𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟗
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Era Natal. Enquanto as crianças brincavam de maneira barulhenta na sala de estar com os brinquedos dados por Thomas, os adultos faziam o que sabiam fazer de melhor: beber. Amara se abdicara das bebidas alcoólicas oferecidas e dos cigarros acendidos. John contava animado as histórias de guerra ao lado de Thomas. Infelizmente, Arthur ainda se encontrava no hospital e Linda estava junto. Elisa compareceu mais cedo, mas não ficou por muito tempo alegando ter muito o que resolver em Londres. O clima até poderia parecer festivo, mas a senhora Shelby preferiu se afastar para um lugar mais tranquilo. No andar de cima recorreu à cama quando o mal-estar a atingiu novamente. Era sempre assim, começava com um enjoo, crescendo para uma tontura, o sono vinha logo depois. Eram sintomas clássicos que Amara bem conhecia, o que fazia com o medo e esperança em seu peito triplicasse.
— Amara. — A voz de Polly entonou no corredor, fazendo com que Shelby mais nova se colocasse sentada na beira da cama novamente.
— Estou aqui. — Amara arrumou os fios soltos e esperou que Polly a alcançasse no quarto.
— Ainda é cedo para dormir. — Polly comentou. Amara meneou a cabeça sem jeito.
O olhar escuro e erudito da mais velha estudou Amara. Diante aquela mulher, a Shelby mais jovem sabia que não teria para onde fugir. Polly era sensitiva de uma maneira muito diferente de Zaira.
— Você não bebeu nada do que foi oferecido. Brigou com o Thomas quando ele ousou acender um cigarro perto de você, e antes que diga algo, eu não acreditei na desculpa de que era para o cheiro não impregnar em seu cabelo. — Amara puxou o ar para os pulmões. Polly fechou a porta. Deu passos até se senta ao lado da mulher. — Pode tentar esconder isso dos outros, mas não de mim. Você está grávida, não é?
Amara acenou levemente, respondendo a pergunta em silêncio. Polly levou uma mão para o peito. Logo uma lembraça assombrou as duas mulheres.
— Você se lembra como foi a minha última gravidez? — Amara encarou as mãos. Uma dor latejante percorreu seu coração.
Como era possível isso ainda ser tão doloroso?
— Como posso esquecer? — Polly suspirou. — Você estava tão feliz e o Thomas sorria para os quatro ventos. Estavam tão realizados, haviam realmente conquistado tudo.
A primeira vez foi como um sonho. Amara sentiu medo, aliás, ainda era difícil de acreditar que realmente estava gerando uma pequena vida — o que era de se esperar após o casamento. Por outro lado, se sentiu mais forte, tendo mais um de seus desejos realizados. Ser mãe e ter uma família sempre fora seu sonho. Amara sabia que teria que lidar com sua vida profissional e maternal como mais um desafio. Contudo, o sonho tornou um terrível pesadelo quando dores travesaram seu corpo e o sangue escorreu por suas pernas em uma madrugada fria sem a companhia do marido. Depois disso, perdeu a fé de que um dia voltaria gerar um filho e a culpa pelo aborto caiu toda para ela.
— Ah, minha menina... — Polly lamentou quando viu os olhos verdes brilharem com tristeza. Amara engoliu o nó na garganta, mas não conseguiu afastar as lágrimas. — Seu bebê ficará bem.
— Na primeira vez, você disse que era uma menina. — Amara lembrou-se. — Eu imaginei todos os nomes que poderia chamá-la. Você disse que eu deveria dar o nome de uma rainha, e eu tentei pensar em alguma que não havia perdido a cabeça. — Sorriu. — Disse que ela seria parecida comigo e que teria o dom para arte, talvez se tornasse uma grande atriz de cinema e deixaria o Tommy ter dor de cabeça com todos os pretendentes que surgiriam em nossa porta. Ela se chamaria Cecilia, minha Ceci.
— Ela seria linda. — Polly passou o braço em volta de Amara.
— No meu tempo as coisas seriam mais práticas, mas nesse tudo ainda é tão limitado. — Amara fechou os olhos. — Talvez ela estivesse aqui agora se a medicina fosse avançada. Eu teria tido o tratamento certo e o meu bebê não... — Não teve força para finalizar a frase.
Polly entendeu a importância daquelas palavras. Às vezes esquecia de onde Amara havia realmente vindo. A jovem Shelby se adaptara rápido a um século diferente, e embora Polly não fizesse ideia de como exatamente era o ano de 2021, sabia que muitas coisas haviam mudado até lá e que a medicina facilitava muitas vidas. Com a mão direita, Polly tocou a barriga de Amara. Ainda estava pequena, no início da gestação, muito provavelmente estivesse beirando as doze primeiras semanas. Amara deu espaço para que a Gray a tocasse melhor, sentia-se bem com o toque dela. Aquele era o toque mais maternal que ela receberia de uma mulher que não fosse sua mãe biologica.
— É um menino. — Polly falou com confiança. Amara sentiu o interior congelar brevemente.
— Como sabe que é um menino? — Uniu as sobrancelhas. — Ainda é tão cedo.
— Porque eu sou Polly Gray. — Polly sorriu de lado. — E ele será lindo, meu amor.
Amara sorriu. Um menino. Ela imaginou um garotinho vestido exatamente como Thomas, correndo sujo de lama pelo campo e brincando com cavalos ou aprontando com Anúbis. Um filho. Um Shelby.
— Ele terá os olhos do pai e o sorriso da mãe. Terá a sua beleza. — Polly se afastou, deixando que seus olhos encaixar-se aos de Amara. — Ele será bondoso e compreensivo, também terá o dom para os negócios igual aos pais. Vai adorar desenhar, talvez possa seguir o ramo da arte. Ele vai nascer quando tudo estiver melhor para a família.
— Quando o Thomas souber... — Amara suspirou. Sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto, dessa vez era felicidade. — Tenho medo de...
— Não diga essas palavras. — Polly ergueu um dedo no ar. — Eu irei com você ao médico e cuidarei de você. Escolha o nome do seu filho e dessa vez imagine você e o Thomas ao lado dessa criança, ensinando tudo que ele deve saber, dando amor a ele da forma que merece. Eu sinto que esse filho é a luz no fim do túnel que a familia Shelby precisa.
Amara engoliu em seco. Uma gravidez em meio a guerra não era o que ela esperava, mas essa era uma forma de usar sua força para proteger o filho. As mãos abraçaram a barriga. Amara fechou os olhos e imaginou-se carregando seu pequeno. No meio do inverno sombrio, há muitos anjos e arcanjos, e naquele instante, ela pediu para eles a ajudassem. Zaira não lhe contou sobre a gravidez, mas talvez ela tenha dito isso por meio das cartas. Amara estava em uma nova etapa da vida, passando por uma transformação — a carta do mundo. Mesmo que fossem tempos sombrios para os Shelby, Amie acreditava que seu filho realmente era a luz no fim do túnel. Quando ela abriu os olhos novamente um nome veio à sua mente.
— Anthony. O nome dele vai ser Anthony, como meu pai. — Amara falou, convicta. — Tonny Shelby, o herdeiro do império que Thomas e eu construímos.
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Quando a barulheira no andar debaixo havia passado, Amara saiu do quarto. Ainda no alto da escada, viu uma sombra vagar de um lado para o outro. Ouviu um suspiro pesado vim logo a seguir. Ela também emitiu um, descendo um degrau de cada vez. Thomas estava sentado em uma poltrona, tinha um cigarro preso em um dedo enquanto um copo de uísque se encontrava em outra mão. Ele estava pensativo, com olhos fixos na lareira acesa.
— Minha nossa, achei que fosse papai Noel. — Ela sorriu da escada. Thomas tragou o cigarro.
— Eu vi um velho tentando descer nossa chaminé e dei um tiro no traseiro dele. — Falou com uma pitada de humor. Amara terminou de descer os degraus.
— Isso me faz acreditar que você está na lista de garotos malcriados. — Se aproximou do marido. Thomas sorriu sem emitir som, apagando o cigarro e deixando o copo no chão.
— Já estou faz tempo, mas pelo menos sempre ganho um presente de Natal. — A chamou com o dedo. — Tenho algo para você.
Amara deu passos largos até ele. Subiu a barra da camisola para poder passar uma perna em volta do marido, sentando-se sobre o colo dele. Thomas a beijou, deixando que o sabor da nicotina e uísque passasse de uma língua para outra. Amara gemeu de modo baixo, sentindo as mãos de Thomas invadirem por baixo do vestido. Ela se afastou brevemente, encarando de modo ávido o desejo estampado no rosto do marido.
Do lado da cadeira ele puxou uma caixa. Amara ficou curiosa e teve certeza que seus olhos brilharam ao ver o presente. Era um colar. Uma esmeralda verde mediana, em forma de gota, estava presa em uma corrente de minúsculos diamantes brancos, adornada também pelos mesmos brilhantes. Era uma peça simples, embora muito provavelmente estivesse avaliada em um valor exorbitante.
— É perfeita. — Ela falou. Thomas sorriu satisfeito.
— Me deixe colocá-la. Devo dizer que hoje quero ver você usando apenas ela. — Disse malicioso. Amara sorriu, permitindo que a joia fosse presa em volta do pescoço. O toque frio da peça na pele a fez estremecer. Amara ergueu o olhar para o marido.
— Eu preciso falar algo para você. — Disse ela, em um quase sussurro. Thomas balançou a cabeça, tomando os lábios carnudos em um beijo.
Amara sentiu as alças finas da camisola escorregarem pelos ombros. Thomas umedeceu os lábios ao encarar os mamilos rosados duros e excitados. Ele lambeu um de cada, arrancando um gemido baixo da mulher. Quando se tratava de prazer, ambos sabiam fazer isso muito bem. Amara arfou, deixando o que tinha para dizer outra hora.
— No chão ou na mesa? — Thomas voltou a encará-la. Amara sorriu sem exibir os dentes.
— No chão. — Disse ao levantar-se.
O vestido escorregou de vez para baixo, deixando-a completamente nua. Thomas passou a língua pelos lábios, levantando-se da poltrona com ela em seu colo. Eles foram ao chão. Suas mãos e os lábios tocavam sedentos em todas as partes que alcançavam, ajoelhado aos pés da mulher que ele escolhera amar incondicionalmente. Amara passou a mão pelos cabelos de Thomas, abaixando logo depois. O calor da lareira a aqueceu. A claridade que vinha do fogo atingia o rosto de Thomas, dando a ele um tom perigoso de olhos brilhantes e azuis.
— Me foda logo. — Pediu Amara.
— Ainda não, meu bem. — Murmurou em desejo. Empurrou o corpo de Amara para trás, fazendo com que ela se deitasse completamente no chão. — Quero você pronta.
— Eu já me sinto mais que pronta. — Amara arqueou as costas quando Thomas raspou os lábios no espaço entre os seios. — Mas não dispenso sentir sua língua em todos os lugares do meu corpo.
— Nem eu dispenso sentir seu sabor. — Thomas agarrou os pulsos dela, levando-os para cima. — Gosto quando súplica.
— E eu gosto quando você implora por algo. — Ela levantou o rosto para beijá-lo rapidamente. Um tremor violento e satisfatório percorreu o copo dela ao ser empurrada para o chão. — Então vai ser assim?
Thomas deslizou para baixo. Rapidamente enfiou o rosto entre as pernas dela, beijando e mordendo a parte interna das coxas. Amara umedeceu os lábios ressecados, fechando os olhos ao sentir a língua de Thomas finalmente raspar seu clitóris, abrindo um caminho molhado entre os lábios íntimos. Ela gemeu sem pudor, empurrando o rosto dele até o mais fundo que conseguia. A sensação vinda da boca do marido era inexplicável e talvez os vizinhos não entendessem o que se passava de fato naquela casa.
— Se não gemer mais baixo, um vizinho irá reclamar e logo um policial baterá em nossa porta. — Thomas levantou o rosto. Amara sorriu.
— Eu estou pouco me fudendo para os vizinhos ou a policia. — Falou.
Amara tornou afundar a cabeça no tapete, encarando o teto de madeira enquanto o toque aveludado a tocava intimamente. Thomas poderia fazê-la gozar ali, sem ao menos penetrá-la, e ele não a pouparia de nada. Indo mais fundo, puxou uma perna para cima do próprio ombro, deixando-a mais exposta da forma que pretendia. Desceu o rosto para o meio das pernas, dando leves sucções e lambidas ao ponto de perceber o corpo feminino tremer sob ele. Amara estava sendo empurrada para um abismo do orgasmo, e Thomas era o causador disso.
Ele não parou nem quando sentiu o sabor agridoce deslizar para fora dela, inundando-o sua boca deliciosamente. O sabor da esposa era fascinante e ele tomaria até a última gota. A contemplou em seu momento de prazer. Amara inclinava as costas, revirando os olhos e abrindo os lábios sem dizer nada. Thomas entendia que os sentidos da esposa estavam embaralhados, e adorava quando a deixava assim. Ela se remexeu no chão, manhosa como uma gata. Seu olhar caiu sobre a pele lisa e feminina, que agora se encontrava mais vermelha em muitos lugares. Se ela soubesse como ficava bela tendo um orgasmos, terias muitos por dias.
Ainda sensível, Amara não teve tempo para se recuperar. Ali, com uma perna apoiada no ombro do marido e exposta, sentiu ele investir nela o mais fundo que podia. Ela voltou a abrir os olhos, vendo as feições luxuosas estampadas na face de Thomas. Uma mão se fechou em volta de um seio, enquanto a outra ainda mantinha a perna presa ao ombro. Amara estava confinada no chão, imobilizada enquanto as estocadas iam mais fundo e altas.
Thomas era grande e duro, da forma que ela gostava. Ele poderia ser romântico durante a transa, mas ela gostava quando eles agiam como animais selvagens e embarcavam em uma jornada alucinante de sexo. A ligação que sentiam naquele momento íntimo era grande, beirando o emocional, onde dependiam um do outro para chegarem a algum lugar. Sexo poderia ser um hobby para algumas pessoas. Para outras não passava de um prazer que poderia ser vendido ou trocado. No entanto, para Thomas e Amara, sexo era algo maior que isso, um complemento essencial para o casamente além do companheirismo e amizade que formaram com o tempo. Um significado tão particular a eles, que explicado a outras pessoas não fariam tanto sentido.
Amara sentiu o corpo enrijecer, ela estava à beira de outro orgasmo. Thomas gemia entredentes, ainda estava vestido, mas a camisa branca dava sinais de suor. Amara conseguiu se livrar das mãos, indo para cima dele sem parar o movimento. Thomas não estava surpreso, conhecia a esposa o suficiente para saber que uma hora ela tomaria as rédeas. Indo ao chão, ele a ajudou retirar as próprias roupas: primeiro o colete, depois a camisa. O suor salpicava a pele e perto da lareira, ele entendia o motivo de estar naquele estado. Amara o lambeu, indo do pescoço aos lábios, sugando-os com força em um beijo feroz, onde os sabores se misturavam eroticamente.
Os dedos largos em volta da cintura fina acentuaram o movimento. Amara cerrou os dentes quando os quadris foram movimentados para cima e para baixo mais rápido. Foder com força era o que sabiam fazer de melhor. As sensações se intensificaram no interior dela. As pernas tremeram, assim como outras partes do corpo. Amara usou as duas mãos para se apoiar para que não caísse sobre Thomas assim que seu orgasmo chegou.
Ele girou sobre ela, empurrando- a para cima com os movimentos ferozes. Thomas enterrou o rosto no pescoço, sussurrando safadezas que faziam Amara pensar em um novo orgasmo. O calor se apossara da sala. Os corpos estavam suados e juntos sobre o tapete persa, enquanto investiam um no outro em um ritmo sensual. Thomas soltou um palavrão na língua cigana, apertando a cintura e a levantando quando sentiu seu orgasmo chegar antes dos jatos quentes. Então quando atingiu o ápice do seu prazer, se despejou no espaço apertado.
— Ah! — Falou Thomas, ofegante. Girou para o lado, enquanto Amara se deitava sobre seu peito molhado pelo suor. — Feliz Natal, meu amor.
— Feliz Natal, mi amor. — Ela respondeu rouca, entregando-se ao cansaço.
O que teria para falar para Thomas poderia esperar até que ela fosse ao médico e voltasse com boas notícias de lá.
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LONDRES
Polly abaixou os óculos escuros quando viu Amara desceu apressada do carro. O vento forte fez com que o vestido marrom e esvoaçante levantasse. Amara segurou as beiradas, dando passos largos até o topo da escada. Londres era onde se localizava o melhor hospital, esse por esse motivo que ambas se encontravam ali. No alto, Polly cumprimentou Amara com abraço, sussurrando no ouvido dela que tudo ficaria bem.
— Quem está no carro? — Polly olhou por cima do ombro da mulher.
— Jeremiah e o filho, Isaiah. Tommy disse que eles deveriam me seguir para onde eu fosse.
— Você contou ao Thomas? — Polly segurou o pulso dela. Amara negou com a cabeça.
— Eu achei melhor ir ao médico antes. Quero ter certeza de que meu filho está se desenvolvendo bem e saudável antes de passar qualquer notícia a ele. — Amara encheu os pulmões com oxigênio. — Não são tempos fáceis, não sei como ele vai reagir com a notícia.
— Ah minha pequena. — Polly segurou o queixo dela delicadamente. Amara deu um leve sorriso. — Vamos entrar. Graças ao seu sobrenome, conseguimos fazer o melhor obstetra da cidade voltar das férias mais cedo.
Polly abriu caminho na frente de Amara. Alguns minutos se passaram até que ambas fossem atendidas. Polly tinha um olhar atento a cada movimento e toque do obstetra sobre a paciente. Amara estava nervosa e não sabia disfarçar isso, embora não fosse a primeira vez que estava em uma clínica como aquela. Foi difícil para Amie deduzir o que realmente sentira quando pode ouvir o coração do bebê pela primeira vez. Era tão rápido, tão forte, exatamente como o de um Shelby. Ela sorriu, deixando que uma lágrima escorresse pelo rosto. Polly apertou a mão da mais nova, sentindo o frio e suor de puro nervosismo. A Gray também teve a oportunidade de ouvir o coração do bebê, se emocionando mais do que deveria.
— Bem, pelo que disse e tudo que vi, você já está finalizando o primeiro trimestre da gestação e seu bebê é do tamanho de um limão. — O médico pôs os óculos novamente. — Não desconfiou antes que estava grávida?
— Na verdade, durante esses três meses eu estava tendo sangramentos um pouco escuro, pequenos e rápidos, não achei que pudesse estar gravida, já que acreditei está menstruando. — Explicou ela. — Depois que os sintomas ficaram mais nítidos, eu comecei a desconfiar, meu corpo também mudou e como eu já estive gravida antes, entendi o que estava acontecendo.
— Então não é a sua primeira gravidez?
— Na verdade, há alguns anos eu engravidei e perdi o bebê no fim do primeiro mês. — Amara deslocou o olhar para um ponto fixo na parede. — Foi repentino, eu não sei exatamente o que aconteceu e os médicos acharam melhor me culpa por isso e no meu esforço no trabalho.
— Não foi sua culpa. — Polly levou uma mão para o ombro de Amara.
— Você deve ser a mãe da senhora Shelby, sim? — Perguntou o médico. Polly sorriu.
— Próximo disso. — Respondeu ela.
— Doutor, essa criança tem chances de chegar até o fim da gestação? — Amara quis saber. — Esses sangramentos que eu tive, devo me preocupar?
— Você deve tomar algumas vitaminas, evitar estresse e se alimentar corretamente. — Citou. Amara evitou demonstrar que um item daquela lista seria quase impossível de evitar. — Seu bebê vai bem de saúde e com o pré-natal feito corretamente, ele tem chances de chegar até o nono mês. Sobre os sangramentos, eles são comuns e envolve alguns fatores como a implantação do óvulo na camada uterina após a fecundação ou até as próprias relações sexuais que você tem com seu marido. De qualquer forma, você já está fora da zona de perigo e não corre risco de sofrer algum aborto.
— Acredito que entendi. — Ela ponderou tudo que ouvira. — Meu bebê está saudável. — Se sentiu aliviada com aquilo.
— E logo nascera um garoto Shelby, forte e bonito como os pais. — Polly completou.
— Como tem tanta certeza de que é um menino, Sra. Gray? — O obstetra perguntou. — Ainda é muito cedo para deduzir o sexo da criança.
— Intuição feminina. Mulheres sempre foram mais sensíveis a isso. — Ela sorriu ao dar a resposta. Amara limpou a garganta.
— Eu vou tomar todo o cuidado necessário. Pelo meu filho, sou capaz de fazer qualquer coisa.
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BIRMINGHAM
Uma revolução estava marcada para o meio-dia. E embora Thomas já estivesse preparado para aquilo, não esperava encontrar Elisa em seu escritório. O riso da Romero fez com que o interior do Shelby estremecesse. Ela era como uma serpente pronta para o ataque. Thomas ainda não sabia se podia confiar totalmente na ex-amante e quase cunhada. Ainda se lembrava do dia anterior, quando ela flertara com Amara descaradamente, contudo, já era algo que ele esperava vindo de uma mulher como ela. Romero não tinha medo de nada, muito menos dos Peaky Blinders ou de Thomas Shelby.
— Está no meu lugar. — Ele falou. Elisa retirou os pés da mesa preguiçosamente.
— Ah, desculpa, Sr. Shelby. — Disse de modo falso. — Eu vi esse trono sozinho e logo pensei em ocupá-lo.
— Você terá que se esforça muito para isso acontecer um dia, Elisa. — Disse rispidamente. — O que veio fazer aqui? — Ele deu outro passo para dentro do escritório.
Elisa se levantou da cadeira, sentando-se em outra. Thomas se aproximou de uma pequena mesa, enchendo dois copos com uísque. Deixou a bebida na frente da mulher, enquanto bebia um gole generoso do que havia em seu copo. Se tivesse que receber Elisa de uma forma, que fosse daquela, com generosas doses de uísque para se manter firme.
— Tenho novidades. — Disse ela.
— Diga logo.
— Calma, gatito. — Ela bebeu um gole do uísque. Passou a língua entre os lábios pintados de vermelho, assim que encarou Thomas novamente. — Ainda não recebi minha parte do acordo e já sei de coisas que podem deixar seus cabelos em pé, até aqueles que não pegam sol.
Thomas suspirou, apertando a fonte do nariz.
— Elisa, eu preciso de tempo para conseguir o que pediu. — Ele falou.
— Eu já escolhi o prédio que quero, fica na região de Londres. Tem uma bela localização às margens de um canal. — Elisa ergueu o queixo. — Quanto as outras coisas, posso te dar mais um tempinho.
— Você vai ter tudo que pediu, mas caso não tenha percebido, estou no meio de uma greve.
— Isso não é problema meu, amor. — Elisa deixou o copo sobre a mesa. — Ahora, posso dizer o que minhas garotas descobriram sobre seu italiano.
Thomas sentou-se em uma cadeira, acenando para que a mulher prosseguisse.
— Ele foi visto em Londres. Em um hotel caro no centro. Adora licor e charutos, também anda com a ajuda de uma bengala, que eu deduzi ser uma arma, não dá para confiar em italianos ou em homens, sem ofender, é claro.
Thomas deslocou o olhar para o fim da sala de reuniões. Viu por meio das janelas de vidro a movimentação dos trabalhadores. Saber a localização de Mancini em Londres era uma imensa vantagem.
— Quero que mate ele. — Thomas voltou a encarar Elisa. Puxou um cigarro do bolso e o passou nos lábios. — Fale com suas garotas, seduza ele e o mate.
— Pensei que fosse querer fazer isso pessoalmente. — Elisa arqueou a sobrancelha. Thomas acendeu o cigarro.
— Estou pagando caro por um motivo. Mate Mancini, então terá tudo que pediu e talvez um pouco mais. — Thomas cruzou a perna. Elisa exibiu um leve sorriso. Ela era pervesa.
— Faca, tiro ou algo mais criativo? — Ela perguntou. Animada.
— Só o faça sofrer, muito.
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PACIFIC MODERN DIARY, LONDRES
O jornal não parava. O Pacific Modern Diary estava funcionando a mil já que uma imensa paralisação iria acontecer em questão de horas. Amara carregava uma pasta de documentos, ansiosa para encontrar Thomas e dar a grande notícia. Desviou de alguns entregadores de jornais, que corriam apressados com o jornal impresso naquela hora. Também acenava para outros trabalhadores que passavam por ela rapidamente. Antes que pudesse subir as escadas para chegar ao escritório principal, viu a indiana Kapoor.
— Amara, que bom que voltou, estamos com problemas. — Krishna disse ao descer de uma escada. Sua fase morena estava vermelha e seus olhos estavam bem abertos.
— Eu já estou de saída, preciso encontrar o Thomas. — Amara passou pela amiga. — O que tiver que resolver, fale com o Michael. Estou aqui apenas de passagem.
— É em relação a sua agenda. — Krishna apressou os passos atrás da chefa. Amara se virou para ela.
— Sim?
— Você tem reuniões importantes. Hoje é o dia da grande paralisação então muitos donos de empresas querem falar pessoalmente com você. Eles acreditam que o Pacific Modern Diary consegue controlar a massa trabalhadora com seus discursos inspiradores.
— Capitalistas... — Amara revirou os olhos, subindo novamente as escadas. — Eu sou casada com um, então sei exatamente o que querem me dizer. E o Pacific Modern Diary sempre estará do lado do povo, damos forças à revolução e aos direitos trabalhistas. Eden entrou em contato? Acredito que não estamos muito bem depois da última reunião.
— Não, ela não entrou. — Krishna suspirou. — E diferente do Thomas, eles não parecem tão calmos com a revolução. — A indiana se adiantou a abrir uma porta para que a chefa passasse.
— Krishna, preciso contar algo para você. — Amara deixou os documentos sobre a mesa, mudando completamente o foco do assunto. Encarou o fundo dos olhos escuros e curiosos da amiga. Krishna estava visivelmente no limite, talvez precisasse de férias.
— Por favor, não me mande ter que falar com esses homens no seu lugar. — Suplicou com o olhar. Amara sorriu.
— Não, sua boba. — Amara segurou os pulsos da amiga. — Eu tenho algo para dizer... — Fez uma pausa. — Estou grávida.
Krishna abriu os lábios, mas não proferiu nada. Segundos depois Amara foi puxada para um abraço apertado, enquanto era contagiada pela risada da amiga com pulinhos animados.
— Meus parabéns. Isso é tão maravilhoso, os bebês sempre trazem alegria em momentos... — Krishna pareceu tensa de repente. — Em momentos como esse. — Ela não se deixou abalar, nem mesmo Amara. — Ariana já sabe? Ela ficará tão feliz.
— Eu ainda não tive tempo de falar com ela. Na verdade, ela não sabe de nada que está acontecendo conosco nesse momento. — Amara encolheu os ombros.
— Espero que a Elisa esteja ajudando, ela me ajudou quando eu mais precisei. — Krishna recolheu os papéis da mesa. — Eu tenho que passar na área de redação, hoje é o dia que mais iremos trabalhar.
— Tudo bem.
— E Amara, meus parabéns novamente, você será uma ótima mãe. — Krishna falou antes de sair da sala.
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BIRMINGHAM
Amara ouviu barulho de luta, isso era possível graças ao silêncio quase ensurdecedor da fábrica. Após os apitos, a ordem era de que nenhum trabalhador permanecesse trabalhando e se reunissem em uma enorme greve que mudaria muito os meios de produção. Amara espiou ao redor, alguns carros fabricados estavam distantes, enquanto Thomas batia violentamente em um saco de pancadas.
Em silêncio, Amara contemplou o marido, que até então não se dera conta de que não estava mais sozinho naquele pátio. Usando apenas uma calça, Thomas deixava o tronco nu amostrar, onde músculos bem definidos soavam devido ao esforço. Ele socava o saco como se visualizasse o rosto, aquele era um bom meio de esvaziar a raiva e estresse acumulado. Amara trocou o peso da perna, pigarreando um pouco mais alto do que pretendia. Thomas parou abruptamente, surpreso por vê-la ali. Ela sorriu, se aproximando da grossa corda que improvisava o ringue de luta.
— Quando pensou em montar um ringue no meio da fábrica de carros? — Questionou ela, ligeiramente curiosa e sarcástica. Thomas levou as mãos para a cintura, sentindo o calor o aquecer rapidamente.
— Um pouco antes da greve, quando Aberama Gold me pediu para apostar no filho dele na próxima luta. — Thomas retirou as luvas de box. — Eu tinha que ver como o garoto lutava, por isso pedi para que providenciasse tudo.
— É mesmo? — Amara cruzou os braços. Já tinha ouvido falar em Aberama Gold, mas não imaginava que um dia fosse ver o marido fazer acordo com pessoas que ele mesmo dizia ser selvagens.
— Lutas, eu vejo futuro nisso. — Ele falou. Amara emitiu um leve sorriso nasal.
— Meu marido, sempre investindo no futuro. — Ela deu outro passo até Thomas. — Agora venha até mim, antes que eu vá aí e dê uma surra em você.
— Eu adoraria ver isso acontecer. — Sorriu, malicioso. Amara levou as mãos para as costas.
Em um passo largo, Thomas estava diante da esposa, puxando para passar pelas cordas. Amara emitiu um gritinho, sentindo o suor do marido seu vestido. No entanto, não recusou o beijo salgado e molhado que recebeu dele. Thomas deslizou as mãos até parar em volta da cintura fina.
— Tommy, eu preciso te falar algo, então talvez seja melhor estar sentado. — Ela falou ao se afastar.
Thomas engoliu em seco. Minutos depois, ele estava sentado diante Amara, em seu escritorio, enquanto ela parecia tomar coragem para dizer algo importante. Thomas não apreciava surpresa, principalmente na situação em que se encontrava. O dia havia sido cheio, fazendo o Shelby recorrer a uma luta rápida quando todos os funcionários haviam partido da fábrica. Puxando de dentro do paletó, Thomas acendeu um cigarro, entregando outro para Amara.
— Está nervosa, fume um pouco. — Ele ergueu o olhar para ela novamente.
— Não faz bem para o bebê. — Amara falou com segurança. Merda, não era dessa forma que deveria dar a notícia, pensou ela.
Thomas prendeu o cigarro entre os dentes. Parou de piscar no mesmo instante que sentiu o coração bater mais forte. Tudo parecia parar a sua volta. Amara estalou os dedos, dando passos inquietos até puxar uma cadeira e sentar-se na frente do marido. Ela passou a mão pelo rosto dele, percebendo o estado catatônico do cigano.
— Eu estou grávida, meu amor. — Ela emitiu um leve sorriso.
Thomas se afastou, tirando o cigarro da boca. Um sabor amargo inundou sua boca, naquele instante o cigarro tinha um gosto ruim para o Shelby. Um filho. Desviou o olhar para a barriga de Amara. Era difícil notar qualquer sinal devido ao uso dos vestidos mais soltos. Thomas imaginou como não percebeu antes. Ele ergueu o olhar para o teto. Notava como Amara estava diferente, assim como havia ganhado curvas que ele apreciava ainda mais. Era claro, aqueles eram os sinais de gravidez. Como ele nunca havia se dado conta disso? Tommy fechou os olhos de modo agradecido. A mulher que ele escolheu amar carregava um filho dele novamente.
— Por Deus, Tommy, diga algo! — Amara bateu na mesa. Thomas voltou a encará-la, se aproximando mais.
— Diga ao Michael para tomar conta de tudo no jornal. Não vou deixar minha mulher trabalhar com meu filho aí dentro. — Apontou brevemente para a barriga dela. Amara emitiu um rápido sorriso.
— Eu não estou inválida, Tommy. — Ela disse. Thomas abaixou o rosto, foi quando Amara percebeu que ele tremia. Por Deus, Thomas Shelby nunca tremia, imaginou. — Thomas, você está tremendo.
— É claro. — Ele tentou controlar a voz. — Tem um filho a caminho e estamos no meio de uma maldita guerra. Agora eu tenho mais medo do que antes, Amie. — Thomas ergueu o olhar. O azul estava mais escuro e lacrimejava. — Eu tenho medo por você, pelo nosso bebê...
— Vai dar tudo certo. — Amara segurou a mão do marido. Ele estava suando frio. Unindo as testas, ela deixou que sua voz sedosa invadisse os ouvidos do cigano. — Ficaremos bem, você me disse isso, lembra?
— É tanta morte, Amie. Eu não quero que meu filho cresça no meio disso. — Disse ele. Amara confirmou em silêncio.
— E ele não vai. Nosso filho vai ter uma vida digna e pais maravilhosos que vão estar lá sempre que ele precisar. — Ela sentiu as emoções falarem alto. Thomas se afastou apenas para enxugar uma lágrima que escorria pelo rosto da esposa. — Ele está bem de saúde. A Polly disse que é um menino.
— Um menino? — Thomas sorriu levemente.
— E vai ter seus olhos. — Sussurrou. — Vamos chamá-lo de Anthony e ele vai ser o garotinho mais sapeca e inteligente que a família Shelby já conheceu.
— Um pouquinho da mãe, um pouquinho do pai... — Thomas puxou Amara para perto.
Durante o abraço, Amara pensou o quanto sua vida iria mudar depois daquela notícia. Assim como Thomas, ela também temia pelo que podia acontecer. Tranquilidade era algo que não combinava com os Shelby, mas sobreviver em meio ao inverno sombrio era o lema da família.
— Eu amo você. — Ela sussurrou.
— Eu sei. Eu te amo, Amie. — Thomas sussurrou de volta. — Amo tudo que você me faz sentir. Você é a luz no meu inverno sombrio.
Só quero dizer que vencemos muito, é sobre isso ♥
Capitulo postado dia (27/03/2022), não revisado.
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