ela quando ela chegar?
— Claro! Sem problemas!
Ele volta para a ligação sem dizer mais nada, caminhando para seu escritório e faço uma nota mental de perguntar para ele o que aconteceu dessa vez.
Volto para a varanda e vou direto para a churrasqueira, catando uns pães de alho e me enfiando na conversa entre Hugo, Léo Pereira e Arrascaeta.
— Oi, Cat!— Hugo me puxa pra um abraço.
— Oi, Huguinho!—sorrio, ignorando o fato de Hugo estar agindo desse jeito nas últimas semanas.
Pego um pratinho com dois pães de alho e umas carnes. Ótimo café da manhã.
— E vocês?— olho para os caras do flamengo— Hoje ainda é dia útil, vocês não trabalham não?
— Hoje é folga, bebê!—Arrascaeta me responde, sorrindo e levantando sua cerveja.
— Até nisso o Botafogo tá conseguindo ganhar de vocês esse ano?—provoco e os reviram os olhos.
— Aquele jogo é assunto enterrado— Léo diz.
— Ah, mas não é não! Cês acharam que iam ganhar e olha aí! Meus meninos amassam muito, né!
Os dois reclamam das provocações e Mariane para ao meu lado, com cara de sono.
— Bom dia...— ela diz, sonolenta.
— Bom dia, gatinha— respondo, ajeitando seu cabelo.
Uma coisa que acho incrível é o fato de realmente agirmos como irmãs, desde antes de morarmos juntas, quando nos conhecemos na faculdade.
Mariane me abraça rapidamente, antes de desaparecer dentro da casa, provavelmente indo se ajeitar, assim como eu.
Continuo conversando com os garotos até escutar a campainha tocar. Corro para a porta, dando de cara com a Tia Aline segurando um bolo enorme. Festa e Aline na mesma frase é a combinação perfeita. Ela sorri para mim, indo direto para a área externa com o bolo, Tio Roger atrás dela com umas três caixas empilhadas uma na outra e a bandeira do Botafogo pendurada no ombro. Logo atrás dele, Raissa, a irmã mais nova de Rafa, entra com uma caixa de cupcakes.
— Oi, Rai!—sorrio, abraçando ela, meio de lado por causa das caixas— Quanto tempo!
Raissa é a famosa "raspinha do tacho". Ela tem só treze aninhos, quando conheci Rafael, lá no ensino fundamental, ela era um neném.
— Oi, Cat! — Ela sorri pra mim, e pego a caixa de cupcakes das mãos dela e vamos até onde vai ficar o bolo.
Enquanto eu ajudo tia Aline a arrumar a mesa, Raissa e tio Roger tentam pendurar a bandeira no muro. Uma coisa que nunca mudou nessa família: as festas de aniversário do tio Roger e do Rafael. Todo ano, todas as festas, sem exceção, são do Botafogo. Absolutamente todas. Eles conseguem ser mais fanáticos que eu e eu costumo dizer que foi o Botafogo que uniu as famílias. O meu primeiro jogo em estádio sem a minha família, foi com os Carvalho. Não demorou nada para meu pai e tio Roger se tornarem melhores amigos. Rafael era o único menino que meu pai confiava para ser meu amigo. É claro que a amizade cresceu para além do time de futebol e quando vimos, os Carvalho eram parte da família Sartori e vice versa.
Assim que termino de colocar os bolinhos na mesa a campainha toca novamente. Corro para a porta da frente e o sorriso é inevitável quando abro. Wennya, Adryelson e Lucas.
Wennya é a primeira a entrar, mas já me puxa para um abraço apertado. Preciso dizer que adoro ela? Logo depois Adryelson entra, me dando um abraço rápido e indo atrás da esposa. Lucas fica por último, me puxando pela cintura e me roubando um beijo.
Definitivamente posso me acostumar com isso.
— Oi...— ele diz entre o beijo.
— Oi... você não tinha treino hoje?
Ele se afasta, me encarando confuso.
— Já até acabou...
— Que horas são?
— São quase quatro horas... que horas você acordou? Eu tentei te acordar, mas você não abria o olho por nada...— ele começa a caminhar junto comigo, com a mão em minha cintura.
— Quatro? Acordei tem uma meia hora...
— Por isso não respondeu o telefone?
— Ah, não, ele descarregou mesmo!
Ele segue para o sofá e vou atrás de tia Aline para ver se falta alguma coisa e acabo encontrando ela na cozinha.
— Oi tia, tá precisando de alguma coisa?
— Não, meu amor, tá tudo tranquilo!— ela diz, terminando de arrumar as caixas.
— Ah, tá bom, então!
— Ei!— ela me chama antes que eu possa ir embora da cozinha— É verdade?— ela sorri, apontando para a área externa e já sei do que ela está falando.
— Hum...— sorrio, sentindo meu rosto queimar— mais ou menos...
— Mais ou menos? Porque do jeito que ele te beijou ali na porta, menina...
— Meu Deus, você viu, tia?
— Não só eu!— ela se apoia no balcão, cruzando os braços— Acho que ele gosta mesmo de você...
Sorrio tentando conter a incerteza, me lembrando do que Lucas falou ontem. Sogros.
— É...eu acho que ele quer coisa séria...
— Ele não parece ser alguém que fica de brincadeira...—ela sorri, ajeitando uma mecha de meu cabelo—E seu pai? Como tá com isso? A caçulinha dele aparecendo em site de fofoca, ele deve ter pirado!
— Ah, ele pirou! Domingo tava pronto pra dar um show, mas consegui contornar e acabou que o Lucas também conseguiu dar uma fugida...
— Hum... Não vai poder fugir pra sempre, né?
— Não... mas a gente pensa em alguma coisa...
— É... mas pensem logo, porque sua mãe já me avisou que eles vão vir daqui a pouco.
Arregalo os olhos. Eu havia me esquecido completamente disso. De que eles viriam hoje. Meu Deus, meu Senhor, me ajuda!
Tia Aline sai da cozinha, rindo enquanto fico igual uma besta encarando a parede. Como eu pude esquecer esse detalhe? Que na verdade, nem é um detalhe, é uma coisa mega importante!
Nossas famílias são literalmente grudadas, Tio Roger estava até no aniversário da minha avó semana passada... É claro que eles vão vir, como eu consegui ser tão tapada?
Volto para a área externa e vejo que outros jogadores chegaram, tanto do Botafogo quanto de outros times. A maioria está na piscina. Volto a me sentar ao lado de Lucas, respirando fundo, procurando palavras.
— O que foi?— ele me pergunta, olhando minha cara de assustada— Aconteceu alguma coisa, se machucou?
— Não, eu tô bem...— respiro fundo mais uma vez, tentando não parecer tão incomodada.
— O que aconteceu então?
— É que...— solto uma risada meio desesperada— Eu esqueci do fato de que meus pais sempre vem nas festas do Rafa, e agora eu tô meio desesperada, mas tá tudo, eu já sou adulta, sei lidar com isso...— digo a última parte, mais para mim mesma do que para ele, tentando me fazer acreditar que sei lidar com isso.
Bom, eu claramente não sei.
Ouço sua risada anasalada e sinto seu braço ao redor de seus ombros.
— Ih, Lucas vai conhecer os sogros já?— Wennya provoca.
— Por mim tudo bem...— ele diz, parecendo tranquilo— Uma hora eu iria conhecer eles mesmo...
— Bom que vocês tão em público —Adryelson diz— assim teu sogro não te mata.
Lucas solta uma risada que parece nervosa, denunciando que realmente está fingindo tranquilidade.
— Se te tranquiliza, a minha mãe já adora você... e acho que meu pai vai segurar a onda...
— É, mas se ele ficar me encarando igual seu tio tá me encarando, eu não vou ficar tranquilo não...— ele diz e imediatamente olho para o tio Roger, que está nos olhando com uma sobrancelha erguida e com "cara de bravo".
Solto uma risada, entrelaçando minha mão na de Lucas.
— Fica tranquilo... se você quiser, eu te ajudo a se esconder...— sugiro. Sei como deve ser esquisito conhecer os pais da sua...ficante–ficante?– logo de cara.
— Eu não vou me esconder, Catarina... já disse que quero conhecer eles.
Sorrio, olhando para ele.
— Você é um fofo!
Ele apenas sorri de volta, o rosto todo vermelhinho.
— Olha o que o amor me faz, me deixa sem saber como agir...— Adryelson começa a cantar, me fazendo cair na gargalhada junto com Wennya.
— Vem cá, você tem sempre essa energia de criança atentada?— pergunto, recuperando o fôlego.
— Sempre!— Wennya e Lucas respondem ao mesmo tempo.
•
Estou completamente travada vendo minha família inteira passar pela porta da área externa. Todos eles. Primeiro Juliana, acompanhada de Vinícius, depois Caio, que me lança um olhar estranho quando me vê ao lado de Lucas, que está me abraçando. Depois minha mãe, que entra com um sorriso que só aumenta quando nos vê e por último meu pai, que mantém a expressão neutra.
Todos vão falar com Rafael primeiro, que os recebe com o mesmo calor de sempre. Juliana é a primeira a vir em nossa direção, Vinícius logo atrás dela, a energia dos dois sendo completamente oposta. Me levanto, o coração quase saindo pela boca.
— Oi, irmã!— Juliana me abraça como se não me visse há meses.
— Oi, Ju!— retribuo o abraço— Oi, Vini!— abraço rapidamente meu cunhado— Esse aqui é o Lucas...
Lucas acena com a cabeça, um pouco envergonhado.
— Oi Lucas!— minha irmã diz, animada, puxando ele para um abraço— Seja bem vindo à família! Esse aqui é meu noivo, o Vinícius!— Juliana puxa o coitado do Vinícius e quase rio com a cena.
— Eaí, cara...— Os dois dizem, trocando o cumprimento universal dos homens. Sabe, aquele aperto de mão com um meio abraço aleatório? É, nem eu entendo.
Caio se aproxima, seguido de meus pais. Os três falam comigo, antes de falar com Lucas. Dou uma leve cutucada nas costelas de meu pai e de meu irmão, lembrando-os de serem legais.
Meu irmão não diz nada, apenas estende a mão para um aperto e eu reviro os olhos com essa marra do meu irmão.
— Oi, querido!—minha mãe sorri, o abraçando assim como Juliana— Catarina falou muito bem de você!
Ótimo, agora quem está vermelha sou eu.
— Ela falou muito bem de vocês, também!— ele sorri daquele jeito fofinho e troca um aperto de mãos com meu pai— É um prazer conhecê-los!
— É bom conhecer você também.— meu pai diz, ainda com a expressão neutra.
Nós sentamos de volta no sofá do jeito que estávamos antes, mas Lucas rapidamente tira os braços do meu ombro, parecendo envergonhado. Olho para ele, contendo um sorriso. Passo minha mão por baixo de seu braço, segurando a sua mão, tentando passar tranquilidade.
O fato é que estou bem mais tranquila. Foi melhor do que pensei que seria...
Minha família para para cumprimentar Wennya e Adryelson, que ainda estão aqui perto de nós e olho para Wennya, quase implorando que ela não saia dali e ela sorri, assentindo.
Amo essa comunicação por olhares feminina.
— E então, Lucas, tá gostando do Rio?— minha mãe pergunta e quase deixo uma risada escapar pela tentativa de puxar assunto.
Bom eu estou nervosa, qualquer coisa nesse momento me faz rir.
— Ah, tô gostando sim! Aqui é bem diferente de São Paulo, mas tô gostando bastante.
— Ah, que bom! Você é de que lugar de São Paulo?
— Sou de Campinas...
— Poxa, que legal! Eu tenho uma amiga que mora lá...
Minha mãe e Lucas continuam conversando e logo a família toda está no assunto, menos Caio, é óbvio. A essa altura eu já discartei a ideia de ele estar meio com o pé atrás com Lucas, já que ele está olhando fixamente Mariane e Léo Pereira há pelo menos quinze minutos.
— Mas deixa eu te perguntar...— Juliana começa— Por que aceitou vir para o Botafogo? Tipo... é o Botafogo, né...—ela me olha, provocativa.
— Ah, Juliana, você cala a sua boca, desde que você virou a casaca tá insuportável com esse Fluminense aí!
Juliana vai na gargalhada, vendo que atingiu o objetivo de me irritar.
— Isso é porque ela arranjou um namorado Fluminense...— meu pai diz, fingindo desgosto e logo olha para Lucas— Pelo menos você tá no Botafogo!
— E espero que não pretenda sair!— minha mãe brinca.
— Por hora, não! Não quero sair nem tão cedo e meu contrato é até 2025, então tá tudo tranquilo...
— Isso é bom, você é um goleiro muito bom!— meu pai admite, abrindo sua terceira latinha.
— Esse foi o jeito dele de dizer que gostou de você...— sussurro perto do ouvido de Lucas, fazendo-o sorrir.
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e veio aí Lucas conhecendo os sogros!!!! o que acharam da interação?
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