𝟎𝟕. no ritmo da proximidade
As responsabilidades se acumulavam em seus ombros, como o peso de um manto que Asteria não havia escolhido. Agora, em um novo lar, ela se via diante do desafio de tornar aquele espaço um abrigo, um refúgio em meio à tempestade que era sua nova vida. As paredes, embora robustas, pareciam ecoar o silêncio que envolvia seus pensamentos. Enquanto arrumava a cama simples e organizava os baús, a mente de Asteria vagueava entre o que era esperado dela e o que desejava para si mesma. A luz filtrava-se através da abertura na pedra, iluminando o chão de terra batida e conferindo uma sensação de calor àquele ambiente. Cada objeto que ela posicionava, cada detalhe que ajustava, era uma sútil tentativa de transformar aquele espaço em algo que refletisse quem ela realmente era, não apenas a filha de Immortan Joe ou a esposa de Jack. Ela queria que aquele lugar tivesse vida, uma identidade própria. Mas a verdade é que sua nova realidade era marcada por um controle que a deixava inquieta.
Enquanto organizava algumas roupas, o som da porta pesada se abrindo interrompeu seus pensamentos. Asteria se preparou para o que estava por vir, um misto de ansiedade e expectativa pulsando em seu interior. Seus olhos se fixaram na entrada, e seu coração acelerou ao ver Jack adentrando o quarto em silêncio. Ele parou na soleira, seus olhos escaneando o ambiente, como se estivesse avaliando não apenas o espaço, mas também a própria situação. O silêncio entre eles era denso, carregado de uma tensão impenetrável. Asteria sentiu seu corpo aquecer, um turbilhão de emoções surgindo ao vê-lo ali, tão próximo, tão real.
Jack não disse nada. Sua presença dominava o espaço, e Asteria percebeu que ele também estava absorvendo o novo lar, assim como ela. Cada um em seu próprio mundo, mas conectados por um fio invisível que parecia tensionar a cada instante que passava. A garota desviou o olhar, tentando controlar o turbilhão de sentimentos que a invadiam. O que ela diria? O que ele pensava? Estavam sozinhos, e essa solidão compartilhada era tanto um alívio quanto um fardo. O peso das responsabilidades e das expectativas pairava no ar, e, nesse instante, tudo o que existia era a conexão silenciosa entre eles, crescendo e se intensificando, à medida que o tempo se arrastava na quietude do novo lar.
Asteria decidiu quebrar a tensão que pairava entre eles. Com um sorriso nervoso, tentou aliviar o clima.
— Bem, posso te oferecer um cobertor e você pode dormir no chão.
A piada se dissolveu no ar. Jack a encarou em silêncio, seu olhar fixo e profundo, como se estivesse avaliando cada palavra que saía de seus lábios. Asteria se sentiu desconfortável sob o peso do seu olhar. A leveza da brincadeira se dissipou, e a irritação começou a brotar.
— Olha, se você preferir, pode dormir ao meu lado. A cama cabe dois, sabe? — disse ela, a frustração escorrendo por entre suas palavras.
Jack permaneceu calado, o que apenas aumentou sua inquietação. Ele estava lá, a poucos passos dela, e mesmo assim ela não conseguia decifrar o que se passava em sua mente. Na verdade, Jack estava completamente atordoado. A ideia de dividir aquele espaço com Asteria, de viver com ela de verdade, era um conceito que ele não havia processado completamente. Quando recebera a notícia da realocação, imaginara que teria companhia, mas nunca pensara que seria viver somente ele e Asteria. Sozinhos.
— Você não vai dizer nada? — Asteria, insistiu, irritada pela falta de resposta.
— Vou dormir do lado esquerdo da cama. — Jack respondeu, finalmente quebrando o silêncio, de forma baixa e firme.
Ele se afastou, caminhando até a abertura que servia como janela, observando o vasto deserto lá fora. Sua mente girava, processando a realidade daquela situação. A tensão entre eles era grande, como se o ar estivesse eletrificado, a cada respiração se tornando mais carregado de possibilidades. A presença de Asteria o deixava em um estado de alerta constante, e a decisão de como prosseguir pairava como uma sombra, ameaçando engolir o que eles ainda poderiam ser.
Asteria se aproximou dele, seu olhar perscrutador. O desejo que a unia a Jack era inegável, mas a hesitação ainda a consumia. O que isso significava? Eles estavam, afinal, condenados a essa dança, flertando com a ideia de intimidade enquanto as dúvidas e inseguranças os assombravam.
— Então, agora precisamos realmente pensar em algo — disse ela, quebrando o silêncio novamente, a voz quase um sussurro. — Eu vou ser consultada de verdade, mas ainda não sei quando.
Jack a encarou, seus lábios se umedecendo involuntariamente, enquanto as palavras dela ecoavam em sua mente. O silêncio era pesado, carregado de um desejo latente que os cercava, como um nevoeiro que os isolava do mundo exterior. Jack não conseguia tirar os olhos da mulher a sua frente; ele a observava com uma intensidade que fazia seu coração disparar. A ideia de ceder a vontade que torcia em seu interior, de beijá-la e descobrir qual sabor escondia seus lábios, o atormentava. Mas ele sabia que perder o controle não era uma opção, não enquanto a situação permanecia tão frágil.
O calor emanava entre eles, e Jack se perguntou, se em um momento de fraqueza, o que aconteceria se os dois se aproximassem um pouco mais. Cada instante de silêncio entre eles só alimentava sua curiosidade. Ele queria sentir a suavidade da pele de Asteria contra a sua, perder-se no sabor dela, e a ideia de que estarem sozinhos ali favorecia esse impulso era quase insuportável. A visão de seu rosto, a maneira como seus olhos brilhavam com uma mistura de nervosismo e desafio, fazia seu corpo reagir de maneira que ele tentava desesperadamente controlar.
Asteria, por outro lado, sentia a mesma necessidade pulsante, mas lutava contra isso. Desviar o olhar era sua única salvação momentânea, então ela se afastou, caminhando até a pequena mesa no canto do quarto. Ao se servir com um copo de água, a sede repentina a surpreendeu, como se seu corpo estivesse clamando por algo mais. O líquido fresco deslizou pela sua garganta, mas nada poderia saciar a ardência que havia crescido de está na presença de Jack.
Quando ela se virou de volta, Jack estava mais perto do que antes, e o espaço que os separava parecia encolher a cada segundo. Ele a observou com um misto de admiração e frustração, sua mente fervilhando com pensamentos incontroláveis.
— Podemos pensar em algo para a sua primeira consulta — sugeriu Jack, sua voz grave e contida, quase como um convite. — O Mecânico Orgânico precisa saber sobre a sua saúde, mas ele pode querer saber mais só para contar a Immortal Joe como realmente estamos vivendo. Por isso, precisamos ensaia tudo e estamos em sintonia para qualquer pergunta que ele fizer.
Asteria sentiu um frio na barriga ao ouvir isso. A ideia de ter que passar por uma consulta, de ser examinada, misturava-se com a possibilidade de que Jack estivesse perto dela. As palavras dele soavam como uma proposta velada, e a tensão entre eles se intensificou, o ar carregado com um desejo inconfesso.
— O que você tem em mente? — ela perguntou, tentando soar casual, mas sua voz traía a inquietação que sentia.
Jack hesitou por um momento, como se estivesse ponderando cada palavra. Ele se aproximou mais, a distância entre eles agora quase inexistente, e a presença dele se tornava avassaladora. Asteria poderia sentir o calor que emanava dele, e a ideia de se perder nesse momento tornava-se mais tentadora a cada instante.
— Precisamos estar preparados para todos os tipos de perguntas, mas o importante é deixá-lo desconfortável o suficiente para finalizar rápido possível. — disse Jack, seus olhos fixos nos dela, desafiando-a a romper a barreira que existia entre eles. — E se precisar... eu posso ajudá-la a relaxar antes da consulta.
Asteria mordeu o lábio, a hesitação tomando conta dela enquanto tentava processar as implicações da oferta. Sabia que, se se deixasse levar, a linha entre o desejo e a realidade se tornaria ainda mais turva. Mas, no fundo, uma parte dela queria ultrapassar essa linha, queria saber até onde poderia ir. Nesse momento, enquanto o olhar de Jack a prendia em um feitiço silencioso, Asteria percebeu que a luta por controle estava apenas começando, e cada segundo que passavam juntos alimentava uma chama que estava prestes a consumir tudo ao redor.
Asteria tentava manter a compostura, mas a intensidade da situação a fazia hesitar. Jack estava tão perto, e a maneira como ele a olhava fazia seu coração disparar. O espaço entre eles estava carregado de eletricidade, um clima que tornava difícil respirar. O calor que emanava dele era quase físico, e a ideia de se aproximar mais parecia um convite irrecusável.
— Acha que isso vai funcionar? — ela perguntou, tentando manter a voz firme, embora suas palavras saíssem mais como um sussurro. O tom desafiador que tentou adotar soava quase vazio diante do peso da conexão entre eles. — Eu me refiro sobre entrar em sintonia para responder às perguntas... se elas forem feitas.
Jack arqueou uma sobrancelha, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Ele parecia completamente relaxado, enquanto Asteria lutava para conter a tempestade de emoções que a invadia.
— Não sei — respondeu Jack, o olhar perscrutador que lhe era característico. — Mas, pelo que já conheço de você, qualquer coisa será melhor do que deixar que o Mecânico Orgânico faça as perguntas que não terão respostas concretas e nos entregue.
Asteria não conseguiu conter uma risada nervosa, uma pequena fuga do clima tenso que a envolvia. Era um alívio, mesmo que momentâneo, e ao vê-lo sorrir também, uma onda de calor a envolveu. Havia algo reconfortante em sua presença, uma familiaridade que desafiava a nova realidade em que estavam.
— Então, o que você sugere? — ela perguntou, sentindo-se mais corajosa à medida que a conversa avançava.
Jack se aproximou ainda mais, a sombra de um sorriso ainda em seus lábios, enquanto sua voz se tornava mais suave, quase sedutora.
— Vamos começar com algo simples. Se ele pergunta sobre esse lugar, o que você responderia? — Ele a encarou intensamente, como se cada palavra contivesse um significado mais profundo.
Asteria hesitou, sua mente repleta de pensamentos conflitantes. O que ela realmente pensava daquele lugar? Só imaginou um ambiente mais seguro, um teto sobre sua cabeça. Mas agora, em meio à presença de Jack, a resposta que ecoava em seu interior era mais visceral.
— Eu diria... que ele me traz paz — disse ela, desviando o olhar. O desejo de confessar o que sentia era tão forte, mas o medo de se expor a impedia.
Jack não respondeu imediatamente, e esse silêncio só aumentava a pressão entre eles. Ela podia sentir a intensidade de sua presença, a maneira como ele parecia absorver cada palavra que ela dizia. O ar ao redor deles estava carregado de possibilidades.
— Paz, é? — Jack repetiu, sua voz baixa e suave, quase como se estivesse saboreando cada letra. — E você acha que encontrará isso aqui, com tudo o que está acontecendo ao nosso redor?
As palavras dele a atingiram como um balde de água fria. Era verdade; a paz era uma ilusão em um mundo caótico. Mas havia algo em Jack, algo que prometia um vislumbre dessa paz, mesmo que temporária. Ela sabia que, com ele ao seu lado, tudo parecia um pouco mais suportável.
— Eu não sei — respondeu Asteria, mantendo o olhar fixo no chão de terra batida. — Mas com você... talvez eu possa encontrar alguma forma de tranquilidade, era o que eu diria a ele.
Jack inclinou-se um pouco mais perto, a tensão entre eles se intensificando, e Asteria não conseguiu evitar a forma como sua respiração se acelerou. Ele a encarava com uma intensidade que a deixava desnorteada, e a ideia de ceder a esse impulso se tornava irresistível.
— E se eu disser que quero ser realmente parte dessa paz? — sussurrou Jack, a sinceridade em sua voz ressoando em seu coração. — Não prometo que será fácil, mas farei o que estiver ao meu alcance.
Asteria sentiu um calor intenso subindo por seu rosto. As palavras de Jack a tocaram de uma forma que ela não esperava. Desejo, vulnerabilidade e a possibilidade de um futuro juntos dançavam entre eles como uma chama prestes a se tornar uma fogueira. Ela respirou fundo, seus olhos se fixando nos dele novamente. A conexão que compartilhavam era inegável, e a ideia de perder-se naquele momento a seduzia. Mas, enquanto o desejo crescia, a realidade de sua situação permanecia presente, como uma sombra ameaçadora.
— Eu... — Asteria começou, mas a insegurança a fez hesitar. Se havia algo que sabia, era que não poderia permitir que o desejo se transformasse em arrependimento.
Jack percebeu sua hesitação e, em vez de pressioná-la, ofereceu um sorriso compreensivo, embora a frustração pelo que ambos sentiam estivesse claramente à vista.
— Não precisamos apressar nada — disse ele, a voz suave como a brisa do deserto. — Podemos dar um passo de cada vez.
Asteria assentiu, seu coração ainda pulsando, mas agora havia uma sensação de alívio, como se as expectativas tivessem sido levemente diminuídas. Eles estavam juntos, e isso, de certa forma, já era um passo significativo. Mas enquanto ela se afastava, sentindo um misto de segurança e ansiedade, sabia que a verdadeira luta ainda estava por vir. A pressão da realidade e os sentimentos não resolvidos entre eles apenas aumentariam a cada momento que passavam juntos.
Asteria se virou para Jack, a tensão ainda entre eles, e não pôde evitar a pergunta que pairava em sua mente. O que aconteceria se o Mecânico Orgânico decidisse examinar sua saúde minunciosamente e descobrisse a verdade?
— E se ele pedir para me examinar mais profundamente? Da forma que faz com as mulheres no cofre. — Asteria perguntou, seu tom misturando preocupação e curiosidade. — E ele descobrir que sou... bem, que ainda sou virgem?
Jack a olhou, um sorriso malicioso se formando em seus lábios. Asteria sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao notar o brilho audacioso em seus olhos. Havia algo nele que a fazia sentir-se ousada, mesmo em meio à tantas incertezas.
— Bem — ele começou, sua voz carregada de ironia — eu diria que teremos que prolongar esse exame o máximo que pudermos. E enquanto isso, você pode... como se diz, fingir os sintomas típicos de mulheres grávidas.
Asteria franziu a testa, confusa. A ideia era tão absurda quanto intrigante.
— Fingir?
Jack cruzou os braços, sua expressão tornando-se mais séria, mas ainda com uma pitada de provocação.
— Se o Mecânico Orgânico não tiver nada de concreto para encontrar, ele pode acabar acreditando que você está realmente grávida. E quanto mais tempo levar, melhor para nós.
Asteria ponderou sobre isso, seus pensamentos se entrelaçando em um emaranhado de possibilidades. A ideia de criar uma farsa era tentadora, mas também aterradora. O que aconteceria se, de alguma forma, a verdade se revelasse?
— E se ele perceber que estou apenas fingindo? — ela indagou, nervosa.
Jack deu de ombros, como se a preocupação dela fosse irrelevante.
— Não sei. Podemos descobrir. Mas, francamente, se conseguirmos adiar a consulta, qualquer uma que seja, isso nos dará tempo para descobrir uma solução mais definitiva.
Asteria sentiu uma onda de alívio, mesmo que temporário. O plano parecia arriscado, mas era uma chance de ganhar tempo. Por um momento, a tensão entre eles diminuiu, permitindo que o que havia de mais profundo entre eles se manifestasse.
— E quanto aos sintomas? O que eu faço? — perguntou Asteria, um brilho de determinação nos olhos.
— Bem, você pode começar a agir como se estivesse se sentindo enjoada de manhã, talvez ter um pouco de "vontade de comer" coisas estranhas — sugeriu Jack, sua voz suave, quase provocativa. — Isso deve levantar suspeitas suficientes. Você deve saber o que as mulheres gravidas sentem, você cresceu com elas.
Asteria riu nervosamente, um impulso de adrenalina atravessando seu corpo. A ideia de simular algo tão íntimo a deixava nervosa, mas havia uma certa empolgação em sua voz.
— E se eu não conseguir enganar o Mecânico? Ele é astuto, e conhece as mulheres.
— Acredite, Asteria — disse Jack, aproximando-se dela de maneira que o espaço entre eles parecia diminuir novamente. — O Mecânico pode ser astuto, mas você tem um instinto que ele não consegue prever. E quem sabe, até você mesmo pode acreditar no papel que está interpretando.
O olhar intenso que ele lhe lançou a fez vacilar. Havia uma faísca de provocação em seus olhos, um misto de desejo e cumplicidade. Asteria não pôde deixar de imaginar como seria sensação de deixar o controle ir e simplesmente se perder em tudo isso.
— E se eu começar a me sentir bem demais? — ela brincou, tentando desviar do clima crescente. Mas, mesmo enquanto falava, sabia que não estava brincando totalmente.
Jack inclinou-se um pouco mais perto, a proximidade enviando ondas de calor por seu corpo.
— Então teremos que encontrar um jeito de lidar com isso, não? Afinal, você não está realmente sozinha nessa.
Asteria sorriu, mas a incerteza ainda persistia em seu coração. Ao mesmo tempo, havia algo libertador em compartilhar esse fardo com Jack. Juntos, poderiam enfrentar o que quer que estivesse por vir.
— Então é isso — disse Asteria, sua voz agora mais firme, enquanto tentava encorajar a si mesma. — Que a sorte esteja ao nosso lado pelo tempo que for possível, pretoriano.
Jack assentiu, seu olhar preso ao dela, o silêncio entre eles se tornando novamente carregado de significado. O desejo no ar era quase ensurdecedor, e enquanto ambos estavam cientes da linha tênue entre o que desejavam e a realidade que enfrentavam, a conexão que crescia entre eles parecia ser o único porto seguro em meio à tempestade que se aproximava.
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Jack deixou o quarto ainda com os pensamentos girando em torno da presença de Asteria. Não era o momento para ceder ao que seu corpo pedia, e a tensão entre eles apenas aumentava o peso de todas as outras responsabilidades. Precisava se concentrar. Ao atravessar a fortaleza em direção à oficina, ele começou a focar no trabalho que já o aguardava: os reparos na máquina de guerra. Havia muito para ser feito, e isso era uma distração bem-vinda, mesmo que não fosse exatamente sua função.
Quando chegou à oficina, o cheiro de óleo e metal quente o envolveu, um ar familiar que de alguma forma o trazia de volta à realidade. Jack olhou ao redor, os garotos de guerra trabalhando incessantemente nos reparos, o som de martelos e chaves ecoando. Seus olhos procuraram automaticamente por Furiosa, que deveria estar entre eles, coordenando parte do trabalho como sua co-piloto. Mas, para sua surpresa, ela não estava lá.
Antes que pudesse perguntar a alguém sobre o paradeiro dela, uma voz áspera ecoou de trás de uma pilha de peças desmontadas.
— Procurando a garota? — Scabrous Scrotus surgiu com um sorriso cínico deformando seu rosto. Seu olhar era predatório, como se soubesse mais do que deveria.
— Sim, onde ela está? — Jack respondeu, secamente. Furiosa era indispensável no trabalho, e a ausência dela deixava uma sensação desconfortável.
Scrotus riu baixo, sacudindo a cabeça.
— Ela foi realocada também, Pre-Jack. Agora faz parte de outra unidade, servindo diretamente ao Immortan Joe. — Ele parou, observando a reação de Jack com olhos calculistas. — Ela agora guarda o cofre. Vai proteger os tesouros do papai.
Jack fechou o punho, a raiva silenciosa começando a crescer. Ele sabia que "tesouros" era o termo desdenhoso que Scrotus usava para se referir às esposas de Immortan Joe. As mulheres que eram capturadas e forçadas a terem filhos. E colocar Furiosa como guarda delas... aquilo o perturbava de uma forma que ele ainda não conseguia explicar completamente.
— Ela trabalha comigo, como co-piloto. Quem vai ocupar o lugar dela? — Jack tentou manter o controle em sua voz, apesar da frustração que borbulhava por dentro. Ele não queria perder Furiosa para as engrenagens políticas de Immortan Joe.
Scrotus deu de ombros, fingindo desinteresse.
— Já cuidamos disso. Nux vai ser seu novo co-piloto. Ele é bom no volante. Talvez não tão bom quanto a garota, mas vai servir.
Jack mal acreditou no que ouvia. Nux? O garoto tinha potencial, mas não estava nem perto de ser o substituto de Furiosa. Ele sabia que havia algo mais por trás dessa decisão. Scrotus e Joe estavam jogando peças maiores, e agora até Furiosa estava sendo arrastada para isso.
— Nux? — Ele repetiu, um tom de descrença em sua voz.
— Isso mesmo. Se tem algum problema com isso, leve direto ao Immortal Joe. — Scrotus sorriu de forma condescendente e se virou, desaparecendo entre as sombras da oficina, deixando Jack com mais perguntas do que respostas.
O desconforto continuava crescendo no peito do guerreiro. Era uma estratégia clara: Immortan Joe estava se certificando de que todos ao redor dele estivessem envolvidos e presos à sua vontade. Furiosa guardando o cofre era um movimento para mantê-la sob controle, e agora, Asteria sendo levada para viver com ele, ambos confinados ao espaço que Joe determinava.
Ele respirou fundo, olhando para a máquina de guerra sem saber o que mais pensar.
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A noite caiu densa e fria, o vento soprando pelas frestas da fortaleza, carregando consigo o cheiro da areia do deserto. Quando Jack retornou ao novo quarto, os sons exteriores haviam sido completamente abafados pelas paredes de pedra. Lá dentro, apenas o silêncio e a respiração de Asteria. Ela estava sentada à mesa de madeira, inclinada sobre uma tigela de sopa rala, o vapor se dissipando no ar.
Jack fechou a porta atrás de si e hesitou por um momento antes de se aproximar. Ele observou a cena com atenção — Asteria comendo em silêncio, o olhar distante, como se estivesse em outro lugar.
— Você fez isso? — Perguntou ele, tentando quebrar o gelo.
Ela olhou para ele, os olhos sem muito entusiasmo.
— Não. Um garoto de guerra trouxe o que precisamos para comer. Melhor do que ter que nos juntar a algum banquete com Immortan Joe. — Um sorriso sarcástico se formou nos lábios dela.
Jack assentiu, concordando com uma leve inclinação de cabeça. Ele sabia bem como eram os banquetes de Immortan Joe, sempre cheios de uma pompa desconfortável, onde o poder do tirano transbordava nas falas e nas ações. O silêncio entre eles retornou, como uma névoa incômoda, pairando no ar enquanto ambos tentavam encontrar algo para dizer.
— Como foi o seu dia? — Jack tentou novamente, mesmo sabendo que a resposta poderia ser previsível.
Asteria pousou a colher com um leve baque na tigela.
— Sem muitas emoções. Presa aqui, de novo. Só que agora é um quarto novo, com uma vista diferente... mas no final, ainda continuo presa de uma forma ou de outra. — Ela deu de ombros, seu tom era leve, mas Jack não conseguiu ignorar a ponta de frustração que ela tentou esconder.
Ele pigarreou, desconfortável. Ela tinha razão, e ele sabia disso. A liberdade dela nunca esteve realmente ao alcance. Ele abriu a boca para falar algo, talvez confortá-la, mas as palavras não surgiram. No fundo, ele não sabia o que dizer. Ele também estava preso de alguma forma, com ela, e essa sensação o corroía silenciosamente.
— Furiosa... você a viu? — Asteria perguntou, mudando de assunto de forma abrupta, como se quisesse desviar a atenção de si mesma.
Jack assentiu, cruzando os braços e olhando para o chão antes de responder.
— Não mais desde que sair daqui. Ela foi realocada também... agora é guarda das esposas de Immortan Joe.
Asteria ergueu uma sobrancelha, surpresa, mas logo balançou a cabeça com compreensão.
— Elas vão ficar bem... de certo modo. — Sua voz carregava um tom resignado, como se ela soubesse que, embora não fosse ideal, havia uma estranha segurança no confinamento delas.
Jack sentou-se à mesa, pegando uma tigela e se servindo da sopa, o silêncio entre eles se instalando novamente. O ruído das colheres e do líquido mexido era a única coisa que quebrava o constrangedor vazio. Asteria tentou, por um breve momento, erguer uma conversa, mencionando algo vago sobre o dia, mas Jack apenas murmurou que não tinha missões no momento, que a máquina de guerra estava em manutenção. Ele estava claramente distante, perdido em pensamentos sobre a nova realidade que ambos enfrentavam.
O jantar terminou sem grandes interações, a sopa já fria e os dois apenas seguindo o fluxo. Jack se levantou e caminhou até o pequeno espaço reservado para necessidades. Sem dizer nada, ele começou a lavar-se, deixando a água gelada escorrer por suas mãos, tentando acalmar a mente agitada. A tensão estava ali, entre eles, pairando como uma tempestade prestes a desabar.
Jack retornou ao quarto, usando somente a calça jeans para repousar, o som de seus passos ecoando suavemente pelo espaço. O frio da noite havia penetrado suas roupas, e ele se secou rapidamente antes de notar Asteria ao lado da cama, seus dedos ajustando a camisola branca e longa com uma ansiedade nítida. Ela estava de costas para ele, mas ele pôde ver como seus ombros estavam tensos, o tecido leve deslizando sobre sua pele enquanto ela movia as mãos em um gesto inquieto. Ele não precisou dizer nada para que o silêncio entre eles ficasse ainda mais denso.
Jack caminhou até o lado oposto da cama, respirando fundo enquanto arrumava os cobertores com movimentos precisos. Em um gesto quase mecânico, ele empilhou alguns travesseiros no meio da cama, criando uma barreira improvisada entre os dois. Asteria olhou para ele rapidamente, percebendo o que ele fazia, tentando não prestar atenção que seus músculos ficavam evidentes a cada movimento, ela não disse nada, apenas ajustou o tecido de sua camisola novamente e se preparou para deitar.
Os dois se acomodaram na cama, lado a lado, encarando o teto escuro de pedra. O frio da noite se infiltrava pelas paredes, e, apesar da proximidade, uma distância invisível e esmagadora os mantinha afastados. As respirações de ambos eram profundas e lentas, o ar denso de incerteza preenchendo cada canto do quarto.
Jack podia sentir o peso de Asteria ao lado dele, a presença dela o afetando de uma maneira que ele não conseguia controlar. Ele virou o rosto ligeiramente, seus olhos a observando de relance no escuro. O som de sua respiração, a maneira como seu peito subia e descia lentamente, tudo contribuía para uma tensão que se acumulava entre eles. O desconforto de estarem tão próximos, e, ao mesmo tempo, tão distantes, era sufocante.
Sem saber como quebrar o gelo ou aliviar a carga que ambos carregavam, Jack finalmente decidiu falar, a voz baixa e quase hesitante.
— Como era lá dentro? No cofre? — Ele perguntou, o olhar ainda fixo no teto, tentando não parecer interessado demais, mas a curiosidade era genuína.
Asteria ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando sobre a resposta. Finalmente, ela suspirou, virando-se um pouco na cama, mas ainda mantendo uma certa distância.
— Mesmo presas, sempre tínhamos algo para fazer. Não era... totalmente vazio, sabe? Tínhamos atividades, algo para aprender. De alguma forma, ocupavam nossas mentes.
Jack virou a cabeça ligeiramente na direção dela, interessado.
— E o que você aprendeu?
Ela deu um sorriso pequeno, quase triste, antes de responder, como se relembrasse algo distante e, ao mesmo tempo, querido.
— Aprendi a tocar piano. Tocava para as outras garotas quando o silêncio se tornava pesado demais. Era algo que... nos conectava.
Jack imaginou Asteria sentada diante de um piano, as notas preenchendo o cofre com uma suavidade que contrastava com a rigidez do lugar. A ideia dela tocando para as outras, tentando dar algum consolo em meio ao confinamento, despertou algo dentro dele que ele não sabia descrever. Ele se mexeu ligeiramente na cama, seu ombro roçando de leve o braço dela, um contato mínimo, mas que fez ambos prenderem a respiração por um segundo.
— Você tocaria algo para mim? — Jack perguntou, a voz rouca, carregada de curiosidade e algo mais profundo.
Asteria manteve os olhos fixos no teto, seu peito subindo e descendo devagar. Após um momento, ela acenou com a cabeça, um sorriso discreto brincando em seus lábios.
— Claro, se conseguir um piano — respondeu, a voz calma, mas com uma ponta de nostalgia.
— O que costumava tocar? — Ele se virou um pouco, na tentativa de vê-la melhor na escuridão do quarto.
— Músicas do mundo antigo... sei tocar algumas delas.
— Tem alguma favorita? — Jack inclinou a cabeça, os olhos ainda fixos em sua silhueta, tentando captar qualquer expressão que o escuro permitisse.
Asteria deu um suspiro suave, hesitando por um momento.
— Não sei o nome... mas talvez você reconheça quando ouvir.
Jack ficou em silêncio por um instante, o peso da promessa pairando entre eles, antes de falar novamente, com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Vou arranjar um piano — disse ele, com um tom que beirava o comprometimento. — E quem sabe sua música favorita se torne a minha também.
Asteria sorriu e então o silêncio voltou a reinar no quarto. Jack podia sentir o calor do corpo dela, mesmo com a barreira de travesseiros que os separava. Ele virou-se de volta para o teto escuro, o silêncio os cercando novamente. Havia prometido arranjar um piano, e aquilo parecia um gesto simples, mas não era. Ali, ao lado de Asteria, naquela cama pequena demais para conter a distância que ambos insistiam em manter, a tensão que se formava entre eles era sufocante. A ideia de ter que compartilhar mais do que aquele espaço — de fato viver com ela — fazia seu coração pesar.
Asteria, por outro lado, estava afundada em seus próprios pensamentos. O peso da situação era esmagador. Ela sentia o calor do corpo de Jack tão próximo, e ainda assim a sensação de que estavam a quilômetros de distância. A frustração a corroía. O desejo por ele era algo novo, intenso, algo que a surpreendia pela forma avassaladora como surgia, sem aviso. Ela mal o conhecia, mas o simples fato de estarem destinados a partilhar uma vida a fazia ansiar por ele. Era insano.
Ela passou a mão pelo tecido leve da camisola, tentando afastar o pensamento de como seria sentir as mãos dele sobre sua pele nua. E, ao mesmo tempo, odiava-se por desejar aquilo. Não era o que queria para sua vida, ela havia sido forçada a isso, no entanto, cada minuto que passava ao lado de Jack fazia seus instintos gritarem. Ele não era como os outros. Não era como seu pai. Mas ele ainda era parte daquela prisão.
Jack, por sua vez, tentava manter a compostura. Ele também sentia o desejo crescer dentro de si, uma necessidade física de tomá-la nos braços, de beijá-la, de descobrir o sabor mais íntimo dela. Asteria estava ao seu lado, e o silêncio entre eles era eletrizante. Mas Jack sabia que ceder àquela tentação seria perigoso. Ele tinha responsabilidades. Não podia deixar que seus sentimentos, seu desejo, desviassem seus planos. A realidade era brutal: Asteria era parte do jogo de poder de Immortan Joe, e ele não podia se deixar levar por emoções que o afastariam do objetivo maior. Mesmo assim, o desejo permanecia. Ele evitava olhar para ela, porque sabia que, se o fizesse, a barreira que ele tentava manter com tanto esforço poderia se quebrar.
Ambos estavam presos. Presos pela obrigação, presos pela tensão que não conseguiam dissipar. E quanto mais tentavam evitar o inevitável, mais o desejo se tornava uma presença inescapável.
O silêncio persistia. Jack, ainda deitado ao lado de Asteria, fez um movimento sutil, seu braço roçando de leve a pele dela. O toque foi breve, mas o suficiente para fazer o coração dela disparar. Havia algo de eletrizante naquele simples contato, uma corrente que percorreu o corpo de ambos. Jack percebeu que sua pele estava quente, como se a tensão entre eles aquecesse o ambiente. Ele nunca havia experimentado algo tão intenso por tão pouco. Um toque tão simples, mas que reverberava dentro dele como se fosse um beijo não dado, uma promessa não cumprida.
Asteria se mexeu de leve, sentindo a proximidade de Jack como um peso que a puxava para ele, apesar de seus próprios receios. Seu coração batia forte, a respiração irregular. Não conseguia evitar — seu corpo ansiava por mais daquele toque, daquele calor que parecia derreter as barreiras que ela tentava construir.
— O que você realmente pensa sobre isso? — A voz de Asteria quebrou o silêncio, suave, mas carregada de incerteza. — Sobre esse casamento forçado... sobre nós.
Jack hesitou. Era uma pergunta perigosa, que carregava mais do que simples curiosidade. Havia frustração em suas palavras, uma busca por algo mais. Ele não poderia mentir, mas também não queria expor tudo o que pensava. Ainda assim, a pergunta pedia uma resposta verdadeira.
— Não sei se... não sei se eu teria escolhido isso — ele começou, a voz rouca, entre a verdade e a frustração que ele mantinha enterrada. — Mas acho que nenhum de nós teve escolha, não é? Somos peões. — Ele virou o rosto na direção dela, o olhar intenso mesmo na escuridão. — Eu... eu faria qualquer coisa para sobreviver, Asteria. E agora, isso inclui você. Mas... — Jack hesitou novamente, buscando as palavras certas. — Isso não significa que eu desejei isso. Só que... é o que temos.
Asteria sentiu o peso daquelas palavras. Eles estavam juntos naquela situação, gostando ou não.
— E você acha que... isso vai funcionar? — Asteria mudou o foco, tentando lidar com suas dúvidas crescentes sobre o plano de fingir uma gravidez. — Fingir os sintomas? Não sei se conseguiremos enganar por tanto tempo...
Jack se levantou um pouco, encostando o cotovelo no colchão enquanto a olhava mais de perto. O reflexo protetor brilhou em seus olhos, e ele parecia decidido, quase feroz.
— Vamos fazer o que for necessário. Se precisar fingir, fingimos. Se precisar fugir, fugimos. Mas não vou deixar que te machuquem. Eu prometo.
— Você me enche de promessas, já percebeu?
— Deve ser porque é uma das coisas que eu posso fazer por você.
Asteria piscou, surpresa pela intensidade da resposta dele. Havia uma vulnerabilidade ali, algo que soava verdadeira. Ela se deu conta de que Jack estava disposto a mais do que simplesmente cumprir um papel; ele estava comprometido em protegê-la, e isso mexeu com algo profundo dentro dela. Minutos depois, ela piscou demoradamente sentindo o peso do sono tentar vencer a batalha contra as emoções agitadas que se remexiam dentro dela.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar, mas o turbilhão dentro dela era impossível de vencer. O desejo que ardia entre eles era insuportável, crescente a cada toque acidental, a cada troca de olhares não resolvida. Era impossível ignorar o que sentia, o quanto estar perto de Jack a fazia tremer por dentro. Mas havia algo além do desejo... algo mais profundo e sombrio. Asteria fechou os olhos, sua mente rodopiando em torno de uma única decisão. Se fosse preciso, ela tomaria a iniciativa. Consumaria o casamento, faria o que deveria ser feito. Não havia como fugir de seu destino, de suas responsabilidades. Era isso ou entregar sua vida nas mãos de seu pai.
Mas a dúvida a consumia. Será que faria isso apenas por sobrevivência? Ou porque o desejo por Jack havia se tornado insuportável, algo que ela não poderia mais negar? A linha entre o dever e a tentação começava a se desfazer, e ela não sabia qual prevaleceria. Ao lado dela, Jack permaneceu em silêncio, com os olhos fechados, mas ainda acordado. Talvez ele estivesse enfrentando a mesma batalha que ela. Talvez, no final, ambos cedessem ao que estava entre eles – ou talvez continuassem nessa dança perigosa por mais algum tempo.
Asteria sabia que, cedo ou tarde, o desejo os engoliria. E então, o que aconteceria? O sono finalmente a venceu, mas a inquietação ficou. E, ao apagar da última vela do quarto, restou apenas a escuridão... e as dúvidas.
Chegamos aos +2k aaa 💖 escrever essa história tá sendo bem difícil até porque os filmes de Mad Max são bem "superficiais", mas estou me esforçando para fazer algo bom por aqui que saia um pouco do que vemos no filme.
Difícil mais ainda é conseguir leitores para ler essa historia, divulgo sempre no TikTok (Istreff1), mas não são muitas pessoas que querem ler algo desse universo mesmo eu trazendo uma nova proposta tendo esse cenário, mas só tenho a agradecer por todos que estão lendo e comentando, isso me motiva muito 💖
Tomem aqui um edit do meu casal que tá morrendo de tesão e sigam no TikTok que sempre tô postando por lá vídeos de várias histórias (Istreff1)
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize o aplicativo agora para ver.]
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