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𝟎𝟑. a imposição do destino

Casamentos forçados sempre carregaram consigo um ar de opressão e inevitabilidade. Eles são selos de poder, contratos que garantem alianças e asseguram heranças, ignorando o desejo e a autonomia dos envolvidos. Por gerações, eles foram usados como ferramentas para cimentar reinos, controlar territórios, ou, como no caso de Immortan Joe, perpetuar uma linhagem em um mundo desmoronando. Em uma terra sem lei e sem esperança, o amor é um luxo que poucos podem se permitir. O que resta, então, são compromissos convenientes, alianças pragmáticas, ou, como Asteria logo descobriria, uma sentença de vida. A jovem ainda não sabia que seu destino estava sendo decidido. Enquanto ela se ocupava com suas próprias reflexões, mergulhada no silêncio do cofre ao lado das outras mulheres, seu pai decretava um casamento — uma união forçada entre ela e Jack, o pretoriano mais temido da Cidadela. Contudo, para ela, nada daquilo era conhecido. Não até o fim daquele dia, quando o destino decidiu bater à sua porta de uma forma que ela nunca imaginaria.

A tensão no cofre cresceu quando Scabrous Scrotus entrou. Asteria podia sentir o medo silencioso das outras mulheres ao seu redor, cada uma delas se perguntando se seria escolhida para uma nova ordem de seu senhor. Os murmúrios cessaram, o ar ficou pesado. O olhar de Scrotus varreu o ambiente com desprezo e superioridade, e todas as parideiras recuaram instintivamente. Todas, exceto Asteria. Ela tentou manter a calma, mas seu coração disparou quando ele parou diante dela. Scrotus, o impiedoso, aquele que se destacava pela brutalidade em campo de batalha, se aproximava dela com uma expressão intrigante no rosto. Ele a encarou de cima a baixo, seus olhos analisando cada detalhe de sua figura como se ela fosse um prêmio a ser conquistado.

— Se você não fosse minha irmã... — ele murmurou, a voz grave misturando-se com um certo lamento.

Asteria sentiu o corpo enrijecer com o comentário. Ela não tinha muito contato com seus irmãos, sempre isolada no cofre com as outras parideiras. A presença deles a deixava desconfortável, e o comentário de Scrotus apenas aumentou esse sentimento. Havia algo predatório na forma como ele a observava, como se a beleza dela combinada com a saúde perfeita fosse um lembrete cruel de tudo o que ele não poderia ter.

— O que você quer? — Asteria perguntou, a voz saindo mais firme do que ela sentia.

Scrotus sorriu de canto, um sorriso que não alcançou os olhos.

— O papai quer te ver.

Essas palavras caíram sobre ela como uma pedra no estômago. Asteria engoliu em seco, mas tentou não demonstrar o pânico que começava a subir. Ela olhou para a Senhorita Giddy, a mulher que a criara, a única figura que sempre lhe oferecera alguma forma de proteção. A velha acenou para que Asteria fosse. O destino dela parecia selado. A tensão pairava nos ombros de Asteria enquanto ela caminhava atrás de Scrotus, o véu branco que usava para cobrir parte do rosto sendo ajustado sobre a cabeça. 

— Cubra-se completamente. Não quero que nenhum homem veja o que não lhe pertence. — Scrotus deu uma última ordem.

Asteria, com o estômago revirado, puxou o véu para baixo, cobrindo-se completamente como Scrotus ordenara. Suas mãos tremiam sob o tecido, mas ela manteve a compostura. Sentia os olhares dos homens queimando em sua direção enquanto passava pelas entradas das cavernas.

— O que Immortan Joe quer comigo? — Ela perguntou, o tom hesitante.

Scrotus não respondeu, apenas continuou andando, como se suas palavras fossem insignificantes diante da importância do momento. Era um jogo psicológico, e ela sabia disso, mas isso não tornava a situação menos sufocante. Eles caminharam por corredores sombrios e abafados, o som de máquinas e reparos ecoando ao redor. Asteria percebeu que estavam passando por uma das oficinas. Ela conseguia ver os guerreiros trabalhando, homens suados, manuseando peças de veículos e armamentos. Quando perceberam a presença dela, seus olhares foram imediatamente direcionados ao chão. Nenhum deles ousou encará-la, não por respeito, mas por medo.

Asteria, por um breve momento, sentiu uma ponta de alívio ao ver que não era a única mulher ali. Perto de um dos homens, havia uma garota jovem, com uma postura resoluta, ajudando nos reparos, parada ao lado de um guerreiro que a encarava fixamente. Talvez ela fosse uma escrava ou alguma trabalhadora ligada a um daqueles homens, mas o momento de alívio foi breve. Asteria sabia que seu destino era bem diferente do daquela garota. A tensão voltou a crescer conforme ela se aproximava do lugar onde seu pai a aguardava. O corredor parecia se estender infinitamente, cada passo mais pesado que o anterior. Sua respiração estava presa, o coração martelando dentro do peito. Ela estava prestes a enfrentar algo que não sabia como lidar.

Quando finalmente chegaram ao destino, Asteria se viu diante das grandes portas que levavam à câmara onde Immortan Joe a esperava. As portas se abriram lentamente, revelando o vulto imponente de seu pai.

— Vá em frente, irmãzinha — disse Scrotus, empurrando-a levemente para dentro. — O papai não gosta de esperar.

Asteria hesitou por um instante. Dentro da grande sala de reuniões, o ambiente era ainda mais pesado. Immortan Joe estava em seu trono, e a aguardava com uma expressão indecifrável. O barulho da respiração pesada dele preenchia o espaço, enquanto os demais, guardas e lacaios, permaneciam em silêncio, observando cada passo dela. Ela tentou não hesitar, caminhando até parar em frente ao pai, mantendo o véu abaixado sobre o rosto, sem ter coragem de erguê-lo. O medo, a incerteza e o desespero começavam a se entrelaçar dentro dela. O que ele queria com ela? Por que, depois de tanto tempo, ele decidira chamá-la?

Scrotus se posicionou ao lado do trono, fitando Asteria de cima com um olhar quase condescendente, ainda se divertindo com a situação. Asteria se manteve parada diante do trono, os dedos apertando o véu ao redor do corpo, como se o tecido fosse uma barreira contra o homem que ela chamava de pai. O ar na sala estava pesado, carregado de tensão e cheiro de suor e poeira. Immortan Joe a observava com olhos frios e calculistas, como quem avalia um pedaço de carne a ser trocado, não como quem olha para uma filha. Sua voz, quando finalmente se manifestou, era áspera, seca, sem o menor vestígio de carinho.

— Você vai se casar — ele disse sem rodeios.

Asteria piscou, o coração batendo mais forte. O queixo dela tremeu, mas ela apertou os lábios, tentando manter o controle. Casar? Por quê? Com quem? As perguntas rodopiaram em sua mente, mas uma única sensação as sobrepôs: indignação.

— Eu... não quero — a voz dela saiu baixa, mas firme. Não esperava falar tão diretamente, mas a repulsa em ser tratada como uma mercadoria fez as palavras se derramarem de sua boca. — Eu não sou uma coisa para ser dada a alguém.

Immortan Joe inclinou-se um pouco para a frente em seu trono, a expressão endurecendo, e o som metálico de sua respiração artificial preencheu o silêncio. Ele riu, mas não havia humor em sua risada, apenas um tom amargo.

— Não perguntei o que você quer, menina — ele retrucou. — Você é minha propriedade, e fará o que eu mandar. Seu casamento não é uma escolha. É sua obrigação. Portanto, obedeça.

Asteria sentiu seu estômago se revirar. Uma obrigação? O pai a via apenas como mais um meio de obter poder, de garantir um herdeiro saudável. Ela apertou o véu com mais força, querendo gritar, correr, desaparecer. Mas, por mais que odiasse aquilo, sabia que correr ou protestar abertamente naquele momento não a levaria a lugar algum. Mesmo assim, algo dentro dela queimava, uma revolta silenciosa.

— Casar com quem? — perguntou, sua voz levemente embargada pela raiva que tentava conter.

Immortan Joe soltou um grunhido, ajustando sua máscara de respiração enquanto olhava para ela como se estivesse irritado por precisar explicar algo tão óbvio.

— Pretoriano Jack. Meu melhor guerreiro, o mais forte e saudável entre todos. Ele te dará filhos dignos e prolongará meu legado. E o casamento será na lua cheia... em dois dias.

O choque atravessou Asteria como uma lâmina afiada. Dois dias? Era como uma sentença sendo decretada, uma condenação à qual não havia fuga. O nome do homem com quem deveria se casar ecoou em sua mente. Ela mal sabia quem ele era. E agora... ela seria forçada a casar-se com ele? Gerar filhos para o pai que a via como nada além de uma ferramenta?

— Eu não vou fazer isso. — As palavras escaparam antes que ela pudesse controlar. Asteria deu um passo para trás, os olhos ardendo. — Não vou ser só uma de suas parideiras, não vou...

— Vai! — Immortan Joe interrompeu, a voz dele endurecendo como pedra. — Você não tem escolha. Vai fazer o que eu mandar, Asteria. Eu decido o seu destino, e você vai me dar herdeiros. Vai casar com o Pretoriano e não vai me envergonhar. Ou quer acabar como as outras, relegada a algo muito pior?

Asteria sentiu o medo pulsar junto com a raiva, e as palavras dele cortaram profundamente. Ela sabia o que ele queria dizer. Sabia o destino que esperava as que não obedeciam. Engoliu em seco, cada músculo tenso. Não havia como lutar ali, naquele momento. Não agora.

— Dois dias — ele repetiu, como se marcasse o tempo final de sua liberdade com uma sentença final.

Ela olhou para ele, as palavras morrendo em sua garganta, incapaz de reagir. Tudo dentro dela estava em frangalhos, e, sem mais uma palavra, ela se virou e saiu da sala, tentando não demonstrar o quão destruída estava por dentro.

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HORAS ANTES

Jack deixou a sala de Immortan Joe com passos firmes, mas a mente fervilhava. Uma missão, ele tinha lidado com missões antes, cada uma mais brutal que a anterior. Mas esta... era diferente. Esta não envolvia tiros, espólios ou glória nas estradas desérticas. Não, o objetivo agora era garantir o legado de Immortan Joe – e, ironicamente, essa parecia ser a tarefa mais difícil de sua vida. Ele caminhava ao lado de Furiosa, que mantinha o rosto impassível, mas os olhos transpareciam sua inquietação. Desde que Immortan Joe havia decretado o casamento, ela parecia estar à beira de uma explosão silenciosa. Jack podia sentir o questionamento em cada passo que ela dava ao lado dele, até que, finalmente, ela quebrou o silêncio.

— Você vai mesmo aceitar isso, Jack? — A voz de Furiosa estava carregada de incredulidade, quase desdém. — Se casar com a filha de Immortan Joe? Como se fosse... uma tarefa qualquer?

Jack não a olhou, mantendo os olhos fixos à frente, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. A frustração dentro dele era como um animal enjaulado, mas ele sabia que não podia demonstrar. Não ali. Não agora.

— Não tenho opção — ele respondeu com calma, embora sua voz estivesse mais rígida do que ele pretendia. — Não posso ir contra a decisão de Immortan Joe. Você sabe como ele é. Se fosse só questão de recusar, eu o faria. Mas isso é muito maior que eu... ou você.

Furiosa parou por um segundo, os olhos estreitados, sem conseguir disfarçar a raiva que estava crescendo. Ela conhecia Jack tempo o suficiente para saber que ele era leal, mas isso... Isso era uma coisa que ela não conseguia aceitar.

— Eu entendo quem ele é, Jack. Mas não consigo entender como você consegue aceitar isso. — A voz dela abaixou, mas o tom permanecia cortante. — Ele vai te usar, vai usá-la também. E você só vai acatar?

Jack suspirou, os ombros tensos sob o peso da situação. Ele parou e virou-se para encará-la, os olhos refletindo algo sombrio.

— Eu conheço Immortan Joe desde antes disso tudo — ele disse, a voz soando mais grave agora, como se pesasse mil quilos. — Muito antes do mundo morrer. Ele não se importa com nada além de si mesmo e do seu poder. Ele me deu uma vida quando o resto do mundo desmoronava. E por mais irônico que seja, eu ainda estou aqui por causa dele.

Furiosa fechou os olhos por um momento, tentando processar. Ela odiava Immortan Joe mais do que odiava qualquer outra coisa, e ouvir Jack falar como se ele estivesse preso em uma dívida era insuportável.

— Isso é um absurdo, Jack. — Ela murmurou entre os dentes, abrindo os olhos e o encarando. — Você tem poder. Podia lutar contra isso.

— Cuidado com o que fala — Jack disse, a voz agora mais baixa, quase como um alerta. — Reclamar em voz alta não vai nos levar a lugar nenhum. E temos sorte dele não ter me matado e feito você uma das esposas dele quando o desafiei pela primeira vez.

Furiosa mordeu o lábio, contendo a raiva que pulsava em suas veias. Odiava aquela situação. Odiava Immortan Joe. Odiava não poder fazer nada. Mas Jack estava certo em uma coisa: se ela fosse marcada para se tornar uma das parideiras, provavelmente não estaria ali, de pé, lutando nas estradas. O pensamento apenas a enojava ainda mais. Ambos seguiram em direção à oficina, em silêncio. Jack sabia que não adiantaria prolongar a conversa. Furiosa jamais compreenderia totalmente o que o prendia naquela servidão, e ele não podia culpá-la por isso. Horas se passaram enquanto eles trabalhavam no conserto da máquina de guerra, os sons de metal se chocando, faíscas voando a cada batida. Era uma forma de se distrair, de fugir do caos em sua mente. Mas a calma foi interrompida por uma movimentação repentina na oficina.

Jack levantou a cabeça, notando a chegada de um dos filhos de Immortan Joe. Scabrous Scrotus entrava, e todos ao redor pareciam se encolher um pouco à sua presença. Mas não foi ele que prendeu a atenção de Jack. Logo atrás de Scrotus, uma figura coberta por um véu caminhava em silêncio. A respiração de Jack vacilou por um instante, o peito apertando em um misto de surpresa e confusão. Aquela era... Asteria? A filha de Immortan Joe? Ele nunca a tinha visto antes. Mas havia algo sobre ela, mesmo coberta, que fazia com que ele sentisse um fervilhamento no estômago. Uma áurea diferente, quase angelical. Os murmúrios começaram a circular pela oficina, às ordens para não encará-la sendo passadas de homem a homem. Jack desviou o olhar, encarando o chão como todos os outros, mas não pôde evitar espiar de relance. Em um breve instante, seus olhos se cruzaram, mesmo que ela estivesse quase completamente coberta. A sensação de confusão dentro dele aumentou. Aquela era a mulher com quem ele deveria se casar?

Um pensamento trouxe uma estranha combinação de emoções. Raiva. Incerteza. E algo que ele não conseguia definir. Ele ainda se lembrava da mulher da noite anterior, dos toques, da sensação que ela deixou no ar, do cheiro — doce, leve, diferente de tudo o que ele costumava sentir na Cidadela. E então, uma teoria começou a tomar forma, desorganizada no início, mas depois cada vez mais clara. Ele sentiu seu corpo enrijecer enquanto conectava os pontos. O perfume da noite anterior, a maneira como a garota de véu caminhava, o fato de ninguém ousar olhar para ela. Jack estava ali, vendo-a pela primeira vez com seus próprios olhos, e algo dentro dele gritava: a mulher da noite passada era a mesma que agora caminhava diante dele. Seu coração deu um salto, a mente se fixando em uma única conclusão assustadora.

E se aquela mulher fosse a filha de Immortan Joe?

Por um momento, o ar pareceu ficar denso ao seu redor. O perfume, o andar, o fato de ela ser mantida oculta. As peças se encaixavam de forma cruel. Ele congelou por alguns instantes, incapaz de processar totalmente a revelação que surgia. A garota de véu, a mulher que deveria se casar com ele... era a mesma que havia tocado sua mente e seu corpo na noite anterior. O choque percorreu suas veias, mas Jack forçou-se a não demonstrar nada. Ele manteve os olhos baixos, fingindo estar tão submisso quanto os outros. Mas, por dentro, era uma verdadeira tempestade.

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Asteria entrou no cofre com o coração acelerado. As paredes de metal abafavam o som do ambiente, transformando o lugar em uma prisão sufocante. As parideiras, as outras cinco mulheres escolhidas por Immortan Joe, estavam sentadas em silêncio, mas seus olhares se voltaram para Asteria assim que a porta se fechou atrás dela. Elas sentiam a tensão no ar, o desconforto em sua postura. Asteria lutava para controlar as lágrimas que ameaçavam escapar. Sua mente girava, repetindo a mesma frase impiedosa dita por seu pai. Casamento com um homem estranho. As palavras tinham o mesmo peso de uma sentença de morte. Ela deu um passo vacilante, mas seus joelhos começaram a fraquejar. As garotas perceberam rapidamente e, em um gesto instintivo, se aproximaram, aparando-a antes que ela caísse. O toque delas era gentil, quase reconfortante. Elas a cercaram, formando um círculo protetor.

Foi então que a Senhorita Giddy, com seu andar rápido e determinado, abriu caminho entre as parideiras. Seus olhos, sempre atentos, vasculharam o rosto de Asteria com uma preocupação profunda. A velha mulher sabia ler emoções, mesmo quando não havia palavras.

— O que aconteceu, menina? — perguntou a Senhorita Giddy, sua voz firme, mas carregada de uma ternura oculta.

Asteria balançou a cabeça, incapaz de formar uma resposta imediata. O choque ainda a paralisava, e a presença das outras mulheres ao seu redor só fazia com que a pressão em seu peito aumentasse. O silêncio dela apenas incentivou a curiosidade. As parideiras começaram a murmurar entre si, vozes baixas e ansiosas.

— O que ele disse? — perguntou Toast, tentando esconder o nervosismo. — Vai ser levada para ele?

— Que horror, Toast, Immortan Joe jamais se deitaria com a filha... eu acho — Capable franziu o cenho, duvidando das próprias palavras.

— Foi algo sobre nós? — Cheedo, com sua expressão preocupada, indagou.

Asteria respirou fundo, buscando forças. Quando finalmente levantou o olhar, sua voz saiu entrecortada, quase como um sussurro.

— Eu... eu vou me casar.

O murmúrio de surpresa percorreu o grupo como um raio. Todas as mulheres trocaram olhares tensos, a apreensão crescendo.

— Casar? — Toast foi a primeira a romper o silêncio, os olhos arregalados. — Com um dos garotos de guerra ou um dos seus... irmãos?

Asteria balançou a cabeça lentamente.

— Não. — Sua voz era pesada, cada palavra carregada de amargura. — Com um dos guerreiros de meu pai... Pretoriano Jack.

A revelação caiu como uma bomba. As parideiras encararam Asteria com espanto. Elas jamais imaginariam que algum dia Immortan Joe permitiria que um homem assim tocasse sua filha. Sua joia mais preciosa.

— Pretoriano Jack, quem é? — Cheedo perguntou, tentando processar.

— Acho que ouvi falar nele, é um guerreiro das estradas, o melhor. — Capable ergueu o queixo. — Mas qual o motivo do casamento?

Asteria fechou os olhos por um breve instante, buscando manter o controle sobre si mesma. A raiva e o medo estavam misturados em seu coração.

— Para prolongar o reinado de Immortan Joe. — Asteria disse, cada palavra saindo como se cortasse sua alma. — Para garantir herdeiros... fortes.

O silêncio que se seguiu foi profundo e carregado de angústia. As mulheres ao seu redor se entreolharam, sentindo o peso da responsabilidade que Asteria agora carregava. Elas conheciam o destino que Immortan Joe reservava para elas, mas o que ele planejava para Asteria era algo além do controle delas. 

— Nós somos apenas ferramentas para ele... e agora você também. — Dag, que estava sentada perto da borda da piscina, finalmente falou, sua voz carregada de amargura.

Asteria assentiu, as lágrimas finalmente rolando por suas bochechas. O cofre estava imerso em uma atmosfera carregada de tensão. Cada uma das parideiras sabia que seu destino estava amarrado ao de Immortan Joe, mas o casamento de Asteria parecia uma reviravolta cruel, algo que nenhuma delas poderia prever. E entre todas as expressões de medo e inquietação, a figura de Angharad se destacou. Com seus sete meses de gravidez, a esplêndida era a favorita de Immortan Joe. Sua beleza luminosa e a serenidade que carregava em seus gestos faziam dela uma presença quase etérea entre as outras, mas não mais que Asteria. Ela se aproximou lentamente, alisando a barriga proeminente com uma delicadeza que quase parecia desafiadora em um mundo tão brutal.

— Asteria... — Angharad começou, sua voz baixa, quase maternal. — Você precisa ser forte.

Asteria levantou o olhar, os olhos inchados de lágrimas, e encontrou o rosto sereno de uma das esposa de seu pai, a mais velha entre os rostos mais jovens. Havia uma doçura nos olhos de Angharad, mas também algo que Asteria reconhecia: um olhar de alguém que já havia aceitado seu destino.

— Eu tenho medo — Asteria sussurrou, a voz embargada. — Medo do homem que eu me casarei ser tão ruim quanto meu pai... Medo de fracassar... de gerar mais um filho defeituoso e ser jogada entre as leiteiras.

Ela não conseguia evitar o tremor na voz. A imagem das mulheres que passavam seus dias amarradas a máquinas, tendo seu leite materno sugado para alimentar Immortan Joe e sua elite, era um pesadelo constante para todas as parideiras. Não havia destino mais humilhante ou desesperador. E mais do que isso, ela temia também sobre a pessoa que se casaria: E se o pretoriano fosse um homem ruim?

— Isso jamais aconteceria com você. — A voz Angharad era firme. — Você é de longe a pessoa mais saudável que há aqui. É por isso que ele a escolheu. O Immortan não pode se arriscar com você, como fez com as outras. Ele sabe que você é a única esperança real de um herdeiro. — ela colocou a mão sobre a barriga — ...é o que eles querem de nós. Mas você tem algo que nós não temos. Você é a herdeira. Seu sangue é puro.

Asteria balançou a cabeça, tentando sufocar o desespero que ameaçava consumi-la. As palavras de Angharad eram reconfortantes, mas não bastavam para silenciar os gritos internos que ecoavam em sua mente. Ela sabia que as outras esposas também carregavam seus próprios pesadelos, vítimas de um destino imposto que não escolheram. Cada uma tinha suas cicatrizes, seus medos, e Asteria sentia o peso de compartilhá-los, mesmo que por vezes a dor a cegasse para essa realidade. A lembrança de Deneb, sendo arrastada aos gritos para o destino cruel das leiteiras, era um lembrete brutal do que acontecia com aquelas que eram consideradas "inúteis". A ideia de falhar, de ser reduzida à mesma condição, era uma sombra que pairava sobre todas elas, e não apenas sobre si mesma. Essa percepção apertava seu coração, enchendo-o de uma solidariedade que lutava para emergir em meio ao seu próprio sofrimento.

Com um suspiro profundo, Asteria decidiu que precisava de um momento para se recompor. Sem dizer mais nada, ela subiu para o segundo andar do cofre, onde as grutas improvisadas ofereciam pequenos refúgios. Em uma delas, a pequena biblioteca parecia esperá-la, com seus livros antigos, sempre uma fonte de consolo em tempos de solidão. Ela buscava não apenas escapar, mas encontrar forças para continuar — não só por ela, mas por todas. As paredes eram frias ao toque, o ambiente levemente úmido. A luz era fraca, mas o suficiente para que Asteria visse as prateleiras de madeira envelhecida e os livros cobertos de poeira. Sentando-se em uma cadeira, ela fechou os olhos por um momento, tentando deixar a mente se acalmar.

Asteria sabia, no fundo, que esse momento chegaria. Desde que era pequena, trancafiada no cofre, havia deduzido que Immortan Joe não a mantinha viva por mero sentimentalismo ou por qualquer resquício de afeto paternal. Ele era um homem que não fazia nada sem propósito, e, cedo ou tarde, ela teria que servir a algum propósito maior para ele. Talvez uma barganha, uma aliança, ou, como temia agora, um meio de perpetuar seu domínio através dela. A liberdade que por tanto tempo sonhara, imaginando existir além das paredes frias de sua prisão, parecia agora mais distante do que nunca, porque mesmo ali fora, ela permanecia uma peça no tabuleiro de Immortan Joe.

— Sua mãe... Vega... também reagiu assim quando soube que seria uma das parideiras. — A voz da Senhorita Giddy quebrou o silêncio, ecoando suavemente no espaço. A velha mulher havia a seguido até ali, silenciosa, como sempre.

Asteria abriu os olhos, encarando o olhar grave da Senhorita Giddy.

— Minha mãe... — Asteria começou, hesitante. — Ela tentou lutar contra isso? Contra ele?

A Senhorita Giddy suspirou, sua expressão sombria ao se lembrar do passado.

— Oh, sim... Vega tentou fugir várias vezes. Tentou se esconder, se revoltar. Mas ela só parou quando descobriu que estava grávida de você. Ela ficou porque pensou que talvez, só talvez, um filho pudesse mudar as coisas. Foi isso que a acalmou, pelo menos por um tempo. — A mulher deu um passo à frente, seus olhos fixos nos de Asteria. — Mas, infelizmente, ela não resistiu ao parto. Você foi a última coisa que ela viu.

Asteria sentiu um nó apertar seu peito. A história de sua mãe era uma sombra que sempre a perseguiu, mas ouvir esses detalhes... era quase insuportável. A jovem sentiu o frio tomar conta de seu corpo. Sua mãe, tão desesperada quanto ela, não havia encontrado uma saída. O destino que Asteria temia havia sido o fim de sua mãe. Um silêncio pesado pairou entre as duas até que ela finalmente murmurou:

— Então, no fim, ela também foi um objeto para ele... como eu. Como todas nós. — Asteria disse, com amargura. A Senhorita Giddy hesitou antes de responder.

— Você é mais forte do que imagina, Asteria. Todas são. E sua mãe... ela tentou de tudo. Se você quiser, pode tentar também. Mas, às vezes, a força está em sobreviver e encontrar uma maneira de se libertar, como a sua mãe tentou fazer. Você ainda pode escrever o seu próprio destino.

— Você acredita mesmo nisso?

A Senhorita Giddy acariciou o ombro da jovem, um gesto que misturava compaixão e desespero.

— É claro. Você é diferente, minha menina. 

Asteria olhou para os livros à sua frente, mas suas palavras ecoavam em sua mente. A realidade de seu futuro estava selada, mas a semente da dúvida e da resistência já começava a crescer dentro dela.

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