
𝟎𝟑. 𝖥𝗅𝗈𝗐𝖾𝗋 𝗈𝖿 𝖢𝗁𝖺𝗈𝗌.
𝟎𝟑. ⠀⠀⠀␥⠀⠀𝓕𝙴𝙻𝙸𝙿𝙴 𝒟𝚁𝚄𝙶𝙾𝚅𝙸𝙲𝙷
❆⠀𓈒 ׁ ˖⠀𝖥𝗅𝗈𝗐𝖾𝗋 𝗈𝖿 𝖢𝗁𝖺𝗈𝗌... ⠀֪ ʾ
ELA TINHA AQUELE tipo de humor que grudava como chiclete no cabelo - irresistível para quem assistia de fora, mas insuportável para quem estava por perto o tempo todo. Seus vídeos sobre os bastidores da Fórmula 1 eram tão envolventes que você quase acreditava que ela tinha a vida perfeita, cheia de glamour e adrenalina. A verdade? Era uma mistura de caos e talento puro, com uma pitada de insuportabilidade que só ela dominava.
─── Então, depois de uma viagem longa, longa, longa... ─── começou, ajeitando a câmera com aquele ar de quem achava que todo mundo estava morrendo de curiosidade sobre os detalhes da sua jornada épica.
─── Cheia da beleza do Felipe Drugovich, imagino ─── interrompi, um sorriso meio provocador escapando antes mesmo de terminar a frase. Sabia exatamente como ela reagiria, e, claro, ela não decepcionou.
Ela revirou os olhos como se estivesse prestes a desmaiar de tédio.
─── Não, só cheia da sua arrogância. Nariz de palhaço, cabelo de espantalho e... sua cara de Dilma.
Toquei na ponta do nariz, como se estivesse avaliando o insulto.
─── Ah, obrigado. Gosto quando me elogia assim.
Ela bufou e cruzou os braços, claramente orgulhosa de sua performance verbal. O que era irritante - e eu odiava admitir - é que ela tinha um talento especial para isso. Conseguia te desarmar com uma única frase, e o pior de tudo? Você ainda achava graça.
─── Sabe ─── continuei, fingindo uma expressão reflexiva -, um dia vou sentir falta de ouvir você listar todos os meus defeitos.
─── Bem, se você desaparecesse de vez, nem eu sentiria falta de ouvi-los.
E lá estava ela, rainha da última palavra, com aquele sorriso de quem sabia que tinha vencido o round. O que eu nunca admitiria, nem sob tortura, era o quanto eu me divertia com isso. Mesmo que ela fosse insuportável.
Ela não parava de falar com aquela câmera, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Sua risada parecia contagiante, mas, de alguma forma, você sentia que deveria se controlar para não cair na armadilha. Ela dava risadinhas fora de hora, os tipos de risos que não faziam sentido nenhum, como se as piadas fossem aquelas que ela mesma inventava no momento. E, claro, o humor negro, sempre presente, escorrendo pelas palavras de forma que só ela poderia fazer parecer algo tão cômico.
Mas, o pior? Você começava a rir também. Não tinha jeito. Ela ria tão intensamente, tão sem freios, que você se via seguindo o fluxo, mesmo sem entender exatamente o que estava acontecendo.
─── Ai, meu Deus...─── ela tentou voltar ao assunto, mas a cada palavra que saía da sua boca, ela se perdia em risos. - Na descida eu esbarrei no Norris e aí... ai..
E ali estava ela, rindo com aquela intensidade que só poderia ser comparada a um coelho no cio - uma risada estridente, incontrolável, que fazia você questionar como alguém poderia rir assim e, ainda assim, manter a sanidade. Você se pegava pensando que deveria se preocupar com a saúde mental dela, mas ao mesmo tempo, não conseguia parar de rir também.
Ela virou-se rapidamente, seus olhos brilhando com a surpresa de me pegar no meio do riso, riso esse que, de fato, beirava o absurdo, mas quem estava ali para julgar, não é?
─── Você tá rindo de quê?! - ela me perguntou, a voz abafada pela própria risada histérica, que parecia não querer parar, como um coelho em frenesi. Ela não conseguia sequer completar a frase sem se perder em uma explosão de risos incontroláveis, mas a indignação na sua expressão era inconfundível.
─── De você ─── eu respondi, sem hesitar, minha gargalhada saindo mais forte, porque, convenhamos, o que mais poderia me fazer rir naquele momento senão a cena absurda que ela estava criando?
Ela me olhou, sem saber se ria ou se me matava com um olhar fulminante. E, de novo, a risada veio, porque, no fundo, o que mais podia fazer além de entrar na onda? Ela era a própria definição de caos e comédia, e eu, infelizmente ou felizmente, era refém disso tudo, até eu poder ir embora daquele país.
Finalmente, estávamos indo para o Paddock, um ao lado do outro, o que era uma ironia do destino, considerando que a brilhante e superinteligente pessoa ao meu lado havia esquecido que o ingresso era da Aston. E, além de não ter a inteligência de um coelho no cio, também parecia completamente perdida quanto à localização do Paddock da Aston, como se estivesse em outro universo, onde o inglês não existia.
Ela tagarelava, com a mesma fluidez de um bebê engatinhando nas primeiras palavras, mas, nesse caso, com a empolgação de alguém que não tem noção do que está dizendo. Ela estava tão feliz que eu quase acreditava que, por um breve momento, ela tinha esquecido que provavelmente me odiava. Eu deveria agradecer, ou algo assim?
─── Ai, meu Deus, eu vou conhecer o Fernando Alonso! ─── Ela exclamava, pulando como se estivesse numa montanha-russa de pura alegria.───Me apresenta ele? Tipo, eu meio que queria que um carro passasse em cima de você, e ainda quero, mas você trabalha na Aston e... bem, eu vou precisar de você, então, hoje, só quero que a porta caia em você.
Eu a olhei, sem saber se ria ou se começava a me preocupar com a quantidade de raiva não tão disfarçada que ela guardava para mim. Era como um jogo de humor negro que ela estava tentando orquestrar, mas a ironia estava em como ela misturava o ódio com uma empolgação que, sinceramente, eu não sabia mais se era genuína ou se eu estava prestes a ser vítima de um plano maquiavélico.
Eu a observei enquanto ela ainda pulava, como se estivesse dançando ao som de uma música só dela, sem se importar com o que acontecia ao redor. Cada passo dela parecia mais um lembrete de que, por mais que tentasse me disfarçar, algo dentro de mim se divertia. Claro, a ameaça velada de um carro passando sobre mim estava lá, mas ela falava aquilo com tanto entusiasmo que acreditei que, no fundo, nem ela acreditava que seria capaz de concretizar tal desejo.
─── Eu sei que você vai me salvar. Você não tem escolha ─── ela disse, com uma piscadela debochada, e quase imediatamente, como se tivesse se lembrado de algo, o sorriso dela sumiu e ela virou o rosto para o horizonte, como se estivesse considerando as implicações do que acabara de dizer.
─── Olha, se você continuar assim, vou começar a acreditar que você realmente quer me matar ─── eu falei, rindo baixinho. Era o tipo de conversa bizarra que a gente não sabe como levar a sério, mas, por alguma razão, era exatamente o tipo de momento que fazia todo o caos valer a pena.
Ela me deu um olhar rápido, o tipo de olhar que misturava um pouco de raiva com diversão, como se eu fosse um alvo de piada muito bem trabalhada.
─── Ah, você está se achando esperto agora? ─── ela resmungou, e então, de repente, seu tom mudou, mais sério, mais direto. ─── Não vou mentir, você é um pé no saco, mas, por incrível que pareça, me faz rir... Eu nem sei por quê.
Eu ri, mais uma vez, porque eu sabia que aquilo era um raro elogio dela. Uma forma torta de admitir que, apesar de tudo, ela me tolerava - ou talvez até gostasse disso.
Enquanto caminhávamos, finalmente chegando perto da entrada do Paddock, a tensão no ar mudava. Ela se afastava um pouco da minha linha de visão, mas não conseguia esconder a excitação no rosto. Seu foco estava em algo maior agora. O plano de ver Fernando Alonso de perto, o homem que ela idolatrava quase como um deus, parecia apagar qualquer vestígio de ódio. Mas eu sabia que ela voltaria a me torturar com suas piadas ruins assim que a adrenalina desse primeiro encontro passasse.
Eu apenas olhei para ela e balancei a cabeça, me perguntando se algum dia essa insanidade ia ter algum tipo de fim. Eu só esperava que a porta não caísse em mim... ainda.
─── Felipe ─── A voz era familiar e cheia de entusiasmo. Eu virei rapidamente, reconhecendo imediatamente Gabriel Bortoleto, o piloto titular da Sauber, vindo em nossa direção. Ele estava sorrindo como sempre, aquele sorriso acolhedor e genuíno que fazia você se sentir como se fosse uma velha amizade, mesmo que não o conhecesse tão bem.
Ao seu lado, havia uma figura delicada, que olhava para mim com um sorriso tímido, quase nervoso, e eu percebi que ela parecia não se sentir totalmente à vontade naquele ambiente.
─── Gabriel, cara, que bom ver você! ─── Eu disse, estendendo a mão para ele, que rapidamente a apertou com força, mostrando aquele abraço fraternal que só um piloto experiente pode dar. Quando ele se afastou, ele virou-se para a mulher ao seu lado.
─── Felipe, deixa eu te apresentar a Amélie, minha noiva ─── Gabriel disse, seu tom orgulhoso, mas cheio de carinho. ─── Amélie, essa é Felipe, da Aston Martin. Ele está por aqui herdeiro Stroll deixou de ser herdeiro stroll.
Amélie me olhou com aqueles olhos grandes e curiosos, claramente tentando se ajustar à situação. Seu português era um pouco hesitante, e dava para perceber a dificuldade nas palavras, mas ela ainda assim tentava, se esforçando para não deixar que isso a impedisse de se comunicar.
─── Oi... Eu sou Amélie... desculpa... meu português... não perfeito ─── ela disse, seu sorriso tímido um pouco desajeitado, mas encantador.
─── Não, sem problemas! ─── eu falei, sorrindo e tentando facilitar. ─── Seu português está ótimo, realmente.
Ela sorriu mais amplamente, visivelmente mais aliviada, mas um pouco tímida ainda.
─── Eu estou... tentando aprender. Gabriel me ajuda... muito ─── ela explicou, e eu pude ver o carinho em suas palavras, como se ela tentasse expressar a gratidão por tudo o que Gabriel fazia por ela.
Gabriel, por sua vez, não pôde deixar de sorrir, como se estivesse orgulhoso não apenas de sua noiva, mas também de sua própria paciência ao longo do processo.
─── Não se preocupe, Felipe. Ela vai dominar o português em breve. Eu prometo. - Gabriel deu uma piscadela, mais uma vez colocando a mão no ombro dela, um gesto protetor, mas ao mesmo tempo tão afetuoso que parecia criar uma conexão instantânea.
Eu olhei para os dois, tentando absorver a cena. Era um daqueles momentos que, por mais simples que parecessem, deixavam um gosto de leveza no ar. A diferença de idioma, a adaptação, e a maneira como eles se equilibravam nisso tudo... Era quase como ver uma história sendo escrita no momento.
─── E você, Gabriel, como estão as coisas na Sauber? ──Eu mudei de assunto, porque sabia que, por mais simpático que fosse aquele momento, era hora de voltar ao trabalho, e, ainda assim, eu não podia deixar de sentir que, entre todas as corridas e eventos, a vida pessoal de cada um também era uma corrida interessante de se acompanhar.
Mas antes que ele pudesse responder, Amélie olhou para mim mais uma vez, e com uma risada suave, ela disse:
─── Eu... espero que meu português... não seja muito... engraçado?
Eu dei uma risada, o que a fez se soltar um pouco mais, e Gabriel, com a serenidade de quem já tinha se acostumado com esses pequenos momentos de aprendizado, simplesmente a abraçou mais forte.
─── Vai dar tudo certo, amor. E, Felipe, você vai ver... ela vai estar fluentemente falando português em pouco tempo.
Eu sorri, sentindo que, às vezes, as corridas mais emocionantes não estavam nas pistas, mas nos momentos simples que compartilhamos fora delas.
Enquanto Gabriel e Amélie seguiam conversando comigo, percebi que a "Coelho no cio" havia sumido da minha visão periférica. Isso nunca era um bom sinal. Ela tinha uma habilidade especial de desaparecer quando estava arquitetando alguma coisa - normalmente, algo que envolveria caos ou constrangimento público.
De repente, vi um vulto ao longe, e lá estava ela, avançando pelo Paddock como se fosse sua missão de vida encontrar Fernando Alonso. Ela parecia um míssil teleguiado, esquivando-se de pessoas, câmeras e até mesmo seguranças, enquanto sua empolgação a fazia quase saltitar.
─── Você está vendo aquilo? ─── perguntei para Gabriel, apontando na direção dela.
Ele seguiu meu olhar e não conseguiu conter uma risada.
─── Quem é ela? E por que parece que ela está em uma caça ao tesouro?
─── Longa história ─── resmunguei, esfregando a nuca. ─── Ela tem o ingresso da Aston, mas não sabia nem onde ficava o Paddock, nem como se localizar. E agora está desesperada para encontrar o Alonso. Isso que dá deixar sua equipe fazer reservas de quarto.
────────────⭑ ֗ 💍 Oiii! Aqui é a Willow, escritora dessa bomba atômica. Então, essa Amélie que vocês estão vendo vai, sim, ter um livro só dela. Uhrum... o livro dela é com o Bortoleto.
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