A árvore parecia ter silenciado quando os olhos de Samanta se fixaram naquela paisagem devastada. Seu coração doeu. 

O lago ao lado da árvore, que antes refletia o céu como um espelho, agora era apenas um poço lamacento, tomado por limo e folhas mortas. A grama ao redor, que costumava ser verde e macia, havia se transformado em um tapete irregular de ervas secas e terra endurecida; não era difícil para o príncipe julgá-la por querer ir àquele lado que mais se assemelhava a um cemitério. 

A árvore era o pior de tudo. Ela ainda estava lá, com seu tronco grosso e galhos que se entendiam como braços em busca do céu. Antes, ela tinha um brilho especial. Um brilho que jazia vida, histórias e amor. Mas para Samanta, não era apenas isso; era uma breve lembrança de seu pai. 

Agora, era apenas uma sombra do que se foi.

Era uma tarde ensolarada, e o riso de seu pai ecoava entre as folhas da árvore. O pano xadrez estendia-se sobre a grama verde, e sobre ele havia frutas frescas, pães macios e queijos escolhidos com carinho.

— Eu sabia que queria uma filha desde o momento em que soube que teria um herdeiro. — Ele dizia, enquanto cortava um pedaço de maçã para ela. — Porque se eu partisse amanhã, poderia descansar em paz, sabendo que estaria em suas mãos. Me parte o coração você não ter nascido primeiro, Samanta.

— Não diga isso, papai. Você não vai partir.

Ele sorriu, passando as mãos pelos longos cabelos negros dela.

— Não hoje, filha. Mas um dia. E quando esse dia chegar, quero que se lembre de uma coisa: eu sempre soube que você era a mais forte. Mais forte do que qualquer um que almeja o meu trono. No fundo, todos sabem que ele é seu. Lute por ele, me ouviu?

Ele desviou o olhar para o lago, azul e brilhante. Os olhos do rei se suavizaram.

— Você tem os olhos de sua mãe... a determinação dela. Mas, também tem algo meu... o desejo de fazer o que é certo, mesmo quando é difícil. 

Samanta sorriu, encostando a cabeça em seu ombro. Então, ele apertou a mão dela e sussurrou:

— Eu tenho orgulho de você todos os dias.

Com os olhos marejados, ela respirou fundo com os punhos cerrados.

— Querida, está tudo bem? - Hector perguntou ao ter sua própria mão pressionada pela força de Samanta.

— Claro. - Rapidamente, ela se recompôs. Aquele realmente não era um bom lugar pra se sentar, ela poderia se fragilizar a qualquer momento, e não era isso que queria, então, prosseguiram com sua caminhada.

  Apesar de nunca ter sido vista por seu povo depois do desaparecimento da mãe, Samanta sabia que não era apropriado cruzar reino a dentro, pois segundo os protocolos reais, nem mesmo os bairros nobres comportavam toda a graça necessária para receber um membro da realeza, então eles voltaram.

No fundo, possuia desejo inconsciente de, de fato, conhecer seu reino. As histórias contadas por sua serva, sobre as festas, doceterias, cavalos e visitantes de outros reinos, eram um mundo desconhecido para a garota.