𝟎𝟑
Ali me ganhou, depois que você chegou
No meu mundo
Quase tudo mudou
Sunshine – Delacruz
Catarina Sartori
Finalmente consigo entrar no condomínio, depois de cinco minutos tentando convencer o porteiro de que não sou nenhuma maluca querendo invadir um condomínio e perturbar a paz alheia.
Passo pelas ruazinhas do condomínio bem devagar, procurando o número da casa que Lucas me passou.
— Tem que ser muito rico pra morar aqui...—Mariane comenta, olhando ao redor— Isso aqui é quase um bairro.
— Ah, nem fala... só a mensalidade disso deve ser o valor de venda da casa dos meus pais e o apartamento juntos...
— E a gente se achando porque moramos sozinhas sem depender de ninguém...—ela ri, revirando os olhos.
— Ei, é uma conquista importante, tá!? Cabe na nossa realidade...
Paro o carro na frente de uma das casas–mansões. Provavelmente é aqui. Tanto pelo número 16 que está ao lado da porta, quanto pelo pagode alto que ecoa dos fundos da casa.
— Acho que chegamos...— digo, encarando o volante.
Ouço Mariane respirar fundo. Até ela está nervosa, quem sou eu pra não estar?
Desço do carro, ajeitando a calça de tecido larguinha. Pego o pudim que fiz de madrugada no banco de trás e minha bolsa, alcançando Mariane, que já havia apertado a campainha da porta da frente.
— To me sentindo esquisita.— comento, encarando a porta.
— Que? Como assim, tá passando mal?
— Não! A roupa... fiquei mais gorda do que já sou normalmente... você não acha?—olho para ela, que tinha uma expressão confusa, julgando cada palavra que saiu da minha boca.
— Catarina, você para!
— O que foi? Eu tô enorme!
— Você tá uma gostosa, isso sim! Para com isso se não te dou um tapa.
— Eu tô falando sério!
— Eu também!
Mariane não diz mais nada quando a porta é aberta. Gatito sorri, nos convidando a entrar, então jogo a insegurança pra um canto qualquer da minha mente. Depois lido com isso.
Cumprimentamos o goleiro reserva, que nos guia pela casa. Passamos pela sala, que está cheia de brinquedos em um dos cantos, e pela cozinha, onde deixei o pudim em uma geladeira cheia de desenhos coloridos e tortos feitos pelas filhas de Gatito.
Por fim, cá estamos, na área externa. O cheiro de carvão queimando na churrasqueira e o pagode quase me acalmam, mas fico zonza de novo vendo Lucas sair da piscina.
Nem preciso dizer nada, né?
Ele pega uma toalha na cadeira e joga por cima dos ombros. Lucas parece não se importar muito com o fato de estar todo molhado– nem eu me importo, na verdade– quando passa uma das mãos ao redor da minha cintura, me puxando para um abraço. É um abraço comum, jogo meu braço por cima de seu ombro e retribuo o cumprimento, mas isso me faz ficar um pouquinho mais nervosa.
— Que bom que veio!— Ele disse, se afastando.
— Obrigada pelo convite!— sorrio, tentando ignorar o gato de ele estar sem camisa bem na minha frente.
— Vem, vou te apresentar o resto do time...
Passados aqueles minutos me apresentando para o resto do time e as esposas, Lucas me leva para uma mesa com alguns lugares vazios, exceto por Mariane e Di Placido, que estão em sua própria conversa.
— Eu vou ver se já tem carne pra você, ok?— ele pergunta, apoiado na mesa, perto demais de mim.
Mal consigo responder, apenas aceno com a cabeça perdendo o fôlego.
Meu Deus?
Respiro fundo, tirando o telefone da bolsa, e deixando a pendurada na cadeira. Se ontem meu pai surtou horrores só de saber que eu encontrei metade do time por acaso no bar, nem consigo imaginar qual vai ser a reação dele ao descobrir que o próprio goleiro me chamou para um churrasco com o time inteiro.
Ah, ele vai infartar...
Desligo o telefone quando percebo alguém se sentando ao meu lado. É Silvia, a esposa de Gatito, com sua filha mais nova.
— Olá!— ela diz com um sotaque espanhol muito leve e um sorriso largo — É muito bom ter você e sua amiga aqui! Precisamos de mais mulheres nesse mar de homens que minha casa se tornou!
— Então é aqui o ponto de encontro do time?— pergunto, genuinamente curiosa. Todos pareciam muito bem acostumados.
— Ou aqui ou na casa da Wennya e do Adryelson...
— Vocês todos parecem bem unidos!— sorrio, estendendo a mão para a garotinha que estava mexendo na estampa da minha calça— Quem é essa princesinha?— chamo a atenção da pequena, que sorri, se jogando nas minhas pernas.
— Essa é a Sophie— Silvia sorri, balançando a filha, que solta uma gargalhada.
— Ah, que coisa mais linda!— faço minha típica voz fininha que uso com bebês e Sophie se joga novamente para mim.
— Ela gostou de você!— a mulher sorri, me entregando a neném.
Coloco Sophie em meu colo e Wennya, a esposa de Adryelson se aproxima da mesa, puxando uma cadeira.
— Oie!— ela sorri para nós, se acomodando na cadeira vazia ao meu lado— Sua amiga sumiu...— ela ri, apontando para onde Mariane e Leo estavam.
— Nem quero saber onde estão, sinceramente!— rio, com um pouco de desespero.
Mariane me deixou aqui sozinha?
Lucas se aproxima da mesa com um prato cheio de carne.
— Desculpa a demora, eu falei pro Gabriel agilizar lá...— ele coloca o prato na minha frente e seguro Sophie para ela não subir na mesa— Você quer beber alguma coisa, ? Um suco, refrigerante, cerveja...
— Pode ser um refrigerante!— sorrio, vendo-o sorrir de volta.
Ele sai em direção a churrasqueira novamente e ouço Silvia e Wennya cantarolarem um "hummm".
— O que foi?
— Nada, é só que ele tá bem afim de você!— Silvia diz— E pelo jeito, você também tá afim dele...
— O que? Nada a ver!— nego com a cabeca, pegando uma carne— A gente se conheceu ontem!
— E você já tá aqui!— Wennya cutuca meu braço, levantando uma sobrancelha.
— Ah... é?— paro para pensar— Nossa ele devia estar muito bêbado ontem!
De repente, me sinto uma idiota. Óbvio que ele estava bêbado. Que cara convida uma garota aleatória para um churrasco na casa dos amigos?
Eu respondo: um cara que tomou mais de três cervejas!
Tava bem óbvio, na verdade.
— Bom, bêbado ele podia até estar... mas não é do feitio dele chamar qualquer um pra esse tipo de coisa!— Wennya começa— o Bofafogo é tipo uma família, e se eu conheço um cara que valoriza a família, esse cara é o Lucas!
Respiro fundo e tento colocar tudo o que me foi dito em ordem na minha mente. Lucas se aproxima novamente, com um copo de refrigerante, e agradeço com um sorriso– não um dos meus melhores.
Que confusão que eu fui me meter, meu Deus...
Olho ao meu redor, procurando por um mínimo sinal de Mariane, mas tudo que encontro é sua bolsa jogada no sofá da sala.
Que droga. Fica feio se eu for embora agora?
Óbvio que fica.
Respiro fundo antes de me virar para Silvia.
— Onde é o banheiro?— me levanto, entregando Sophie para ela.
— Ah, primeira porta a esquerda no corredor!
— Obrigada!
Caminho, apressadamente até o banheiro. Giro a maçaneta, tentando abrir, mas a porta continua travada. Tento abrir mais uma vez, e ouço um estrondo do dado de dentro.
Que?
A porta se abre e Leo Di Plácido sai, confuso, atrás vejo uma Mariane toda bagunçada. Mal posso evitar a cara de confusão, quando Mariane tenta passar por mim. Meu Deus, eles estavam realmente...
Não importa agora.
Respiro fundo, segurando o braço de Mariane e puxando-a de volta para dentro do banheiro.
— O que houve?— a pergunta, me vendo trancar a porta.
— Isso é maluquice!
— Que?
— Tava legal ontem e tal, mas... o que a gente tá fazendo aqui, Mariane?
— Os garotos chamaram a gente, não sei se você lembra...
— Por que eles tavam bêbados!
Mariane levanta as sobrancelhas, desacreditada.
— Tá querendo dizer o quê?
— Que todas as mulheres que estão aqui são esposas ou namoradas. A gente tá fazendo o que aqui? Tipo, a gente conheceu esses caras ontem, Mari. Mal somos amigas deles!
Mariane me encara por uns segundos, processando tudo.
Se eu já estava insegura antes, agora está trinta vezes pior. Me encosto na porta, respirando fundo.
— Olha, o que você disse faz sentido, mas... realmente, não acho que eles tenham feito isso, sei lá, de sacanagem...
— Eu sei que não, só que... ah meu Deus... isso é estranho, eles tão tratando a gente como se fôssemos namoradas deles!
— Olha...— Mari começa— eu sinceramente não vejo nada de errado nisso.— ela me empurra para longe da porta, destrancando-a— Aproveita a vida, Catarina— ela sai do banheiro— Se te ajudar, finge que tá aqui só como amiga dele... costuma funcionar pra mim.
Tá legal, como se fosse fácil.
Saio do banheiro uns minutos depois dela e vejo que Lucas estava sentado onde antes Wennya estava. Me sento no meu lugar de antes, fingindo que nada aconteceu, mas recebo um olhar de Silvia, como se ela soubesse exatamente o que está acontecendo.
— Então, você é botafoguense mesmo?— Silvia me perguntou, sorrindo— Lucas comentou, mais cedo.
— Ah, comentou?— bom saber— É, eu nasci praticamente no Botafogo...
— Sua família toda é botafoguense?— Lucas pergunta.
— Na verdade, minha mãe era flamenguista, mas ela também não teve muita escolha, com três filhos e o marido botafoguenses...— rio, pegando meu refrigerante.
— É a escolha certa!— Ele sorri.
— Realmente, torcer pro flamengo deve ser muito castigo! Nem consigo me imaginar nessa situação difícil...— rio, tentando prestar atenção no meu almoço.
Estava tudo correndo até que muito bem, até que as crianças voltam do descanso obrigatório antes de voltar para a piscina.
— Mamãe! A gente já esperou os trinta minutos, a gente já pode voltar pra piscina?— a filha mais velha de Silvia, Rafaella, pergunta a mãe. Os filhos mais velhos de Tiquinho e o de Leo nem sequer esperam uma resposta para pular na piscina.
— Espera um pouquinho, filha, não dá pra entrar agora, tem que ter um adulto com vocês!
—Ah!— a pequena cruzou os braços— Quem vai entrar com a gente então?
— A gente entra!— Leo se levanta, estendendo a mão para Mariana— Vem?
— Vou trocar de roupa!— Mariane pulou da cadeira com a bolsa nas mãos.
Pego mais um pouco de pão de alho no meu prato, fingindo não prestar atenção na movimentação.
Sorria e acene.
— Tio Lucas, vai também?— Rafa pergunta, com olhinhos de criança pidona.
— Eu vou sim!— Lucas sorri, se demorando um pouco para levantar— Você vai entrar?— ele vira o rosto para mim.
— Entra também, tia!— a pequena se anima.
— Ah, não... fica pra próxima, eu não trouxe biquíni nem nada...
— Trouxe sim!— Mariane aparece com um maiô branco de frente única, que sinceramente, fica perfeito nela.
— Não trouxe, não!— rebato, dizendo a verdade.
— Trouxe sim, olha a sua bolsa!
Mariane não me dá um dia de descanso.
Pego a bolsa no encosto da cadeira, vasculhando-a por inteiro. É a bolsa que costumo usar no dia a dia, então está super lotada.
Finalmente encontro um saquinho de pano em um compartimento da bolsa que eu nem lembrava que existia. Quando ela colocou isso aqui?
— Se não quiser entrar, é só falar...— Lucas fala, próximo de meu ouvido, me provocando— não precisa mentir...— quase posso ouvir seu sorriso.
— Vou trocar de roupa.
Empurro a cadeira para trás, indo para o banheiro. Abro a embalagem e o flash do dia em que comprei vem a minha mente. Foi um dia que a minha ansiedade estava lá no alto e eu achei que seria uma ótima ideia comprar um biquíni no meio do inverno. Nunca nem coloquei isso no corpo...
Respiro fundo e começo a me trocar, deixando para olhar no espelho por último.
Quase me arrependo.
Esse troço é minúsculo! Onde eu tava na cabeça de comprar isso? Meu Deus, eu tô tão grande...
Tento não prestar atenção no meu peso sobrando e nas gordurinhas, mas é meio impossível, eu não tô acostumada a usar biquíni... mal uso maiô...
E se eu disser que tô passando mal? Aí vai dar pra ir embora...
Ouço alguém bater na porta.
— Sou eu!— Mariane começa— esqueci minha blusa aí dentro!
Destranco a porta, com a blusa dela em uma mão e a minha bolsa em outra.
— Acho que vou embora.
— Meu Deus como você tá gata, mulher!— Mariane sorri— Adorei como ficou em você! Esse verde combinou!
— Mariane, eu tô horrível! Esse biquíni é minúsculo!
— Vai começar com isso de novo?
— Todo mundo vai ficar me olhando, Mari... tô estranha...
— Tá nada! Tá todo mundo lá de biquíni, você vai ficar de calça? Para, Cat! Vamos, se olharem deixa olhar! — Mariane agarra meu pulso me puxando pra fora do banheiro.
Eu tenho escolha?
Ando atrás dela, encarando o chão. Ninguém na parte externa parece notar, além de Silvia e Wennya.
— Nossa, onde você comprou?— Wennya pergunta.
— Tá gatissima!— Silvia sorri.
— Ah, obrigada...— tenho certeza que estou muito vermelha agora— Eu não tô muito acostumada...
— Você devia usar mais!— Mariane diz, ao meu lado— Acreditam que ela tem vergonha? Com um corpão desse, eu sinceramente não entendo!
— Mariane!
— É verdade!— Silvia concorda— Linda pra caramba!
— Acho que eu tô indo logo pra piscina...— Comento, deixando minha bolsa na cadeira.
Me viro apenas para ver Lucas desviando o olhar de mim na mesma hora. Contenho um sorriso, quando ele olha de novo pelo canto do olho, não porque estou me sentindo bonita, nem nada, mas porquê é bom ter alguém te olhando sem te julgar, de vez em quando. Tenho aprendido nos últimos anos que a maioria das pessoas não ligam para a aparência em geral das outras, mas cresci em ambientes que diziam exatamente o contrário, então preciso me acostumar com a ideia que alguém pode me olhar desse jeito... do jeito que ele está olhando...
Me sento na borda da piscina, colocando os pés para dentro, vendo-o brincar com as crianças. De tempos em tempos sinto seu olhar parar em mim por alguns segundos, e tudo o que posso fazer é evitar o sorriso que surge toda vez.
Leo e Mari entram uns minutos depois, e se juntam na brincadeira com as crianças. Não entendi muito bem o jogo, mas parece pique-pega aquático. Óbvio que Mariane foi a primeira a sair. Ela mal se sustenta no pique-pega normal, quem dirá aquático...
Logo depois, saíram todos os adultos, e apenas as crianças ficaram brincando no meio da piscina– que é bem grande.
Lucas, o último a sair da brincadeira, para em minha frente, ao lado dos degraus da piscina, se apoiando na pedra ao redor, uma mão de cada lado meu corpo.
— Vai ficar só aí? Te chamei pra entrar na piscina, não pra ficar na borda...— ele sorri, me provocando mais uma vez. Quando chegamos aqui?
— É, acho que vou ficar por aqui mesmo... preguiça de entrar...— digo, fazendo a sonsa, olhando nos olhos dele.
— Tá com preguiça?
— Ah, muita! — sorrio, ajeitando a alça do biquíni. Ele acompanha cada movimento.
Só eu que tô sentindo a tensão?
— Tá com preguiça de que, Catarina?— ele volta a olhar nos meus olhos.
— Ah, não quero molhar o cabelo...— dou de ombros, jogando o cabelo recém cortado— e a piscina parece bem funda...
— É funda, sim. Não sabe nadar?
— Ah, eu sei, sim! Obrigada por perguntar!— sorrio, continuando com esse "joguinho".
— Então, não me parece um bom motivo pra não entrar na piscina...— sinto uma mão nas minhas costas e um segundo depois, percebo que é dele.
— O que?— pergunto, o coração acelerando.
— Você não me convenceu.
— Eu não preciso te convencer!— respondo, confiante.
— Hum, precisa sim!
— Ah, eu com certeza não...— antes de terminar a frase, sinto ele agarrar minha cintura e mergulhar comigo. Sinto o movimento da água e o ar frio quando voltamos para a superfície da água.
Além de goleiro, ele sabe nadar? Já pode casar, hein...
— Você é doido!— é a primeira coisa que digo quando recupero o fôlego. Ele ainda está com o braço em volta da minha cintura, me mantendo perto, e minhas mãos, de algum jeito, foram parar em seus ombros.
— Mas você gostou!— Ele sorri, vitorioso.
Meu Deus, quem tá ficando louca sou eu!
••••••
Olá!
Passando aqui só pra perguntar se vocês estão gostando da história...
Não se esqueçam de comentar e votar bastante!
E a título de referência, seguem os looks da Cat desse capítulo...
O que ela usa quando chega no churrasco:
O biquíni:
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