Chapter 12: Enfermeira Heather
Heather odiava não ter controle sobre uma situação ou sobre o que sentia. E depois de ter perdido o controle de suas emoções e ter descoberto seus poderes, ela tentava ser o mais cautelosa possível para evitar acidentes e problemas. A grande questão é que na vida você não tem controle sobre o que está acontecendo e apenas Deus ou qualquer outro ser que você acredite é quem manda. A Trainor não seguia uma religião específica ou seguia algo certo, ela acreditava que existia algo grande e que esse ser de grande magnitude já tinha seu caminho definido. E que esse querido estava de palhaçada com a sua vida.
As evidências disso estavam por toda parte: desde a morte trágica de seus pais até o surgimento inesperado dos seus poderes. Tudo sempre parecia desabar quando ela menos esperava. Heather odiava sentir que era apenas uma peça em um tabuleiro, sem a mínima chance de mudar seu destino. Mas o que mais a irritava era a imprevisibilidade de seus próprios sentimentos. Como poderia confiar em si mesma, em suas emoções, se elas tinham o potencial de causar destruição?
Nas últimas semanas, desde que descobriu seus dons, ela vinha treinando para manter tudo sob controle. Tinha um medo profundo de machucar alguém como sua tia, Peter ou até mesmo sua babá, Claire, ou a si mesma e seus amigos, mas o autocontrole era cansativo, exaustivo. Toda vez que ela sentia raiva, tristeza ou até uma alegria muito intensa, precisava parar, respirar fundo, e garantir que suas emoções não se transformassem em caos ao seu redor. O pior era que, por mais que tentasse, não podia se blindar completamente. O mundo lá fora estava cheio de estímulos imprevisíveis, de pessoas e situações que a puxavam para fora do seu equilíbrio. E a cada vez que isso acontecia, ela se perguntava: "E se dessa vez eu não conseguir me controlar?" Esse pensamento a assombrava e as imagens de Peter, sua tia Victoria, Claire e até mesmo Stark e os antigos vingadores machucados eram seu pior pesadelo.
Não queria machucar ninguém.
— Heather? — Bucky atraiu sua atenção, tocando em seu ombro com sua mão de vibranium, o que a assustou e a fez encará-lo.
— Hum, sim? O que houve?
— Seus poderes... Eles estão chamando atenção. — apontou para pequenas luzes vermelhas rodando em volta dela e objetos "voando".
Ela respirou fundo, tentando acalmar seus batimentos cardíacos, junto a sua frequência, puxando a touca em sua cabeça para cobrir ainda mais. — Me desculpe, às vezes foge do controle.
— Está tudo bem. Eu entendo o que é não ter controle sobre algo dentro de si. — respondeu o Barnes. — É horrível.
— Sim, horrível. — ela suspirou, parando de andar ao perceber que o homem havia feito o mesmo. — Eles estão aqui, bem machucados. — Não era uma questão, e sim uma afirmação. — Eu consigo sentir suas dores.
— Os homens do governo foram para cima deles, com a intenção de os prender e machucá-los. — ele abriu a porta e deu um passo para o lado deixando ela entrar primeiro para logo depois ele entrar. O local onde eles estavam é um antigo hotel abandonado, numa parte esquecida da cidade e pouco movimentada.
— Espero que o que trouxemos seja suficiente. — diz fazendo referência às sacolas lotadas de curativos, remédios, álcool e esparadrapos. Tudo para que a jovem ajudasse o grupo de ex-heróis.
— Sua ajuda já é um avanço para nós. — disse Natasha Romanoff saindo das sombras com sangue em suas roupas e alguns rasgos. — A vinda para cá foi tranquila?
— Sim, o governo ainda está rondando os arredores de onde estávamos. — Bucky respondeu. — Eles acham que alguns vizinhos estão nos escondendo.
Natasha suspirou. — Por agora estamos bem então, ótimo.
— Como vocês escaparam? — Heather perguntou, curiosa. — Aqui é bem longe de onde vocês estavam. Quase impossível.
— Mas não impossível. — respondeu a Romanoff, sorrindo de lado. — Wanda criou um portal e nos tele transportou para cá, para nossa sorte.
— Quanta sorte. — disse, sem saber o que dizer em seguida para aliviar o clima. — Onde eles estão?
— Aqui ao fundo. Na terceira porta a esquerda. Steve e Sam na primeira porta e Wanda e Pietro na segunda porta. — Heather ia em direção quando Natasha segurou seu braço. — Antes de ir, já aviso que os ânimos estão bem desanimados por aqui então seja gentil.
A Trainor revirou os olhos. — Eu vou ser a miss simpatia. Prometo. — ela arrumou a sacola em seu braço, tirando o capuz de sua cabeça e arrumando seus cabelos, logo indo em direção ao quarto. Respirou fundo e logo bateu na porta, abrindo devagar quando ouviu um "entre!", e entrou em passos lentos e não tão silenciosos. — Como estão os meus ex-heróis favoritos? — perguntou ao entrar, chamando a atenção para ela.
— Você não nos odiava? — Sam Wilson perguntou, com a voz rouca e um braço quebrado.
— Minha terapeuta diz que odiar é uma palavra muito forte. — colocou a sacola em cima de uma mesa que tinha ali. — Eu prefiro dizer "Pessoas que tenho uma certa mágoa, um rancor."
— Bom saber que você não nos odeia, só tem mágoa e rancor. — respondeu Steve pela primeira vez. — O que faz aqui? É perigoso e ainda estamos na mira do governo.
— Não é nenhuma novidade vocês estarem na mira deles. — pontuou, tirando as coisas que havia comprado e começando a preparar para usar na dupla. — E eu estou aqui como uma futura enfermeira e também como.. — engoliu seco, logo suspirando. — Como amiga. Nossa! Ser uma miss gentileza e simpatia é difícil viu.
— Você está sendo uma miss simpatia agora? — perguntou Sam, achando graça.
— Sim, Natasha me obrigou. — pegou o álcool, os band-aids, um gaze, algodão, junto a um anti-inflamatório e um remédio para dor. Ela foi em direção a Wilson, examinando o homem e logo começou a refazer e trocar os curativos. — Tu tá acabado, hein.
O Wilson revirou os olhos bebendo o remédio que a Trainor havia lhe trazido. — Obrigada, Miss Simpatia.
— De nada. — pegou suas coisas e as levou para a cama de Steve Rogers, que estava em silêncio olhando para a parede, todo machucado e sujo de sangue. — Sam esse anti-inflamatório é forte, então você vai dormir agora.
— Sem problemas. Vou sonhar com hambúrgueres. — se ajeitou na cama, logo se cobrindo. — Obrigada enfermeira Miss Simpatia.
Heather balançou a cabeça, rindo e indo em direção ao Rogers. Ela se sentou na cama, ao lado dele e ficou o encarando em silêncio.
— Vai me dizer que estou acabado também? — perguntou ele.
— Não, eu ia te dizer que mesmo você todo quebrado ainda está intacto para um velho de quase cento e dez anos.
Steve a encarou. — Cento e seis anos. - a corrigiu.
— Tanto faz. — ela revirou os olhos, pegando o algodão e o molhando de álcool e logo começou a limpar os ferimentos dele. — Quem diria ein, eu aqui cuidando de vocês alguns anos depois daquele dia.
— Se me permite perguntar você nos odeia ainda? — ele questionou sério. — Se você não tivesse descoberto esses poderes e a gente não te ajudasse, você ainda nos odiaria?
Heather suspirou, pensando por alguns segundos, minutos, até que ela o respondesse. — Acho que eu nunca odiei vocês, realmente. Tive mágoa e um pouco de rancor sim, mas ódio é uma palavra muito forte como disse antes para o passarinho dorminhoco. — ela pegou uma garrafa de água e dois comprimidos e o entregou. — Isso aqui vai te ajudar com a dor. — disse Heather, entregando os comprimidos ao Rogers que os pegou com uma expressão pensativa.
Ele olhou para ela por alguns segundos antes de falar de novo, com uma hesitação evidente. — E a mágoa? O rancor? Ainda estão aí? — perguntou, tomando os comprimidos com um gole de água.
Heather desviou o olhar, tentando organizar seus pensamentos. Ela sabia que aquela pergunta tinha mais peso do que parecia à primeira vista. Perder seus pais e sua terra natal por causa das ações dos Vingadores havia deixado uma ferida profunda, uma que ainda não tinha certeza se iria cicatrizar.
— Eu não sei. — respondeu finalmente, cruzando os braços, como se quisesse se proteger da própria vulnerabilidade. — Às vezes eu penso que já superei, que entendo as circunstâncias. Mas, em outros momentos, tudo volta à tona, e eu sinto que nunca vou perdoar completamente.
Steve, que observava em silêncio, soltou um suspiro pesado. — A gente errou, e sabe disso. Mas nunca foi nossa intenção que as coisas terminassem assim pra você, seu país... ou pra sua família.
Heather apertou os lábios, contendo a dor que sempre vinha com a lembrança.
— Eu sei disso, Capitão. Vocês não são vilões. Stark também não é. — olhou para ele com uma tristeza que parecia pesar sobre ela. — Mas isso não muda o fato de que minha vida foi destruída. Não importa quantas desculpas ou explicações existam. Isso é algo que carrego comigo todos os dias e que aquela garota de antes não existe mais.
Um silêncio desconfortável se instalou entre eles, até que Steve quebrou o clima, a voz baixa e sincera.
— Talvez você nunca nos perdoe completamente. E talvez... nem devesse. Mas estamos aqui agora. E se existe uma maneira de consertar, mesmo que só um pouco, estamos dispostos a fazer o que for preciso.
Heather o encarou por um momento, seus olhos revelando um conflito interno. Ela sabia que eles não podiam mudar o passado, mas havia algo na sinceridade de Steve que fazia parte dela querer acreditar que uma redenção, por menor que fosse, ainda era possível.
— Vamos ver o que o futuro reserva. — murmurou. — Mas, por enquanto, vocês tem que melhorar logo. — se levantou, pegando suas coisas e indo em direção ao outro quarto. — Os remédios vão te fazer dormir, então relaxe e durma. Esqueça que o dia de hoje existiu e que essa não é a sua vida.
— Obrigada Heather.
A Trainor sorriu, assentindo com a cabeça e indo para o quarto de seus primos, abrindo a porta do quarto com cuidado, de forma a não assustar os dois. Ela observou que Wanda estava reclinada contra uma pilha de travesseiros, os olhos cansados mas brilhando com uma leve expressão de alívio. Pietro estava deitado ao lado dela, um pouco irritado com a imobilização do braço, mas também com um semblante tranquilo.
Heather entrou no quarto com um sorriso pequeno, mas carregado de encorajamento. Ela sabia que a atmosfera ali dentro estava pesada, então resolveu tentar quebrá-la da melhor forma que conhecia.
— Fiquei sabendo que precisam de meus serviços por aqui — disse com leveza, chamando a atenção de Wanda e Pietro, que estavam sentados nos cantos opostos da sala. Ela foi até eles, os abraçando e os examinou em silêncio. Não estavam tão machucados, mas ainda sim estavam feridos. — Finjam que eu sou um gênio da garrafa e me peçam algo.
Pietro foi o primeiro a reagir, erguendo uma sobrancelha. — Dinheiro. — Ele respondeu, com o tom sarcástico habitual. — E meu braço de volta — acrescentou, balançando o braço engessado dramaticamente.
Wanda, por outro lado, parecia mais contemplativa, seus olhos fixos em algum ponto indefinido no chão. — Paz e normalidade... — murmurou, sem muita esperança na voz.
Heather, no entanto, não parecia afetada. Ela suspirou, caminhando tranquilamente até o centro do quarto e parando entre os dois.
— Infelizmente, não posso ajudar com isso... — disse, soando quase apologética, antes de enfiar a mão no bolso de seu moletom e puxar duas barras de chocolate. Ela as levantou com um gesto teatral, olhando para cada um dos irmãos com um sorriso travesso. — Mas tenho algo melhor. Chocolate! Querem?
Pietro soltou uma risada curta e descrente. — Você acha que chocolate vai resolver tudo, Heather?
— Não, não tudo... — ela admitiu, jogando a barra em direção a ele, que a pegou no ar com uma facilidade irritante, mesmo com o braço imobilizado. — Mas é um começo.
Wanda finalmente ergueu os olhos e aceitou a barra de Heather, sua expressão suavizando um pouco.
— Obrigada — disse, apertando o chocolate nas mãos, como se aquilo fosse o suficiente para manter o caos do mundo exterior afastado por um momento.
Heather sorriu. — De nada, não sei como vocês estão sentindo, mas posso imaginar. — comentou. — E como minha tia sempre diz: um passo de cada vez.
Ela se sentou na beirada da cama, olhando para os dois irmãos com uma serenidade firme. Eles podiam não ter paz ou normalidade, mas juntos, talvez conseguissem criar algo semelhante, nem que fosse por breves momentos. Afinal eles eram família.
🕷
Era segunda feira, uma tarde pós escola e pós estagio nas industrias Stark. Peter estava jogado no sofá do apartamento da Trainor, mexendo no celular enquanto esperava Heather terminar de preparar algo na cozinha. Era a primeira vez dele ali, e ele não sabia bem como agir. Ele tinha um certo nível de intimidade, mas estar na casa dela, era como passar de uma fase fácil para uma fase média de um jogo e isso era bom, mas o assustava e o deixava inseguro pois a ruiva ainda não sabia que ele era o Homem-Aranha e pelo que o Parker sabia, ela ainda odiava os super heróis. Porém aos poucos ele derrubava os muros que a Trainor havia construído envolta de si e ela, mesmo não sabendo, trazia um pouco de normalidade a vida do jovem.
Ele ergueu os olhos quando ouviu o som de batida de panelas, seguido por um suspiro longo e exagerado.
— Tudo bem aí, Heather? — ele perguntou, sem conseguir segurar o riso.
Heather apareceu na porta da cozinha, o cabelo um pouco bagunçado e uma expressão de cansaço dramática.
— Ok, eu desisto. Minha relação com a culinária chegou oficialmente ao fim. Acho que a massa de bolo decidiu se rebelar. — Ela cruzou os braços, com um toque teatral na voz.
Peter riu, sentando-se mais ereto no sofá. — Sério, Trainor? Achei que você tinha prometido dar uma chance pro fogão.
— Prometi, mas ele me traiu — disse ela, se aproximando e jogando-se ao lado de Peter. — Parece que o mundo resolveu ser difícil comigo até na cozinha.
Peter fez uma careta solidária. — Final de semana complicado, né? — Ele já sabia que ela não estava num momento muito bom, mas não fazia ideia do motivo. E tudo bem por que ele mantinha segredos dela, como o fato de ter falado que havia ido viajar com sua tia para uma casa de um parentes quando na verdade estava acamada em seu quarto dolorido e cansado.
Ele ainda estava com dor, mas não queria ficar mais de três dias sem a presença da garota. Podiam se conhecer a pouco tempo, mas Peter não se via mais sem ela em sua vida .
Heather suspirou, cobrindo o rosto com as mãos por um segundo. — Você nem imagina. Parece que tudo deu errado. Tudo. Mas... — ela o encarou com um olhar mais animado, mudando de humor rapidamente. — Estou viva, sobrevivi ao fim de semana infernal, e, sinceramente, só estou feliz por estar aqui.
Peter sorriu, pegando uma almofada e jogando suavemente em Heather, que pegou no ar rapidamente. — Bem, não é por que um espinho te machucou que todas as outras vão te machucar também.
Ela riu, pegando a almofada e devolvendo o golpe de brincadeira. — Não sei como você não virou um filósofo depois dessa frase bem clichê.
— Ei, ei! É clichê mas funciona para muitas situações, inclusive essa. — Ele fingiu ofensa, levantando as mãos. — Além disso, eu confesso que já estava com medo de comer algo feito por você. Vai que você me envenena.
Heather balançou a cabeça, incrédula. — Sério? Meus dons culinários são básicos mas nunca matei ninguém e você não será o primeiro. Eu espero.
— Não pode prometer nada — Peter respondeu, com um sorriso travesso. — Mas seu bolo deu certo ou teremos que lanchar fora?
— Vamos descobrir daqui uma hora. Enquanto isso, quer fazer o quê?
— Que tal me apresentar seu apartamento, para depois assistirmos Star Wars?
Heather deu de ombros. — Tudo bem, mas não tem muito o que ver. — Ela fez uma pausa, seus olhos vagando brevemente pela sala. — Quer dizer, você já viu a maior parte... A sala, a cozinha logo ali. — Ela apontou com a cabeça. — Só falta o quarto, e a bagunça que chamo de "meu espaço".
Eles começaram a caminhar pela sala. Heather abriu a porta do quarto e deu um sorriso meio envergonhado.
— Não repare na desordem, ok?
O quarto era pequeno e simples, com uma cama de solteiro encostada à parede, uma estante cheia de livros e uma escrivaninha com papéis com desenhos incompletos espalhados. Havia também algumas fotos na parede, principalmente dela com sua tia, que morava ali com ela. Alguma dela com seus pais e outras de paisagens.
— Aqui é onde eu passo a maior parte do tempo — Heather comentou, dando um pequeno sorriso enquanto se encostava na porta. — Minha tia está viajando, mas Claire virá apenas à noite, então temos o apartamento só para a gente está tarde. Podemos ficar à vontade.
— Parece bem aconchegante — disse ele, olhando ao redor e sentindo-se mais confortável no espaço pessoal de Heather. — Nunca me canso de dizer, mas você desenha muito bem. Já pensou em seguir profissionalmente?
— Já sim, mas infelizmente não é uma profissão super valorizada e não me vejo fazendo isso por muito tempo.
Peter assentiu. — Nunca perguntei, mas você pretende fazer o que depois da escola e do estágio?
— Enfermagem. Gosto da ideia de ajudar pessoas e cuidar de pessoas doentes.
— Enfermeira Heather, gostei.
— Isso mesmo, enfermeira Heather — ela sorriu. — E você? Já decidiu o que vai fazer depois?
Peter olhou para uma das paredes onde tinha um desenho da mãe da jovem, pensativo. — Acho que quero seguir algo relacionado à tecnologia. Sempre gostei de mexer com computadores, talvez algo com desenvolvimento de software ou engenharia.
Heather riu suavemente. — Olha só, um futuro engenheiro e uma futura enfermeira. Vamos conquistar o mundo.
Peter sorriu. — Pode apostar. Combinamos bem, eu cuido das máquinas e você cuida das pessoas, especialmente de mim. — piscou um dos olhos. A ruiva riu. — Então... Star Wars agora?
Ela assentiu, pegando na mão do jovem. — Sim, vamos lá. Só não durma durante o filme, hein?
— Só se você prometer o mesmo.
— Prometo não dormir, Parker.
— Ótimo! Eu também prometo não dormir, Trainor.
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