chapter 13: escuridão ou pesadelo
Heather não conseguia dormir, e era estranho, pois fazia noites que ela estava conseguindo dormir noites inteiras. Deitada na cama, fitava o teto escuro enquanto ouvia o som do vento lá fora, como se algo naquela noite em particular a mantivesse inquieta. Virou-se de um lado para o outro, tentando encontrar uma posição confortável, mas o sono simplesmente não vinha.
Havia um peso no peito, uma sensação de ansiedade que ela não conseguia identificar de onde vinha. A lembrança de um sonho, talvez? Ou de algo esquecido, perdido nos detalhes da rotina? Heather se sentou na cama, respirando fundo, tentando acalmar o coração acelerado.
Resolveu levantar-se. Talvez um copo d'água a ajudasse a relaxar, mas ela não conseguiu sair pois de repente uma explosão de energia aconteceu, derrubando Heather no chão. Seus sentidos ficaram embaralhados por um momento, o som de estática reverberando em seus ouvidos. Quando tentou se levantar, percebeu que algo estava diferente. Sentia uma presença. Algo sombrio, sufocante, como se não estivesse sozinha. Ela olhou ao redor, mas não viu ninguém. Apenas os objetos flutuando descontroladamente, agora rodopiando ao seu redor como um turbilhão e isso era seus poderes.
Com a respiração ofegante, ela estendeu a mão, tentando usar seus poderes para afastar a sensação opressiva. Mas, em vez disso, sentiu uma força contrária. Uma presença invisível resistindo. Seu coração acelerou ainda mais, e uma voz sussurrada soou em sua mente, baixa, mas clara:
— Você não controla isso, Heather. Isso controla você.
Ela cambaleou para trás, sentindo as palavras como um golpe direto em sua mente. Tentou ignorar, mas a sensação crescia, como uma sombra que se fechava ao seu redor. Suas mãos começaram a tremer, e a aura vermelha que envolvia os objetos ficou mais intensa, quase ofuscante.
Desesperada, Heather gritou, uma explosão de poder saindo de suas mãos. Os objetos voaram contra as paredes, quebrando-se em mil pedaços, enquanto uma onda de energia percorreu o cômodo, apagando todas as luzes. O silêncio que se seguiu foi sufocante. A respiração de Heather era o único som audível, e a escuridão ao seu redor parecia ganhar vida própria.
Ela deu um passo trêmulo para trás, encostando-se na parede. Seus poderes estavam fora de controle e, pior ainda, algo mais estava tomando conta. Algo que ela não entendia.
— Você acha que pode seguir sua vida após tudo que lhe ocorreu? — a voz misteriosa perguntou, mas no fundo ela lembrava a de alguém. Heather congelou. A voz, embora baixa e distorcida, tinha algo de familiar. Seus olhos arregalados percorriam o quarto escuro, tentando localizar a origem, mas a presença parecia estar em todos os lugares e em nenhum ao mesmo tempo.
— Quem... quem está aí? — ela perguntou, a voz falhando levemente.
O silêncio prolongado que se seguiu apenas intensificou o frio na espinha que ela sentia, até que a voz voltou a falar, mais próxima desta vez:
— Você acha que pode seguir sua vida após tudo que lhe ocorreu? — houve uma pausa, como se a entidade estivesse se deleitando com sua confusão. — Achar que poderia esquecer? Deixar para trás? É isso que você realmente acredita?
Heather apertou os punhos, sentindo o medo dar lugar a uma mistura de raiva e frustração. Aquele tom, aquela insinuação... ela conhecia aquela voz. Por um segundo, ela teve a impressão de que sabia exatamente de onde vinha, mas a lembrança escorregava, como um sonho que desaparece ao acordar.
— Eu não sei o que você quer — ela disse, a raiva crescendo em sua voz. — Mas não vou deixar você me manipular!
— Manipular? — A voz soltou uma risada amarga, ecoando pela sala. — Quem está sendo manipulado aqui? Você sabe muito bem quem sou, Heather. Ou talvez tenha tentado esquecer de propósito.
Heather piscou, sua mente lutando contra a confusão crescente. Fragmentos de memórias começaram a emergir, uma figura no fundo de sua mente, mas turva, indistinta. Então, como um relâmpago, ela foi atingida por uma lembrança clara. A mesma voz. De anos atrás. Alguém que ela pensou estar morto.
— Não pode ser... — ela murmurou, o nome na ponta de sua língua.
A voz respondeu, mais nítida agora, quase sarcástica:
— Oi filhinha.
O coração de Heather quase parou ao ouvir aquelas palavras. "Filhinha." Ninguém a chamava assim desde... desde que seus pais morreram. Sua respiração se tornou irregular, e ela sentiu uma pressão no peito, como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões. Não era possível. Aquela voz... a voz de seu pai.
— Não... — ela sussurrou, dando um passo para trás, sua mente tentando desesperadamente negar o que estava ouvindo. — Você está morto. Vocês estão mortos.
A escuridão no quarto parecia se fechar ainda mais ao seu redor, sufocante, opressiva. A risada baixa e sombria de seu pai reverberava pelo ar, e Heather sentiu um calafrio subir por sua coluna.
— Está vendo, Heather? — a voz continuou, desta vez com um tom mais suave, quase paternal. — Eu nunca fui embora. Você pode tentar nos esquecer, mas estamos sempre aqui, em você. Você não pode fugir do que aconteceu. Nem de quem você realmente é. Você ainda é a minha garotinha e sempre será.
Ela cobriu os ouvidos, tentando afastar a voz, mas era inútil. Ela estava em sua mente, ecoando pelos cantos mais sombrios de suas lembranças.
— Isso não é real — murmurou, sua voz trêmula, tentando convencer a si mesma. — Isso não pode ser real.
Mas a presença apenas se intensificava, as sombras ao seu redor pareciam ganhar forma. E então, no canto do quarto, algo se moveu. Uma figura surgiu lentamente da escuridão, uma silhueta familiar. Era ele. Seu pai, com o mesmo olhar sereno e a mesma expressão que ele tinha no último dia em que ela o viu vivo. Heather sentiu as lágrimas se acumularem em seus olhos.
— Pai...? — Ela mal conseguia acreditar no que estava vendo.
Ele deu um passo à frente, o sorriso nos lábios tão afetuoso quanto ela se lembrava.
— Oi, filhinha — ele repetiu, com a mesma doçura de antes. — Eu senti tanto a sua falta.
Heather correu até ele e o abraçou. Ela não pensou. Fazia tanto tempo e assim que viu o rosto de seu pai, a lembrança viva de uma época antes de toda a dor, ela correu até ele, seu coração acelerado e suas emoções transbordando. Ela o abraçou com força, sentindo o calor familiar de seus braços ao redor dela, algo que ela nunca pensou que experimentaria novamente. Lágrimas desceram pelo seu rosto, e por um momento, tudo parecia certo. Como se todo o pesadelo dos últimos anos tivesse sido um erro, como se, de alguma forma, ela estivesse de volta à segurança.
— Pai... — sussurrou, com a voz embargada. — Eu senti tanto a sua falta.
Ela sentiu as mãos dele acariciarem seus cabelos, um gesto reconfortante que a fazia lembrar de quando era criança. Por alguns segundos, o mundo ao seu redor pareceu se acalmar. A escuridão desapareceu, e as memórias dolorosas foram apagadas por um calor quase palpável.
Mas, à medida que o abraço se prolongava, algo começou a mudar. O calor confortável foi se transformando em algo estranho, quase sufocante. Heather franziu o cenho e, lentamente, ergueu o olhar para o rosto de seu pai.
A expressão dele já não era mais tão doce. Os olhos que antes brilhavam com carinho agora pareciam vazios, quase cruéis, e seu sorriso, que antes era reconfortante, tinha se tornado uma sombra de algo sinistro.
— Você achou mesmo que eu tinha ido embora? — a voz dele soou mais sombria, distorcida, e Heather sentiu o pavor crescer em seu peito.
Ela tentou se afastar, mas os braços que a seguravam estavam agora firmes demais, apertando-a com força. Seu coração disparou, e a aura vermelha ao redor começou a se intensificar. A realidade voltou a ela de forma cruel e abrupta.
— Isso... isso não é real! — gritou, tentando libertar-se.
Mas o sorriso sinistro de seu "pai" se alargou, e a voz dele mudou, agora misturando-se com a mesma que a atormentava desde o início.
— Real ou não, Heather, você nunca escapará de mim. Eu estou em cada parte de você.
Com um grito de desespero, Heather sentiu as sombras ao seu redor se fecharem sobre ela como uma onda inevitável. Elas se enrolaram em seus braços, suas pernas, arrastando-a para baixo, para um abismo que parecia não ter fim. A escuridão era opressora, sufocante, e ela não conseguia mais distinguir o que era real e o que era fruto de sua mente. Seu corpo tremia enquanto a sombra consumia cada parte de sua pele, como se estivesse sendo engolida por algo muito maior que ela.
O medo a dominou completamente. Ela tentou usar seus poderes, mas a aura vermelha ao seu redor estava fraca, instável, incapaz de afastar as sombras. Cada vez que ela tentava se concentrar, a escuridão parecia crescer, sussurrando promessas de destruição e loucura em seus ouvidos. As vozes ecoavam em sua mente, e o rosto de seu "pai" continuava a aparecer, distorcido e cruel, como um lembrete de que ela nunca escaparia.
Heather gritou novamente, mas sua voz foi engolida pelas trevas, transformando-se em um eco distante. A sensação de estar sendo consumida era insuportável, como se cada fragmento de sua identidade estivesse sendo dilacerado. As sombras não apenas a envolviam fisicamente, mas pareciam penetrar em sua mente, mexendo com suas lembranças, suas emoções, sua própria essência.
E então, no meio do caos, algo inesperado aconteceu. No fundo daquela escuridão opressiva, Heather sentiu uma faísca, uma pequena luz. Fraca, quase invisível, mas real. Era algo que não vinha do lado de fora, mas de dentro dela. Uma lembrança, uma força que ela havia esquecido que possuía.
Ela fechou os olhos, concentrando-se naquela pequena luz dentro de si. O mundo ao seu redor continuava a desmoronar, as sombras tentando arrastá-la para o fundo, mas Heather se agarrou àquela sensação, àquela força interior. Aos poucos, a aura vermelha ao seu redor começou a se fortalecer novamente, vibrando com uma intensidade que ela não experimentava há tempos.
Com um último esforço, Heather abriu os olhos, suas íris brilhando em um vermelho intenso, e liberou toda a energia acumulada dentro de si. As sombras ao seu redor gritaram em agonia antes de se dissiparem, e o quarto foi inundado por uma luz escarlate.
Ofegante, ela caiu de joelhos, ainda tremendo, mas as sombras haviam desaparecido. O quarto estava vazio novamente, exceto por ela, sozinha, com sua respiração pesada ecoando no silêncio.
Ela sobreviveu... por enquanto.
🕷️
O silêncio que se seguiu à história de Heather foi pesado e carregado de tensão. Todos os presentes — Steve, Sam, Natasha, Wanda, sua tia Victoria, Bucky e Pietro — mantinham seus olhares fixos nela, processando o que haviam acabado de ouvir. As mãos de Heather tremiam visivelmente, o medo ainda a dominando, mesmo cercada por aqueles em quem mais confiava.
Steve foi o primeiro a quebrar o silêncio, seu tom calmo, mas sério:
— Heather, eu sei que isso tudo parece esmagador, mas precisamos entender o que está acontecendo. Isso que você descreveu... — ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Não é algo normal. Nem mesmo para alguém com seus poderes.
Wanda, que estava sentada mais próxima, inclinou-se para frente, seus olhos fixos nos de Heather. Havia uma preocupação profunda neles, mas também um entendimento. Ela conhecia bem o que era ser assombrada por seu passado, por vozes e memórias que pareciam reais, mas que torturavam sua mente.
— Essas sombras... essa voz — Wanda começou, hesitante, como se refletisse sobre algo similar que já havia experimentado. — Eu já senti algo assim antes. Não exatamente dessa forma, mas... algo próximo. Elas parecem uma manifestação dos seus medos mais profundos, da sua dor. — Ela parou, buscando as palavras certas. — Mas isso não significa que são menos perigosas.
Pietro, sempre o mais impulsivo, cruzou os braços e soltou um suspiro pesado, claramente desconfortável com o que a irmã gêmea estava dizendo.
— E o que isso significa? Que ela está sendo atacada pela própria mente? — Ele balançou a cabeça, frustrado. — Isso não faz sentido.
— Na verdade, pode fazer — disse Natasha, sua voz firme e prática. — Nós sabemos que os poderes de Heather estão ligados às suas emoções. Se ela está passando por um trauma intenso, isso pode estar se manifestando de maneiras imprevisíveis. Mas o que me preocupa é essa voz... e a figura do pai dela. — Natasha olhou diretamente para Heather, seus olhos afiados e atentos. — Você acha que isso é uma simples memória, ou... algo mais?
Heather engoliu seco, as palavras de Natasha ecoando em sua mente. Era difícil distinguir o que havia sido real e o que sua mente havia criado naquele momento. O rosto do pai, o abraço, a mudança repentina na voz... tudo parecia tão tangível, tão verdadeiro.
— Eu... eu não sei — ela admitiu, sua voz quebrada. — Parecia real, mas ao mesmo tempo... eu sabia que não era ele. Sabia que algo estava me manipulando. Mas a sensação... — Ela olhou para suas mãos trêmulas, tentando manter a compostura. — Eu realmente senti como se ele estivesse lá.
Sua tia Victoria, que havia ficado em silêncio o tempo todo, finalmente falou, sua voz baixa e séria:
— Heather, nossa família sempre teve uma conexão profunda com poderes que não compreendemos completamente. Eu acho que isso pode ser mais do que apenas sua mente ou seu trauma. Há forças que podem se alimentar da nossa dor, das nossas memórias... — Ela olhou ao redor da sala, como se estivesse relutante em continuar. — E talvez seja isso que está acontecendo com você.
Bucky, que até então permanecera quieto no canto, ergueu o olhar, sua expressão sombria.
— O que quer que seja — ele disse, sua voz grave —, nós vamos descobrir. Você não está sozinha nisso, Heather.
— O desmemoriado está certo, estamos juntos nessa miss simpatia.— Afirmou o Wilson, com um braço no ombro da garota e um sorriso confiante.
Ela olhou para ele, e depois para todos os outros na sala. Apesar do medo que ainda a envolvia, o apoio em seus olhos lhe deu um mínimo de conforto. Eles estavam com ela. Eles iriam lutar ao seu lado.
Mas, no fundo, Heather sabia que a verdadeira batalha seria dentro de si mesma. As sombras que a atacaram naquela noite eram apenas o começo. Algo mais sombrio e perigoso estava à espreita. Algo que ela precisaria enfrentar... mais cedo ou mais tarde.
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