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𝟎𝟏. o legado da Cidadela

Quem matou o mundo? A pergunta ecoava incessantemente pelo deserto vazio, um fantasma à procura de respostas. Ninguém sabia ao certo quando o colapso começou, mas as guerras pelo petróleo, pelas últimas gotas de água e os bombardeios nucleares entre as três grandes nações garantiram a sentença de morte da humanidade. Agora, tudo o que restava era um vasto manto seco e alaranjado que cobria o horizonte, como se o próprio planeta tivesse sido incendiado e abandonado. O mundo estava morto. E as pessoas, também. Aqueles que ainda caminhavam sobre a terra devastada faziam isso apenas porque a morte não os havia reclamado – ainda. Eles lutavam com o que restava, com o que podiam, agarrando-se às sombras de uma existência que havia se tornado insuportável. Os sobreviventes viviam em pequenas comunidades, buscando se agarrar a qualquer migalha de vida. O combustível e a água – conhecida como "Aqua Cola" – eram os recursos mais preciosos. Os carros não eram apenas meios de transporte; eles eram a diferença entre a vida e a morte. E as estrada havia se tornado o último refúgio de liberdade para os poucos que ainda ousavam desafiar o império de Immortan Joe.

No coração desse deserto havia a Cidadela, um colosso erguido em meio à rocha escaldante. Um complexo de cavernas e penhascos, suas estruturas dominavam a paisagem, simbolizando poder e medo. Immortan Joe, o tirano do deserto, reinava com mão de ferro. Ele havia conquistado o respeito e a obediência através da força, controlando os dois recursos que todos mais desejavam: água e esperança. Seus seguidores acreditavam que ele era mais do que um homem – uma divindade, capaz de conceder ou retirar a vida com um único gesto. Abaixo de sua fortaleza, multidões famintas se amontoavam nas margens da Cidadela, esperando pelo milagre diário: o momento em que Joe liberava uma pequena fração de água para o povo. Mas isso era um teatro. A água, distribuída em pequenas doses, mantinha as massas submissas, enquanto Joe e sua elite, desfrutavam de abundância. Seus seguidores mais fiéis eram conhecidos como os Garotos de Guerra, fanáticos cobertos de tinta branca, que seguiam cegamente suas ordens, acreditando que sua morte em batalha lhes garantiria entrada em Valhalla, o paraíso prometido.

As estruturas da Cidadela eram alimentadas por grandes geradores movidos a vapor, alimentados pela carne do deserto – os restos daqueles que haviam ousado desafiar Joe ou simplesmente caído pela falta de recursos. Acima de tudo, a Cidadela não era apenas um símbolo de poder. Era uma prisão para os mais vulneráveis, especialmente as mulheres, que eram mantidas como meras ferramentas para perpetuar a linhagem do tirano. No fundo do complexo, havia um cofre impenetrável. Não era para ouro, nem para tesouros antigos, mas para o que Immortan Joe considerava seu bem mais precioso: as parideiras. Suas esposas. As joias preciosas. Mulheres selecionadas por sua saúde e beleza, com a promessa de uma linhagem forte. Elas eram mantidas em cativeiro, sua única função era garantir que o nome e o sangue de Immortan Joe se perpetuassem. Era um mundo sombrio, onde a liberdade era apenas um eco distante para aquelas que viviam ali, reféns de uma vida que nunca haviam escolhido.

Asteria se encontrava entre elas, a única filha mulher de Immortan Joe, um segredo guardado por ele com a mesma rigidez que mantinha seu poder. Diferente das outras, Asteria não havia sido escolhida para reproduzir, não até dado momento, mas seu destino parecia traçado pela mesma lógica brutal de seu pai. Seus dias eram passados nas sombras daquele cofre, seus movimentos observados de perto, como se ela fosse algo frágil a ser protegido ou, talvez, algo perigoso a ser controlado. Em muitos momentos, Asteria olhava para o céu através das pequenas frestas que deixavam a luz do sol entrar, sonhando com o que existia além daquelas muralhas de pedra. Lá fora, a liberdade parecia palpável, mas sempre fora de alcance. O cofre onde ela vivia era, na verdade, uma prisão. Sua única diferença em relação às outras mulheres era o sangue que corria em suas veias – o sangue de Immortan Joe. E isso, ao invés de libertá-la, a aprisionava ainda mais. Em seus momentos solitários, ela se perguntava o que seria da sua vida se pudesse fugir. Mas o deserto lá fora era perigoso, e Immortan Joe, ainda mais. Ela sabia que o simples ato de desejar liberdade era uma ofensa ao seu pai, mas aquele anseio queimava em seu peito, tornando-se impossível de ignorar.

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A noite finalmente envolveu a Cidadela em sombras, as chamas das tochas e luzes projetando uma luz vacilante que delineava o caos controlado da grande celebração no coração do complexo. As vozes roucas dos garotos de guerra ecoavam pelos ventos áridos do deserto, exaltando a nova vitória de Immortan Joe. Ele havia retomado o controle absoluto sobre a Fazenda da Bala e a Vila Gasolina, territórios antes disputados por gangues agora aniquiladas. Enquanto os guerreiros celebravam sua glória, o triunfo soava vazio para Asteria. Para ela, aquele frenesi coletivo era apenas uma distração. As festividades davam a oportunidade perfeita para arriscar uma escapada breve, uma chance de sentir o gosto amargo da liberdade, mesmo que fosse só por alguns minutos.

No silêncio sufocante do cofre, ela se preparou para fazer o impensável. As paredes de pedra que a haviam confinado durante anos pareciam mais opressoras naquela noite. As mulheres ao redor cochichavam histórias sobre o caos e a distração dos guardas durante a celebração. Essa era a única chance que ela teria. Então deveria tentar algo mesmo que fracasse. Asteria sabia dos riscos, mas continuar presa naquele cofre, sob o olhar imponente de seu pai, parecia mais aterrorizante do que qualquer perigo lá fora. Ela queria sentir o vento no rosto, a liberdade de uma noite longe das correntes invisíveis de Immortan Joe.

No entanto, escapar sozinha, mesmo que por poucas horas, seria impossível. Por isso, precisava de ajuda. E ela havia encontrado em Nux, um jovem garoto de guerra que era responsável por levar suprimentos para o cofre, ou em outras palavras, a chave para sua pequena fuga. Há semanas, Asteria vinha estabelecendo uma amizade sutil com ele. Nux, com sua lealdade cega ao Immortan, não percebia que estava sendo manipulado. Ele era gentil e ingênuo, sempre disposto a ajudar, e Asteria havia se aproveitado disso com cautela. Naquela noite, enquanto o som distante da festa reverberava pelas paredes do cofre, Nux apareceu com outra remessa de mantimentos. Asteria sabia que aquele era o momento. Ansiosa, ela o esperou à porta, longe das outras mulheres, seu olhar encontrando o dele com um misto de expectativa e doçura.

— Você já viu a festa lá fora, Nux? — Asteria perguntou, um sorriso leve se formando em seus lábios rosados enquanto se inclinava ligeiramente em sua direção. — Soube que Immortan Joe está comemorando uma conquista. Talvez... eu pudesse ver de perto como eles comemoram, só por uma noite.

Nux hesitou. Ele olhou para os lados, claramente incerto. Sua lealdade ao Immortan Joe o mantinha em constante vigilância, mas havia algo na voz de Asteria que o fazia pensar duas vezes. No entanto, ele sabia das regras: todas as joias deveriam ficar no cofre, para a própria segurança e deleite do seu soberano. Asteria não era uma das parideiras, mas ainda era a filha de Immortan Joe e uma donzela, por isso, o melhor lugar para ela seria ficar com as outras esposas. Presa, até segunda ordem.

— Não sei se é uma boa ideia... — respondeu ele, sua voz baixa, carregada de dúvidas. — É perigoso lá fora, e o Immortan...

— Só por uma noite, Nux. — Asteria o interrompeu, sua voz suave, quase um sussurro. — Prometo que volto antes de perceberem. Você sabe que eu não faria nada para prejudicar você. Só quero ver o que tem lá fora, só uma vez.

Asteria esperava pacientemente enquanto Nux lutava internamente entre o pedido e seu dever. O jovem parecia prestes a ceder até que passos silenciosos ecoaram pelo corredor. A Senhorita Giddy, com sua figura pequena e frágil, apareceu próximo aos dois jovens. Seus olhos atentos, sempre vigilantes, imediatamente captaram o que estava acontecendo. Mesmo com a idade avançada, a mulher mantinha um olhar firme e sábio. Ela, naquele momento, sabia que algo estava errado.

— O que você pensa que está fazendo, menina? — a voz rouca da Senhorita Giddy soou baixa, mas cheia de autoridade, enquanto ela se aproximava de Asteria. — Você quer ser morta? Ou pior, matar todas nós?

Asteria recuou, surpreendida pela chegada repentina da Senhorita Giddy. Ela sabia que a velha não aprovaria sua ideia de fuga, mas não esperava ser confrontada tão diretamente. No entanto, havia uma resolução em seu peito que ela não poderia ignorar.

— Não vejo problema nenhum nisso, Senhorita Giddy — Asteria respondeu, sua voz carregada de determinação. — Só quero ver o mundo lá fora, sentir o ar, viver por um momento... É só por uma noite. Ninguém vai morrer por isso.

— Não seja tola, Asteria. — A Senhorita Giddy avançou, baixando o tom para que Nux, que assistia à cena em silêncio, mal pudesse ouvir. — Você acha que ele não vai perceber? Que as outras não vão correr para contar tudo se ele aparecer?

Asteria desviou o olhar, sabendo que a velha tinha razão, mas ainda assim seu desejo de sair era maior. Passara a vida inteira ouvindo histórias sobre o mundo fora das muralhas, sobre o deserto e o caos, e mesmo sabendo dos perigos, algo dentro dela ansiava por essa experiência. E ela nem iria longe, não ainda.

— Se você fizer isso... — a Senhorita Giddy segurou o braço de Asteria, com uma força surpreendente para alguém tão frágil — ... ele vai descobrir. E você sabe o que acontece com quem desobedece Immortan Joe.

Asteria olhou para a Senhorita Giddy, vendo a preocupação genuína em seus olhos. Ela sempre cuidou dela desde a morte de sua mãe, como uma figura materna, e agora temia pela segurança da menina que ela havia criado. Era uma ideia tão estúpida para consequências irreversíveis. Mesmo assim, o desejo de sair, de ser mais do que apenas uma "donzela", queimava como fogo dentro dela.

— Não vou atrair a atenção de ninguém — Asteria murmurou, olhando de soslaio para Nux, que continuava hesitante. — Eu só preciso de um pouco de diversão. Apenas um momento sem ser controlada.

— Asteria... — a Senhorita Giddy sussurrou, seu tom agora mais suave, quase implorando. — Por favor, não faça isso. Se não por você, faça por mim.

O apelo fez Asteria vacilar. Ela sempre teve carinho pela mulher, a única pessoa que realmente a tratava com afeto. Mas, ao mesmo tempo, a opressão de sua vida na Cidadela a sufocava, e aquela noite parecia ser sua única oportunidade de liberdade, mesmo que breve. A jovem se soltou suavemente do aperto da Senhorita Giddy e olhou para Nux, que a observava com uma mistura de curiosidade e apreensão.

— Vamos, Nux — disse Asteria com determinação. — Apenas por uma noite. Eu prometo não demorar.

Nux hesitou por mais um segundo, mas finalmente assentiu, se aproximando da porta com cautela. A Senhorita Giddy observava tudo com um misto de medo e resignação, sabendo que, uma vez que Asteria tomava uma decisão, não havia volta.

— Que os deuses loucos a protejam, menina — murmurou a velha, antes de se afastar, sumindo nas sombras.

A saída de Asteria do cofre foi mais fácil do que ela imaginara. A festa na Cidadela havia diminuído a guarda, e os poucos garotos de guerra que ainda faziam rondas estavam mais interessados nos gritos de exaltação e nos roncos dos motores do que nas parideiras. O portão que separava o cofre do restante da Cidadela estava desprotegido, facilitando sua fuga. Asteria envolveu os longos cabelos loiros em um véu branco, tentando disfarçar o brilho dourado que poderia chamar atenção.

As suas vestes eram de uma simplicidade etérea, feitas de um tecido branco, puro e leve como um suspiro. O vestido caía dos ombros, sustentado por finas alças que pareciam frágeis, mas mantinham o decote profundo que descia em pregas suaves até a cintura. Ali, o tecido se ajustava sutilmente ao corpo, marcando sua silhueta de forma quase imperceptível, antes de se abrir em longas fendas que revelavam suas pernas ao menor movimento. Embora seu coração acelerasse com a excitação de estar do lado de fora pela primeira vez, Asteria mantinha a cabeça baixa, seguindo de perto Nux, que caminhava adiante com passos rápidos e silenciosos.

Enquanto cruzavam os corredores que levavam ao centro da Cidadela, Asteria observava tudo ao redor com um misto de fascínio e apreensão. O barulho distante da festa pulsava em seu peito, mas ela se forçava a manter o foco. Sabia que um movimento em falso poderia custar sua liberdade. Nux, lançou um olhar para trás, seu rosto franzido em preocupação.

— Não podemos demorar. Vou te levar a um lugar e depois voltamos — ele sussurrou, os olhos constantemente varrendo o entorno em busca de possíveis ameaças. — Se o Immortan perceber que você sumiu... bom, você sabe o que vai acontecer.

Asteria acenou com a cabeça, mas suas intenções iam além. Embora Nux estivesse focado em levá-la a um ponto específico e garantir seu retorno antes que alguém notasse sua ausência, Asteria tinha outros planos. Aquela era sua única chance de explorar mais profundamente os cantos escondidos da Cidadela, o único lugar que conhecia. Sempre ouvira histórias sobre passagens secretas e áreas restritas que nunca tivera permissão de ver, e agora, finalmente, poderia descobrir por si mesma.

Eles seguiram em frente, contornando os muros de metal e as torres improvisadas que faziam parte da fortaleza. Asteria sentia a agitação crescer dentro de si. O som de vozes altas, risadas e motores se intensificava à medida que se aproximavam do coração da celebração. O cheiro de óleo, poeira e carne grelhada misturava-se no ar, criando um ambiente tão caótico quanto fascinante.

Por mais que Nux fosse cauteloso, mantendo-se nas sombras e evitando os olhares dos garotos de guerra mais atentos, Asteria não conseguia conter o impulso de absorver tudo. O enorme espaço da Cidadela, com suas construções feitas de restos de metal e pedra, os tanques de água protegidos por barricadas, as imponentes torres de vigilância... era um cenário que ela nunca tivera a chance de explorar. Agora, fora do confinamento, tudo parecia mais vivo, mais real. Ela queria ver mais, muito mais.

— Só uma espiada rápida e voltamos — Nux repetiu, como se estivesse tentando convencê-la e a si mesmo. — Não podemos arriscar.

Asteria concordou, lançando um olhar breve para ele. Mas por dentro, seu coração ansiava por algo maior do que uma simples espiada. O que Immortan Joe tinha lhe negado por tanto tempo estava ali, ao alcance de suas mãos, e ela não iria desperdiçar essa oportunidade.

Ao chegarem ao centro da Cidadela, Asteria ficou imediatamente impressionada com o caos organizado à sua volta. Garotos de guerra e outros guerreiros se espalhavam por todos os lados, gritando, bebendo e exibindo suas marcas de batalha ou deformações. O barulho das risadas estrondosas misturava-se ao som de motores e ao crepitar das fogueiras que iluminavam a área. Para Asteria, era como entrar em outro mundo, uma realidade distante do confinamento sufocante do cofre. Cada detalhe era uma novidade que a fazia querer absorver mais e mais.

— Uau... — Asteria murmurou para si mesma, os olhos brilhando com uma mistura de fascinação e curiosidade. — Isso é o centro da Cidadela? Eu nunca imaginei...

Ela tentou se manter próxima de Nux, mas o ímpeto de explorar e se misturar à multidão era forte. Felizmente, algumas mulheres vagavam entre os homens, aparentemente sortudas o suficiente para terem sido levadas pelo elevador para se divertir naquela noite, uma rara cortesia concedida por Immortan Joe para seus melhores guerreiros. Asteria, envolta em seu véu branco, observou-as com interesse. Pela primeira vez, ela sentiu que poderia se passar por uma delas, perder-se entre a multidão sem ser notada.

Ela olhou ao redor, absorvendo cada detalhe. A Cidadela era vastamente diferente do cofre. Era suja, mas vibrante, cheia de vida e energia. Era tudo o que ela sonhara em ver, mesmo sabendo dos perigos que a cercavam.

— Nux... como os Garotos de Guerra se divertem? — ela perguntou, sua curiosidade transparecendo.

Nux lançou um olhar de soslaio para Asteria, parecendo confuso com a pergunta. Para ele, "diversão" era um conceito estranho.

— Se divertir? — Ele parou por um momento, ponderando a resposta. — A maior diversão é se sacrificar... se tornar um guerreiro imortal em Valhalla.

Asteria ficou em silêncio, tentando processar o que ele dissera. Para ela, o conceito de "diversão" parecia algo leve, mais simples. Mas para Nux e os outros Garotos de Guerra, sua vida estava voltada para uma causa maior, uma devoção cega a Immortan Joe e à promessa de Valhalla.

Nux olhou ao redor, como se algo o chamasse.

— Tenho algo para te mostrar — disse ele, acenando para que ela o seguisse.

Asteria, ainda embriagada pela excitação de estar fora do cofre, seguiu-o sem hesitar. Eles entraram na multidão, cruzando entre guerreiros e mulheres dançantes, o cheiro de combustível e fumaça impregnando o ar. Tudo parecia caótico, e, ao mesmo tempo, cheio de uma energia vibrante. Asteria sentiu-se quase parte daquele mundo pela primeira vez, como se por alguns instantes ela pudesse ser uma das pessoas dali, livre.

Nux continuou avançando, liderando-a através do turbilhão de pessoas até chegarem a um corredor movimentado. Passaram por um lugar apertado, onde gritos ecoavam das paredes de metal e as luzes oscilavam sobre suas cabeças. Finalmente, Nux abriu caminho até um bar improvisado, escondido entre as estruturas enferrujadas da Cidadela.

— Aqui estamos — disse Nux, enquanto eles se aproximavam do balcão sujo.

O bar era rudimentar, feito de peças quebradas de veículos e latões reutilizados. Algumas poucas bebidas, provavelmente feitas com ingredientes questionáveis, estavam dispostas em garrafas desgastadas.

— Quer experimentar? — Nux ofereceu, pegando um pequeno copo e enchendo-o com uma bebida marrom e densa. Ele a olhou com um sorriso ligeiramente nervoso. — É forte... bem forte.

Asteria, no entanto, sentia-se determinada. Era uma noite para quebrar regras, para provar que ela podia fazer qualquer coisa. Sem pensar duas vezes, ela pegou o copo e levou à boca, bebendo o líquido de uma vez só. O gosto amargo e o calor imediato da bebida queimaram sua garganta, e ela fez uma careta involuntária.

— Que droga é essa? — Ela tossiu, os olhos lacrimejando levemente enquanto tentava disfarçar a expressão de desgosto.

Nux deu uma risada curta, algo raro para ele, e balançou a cabeça.

— É o que temos. Bem-vinda à Cidadela.

Apesar do gosto horrível, Asteria sentiu uma pontada de satisfação ao experimentar algo novo. Era seu primeiro passo fora da vida enclausurada que conhecia, e a sensação de liberdade — ainda que perigosa — a fazia querer mais. Cada momento ali parecia uma vitória contra o destino que Immortan Joe traçara para ela. Mas enquanto Asteria recuperava o fôlego da bebida, o som ao redor pareceu aumentar, transformando-se em um coro que reverberava por todo o espaço. O rugido da multidão ecoava com uma intensidade crescente, e então ela percebeu o que estavam gritando. O nome de Immortan Joe. Cada vez mais alto, os Garotos de Guerra e os outros guerreiros repetiam o nome do líder com devoção cega, como se estivessem chamando uma divindade. Asteria congelou, o sangue correndo mais rápido em suas veias.

— Immortan Joe está aqui — disse Nux, com os olhos brilhando de uma mistura de admiração e respeito. — É uma honra ele estar presente na festa.

Asteria, no entanto, sentiu o pânico subir em sua garganta. Honra para os outros, talvez, mas para ela, aquilo significava perigo. Immortan Joe não podia vê-la ali, entre a multidão. Não podia saber que ela havia saído do cofre.

— Isso não é bom... eu preciso me esconder — Asteria murmurou, seus olhos varrendo o local à procura de um refúgio. Cada segundo que permanecia ali aumentava o risco de ser descoberta. Nux, percebendo o medo dela, agiu rápido. Ele pegou sua mão sem hesitar e a puxou para longe do bar improvisado.

— Vamos, eu vou te levar para outro lugar — ele disse, apressando o passo enquanto a guiava por um caminho diferente.

Asteria o seguiu, ainda sentindo o efeito quente da bebida no estômago, enquanto a multidão ao redor continuava a gritar pelo nome de seu pai. O caminho que Nux escolheu era mais escuro e estreito, e logo eles começaram a ouvir sons que faziam Asteria franzir a testa. Vozes abafadas, palavras estranhas, e gemidos, vindos de todas as direções. Ela não conseguia identificar o que estava acontecendo, mas algo a fez parar. Eram sons parecidos que ela ouvia sempre que seu pai se deitava com uma das esposas para gerar um herdeiro.

— Onde estamos? — Asteria perguntou, olhando ao redor, sua inexperiência nítida em cada gesto.

Nux evitou seu olhar, claramente desconfortável.

— É... um lugar onde alguns homens trazem mulheres para... se divertirem. — Ele tentou explicar, mas suas palavras foram hesitantes. Ele sabia que Asteria não tinha ideia do que realmente acontecia ali. — Mas vai estar segura até Immortan Joe ir embora. Só... fique aqui. Eu volto logo.

Antes que ela pudesse protestar, Nux se afastou rapidamente, deixando-a sozinha em um pequeno salão mal iluminado. Asteria olhou ao redor, sentindo-se fora de lugar. O som de vozes abafadas continuava, misturado aos sussurros e gemidos que vinham de cantos escuros do lugar. Havia alguns homens sentados, suas faces obscurecidas pela pouca luz, e mulheres em seus colos, algumas rindo, outras parecendo desinteressadas.

Ela sentiu os olhares de alguns desses homens recaírem sobre ela, avaliando-a de uma forma que a fez se sentir desconfortável. Asteria puxou o véu branco sobre os cabelos, tentando se esconder ainda mais sob o tecido, mas o olhar deles continuava insistente. O lugar era perigoso, e cada segundo que passava parecia estender-se por uma eternidade. Ela estava sozinha, rodeada por estranhos, e a sensação de que algo poderia dar terrivelmente errado crescia em seu peito.

Asteria sentiu o peso dos olhares sobre ela e percebeu que ficar parada naquele salão só aumentaria seu risco. O ar denso do lugar a sufocava, e ela começou a se mover, à procura de uma rota de fuga. A ideia de sair do cofre já lhe parecia completamente absurda. Cada passo que dava entre os homens e as mulheres que ocupavam aquele espaço aumentava sua sensação de vulnerabilidade. O som dos gemidos e risos abafados parecia invadir cada canto, enquanto ela andava a esmo, tentando encontrar um caminho que a levasse de volta para sua prisão segura.

Foi então que, ao fundo do salão, ela avistou uma escada mal iluminada. Sem pensar duas vezes, ela se dirigiu para os degraus e começou a subir, cada passo uma tentativa de afastar o pânico crescente. O metal rangia sob seus pés, e a agitação da festa, dos gritos e celebrações, parecia diminuir à medida que se distanciava.

Quando finalmente chegou ao topo, Asteria deu de cara com mais um corredor de paredes de terra, suas laterais cobertas por portas fechadas, que ela imaginou serem quartos. A esperança de que a escada a levaria para uma saída evaporou. Sentindo o desespero crescer, ela entrou apressada em um dos cômodos, escuro e abafado, fechando a porta atrás de si. A escuridão era quase completa, e Asteria se encostou na parede, o coração batendo descontrolado, aguardando ansiosa e tentando controlar sua respiração.

Ela não sabia quanto tempo passou ali, mas de repente, a porta do quarto se abriu. Seus músculos se retesaram, e a única coisa que ela conseguiu fazer foi ficar imóvel, sem emitir um único som. No completo escuro, Asteria percebeu que alguém havia entrado. A presença era forte, tanto, que o ar ficou mais pesado. Um homem, com uma voz grave que parecia vibrar por todo o quarto, falou o nome de uma mulher. Asteria ficou paralisada, seu corpo reagindo à proximidade dele, mas não respondeu.

— Está aí há muito tempo, esperando por mim? — A voz perguntou, profunda e com um toque de desejo.

Ela permaneceu em silêncio, o medo de entregar sua verdadeira identidade dominando seus pensamentos. Mas antes que pudesse reagir, sentiu as mãos grandes dele tocarem sua cintura, e o corpo do homem pressionar o dela contra a parede. O toque inesperado fez seu corpo inteiro desperta, e uma onda de sensações desconhecidas tomou conta dela. O homem afastou o véu de seus cabelos e do pescoço com movimentos precisos, seus dedos roçando sua pele enquanto ele se inclinava para deixar um beijo quente em sua nuca.

A barba rala dele raspou contra sua pele sensível, enviando um arrepio pela espinha de Asteria. Ela mordeu o lábio, tentando compreender o que sentia. Aquilo era tão novo, tão confuso. O calor que irradiava do toque dele a fazia querer mais, mesmo que seu corpo tremesse de nervosismo e excitação. Sua mente não conseguia processar aquela avalanche de emoções e sensações.

— Por que está tão tensa? — o homem murmurou, com a boca ainda próxima de sua pele. — Vou acender as luzes, assim vai ficar mais confortável.

— Não — Asteria sussurrou rapidamente, quase sem pensar, a voz saindo mais como um reflexo do que como uma decisão calculada. Parte dela queria que ele continuasse no escuro. Que aquele toque, aquele beijo, aquela sensação permanecessem sem rosto, sem identidade. Era como se, no anonimato, ela pudesse se permitir sentir sem as consequências que o reconhecimento traria.

Ele parou por um momento, absorvendo o pedido, mas entendeu. O homem a puxou para mais perto, o corpo dele esmagando o dela contra a parede. Seus toques ficaram mais provocantes, explorando os contornos do corpo de Asteria, enquanto ele pressionava beijos quentes na sua pele. A respiração dela ficou irregular, sem conseguir controlar as reações que seu corpo lhe impunha.

Mas, então, algo mudou. O homem, que inicialmente acreditava estar com outra pessoa, pareceu perceber que algo estava errado ao descer suas mãos para baixo. Ele afastou o rosto do pescoço dela, sua respiração pesada contra sua pele.

— Espera... você não é...

Asteria não esperou que ele terminasse a frase. Antes que ele pudesse descobrir quem ela realmente era, ela o empurrou com todas as forças e saiu correndo do quarto, sem olhar para trás. Seu coração estava acelerado, os sentimentos misturados de medo, excitação e confusão consumindo sua mente enquanto ela se afastava o mais rápido que suas pernas permitiam.

Asteria correu, os passos rápidos ecoando pelos corredores de terra enquanto sua respiração ofegava no peito. Mas então, de repente, ela parou bruscamente, o corpo rígido, uma dor aguda incomodando-a. O ferro de castidade apertado por baixo de suas vestes fazia-se presente de maneira insuportável. Ela fechou os olhos por um momento, sentindo o desconforto crescente, e foi aí que a dúvida a atingiu como um raio. Teria sido aquilo? Teria sido a maldita cinta de ferro a razão pela qual o homem no quarto percebeu que ela não era quem ele esperava?

O metal que a aprisionava não era apenas uma marca de submissão, mas uma obrigação imposta por seu pai, a todas as mulheres sob seu controle. Asteria mordeu os lábios ao pensar no homem revelando sua verdadeira identidade, isso a apavorava. Se ele contasse a Immortan Joe que uma das parideiras havia fugido, isso colocaria todas as mulheres do cofre em perigo. E não só isso, ela sabia que as consequências recairiam sobre ela também.

Por um breve instante, ela se sentiu estúpida. Como havia sido imprudente em acreditar que poderia explorar a Cidadela sem se envolver em complicações. A culpa a consumia rapidamente, mas ela não tinha tempo para se punir. Devia voltar para sua cela antes que alguém notasse sua ausência, antes que qualquer um soubesse que ela havia ousado fugir.

Ela estava prestes a retornar, a respiração ainda acelerada, quando parou de novo, congelando no lugar. Ao longe, em uma área mais elevada da Cidadela, seu pai, Immortan Joe, fazia um discurso. Ao redor dele, seus generais e filhos observavam atentos. Asteria sentiu um frio na espinha ao reconhecer aqueles homens. Seu pai se destacava no meio deles, imponente e cruel, com sua máscara grotesca presa ao rosto. Ao lado dele, os generais, homens tão temidos quanto respeitados na Cidadela: O comedor de gente, com seu paletó imenso e barriga proeminente, simbolizando o poderio econômico do petróleo; e o Fazendeiro da Bala, sempre com seus dentes de metal brilhando, o responsável pelas armas e munições que abasteciam os garotos de guerra.

E, é claro, os filhos de Immortan Joe estavam ali também, como um lembrete da própria saúde impecável de Asteria. Todos os três estavam longe de serem saudáveis. Rictus Erectus, o mais forte e violento, mas também com a mente limitada, incapaz de pensar por si mesmo. Corpus Colossus, frágil e deformado, com seu corpo pequeno e curvado, incapaz de andar sem ajuda. E Scabrous Scrotus, o mais cruel e deformado, conhecido por sua brutalidade e falta de empatia. Asteria sempre fora a exceção, a única filha mulher e completamente saudável.

O som da voz de Immortan Joe ecoava, forte e autoritária, enquanto ele motivava seus garotos de guerra e guerreiros. Asteria tentou ficar imóvel, seu coração batendo forte no peito. Estava exposta demais, ali no meio do nada. Suas chances de ser descoberta aumentavam a cada segundo.

— Ei! — uma voz familiar a puxou de seus pensamentos. De repente, uma mão firme segurou seu braço, puxando-a para longe da visão de seu pai e dos generais. Ela se deparou com Nux, a expressão dele um misto de preocupação e irritação.

— Onde você se meteu? — ele sussurrou furioso. — Você tá completamente exposta aqui!

Asteria piscou, ainda sentindo o peso da tensão no ar, mas sua mente ainda estava presa ao que viu e, de alguma forma, ao homem que a tocara horas antes.

— Eu... eu me perdi — ela murmurou, a voz vacilante, mas com um tom desafiador. — me distrair olhando ao redor.

— Olhando ao redor? — Nux balançou a cabeça incrédulo. — Você quer se matar? Se o Immortan souber que você saiu do cofre... Não faz ideia do que ele vai fazer com você. Ou com as outras, ou comigo.

Asteria ficou em silêncio. Sabia que ele estava certo. Sabia do risco. Mas, ainda assim, algo dentro dela se recusava a admitir seu erro.

— Vamos, temos que voltar antes que alguém perceba — Nux disse, puxando-a novamente, mas dessa vez com mais gentileza. Eles se moveram rapidamente, voltando pelo caminho de onde haviam vindo, tentando evitar os olhares curiosos.

Enquanto Asteria seguia ao lado dele, seu pensamento ainda retornava ao homem que a tocara. O jeito como sua voz vibrava no escuro, o toque quente contra sua pele. Era como se aquele momento, por mais confuso que fosse, houvesse despertado algo dentro dela que até então desconhecia. Mas agora não havia tempo para isso. Ela tinha que voltar ao cofre. Ao seu lugar seguro. Mesmo que parte dela já não se sentisse tão segura lá.

Amo começa historias com fogo e por aqui vai ter muito disso, de uma forma ou de outra. Espero que tenham gostado desse cap. Se quiserem playlist, me avisem que monto uma

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