𝟎𝟒
E hoje ela vai fugir com o Sol
Porque é só pra ela o calor
Na noite brilha mais que um farol
Fugir com o Sol - Oriente
Catarina Sartori
Me enrolo na toalha que Silvia me entregou, sentando na borda da piscina, tremendo com o vento gelado da noite. Metade do time foi embora assim que anoiteceu, e os que ficaram, entraram na piscina também. Agora devem ser umas oito da noite e as crianças já estão capotadas no sofá, enquanto os adultos aproveitam melhor a piscina. Ficar de babá o dia todo até que foi divertido, mas as crianças não paravam quietas! Chega a ser engraçado a adrenalina abaixando depois que as crianças foram dormir... Mariane mesmo está boiando pela piscina, e não duvido que esteja dormindo. Di Placido e Gatito estão na beira da piscina tomando chimarrão e Silvia está perto da churrasqueira com Adryelson e Wennya e Lucas se senta ao meu lado na piscina com duas garrafas de cerveja.
- Espero que tenha gostado de passar o dia...- ele sorri, me entregando uma das garrafas.
- Eu adorei!- pego a garrafa, tomando um gole- Obrigada por convidar!
- Nada, que isso... Gostei de ter você aqui.- Lucas diz, fazendo questão de olhar nos meus olhos.
- Olha, eu com certeza vou acompanhar mais o time!- mudo de assunto, sem saber o que responder- O jogo de ontem foi insano, você com certeza é herói da torcida agora, eu não tava nem brincando!
- Você se inclui na torcida?- ele se vira novamente para mim, com aquele olhar que usou antes de mergulhar comigo na piscina.
Tá querendo dizer o quê, senhor Perri?
- Ah... não posso dizer que me não incluo.- retribuo a provocação- Mas meu herói mesmo sempre vai ser o Jefferson!
- Hum...- percebo ele se inclinando para mim- e o que eu faço pra mudar isso? Porque esse posto parece bem tentador...
- Não sei, me diz você...- mal percebo que também me inclino. Mal consigo me controlar. Mal controlo o que sai da minha boca- Sabe, o gol é a minha parte favorita do campo...
Ele sorri com o que eu digo, se aproximando, mais e mais, até que eu consigo sentir sua respiração se misturando na minha, seus olhos azuis em minha boca...
Trrriiim!
Ouço do som familiar do toque de telefone e me afasto rapidamente. Silvia já está com o telefone em mãos, sem saber de quem é.
- É meu, Sil!- sim, já estou tratando-a pelo apelido. Nada que um dia de conversa não faça...
Ela corre com meu telefone em mãos, para me entregar, provavelmente incomodada com o toque irritante. Até eu fico. Encaro a tela e vejo o contato de meu pai ali e atendo rapidamente, estranhando o fato de ele estar me ligando.
- Oi, pai... aconteceu alguma coisa?
- Você tá em casa?- ele pergunta, parecendo nervoso.
- Não, por que?- me ajeito no chão, tirando os pés da piscina.
- Catarina, você esqueceu o aniversário da sua avó?
Arregalo os olhos, encarando Lucas, que ouvia tudo perto de mim.
- Pai, eu tenho um motivo muito bom!
- É bom que tenha, porque a sua mãe tá bem chateada, e a sua vó só vai deixar cortarem o bolo quando você chegar.
Meu Deus. Conflito de agenda seríssimo!
- Tá, eu chego aí em vinte minutos!- me levanto, indo em direção a minha bolsa e minhas roupas dobradas- Eu explico o que aconteceu agora, ou depois?
- Vem logo, eu converso com você aqui!
Vou ouvir pra caramba.
- Tá bom...- começo a juntar minhas coisas de volta na bolsa- Minha avó tá de boa?
- Ela tá bem, só quer cortar o bolo e ir dormir, vem logo!
- Tá bom, tá bom!- pego minhas roupas- Cadê meu sapato? Meu Deus, perdi meu sapato!
- Perdeu o sapato?- meu pai pergunta do outro lado da linha.
- Aqui, achei!- Lucas diz, me estendendo as sandálias- Pegou suas roupas?
- Suas roupas?- meu pai pergunta mais uma vez- Catarina Sartori, onde voce está? Quem é esse que tá falando das suas roupas? Cadê suas roupas?
- Meu Deus, não, pai! Eu vou me trocar, depois explico.- desligo o telefone, respirando fundo.
Corro para o banheiro, para tentar parecer minimamente decente. Visto a calça por cima do biquíni e troco a parte de cima pelo cropped azul. Mal fecho minhas sandálias, e grito me despedindo de todos, correndo para a porta de entrada.
Paro na frente do carro, procurando a chave do carro dentro da bolsa. Cadê.
- Catarina!- ouço a voz de Lucas atrás de mim- A Mariane pediu pra te entregar...- ele estende a chave do carro, ofegante.
- Ah!- suspiro, aliviada- Obrigada!
Me viro abrindo o carro e jogando minha bolsa dentro dele. Respiro fundo, me virando para Lucas de novo.
- Olha, eu adorei passar o dia aqui, apesar de você ter me jogado na piscina!
- Para, que você gostou!- Ele sorri, olhando para mim.
- Gostei mesmo...- puxo o ar, tentando manter a respiração regulada.
Passamos alguns segundos nos encarando, segundos que pareceram minutos, de tão intensos. Lucas se aproxima de mim novamente, cruzando a linha imaginaria que eu mesma nem sabia que existia.
- Sabe, eu costumo ser péssimo nesse tipo de coisa...- Lucas começa, prendendo os olhos nos meus- mas eu realmente queria beijar você agora.
O ar quase falta dos meus pulmões quando ouço isso.
Droga, eu também quero muito te beijar!
Não. Agora não, hoje não. Não sei o que pode acontecer se eu passar mais um segundo na frente desse homem, em uma rua deserta e com um carro vazio.
Espanto os pensamentos intrusivos e volto a focar em seus olhos.
- Eu adoraria...- Não minto- mas acho que vai ter que esperar um pouco...- me aproximo dele, deixando um beijo na bochecha e logo me afasto, ignorando a queimação no meu rosto. Sorrio com o canto da boca, abrindo novamente a porta do carro
- Até, Lucas!
Mal espero sua resposta antes de fechar a porta. Estou atrasada para o aniversário da minha avó e se eu não chegar nos próximos quinze minutos lá, meus pais comem meu fígado. Lucas se afasta quando dou partida no carro, voltando para a calçada. Buzino para ele e aceno, antes de pisar com tudo no acelerador.
•
- Você tava aonde?- Juliana, minha irmã mais velha, me pergunta assim que saio do carro- Papai tá surtando, querendo saber quem era o cara que tá a com você. Você tava... sua safada!- ela bate no meu braço, tirando as próprias conclusões.
- Não! Meu Deus, Juliana, não! Eu tava num churrasco com esse cara, só isso! Tava na piscina quando ele falou da roupa.
- Hum...- ela me olha, desconfiada- Então, rolou alguma coisa?
- Não! Chega disso! Vamos entrar!
- Não vai nem me dizer quem é?
- Se eu disser, você e meu pai surtam. Deixa pra depois do parabéns.
Entro na casa, abraçando meus parentes e minha avó. Não demora nem cinco para o parabéns começar e o bolo começar a ser cortado. Quanto mais velha minha avó fica, mais breves são esses momentos. Idosos realmente valorizam muito o sono.
Agora que minha avó finalmente subiu para dormir, ficaram só os filhos e os netos acordados. Estou sentada entre meus dois irmãos, atualizando o feed do Podcast.
- Catarina...- sinto meu irmão mais velho me cutucando.
- Que foi?- finalizo a publicação e desligo o telefone, o encarando.
- Quem era o cara que tava com você?- ele diz com uma cara feia, me encarando.
Meu pai que estava por perto e escutou, puxou a cadeira e se sentou na minha frente. Posso ouvir uma risada de Juliana e dou um tapa em sua perna. Minha mãe também puxa uma cadeira, sentando-se ao lado de meu pai.
- Gente, que isso? Reunião de família aqui, do nada?- Mateus, meu primo se encosta na cadeira de meu pai, se intrometendo.
- Catarina tava com uma cara antes de vir pra cá, a gente só quer saber quem é!- Juliana responde e logo Thainá, irmã de Mateus, se junta na roda.
- Caraca, que boca de sacola, você!- me irrito com Juliana, que solta uma risada sincera- Gente, eu não tava especificamente com uma pessoa, eu tava num churrasco, com amigos!
- Que amigos? Seus amigos do podcast- meu irmão pergunta.
- Meu Deus, Caio, isso importa?
Caio apenas me encara.
- A Mariane tava lá.
- Tá, tá, mas quem era o cara? Meu tio quase surtou aqui!- Mateus diz.
- Gente, deixa isso pra lá...
- Ih, não quer falar é porque tem coisa aí!- Thainá ri.
- Catarina. - meu pai me olha, de cara feia e sinto uma vontade genuina de rir- Eu ouvi muito bem aquele cara perguntando das suas roupas... não mente pra mim, eu não vou brigar com você, eu só quero saber quem é o cara, porque eu vou atrás dele.
- Pai!
- O que? Ele tá certo!- Mateus diz- Você é nossa neném!
Odeio MUITO ser a caçula.
- Olha, eu tenho 25 anos, pra sua informação!
- Sempre vai ser a Neném!- Mateus responde e reviro os olhos, decidida a acabar com essa palhaçada.
- Eu tava na casa Gatito Fernandez, tava rolando um churrasco pra comemorar a vitória de ontem e o time inteiro estava lá, entrei na piscina, por isso tava procurando minhas roupas, e a voz que você ouviu, pai, é do Lucas Perri!
Termino de falar, irritada, e ninguém a minha volta diz nada. Meu irmão está me encarando incrédulo, Juliana está segurando o riso, enquanto os três na minha frente estão praticamente em choque.
- Lucas Perri do botafogo?- meu pai pergunta, como se quisesse confirmar o que acabei de falar.
- É, pai...
- Ce tá namorando o goleiro do Botafogo?- Mateus pergunta- Que fanfic, cara!
- Eu não tô namorando ninguém, Mateus!
- Ih...- Thainá começa - quero saber se meu tio ainda vai querer ir atrás do cara... do jeito que é louco pelo Botafogo...
- Se ele encostar na minha garota, eu vou atrás dele sim!- meu pai responde.
- Ah, para, José! Você não mata nem mosca!- minha mãe responde, rindo- Pelo menos o menino é bonito, e parece ser um querido...
Ele é... Mas por que todos estão simplesmente ignorando o fato de que não rolou nada?
Quase nada...
- Gente, chega! Parou!- interrompo, quando todos começam a divagar sobre um relacionamento inexistente- Não tem nada rolando, e nem vai ter!
Não?
- Então acalmem o coração, por favor! Não tem namorado, nem ficante, nem conversante pra apresentar pra vocês nesse ano!
Minha mãe, Mateus, Thainá e Juliana fazem um coro decepcionado, enquanto meu pai e Caio respiram aliviados.
- Assunto encerrado!- me levanto- Onde tá o salgadinho?
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