Chapter 14: conversa de madrugada
Dias depois, Heather estava ignorando todo mundo, se isolando novamente. A sensação de solidão voltou a pesar sobre Heather como uma manta opressiva. Cada conversa, cada tentativa de apoio, parecia ser engolida por um vácuo dentro dela. Ela sabia que eles estavam preocupados, mas não conseguia se livrar da sensação de estar presa em algo muito maior, algo que não podia ser compartilhado.
Nos dias seguintes, ela se isolou ainda mais, preferindo passar o tempo sozinha, tentando entender o que realmente havia acontecido. Ela se sentava no escuro, os olhos fixos nas paredes vazias, tentando organizar as memórias daquela noite - a voz de seu pai, o abraço, as sombras. Mas tudo parecia confuso, distorcido, como se fosse parte de um pesadelo que ela não conseguia acordar.
Durante esse tempo, Heather começou a sentir algo estranho, algo além da ansiedade ou do medo. Uma presença, invisível, mas constante. Não era como o ataque das sombras, mas uma sensação de estar sendo observada. Às vezes, quando ela fechava os olhos, podia ouvir um sussurro fraco, como se alguém estivesse tentando alcançá-la, falar com ela, ou talvez... manipular seus pensamentos novamente.
A noite seguinte trouxe consigo mais uma crise. Ela acordou de um pesadelo em que estava correndo por um corredor escuro, sendo seguida por uma figura indefinida. Quando ela virou para confrontá-la, não havia ninguém, mas a voz estava lá, novamente sussurrando.
"Você não pode fugir, Heather. Não importa onde vá. Você está presa."
Ela acordou ofegante, as mãos trêmulas, e a sensação de que algo estava errado se espalhou por seu corpo. Olhou para o relógio: três da manhã. Ninguém mais estava acordado. Seus amigos ainda dormiam, despreocupados, enquanto sentia o peso de algo a sufocando.
Ela não conseguia dormir em seu quarto, então dormia no abrigo temporário dos antigos heróis com medo de machucar sua tia e a si mesmo. Tinha medo de machucá-los também, mas eles tinham Wanda que podia pará-la.
Sem saber por onde começar, Heather decidiu sair. Colocou uma jaqueta e saiu silenciosamente, sem avisar a ninguém. Ela não sabia onde estava indo, mas precisava sair daquele espaço, daquela pressão.
Caminhou pelas ruas escuras, com os pensamentos turvos, até que chegou a um parque vazio. Sentou-se em um banco, com os olhos fixos nas luzes distantes da cidade. O vento frio fazia suas roupas se moverem suavemente, mas o que realmente a perturbava era a sensação persistente de que não estava sozinha. E isso a assustava para caramba.
Enquanto Heather sentava no banco, os pensamentos atormentando-a, ela não percebeu a aproximação de uma figura familiar até ouvir o som de passos suaves na grama. Olhou rapidamente para o lado e viu Bucky, parado a uma distância respeitosa, com as mãos nos bolsos, observando-a com a expressão séria e atenta que ele sempre tinha.
Ela se encolheu um pouco, quase desejando que ele tivesse continuado seu caminho sem a notar. Mas, para sua surpresa, ele não se afastou. Em vez disso, caminhou até o banco, parando alguns metros atrás dela, sem dizer uma palavra.
O silêncio entre os dois foi denso, mas não desconfortável.
- Não estou interrompendo, certo? - Bucky perguntou finalmente, sua voz grave, mas gentil. Ele parecia hesitante, como se soubesse que estava entrando em um território delicado.
Heather olhou para ele, surpresa pela sua presença. Não estava esperando companhia, muito menos a de alguém como Bucky, que, apesar de seu passado, sempre havia sido respeitoso com ela. Ela deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas o gesto não foi convincente.
- Não. Não está interrompendo. - sua voz saiu mais fraca do que ela pretendia, e ela logo se arrependeu de dar tanta abertura. Mas a verdade era que ela realmente não sabia o que queria naquele momento. Sozinha, seus pensamentos a esmagavam, mas com alguém por perto, a sensação diminuía.
Bucky, percebendo a hesitação dela, se sentou no banco ao seu lado, mantendo uma distância respeitosa. Ele não falou nada de imediato, mas seu silêncio não foi forçado. Parecia que ele estava apenas esperando, como se soubesse que ela falaria quando estivesse pronta.
O tempo passou e a escuridão da noite envolveu os dois em um manto silencioso. Heather queria falar, mas as palavras pareciam presas em sua garganta, misturadas com o medo de estar o incomodar e a ansiedade que sentia. Mas havia algo no comportamento de Bucky que a fazia sentir-se menos pressionada, menos sozinha. Ele não a forçava a dizer nada, e isso a fez começar a relaxar, mesmo que um pouco.
- Eu costumava sair de madrugada também... - Bucky quebrou o silêncio com um comentário simples, mas inesperado. Ele olhou para as estrelas no céu, como se as observasse para encontrar algo que ele próprio procurava. - Quando o peso ficava muito grande. Quando as vozes, ou as lembranças, eram demais.
Heather virou a cabeça, olhando para ele, surpresa pela vulnerabilidade em suas palavras. Ela nunca imaginou que alguém como Bucky, tão acostumado com o silêncio e a luta, tivesse momentos de fragilidade.
- Você... também sente isso? - Ela não soube bem por que perguntou, sabia apenas boatos sobre ele e não sua verdadeira história, mas as palavras saíram antes que ela pudesse se conter. A ideia de que alguém mais poderia compreender seu tormento, de alguma forma, trouxe uma sensação de alívio.
Bucky olhou para ela, seus olhos refletindo uma dor que ele preferia esconder, mas que agora estava ali, visível, sem máscaras.
- Sim. Não importa o que você tenha feito ou o que tenha perdido... o peso sempre está lá. Às vezes, o único jeito de lidar é seguir em frente, um passo de cada vez. E quando você não pode aguentar, sair e respirar um pouco de ar fresco... isso ajuda. Às vezes, você não precisa entender tudo de uma vez.
Heather engoliu em seco, absorvendo as palavras. Era como se, por um breve momento, ela não fosse a única com um peso pesado sobre os ombros.
Ela respirou fundo e olhou para ele, um sorriso tímido se formando em seus lábios.
- Eu não sei se isso vai passar... - ela disse baixinho. - Eu não sei nem o que é isso.
Bucky balançou a cabeça, a expressão serena, mas com uma leve tristeza nos olhos.
- Não há uma resposta certa. - ele deu de ombros. - Às vezes, só precisa de alguém que entenda o que você está passando, mesmo sem dizer uma palavra.
A resposta dele foi tão simples, tão direta, que Heather não sabia o que dizer. Mas, pela primeira vez em dias, ela sentiu que talvez, só talvez, houvesse uma pequena brecha na escuridão que a consumia.
Heather respirou fundo, os dedos brincando com a barra da sua jaqueta enquanto o vento suave mexia com os seus cabelos. A presença de Bucky ao seu lado, silenciosa e acolhedora, parecia permitir-lhe finalmente relaxar, mesmo que por um breve momento. Ela olhou para ele, com os olhos carregados de um misto de incerteza e vulnerabilidade.
- Minha psicóloga diz que eu tenho esse hábito... - ela começou, a voz vacilante. - De me esconder, de me isolar quando algo aciona meus gatilhos. Acho que... no fundo, é a única maneira que eu sei lidar com isso. Mas é como se, a cada vez que faço isso, o peso aumentasse. Como se a escuridão ficasse mais difícil de afastar.
Bucky a observou em silêncio, entendendo as palavras dela de maneira profunda. Ele sabia o que era viver com os próprios fantasmas, as próprias sombras. Sabia como os gatilhos podiam ser imprevisíveis, como uma memória ou um pensamento podiam facilmente puxar alguém para um lugar que parecia impossível de escapar.
- Isolamento... - ele disse suavemente, com um leve aceno de cabeça. - É uma forma de tentar controlar o que você sente, né? Como se, ao se afastar, você pudesse apagar as coisas. Mas o problema é que, quando a gente se isola, a sensação de estar sozinha só aumenta. Não é?
Heather deu um leve sorriso, embora fosse triste. Era como se, de alguma forma, as palavras de Bucky dessem nome a uma parte de si que ela nunca soube como expressar.
- Exato. E mesmo sabendo que deveria deixar as pessoas se aproximarem, é difícil. Eu... tenho medo de que, se eu deixar, eles vão ver o quão quebrada eu realmente sou. E isso é... assustador.
Bucky olhou para ela com mais intensidade, seu olhar suave e compreensivo. Ele sabia que a sensação de estar quebrado, de ser incapaz de consertar as próprias rachaduras, era algo com o qual ele próprio lutava.
- Você não está quebrada, Heather. - Afirmou ele, com uma firmeza que era tanto gentil quanto sólida. - Todos nós temos nossas partes partidas, nossas feridas. Mas isso não nos faz menos... não faz com que sejamos menos dignos de apoio, de carinho, ou de estar entre os outros. A solidão pode nos fazer acreditar que somos os únicos com essa dor, mas a verdade é que todo mundo tem suas batalhas. A questão é encontrar quem está disposto a caminhar com você, em vez de te deixar sozinha.
Heather olhou para Bucky, as palavras dele tocando algo profundo nela. Ele não estava tentando "consertá-la", não estava buscando uma solução mágica. Ele estava apenas ali, compartilhando o peso da solidão de uma forma que ela nunca soubera que precisava. O simples fato de ele estar ali, de ele entender, foi mais reconfortante do que qualquer conselho que ela tivesse ouvido antes.
- Eu nunca soube como aceitar ajuda... - ela sussurrou, as palavras mais suaves, mas ainda carregadas de um grande peso. - Sempre pensei que era algo que eu precisava fazer sozinha. Mas talvez... talvez eu esteja errada.
Bucky deu um sorriso pequeno, mas verdadeiro, e balançou a cabeça.
- Não, você não está errada. - disse ele com convicção. - Às vezes, a gente precisa fazer tudo sozinho, mas isso não significa que devemos. E você não precisa ser perfeita para merecer o apoio dos outros. Às vezes, a beleza está em sermos imperfeitos, vulneráveis. Isso é o que nos conecta uns aos outros.
Heather sentiu um calor nas bochechas, como se as palavras dele tivessem tocado uma parte de sua alma que ela sempre mantivera fechada. Ela olhou para Bucky, agora com mais confiança, e simplesmente disse:
- Obrigada. Por... estar aqui. Por não me julgar.
Bucky deu de ombros, com um sorriso leve.
- Ajudar é o que se faz. Não precisa de mais nada. Se precisar conversar, ou mesmo se não precisar, eu estou por aqui. E não importa quantas vezes você precise de um espaço para respirar, você não está sozinha.
Heather olhou para Bucky, sentindo um alívio profundo tomar conta de seu corpo. Ele não estava tentando consertá-la ou fazer com que se sentisse melhor de imediato. Ele só estava ali. E isso, mais do que qualquer outra coisa, parecia ser exatamente o que ela precisava. A presença dele não era pesada ou exigente.
Ela sorriu suavemente, um sorriso pequeno, mas genuíno, e pela primeira vez em dias sentiu uma centelha de calma. Algo que ela não sentia há muito tempo. Talvez fosse o fato de que Bucky, com seu próprio peso no coração, parecia entender a dor dela sem julgá-la. E mais, ele estava disposto a estar ali, mesmo que tudo o que pudessem fazer fosse simplesmente respirar juntos, na quietude da noite.
- Eu... acho que vou tentar. - Heather disse baixinho, como se estivesse fazendo uma promessa silenciosa a si mesma.
Bucky olhou para ela com um sorriso discreto, mas cheio de compreensão.
- Isso é tudo o que podemos fazer, Heather. Um passo de cada vez.
O vento frio continuava a soprar suavemente ao redor deles, mas, de alguma forma, a noite parecia menos pesada agora.
- Eu acho que eu nunca soube o quanto precisava disso... - ela falou suavemente, mais para si mesma do que para ele, mas Bucky ouviu. Ele deu um sorriso, simples, mas cheio de significado.
- Eu sei. Às vezes a gente só percebe depois que já está acontecendo. E não tem problema nenhum em se permitir, Heather. Você merece isso.
E foi ali, no silêncio confortável entre eles, que Heather começou a acreditar que, talvez, o primeiro passo para a cura fosse simplesmente permitir-se ser vista. Mesmo com suas imperfeições. Mesmo com as sombras. Porque, por mais difícil que fosse, talvez ela não precisasse mais carregar tudo sozinha.
- Posso te abraçar? - perguntou de repente. O Barnes arregalou os olhos, não esperando aquela pergunta. - Se não quiser tudo bem. É só que....
- Você pode me abraçar sim. - Ele a interrompeu. - É só que.. Faz um tempo que ninguém me abraça ou pede para eu dar um abraço.
Heather assentiu, se aproximando dele e o abraçando apertado, com vontade, e por um momento a mente de ambos ficou em silêncio, em paz.
- Obrigado, James. - disse por fim.
Dias depois, o clima ao redor de Heather parecia um pouco mais leve. Ela estava começando a dar os pequenos passos que Bucky sugerira, e, embora o caminho fosse árduo, havia uma sensação de que as coisas estavam finalmente mudando. Mas, claro, quando você tem um grupo de amigos como Peter Parker, Harry Osborn e Dean DiLaurentis, é difícil não dar boas risadas, mesmo quando o mundo parece pesado demais.
E também havia o Barnes, que depois daquela noite havia se aproximado da Trainor e os dois sempre conversavam. Sam e Pietro os zoavam, com um certo ciúmes envolvido, mas Steve, Wanda e Natasha estavam felizes pelo moreno estar socializando e conversando mais que três palavras.
- Pensei que você estava chateada com a gente. - disse Harry, após se sentar ao lado esquerdo da jovem garota, e logo depois Dean se sentou ao lado do Osborn.
- Desculpa, por fazerem vocês acharem isso. - suspirou, respirando fundo e tocando em sua pulseira. - Eu tive um sonho com meu pai, e eu fiquei mal e não queria conversar com ninguém. - disse.
- Oh! - O Dilaurentis exclamou, com os olhos arregalados sem saber o que dizer.
- Entendi, ruivinha. - Harry sorriu, gentil e colocando sua mão em cima da dela. - Não precisa pedir desculpas por se sentir mal, a gente só ficou preocupado. Principalmente Peter.
Dean concordou com a cabeça, observando a reação de Heather que havia ficado com suas bochechas vermelhas. - Ele pensou que tinha feito algo de errado e havia te perdido.
Heather abaixou o olhar, mordendo levemente o lábio inferior, claramente tocada pelas palavras. - Eu nunca quis que ele pensasse isso... - murmurou, apertando a pulseira em seu pulso como se buscasse conforto ali.
- Então, que tal você falar com ele? - sugeriu Dean, inclinando-se ligeiramente para frente, o tom cuidadoso. - Tenho certeza de que ele vai entender.
Heather hesitou, mas Harry apertou sua mão de leve, encorajando-a. - Você sabe como ele é, ruivinha. O Peter sempre se importa mais com os outros do que com ele mesmo.
Ela soltou um suspiro longo, como se estivesse reunindo coragem. - Talvez vocês estejam certos... Eu devo isso a ele. - Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. - Obrigada, de verdade.
Harry piscou para ela, despreocupado. - Para isso que servem os amigos, não é?
Mais tarde, quando o sol já começava a se pôr, Heather encontrou Peter sentado em uma mesa, na recepção dos prédios Stark. O olhar perdido entre as folhas que dançavam com o vento. Ela hesitou por um momento, apertando novamente sua pulseira antes de criar coragem para se aproximar.
- Ei - chamou, a voz suave, quase tímida.
Peter ergueu o olhar rapidamente, como se não esperasse vê-la ali. - Heather... - Ele se levantou, mas parou no meio do movimento, indeciso. - Você tá bem?
Ela sorriu de leve, ainda incerta. - Sim, só queria... conversar com você. Se tiver um minuto.
- Claro, sempre tenho tempo pra você. - Ele deu um passo para o lado, abrindo espaço no banco. Heather se sentou ao lado dele, mas deixou um pequeno espaço entre eles, embora suas mãos repousassem inquietas em seu colo.
- Desculpa por ter me afastado... Não era nada com você, eu só... estava passando por umas coisas. - Ela manteve os olhos fixos em suas mãos, sem coragem de encará-lo.
Peter a observou por um momento, a preocupação ainda evidente em sua expressão. - Eu só queria saber se estava tudo bem. Achei que tinha feito algo errado, e isso me deixou mal... - Ele riu sem humor, passando a mão pelos cabelos. - Acho que sou meio paranoico com essas coisas.
- Não, Peter. - Heather ergueu o olhar, finalmente encontrando o dele. - Você nunca fez nada de errado. Na verdade, você é provavelmente a única pessoa que sempre faz tudo certo comigo.
Peter piscou, surpreso, enquanto o calor subia por seu rosto. - Eu só quero que você saiba que pode contar comigo, sempre. Mesmo que não queira falar sobre nada, eu tô aqui, sabe?
Heather sorriu, um sorriso verdadeiro dessa vez. - Eu sei. E isso significa muito pra mim. - Ela hesitou por um segundo antes de inclinar-se um pouco para frente, tocando levemente na mão dele. - Você sempre faz eu me sentir... segura.
Peter olhou para suas mãos juntas, o toque simples, mas cheio de significado. - É engraçado... Você faz o mesmo por mim, Heather. Mesmo quando eu nem percebo.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, um silêncio confortável, mas cheio de coisas não ditas. Heather riu baixinho, quebrando o momento. - A gente é bem confuso, né?
Peter sorriu de canto, balançando a cabeça. - Talvez, mas... confuso não é necessariamente ruim. Desde que seja com você.
Heather sentiu as bochechas esquentarem, mas não desviou o olhar. - Desde que seja com você também, Peter. - Deitou sua cabeça no ombro de Peter, e, em resposta, ele encostou a dele delicadamente na dela, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
Por um momento, nenhum dos dois disse mais nada. Apenas ficaram ali, compartilhando a calma e a estranha, mas reconfortante, proximidade que começava a parecer muito mais do que simples amizade.
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