CHAPTER 04: um simples gatilho
— Aí estão meus pirralhos preferidos! — Anthony exclamou ao ver Heather e o Parker chegando na sala de estágios juntos. A fala do mais velho fez a Trainor revirar os olhos ao perceber que tanto ela e o jovem ao seu lado eram o centro da atenção dali coisa o qual ela mais odeia, seguido por Tony.
— Senhor Stark, tudo bem? — o Parker perguntou, se aproximando do mais velho e o encarou, sorridente e feliz.
A Trainor até havia melhorado seu humor, após receber o presente e até havia tido mais algumas ideias do projeto de dupla de ambos, que eles usariam ou não. Peter também havia percebido que a garota sabia falar de quase todos os assuntos possíveis, mas não gostava de falar sobre heróis e nem dos vingadores, principalmente sobre o Homem de Ferro.
— Sim, pirralho. - Balançou a cabeça, olhando Heather, que estava afastada deles dois mexendo em seu celular, e logo em seguida suspirou. - Vocês dois não receberam o aviso, mas hoje não terá estádio por causa de um problema.
- Problema? - Peter franziu o cenho. - O que houve, senhor Stark? Algo grave?
- Não, Não, Peter. - Levou uma de suas mãos para a parte de trás de seu pescoço e coçou aquela região. - Vamos dizer que, hipoteticamente, uma legião de armadura sem controle está em todo o prédio, atacando pessoas e objetos.
O Parker arregalou os olhos, com sua boca entreaberta e surpreso. - Como isso aconteceu, senhor Stark?
Tony mordeu seus lábios, deixando de olhar para Peter e olhando para as paredes da recepção, envergonhado demais para dizer a verdade. Heather o olhou, guardando seu celular e indo de volta ao elevador, atraindo a atenção dos dois homens para si.
- Para onde você vai, Heather? - O Stark perguntou, franzindo o cenho ao olhá-la.
- Para casa, aonde mais eu iria? Não tem mais estágio, mesmo. - Deu de ombros. Tony ia retrucar quando ouviu um barulho de metal e que o fez arregalar os olhos.
- Cuidado! - gritou o Stark. - Pirralho! Heather!
Peter se virou para trás, na direção da Trainor e com seu sentido aranha, ele sentiu que o que ia atacar eles estavam indo em direção a Heather. Ele soltou sua mochila rapidamente e pulou em direção da garota, a derrubando e logo impedindo ela de ser atacada. E em poucos segundos, uma das armaduras de Tony Stark passou por cima deles e foi em direção à janela do prédio.
A garota se assustou, com o barulho, e olhou para cima vendo o Parker em cima de si, também com os olhos arregalados e a encarando de volta. Os dois adolescentes ficaram se olhando por alguns segundos, em silêncio e com muita vergonha para falarem algo, era uma cena desconfortável para ambos e estarem sendo observados pelo Stark piorava tudo.
Foi então que Heather engoliu seco, logo empurrando o corpo do garoto para longe de si e saindo dali em passos rápidos e ligeiros.
Quando a garota chegou ao térreo do prédio, ela ajeitou a mochila em seu ombro e caminhou para longe dali e um lugar em que ela pudesse estar a sós. Caminhou em passos rápidos e sem destino certo, ela correu o mais rápido que podia e correu, correu, correu e correu sem direção. Quando o ar havia acabado e sua respiração havia ficado difícil, ela parou e olhou em sua volta e para as pessoas perto dela. Estava em um dos parques perto do prédio Stark.
Heather sentiu sua respiração falhar e seu coração bater mais rápido que tudo, a garota pegou sua mochila e o restos de suas coisas, jogando-as no chão. Ela se sentou no meio do gramado seco e colocou as suas mãos em seu rosto, em seus cabelos. Memórias do dia da morte de seus pais, o prédio caindo em cima de sua mãe e imagens de sua cidade se desfazendo voltam a sua mente. A armadura de Tony indo em sua direção fez sua mente reviver memórias em que sua mãe morria a sua frente e ela não podia fazer nada. Sua cidade havia sido destruída. Sokovianos haviam morrido ou ficado sem seu lar. Ela estava sozinha, ela não tem ninguém.
- Heather? - Claire Montgomery exclamou, preocupada, ao ver a garota ali e logo se abaixou para ficar na altura da mesma. - Está tudo bem? Está machucada? O que houve? O que aconteceu? - ela tocou no ombro da garota, cautelosamente e atraindo sua atenção.
A Trainor levantou sua cabeça em direção da mulher, mostrando seus olhos castanhos inchado e as lágrimas caindo de seus olhos, sobre seu rosto. Sua maquiagem, a pouca que usava, estava escorrendo e manchando sua pele branca.
- O que houve, querida? - questionou novamente a Montgomery, preocupada.
De longe, Tony e Peter observavam as duas mulheres juntas, grudadas, ambos os dois preocupados. O Parker conhecia a Trainor a pouco tempo, mas tinha empatia o suficiente para se preocupar com o que ela sentia. Com o que ela estava sentindo e o porquê de ela estar chorando daquela maneira. Sua vontade era de ir até ela e a consolá-la. Foi então que a atenção do jovem foi direcionada para o mais velho, ao seu lado na calçada, que o olhava com pena e tinha sua mão no ombro do garoto.
- Pirralho. - O chamou, suspirando. Ele não sabia como dizer aquilo e se estava com receio de ser muito invasivo com Heather. - Um dia, eu espero, que você entenda o que ela sofreu e o porquê de ela ser assim, mas até lá não desista de ser amigo dela. - Direcionou seu olhar para a garota, longe deles, que agora estava abraçada com a Montgomery. - Heather se isola, por culpa minha e dos vingadores, mas essa solidão está a matando aos poucos, lentamente....
Nos dias seguintes a Trainor não havia ido para a escola e nem para o estágio, não respondia as mensagens de Peter, que não eram poucas, e apenas sua tia Victoria e Claire tinham contato com ela, por estarem perto dela. No apartamento em que ela e sua tia viviam, as duas mulheres unidas tentavam a qualquer custo a animar, mas não estava funcionando pois além do acidente estar passando repetidamente em sua mente, o aniversário da morte de seus pais e a "extinção" de Sokovia estava chegando, era em poucos dias.
- Querida... - a Trainor mais velha chamou a sobrinha, se sentando perto dela e tocando sua perna descoberta por causa dos shorts que usava. Heather nem a olhou. - Não quer sair hoje? Já está a muitos dias em casa, sair um pouco irá lhe fazer bem.
A adolescente de dezesseis anos não a respondeu, apenas virou sua cabeça na direção da tia. - Você acha que meus pais, de qualquer lugar que eles estão agora, sofreram quando eles morreram?
Victoria arregalou os olhos, surpresa e não esperando aquela pergunta. Engoliu seco e balançou a cabeça, negativamente. - Eu acho que não querida, sinceramente, mas não podemos saber. - Suspirou. - E eu acho que eles estão sofrendo mais em te ver assim, do que quando morreram, querida.
Heather desviou o olhar, encarando suas mãos e começando a brincar com elas. - Eu sei, tia. - disse baixinho, logo respirando fundo e se levantando, indo em direção ao banheiro do quarto. - Ah, pode me fazer um favor, tia? - perguntou antes de entrar.
- Claro, meu amor. O que precisa?
A Trainor demorou alguns segundos para respondê-la, não sabia como estava tendo coragem de se levantar após tantos dias em seu quarto, trancada. Ela suspirou e pensou em como seus pais estariam se a vissem daquele jeito. - Pode separar uma roupa confortável para mim? - Victoria a olhou, sorrindo fraco e logo assentindo. - E pentear meu cabelo também, por favor, tia?
- Claro, meu amor. - Heather retribuiu o sorriso, rapidamente e Victoria logo se levantou da cama e logo foi em direção ao guarda-roupa da sobrinha, olhando as peças de roupas e separando uma muda de roupas confortável para ela usar. Uma blusa de mangas curtas, de cor preta, não tão longa e não tão curta, junto a uma calça moletom larga de cor verde clara, quase pastel e quase similar a cor de um limão. A mulher sorriu, satisfeita e deixou o conjunto de roupas em cima da cama da adolescente, logo indo até onde a jovem guardava seus acessórios e pegou a escova de cabelo, logo voltando a se sentar na cama da garota e a esperando.
A Trainor sabia que a jovem sobrinha tinha depressão, ela havia sido diagnosticada com catorze anos e estava sendo cuidada deste então. Para uma pessoa depressiva, ações comuns do dia a dia e rotineiras, apesar de serem fáceis, eram difíceis de se realizar e faltava-lhe força. A depressão consumia toda a vontade de viver de uma pessoa. Victória lidava com Heather a alguns anos e já estava acostumada com as crises que a garota tinha.
Para Heather um simples gatilho a faz ficar mal, calada e reclusa em seu quarto, por dias. Tanto Claire quanto Victoria sempre ficavam perto da garota, até mesmo quando ela tinha suas crises, pois após a morte de seus pais e no começo, quando ela começou a morar com a Trainor, ela teve uma crise muito forte e tentou se matar com uma faca, quase conseguindo se não fosse que as duas mulheres mais velhas estavam no app.
Se não fosse por elas, ela teria conseguido se matar.
Passados alguns minutos a Trainor mais nova saiu do banheiro com seus cabelos envoltos de uma toalha e em seu corpo uma outra toalha cobria a nudez, ela trocou olhares com sua tia, que a encarava sorrindo fraco. Heather vestiu a roupa escolhida por Victoria, confortável por ela não ter escolhido algo rosa ou que mostrasse tanto sua pele assim e logo se sentou em frente a Trainor mais velha e retirou a toalha que secava seus cabelos, colocando seus cabelos para trás. Victoria pegou a escova e começou a pentear com cuidado os cabelos ruivos da sobrinha, toda delicadeza ela retirava os nós e desembaraçava os fios.
A mulher podia não ter filhos, mas cuidava da sobrinha, filha de sua irmã, com todo carinho e amor do mundo. Havia sido escolha de Victoria focar em seu trabalho e não em si, não tendo relacionamentos que se passavam mais de uma noite. Não que a Trainor não quisesse, mas ela não havia encontrado a pessoa certa e nenhum homem ou mulher a fez ter vontade de ela querer ter um relacionamento, então ela focou em sua vida profissional e quando sua irmã morreu, junto a seus amigos e familiares sokovianos, ela não teve dúvidas em cuidar de Heather e criá-la como filha.
- 'tie mi t͡ʃaˈjaɫəm ˈʃiɪdeŋ ˈti e ˈʃte – a Trainor mais velha começou a cantar uma antiga canção de seu país natal, Sokóvia, enquanto passava o objeto de plástico nos fios ruivos da sobrinha. - ˈdrage wo t͡sto ˈmisliɫəm ˈdom naʃ ˈʃiɪdeŋ ˈgnieʒdo bez veˈdeɪ̆ doˈkude ˈjit͡ʃiʃ
-ˈʃiʒa ˈsunt͡so nad tiˈe – cantaram as duas juntas.
Após alguns minutos a tia terminou de pentear os cabelos de Heather, pousando o pente na cama da garota e com suas mãos livres, arrumando o cabelo e os deixando alinhados aos ombros da garota. A mais nova, após ter percebido que a tia já tinha acabado de arrumar seus cabelos, se virou na direção dela e olhou diretamente na direção de seus olhos azuis e juntou seus corpos apertadamente num abraço confortante e que exalava o cheiro de casa, apesar de não se sentir em casa a alguns anos, Heather no abraço de sua tia Victoria se sentia em uma espécie de casa, se sentia confortável ali e segura.
- Obrigada por estar aqui, titia... – sussurrou a garota para a mais velha. – Eu te amo... – A tia se surpreendeu com a declaração repentina, mas não deixou de sorrir e ficar feliz.
- Eu também te amo, querida. – Apertou a garota mais forte em seus braços, fechando seus olhos e inalando o cheiro adocicado do xampu da jovem Trainor perto de si.
E sem as duas mulheres perceberem, Claire estava as observando pela fresta da porta e sorrindo com o carinho que ambas tinham pela outra. Apesar de suas diferenças, elas estavam ali pela outra. A supervisora da adolescente sorriu uma última vez, saindo do corredor e indo em direção a cozinha onde prepararia uma refeição caseira para elas três.
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