CHAPTER 02: não posso mais ficar aqui
- Então. - se virou em direção ao Parker, o olhando sério. Peter engoliu seco pelo olhar que estava recebendo de Heather. - Você tem alguma ideia? - perguntou.
- Eu...eh...eu... - Heather bufou, impaciente. Peter percebeu, suspirando e então pegou seu caderno, já aberto, e mostrou alguns rascunhos que havia tido. - Eu estava pensando em fazer algo ecológico, que ajudasse não só a nossa cidade, mas o mundo todo. - disse rapidamente.
A Trainor assentiu, pegando o caderno da mão do Parker, lendo as ideias e os rascunhos do garoto á sua frente. - As suas ideias são boas, ou o começo delas, pelo menos. - o olhou. - E eu também quero fazer algo que não só ajudasse Nova Iorque como o mundo, algo mais útil que os super-heróis. - demonstrou sua insatisfação com os "salvadores."
Peter arregalou os olhos, franzindo suas sobrancelhas e a encarando de volta. - "Mais útil que os super-heróis?" Você não gosta deles e de suas ações?
- Não. - deu de ombros. - Sendo honesta, acho que nosso mundo só está assim por causa das ações deles e do governo.
- Porque acha disso? - questionou Peter.
- Porque.... - se lembrou de sua mãe e de seu país, não mais existente. - Tudo está desse jeito por causa dos vingadores e de suas ações. Tudo o que está acontecendo agora é consequência das ações dos heróis e nós, como meros humanos, estamos sofrendo o que eles fizeram e fazem ainda. - abaixou o olhar, voltando a ler as ideias do jovem, à sua frente, de seu caderno.
Enquanto isso, uma linha apareceu entre as sobrancelhas do Parker, esboçando a confusão que estava na mente do jovem naquele momento. Como era possível que alguém não gostasse dos vingadores e de suas ações ao mundo atual? Peter não conhecia nenhuma pessoa que não gostasse do grupo de super heróis, principalmente de sua ajuda ao mundo. Ele não estava entendendo, mas era curioso o bastante para tentar entender o ponto de vista da garota antissocial à sua frente e tentar descobrir também se ela o odiava, se Heather odiava o Homem-Aranha, ou não.
Peter não gostava da ideia de ter alguém o odiando.
- O que acha de uma máquina que consegue... - a Trainor foi interrompida pelo Parker.
- O que você acha do Homem-Aranha? Gosta dele? - a perguntou.
É sério que ele estava mais empenhado em pensar nos heróis do que em ideias para o projeto?
Heather revirou os olhos, e logo em seguida, arqueou suas sobrancelhas. - Você está mais preocupado com o que eu acho de um super herói do que com o nosso projeto? Que ótimo parceiro o incrível e maravilhoso homem de ferro foi me arrumar. - zombou.
- Você gosta do Homem-Aranha ou não? - perguntou novamente.
- Eu não sei quem ele é, o que faz ou quem salva. - fechou o caderno, que ela notou ter a capa da franquia de sucesso Star Wars. - E também não me importo e nem muda nada em minha vida. - pegou seu caderno, revirando os olhos e começando a anotar algumas coisas.
Peter assentiu, pegando o caderno da mão da garota, logo o guardou em sua mochila e a observou, enquanto ela fazia algumas anotações. Nunca tinha conhecido alguém com um ódio tão grande pelos super heróis e que não o conhecesse, digo, que não conhecesse seu alter-ego, o Homem-Aranha. A ruiva havia o deixado intrigado e curioso sobre ela.
De repente o garoto arregalou os olhos ajustando sua postura.
- Sabe o que eu percebi? Eu ainda não me apresentei corretamente, sou Peter Parker, prazer.
- Heather. - a garota respondeu não o olhando e continuando a escrever.
O Parker entendeu aquilo como um sinal de que ela não queria conversar e de que não deveria encher o saco dela mais, então para passar seu tempo e entretê-lo, Peter pegou sua caneta de cor azul, que estava ao seu lado, e começou a brincar enquanto pensava em alguma ideia para o projeto de Tony Stark.
Algumas horas mais tarde.
- Mãe? - Heather questionou dando alguns passos para frente, com um olhar estranho em sua face. - É realmente você, mãe?
- Sim, minha pequena garotinha. Sou eu. - sorriu, se aproximando da Trainor em passos rápidos. Ela ficou a poucos centímetros da adolescente, a encarando. - Você cresceu, não é mais uma menina e está tão linda. Tão linda! - tocou as bochechas da filha, que logo fechou seus olhos, aceitando o carinho. - Você me lembra tanto eu em minha adolescência, Heather.
- Você é real? Isso é real? - questionou.
A mulher suspirou e a Trainor soube a resposta de imediato. - Não, querida, isso é apenas um sonho, uma coisa criada pela sua cabeça para te fazer dormir. - sorriu triste, ainda fazendo o carinho nas bochechas brancas da ruiva.
- Então isso é apenas um sonho. - respirou fundo. - Cadê meu pai, mãe?
- Ele está ocupado, somos apenas eu e você, querida. - sorriu. - Só eu e você.
- Eu e você, mãe. - a ruiva sorriu.
- Você nunca está sozinha, Heather.
E foi então que a garota percebeu que sua mãe não estava mais ali, com ela, e que agora estava sozinha num cômodo totalmente escuro e vazio. Começou a entrar em pânico, correndo para frente e quando se viu, estava ao lado de Claire, em seu carro, após mais um dia de estágio nas empresas Stark 's e que como acabava um pouco tarde, já de noite, a mulher a levava para casa com segurança. A Montgomery a olhou de canto de olho, preocupada.
- Está tudo bem, Heather? - perguntou para a garota. - Outro sonho?
A Trainor não respondeu, apenas suspirou e encostou sua cabeça no vidro do automóvel e começou a observar o lado de fora. - Você mentiu, estou sozinha, mãe. - a garota murmurou olhando a noite chuvosa e fria da cidade de Nova Iorque, e em como as luzes ainda estavam acesas e como era silencioso naquela hora da noite. Poucas pessoas andavam nas calçadas da cidade. - Sozinha, órfã e vivendo às custas do assassino, amigos dele e de milhares de pessoas, de uma cidade inteira. E para piorar com uma babá. - Claire apenas respirou fundo, não comentando nada sobre o assunto e nem cobrando a resposta da ruiva. Sabia que, desde o acidente, a garota tinha sonhos e pesadelos com seus pais. Já havia tentado ajudar a garota, contratando uma psicóloga de confiança, mas ela não queria e nem conseguia falar o que estava encravado em seu corpo e nem tirar a culpa da morte de seus pais dos ombros velhos de Tony Stark e seus amigos, ou "ex-amigos", os vingadores. Stark já havia tentado falar com ela, explicar em como não era possível salvar, na época, as duas, mas a garota não ouvia e pensava que era possível sim ter salvado sua mãe, não dando ouvidos a eles e ainda o culpando pela morte de sua mãe, seu pai, seus amigos e do restante dos habitante de Sokovia.
A Montgomery após estacionar o carro em frente ao prédio, em que a garota junto a tia moravam, se virou para ela e segurou sua mão. - Heather, querida, não acha melhor você tentar superar o seu luto? Seus pais não gostariam de te ver desse jeito, sem amigos, sozinha e não pedindo ajuda.
A Trainor soltou sua mão, abrindo a porta e pegando suas coisas. - Você não conhecia eles, então não pode dizer o que eles queriam ou não para mim, Claire. E nem pode perguntar para eles, já que estão mortos. Mortos! - e dito isso saiu de dentro do carro, respirando fundo e entrando para dentro de seu prédio, não se importando em ter pegado alguns pingos de chuva.
A adolescente então apertou o botão do número do seu andar e esperou chegar em sua "casa", respirando fundo e logo tocou o colar em seu pescoço, que pertencia a sua avó e que sempre vivia em seu pescoço, e se relembrando de seus últimos dias com seus pais e sua avó viva no país não mais existente. Se ela soubesse que era um dos últimos dias que veria sua família reunida e viva, teria aproveitado mais e os dito que os amavam mais.
Heather suspirou, ajeitando a alça de sua mochila e entrando em seu apartamento, indo em direção ao sofá e se jogando na mesma. A garota pega seu celular, entrando na galeria e rolando para as primeiras fotos do aparelho e viu as suas fotos com sua mãe, seu pai e sua avó. Em todas ela sorria e estava agarrada a alguém, geralmente sua mãe. Após segundos olhando para as fotos, desligou seu aparelho e o jogou para longe de si, sentindo lágrimas surgirem embaixo de seus olhos e uma vontade imensa de chorar.
Abraçando seus joelhos, com sua cabeça no meio deles, ela desabou e deixou as lágrimas saírem de seu corpo, tentando diminuir a dor que sentia em seu corpo e tentando, sem sucesso, em se sentir melhor.
Não aguentava mais a saudade de seus pais.
Não aguentava mais estar ali sem eles.
Não aguentava mais estar viva.
Heather só queria estar morta.
A Trainor só desejava estar com seus pais novamente, com sua família. Ser aquela garota de antes, uma garota esperançosa, alegre e não a garota que era agora, triste, com raiva, calada, fechada e mal-humorada.
Não queria ser assim, mas sua dor a impedia de ser o que era antes.
Heather se sentia em cima de um lago congelado, onde qualquer andar ou qualquer movimento pudesse quebrar o gelo e desmanchar tudo. A garota, em sua cabeça, era o lago e a morte de seus pais, os vingadores, o Stark, a culpa, a dor e o luto era o gelo cobrindo e a impedindo de ser feliz. Não queria se sentir assim, mas era impossível não sentir. Era também como estar cega, sem conseguir ver e apenas ouvir e tocar as coisas. A garota estava daquele jeito, mas ainda conseguia enxergar, só não conseguia superar a dor de ter perdido seus pais tão cedo e seu país.
A Trainor se levantou, suspirando e foi até o banheiro do apartamento dela e de sua tia, se encarando e se olhou, não gostando do que via ou do que era. Seus olhos estavam manchados pela pouca maquiagem que usava, suas olheiras estavam não mais escondidas e seu cabelo uma bagunça. Tudo nela era uma bagunça.
Heather era uma bagunça, esperando que alguém ou que ela mesma se arrumasse, se ajeitasse.
Respirando fundo, sentindo que iria chorar novamente e sua garganta doer, a jovem saiu dali e foi até seu quarto, pegando seu caderno de desenhos e o abrindo na última folha onde continha uma folha em branco. Ela pegou seu estojo de lápis e canetas, começando a desenhar e se lembrando do que sua psicóloga havia dito uma vez, em uma das seções.
- A arteterapia é um tipo de terapia que utiliza as artes como via para ajudar a combater e sanar transtornos psicológicos, como por exemplo: traumas passados, bloqueios pessoais, além de outros transtornos. - disse a mulher, encarando Heather e estendendo um caderno de desenho de capa dura de cor preta. - E além da finalidade terapêutica, também ajuda no desenvolvimento pessoal, no autoconhecimento, além de ajudar as pessoas na hora de se expressarem.
- E você acha que desenhar vai me fazer desabafar e parar de culpar os amados heróis da morte dos meus pais e de meu país? É sério?
A mulher sorri de lado. - Heather o desenho desenvolve a expressão, nos fazendo externar pensamos e sentimentos que temos mais dificuldades em expor. Tente e verá que terá resultados, além de que não irá te matar se tentar, Heather.
A ruiva revirou os olhos, pegando o caderno. -Tanto faz.
Heather não sabia ou tinha ideia do que desenhava, mas sabia que iria seguir o conselho de sua psicóloga, deixando suas emoções serem libertas a cada traço, linha e forma naquele papel. Não sabia quanto tempo estava ali ou que horas era, mas estava ali a um bom tempo, sabia disso, e quando parou de desenhar e viu o que desenhava, o que havia desenhado, se surpreendeu ao vê-lo. Era ela. A jovem havia se desenhado com algemas e correntes em volta de si, a deixando presa, expressando seu sentimento de estar sufocada, enquanto uma sombra densa e grande a consumia, sua depressão, e atrás, bem atrás e quase não visível, uma garotinha e duas outras pessoas a observavam não contentes. Sabia quem eles eram, seus pais, e que a garota era ela quando criança e também sabia que eles não estavam contentes com ela e seu comportamento.
A Trainor observou o desenho por mais alguns segundos até que fechou o caderno com força e o deixou de lado. Talvez ela tivesse expressado e soltado seus sentimentos, mas aquilo não ajudou, não tirou um peso de si e sim a deixou mais triste, brava por que seu corpo e sua mente também sabiam que ela estava deixando o luto a corromper, a escuridão estava pegando toda sua vitalidade e não estava nem lutando contra isso, estava a deixando roubar sua alegria e suas emoções, pois ela não tinha forças para lutar contra e estava desistindo.
Heather Trainor era uma causa perdida, sem salvação, que estava desistindo de si e se pudesse ela estava morta. Nada fazia sentido para ela e nem tinha forças para tentar entender. A garota não ia lutar contra o gelo que cobria seu lago, a impedindo de ser feliz e superar, não conseguia porque ela não conseguia estar em paz, não conseguia estar ali, não mais.
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