𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟕
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TRÊS MESES DEPOIS
Momentos de tranquilidade são sempre seguidos de momentos de grande dor. Amara acreditava que nada estava definitivamente acabado. O corpo de Andrea nunca havia sido encontrado, e por um longo tempo o jornal sofreu ataques diante o desaparecimento repetino de Mancini. Pesadelos terríveis afligiam a mulher, que já não sorria tanto quanto antes ou se sentia em paz após os últimos drásticos acontecimentos. Eram tempos abstrusos para todos os Shelby. Arthur se desligara totalmente da família com a esposa, enquanto esperavam o primeiro filho. John se mudara para uma casa de campo com as crianças e ainda buscava uma nova esposa. Polly e Michael viviam juntos em Londres, ao menos, ela tinha a companhia do filho e da nora, Krishna. Finn queria mostrar que era adulto, então vivia sozinho em Small Heath, enquanto Ada e o filho haviam e mudado para Boston. Thomas estava cada vez mais ocupado na companhia Shelby, e agora, pensava em se envolver com política e desafiar Mosley como deveria. Amara conseguia ver uma enorme fenda se abrindo no meio da família, separando aqueles que ela jamais imaginou ver longe.
Com um suspiro cansado, Amara bebericou o chá de camomila. Zaira agora dava sinais de velhice, o que era estranho, mas ela era uma bruxa, afinal. A Shelby estava em Newport por um único motivo: saber o que seria dela dali em diante. A viagem para o País de Gales surgiu repentinamente na mulher após sonhos lúcidos, que sempre a levavam para fora de casa durante tempestades. Sonambulismo era algo que vinha se tornando constante na vida dela, levando Thomas acreditar que o melhor a se fazer era pedir ajuda para a única pessoa que realmente entendia Amara.
— O tempo não costuma ser generoso com muitos. — Zaira ergueu o olhar. Ver Amara tão abatida era preocupante. — Ele não tem sido com você. — Comentou sem rodeios. — Como tem sido seus últimos dias?
— Trabalhosos. Exaustivos. — Amara respirou fundo. Ela desviou o olhar para as mãos, mas não antes que Zaira notasse a dor instalada neles. Amara parecia atormentada e pouco preservada, dando olhares vazios a pessoas que poderiam facilmente serem destruídas por eles. — Não tenho dormido muito e quando consigo, tenho pesadelos. Alguns são capazes de me arrancar da cama e me levarem para fora de casa. Isso tem preocupado o Tommy, ele também não parece muito bem depois da morte do pai e tudo que aconteceu em Boston, mas sabe disfarçar, algo que eu desaprendi com o tempo.
Zaira abriu os lábios, no entanto, não proferiu nada. As cartas em suas mãos foram embaralhadas com agilidade. Amara estava atenta a cada movimento da cigana. As cartas foram espalhadas sobre a mesa, com um gesto, Zaira pediu para que a mulher mais jovem apontasse para algumas. Amara fechou os olhos e respirou fundo. Quando se sentiu pronta, colocou a ponta do dedo sobre três cartas e esperou pela interpretação de Zaira.
— A roda da fortuna. — Zaira virou a primeira carta. — Interessante.
— O que quer dizer? — Amara se inclinou para frente.
— É uma carta que remete a mudanças drásticas. — Zaira passou o dedo esguio sobre o queixo. — Você planeja algo ou pelo menos tem pensado muito nisso. — Um olhar avaliativo caiu sobre Amara. — No entanto, parece insegura com essa decisão.
— E as outras cartas? — A Shelby quis saber.
— O mundo e a morte. — Zaira disse. — São cartas interessantes, viajante.
— Não quero mais mortes. — Amara murmurou. Uma sensação de vazio percorreu seu corpo.
— A carta da morte não significa literalmente a morte, ela fala sobre transformação. — Zaira suspirou. — E a carta do mundo remete a uma nova etapa. Um recomeço. — Os olhos verdes da mais velha brilharam. Amara engoliu em seco. — Você planeja algo, mas tem medo do que pode acontecer. Eu sei como é se sentir assim. Você sente dor, mas não é algo que simplesmente pode desaparecer. Sua família deve se preparar para o que virá, não será fácil. Perdas podem acontecer se decisões erradas forem tomadas.
— Eu sinto duas coisas... — Amara deixou a xícara sobre a mesa. — Uma é muito ruim e a outra é muito boa, mas não sei explicar exatamente o que são. Talvez os últimos acontecimentos tenham me deixado pessimista, mas sendo uma Shelby, eu sempre espero que os problemas cheguem uma hora ou outra. Porém minha outra parte, a Flynn, ainda é confiante e é nela que me agarro sempre que posso.
Zaira apanhou a xícara que antes a viajante bebera o chá. Amara franziu o cenho com o olhar da mulher, não sabendo decifrar se era algo bom ou ruim.
— Vê algo? — Amara perguntou.
— É difícil ler sua sorte ou o que vai acontecer no futuro, você está sempre em constantes mudanças. Por isso é melhor ser cuidadosa com o que pretende fazer daqui em diante. — Zaira largou a xícara. — Seu futuro depende só de você.
— Eu sei, e isso é o que me preocupa. — Havia uma nota de humor nas palavras da Shelby. Zaira limpou a garganta.
— Se você sabe o que fazer, então faça. Contudo, tenha cuidado, muito cuidado com suas escolhas. — Alertou.
Amara jamais se acostumaria com as palavras de Zaira. A mulher era um completo mistério até quando queria dizer algo. No entanto, Amie sabia que o que tinha em mente era algo arriscado de se fazer, mas também poderia ser uma solução para os problemas que possivelmente a atingiriam.
— Estamos perto do Natal. — Zaira a despertou. — Vá para casa, seu marido precisará de você.
Amara acenou lentamente. Do lado de fora, viu o tempo nebuloso. Aquele Natal seria diferente, mas ao menos estaria em família. Com um olhar pesado, encarou a mulher que saía da caravana.
— Feliz Natal, Vó. — Amara desejou.
Deu passos para fora do acampamento, sumindo da vista de Zaira segundos depois.
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COMPANHIA SHELBY, LONDRES
O céu escuro e carregado de nuvens pesadas dava sinais de que não só uma grande tempestade estava chegando, mas como provavelmente nevaria. O vidro da janela foi embaçado com a respiração pesada do Shelby. Thomas gostaria de sentir um pouco da energia natalina que parecia ter contagiado os funcionários, mas era nítido que naquele ano algumas coisas seriam diferentes, principalmente para a família Shelby. Se afastou da janela imerso em pensamentos, não conseguindo retirar a esposa da cabeça. A viagem ao País de Gales o incomodava, principalmente quando ele não podia acompanhá-la até lá.
Com duas batidas na porta, Thomas se sentou em uma cadeira e esperou que Lizzie colocasse a pilha de documentos diante seus olhos. O riso amigável que recebeu da mulher não desfez a linha dura que pairava em seus lábios. Naquele momento, ele não tinha um humor muito tolerável.
— Esses são os últimos documentos que deve assinar, senhor Shelby. — Lizzie disse.
— Você comprou o que pedi? — Thomas puxou um papel, mas a atenção estava na secretaria.
Lizzie acenou.
— Sim. — Ela respondeu. — Aposto que sua esposa vai adorar o colar que mandou fazer. A joia vai ser embalada e enviada diretamente para a sua residência. — Falou. — Também cuidei dos presentes dos seus sobrinhos e dos presentes para as crianças da Instituição Shelby.
— E o que estou dando para eles esse ano?
— Bonecas, carrinhos, cavalos de madeira. — Lizzie citou sem muita emoção. — Tudo que criança gosta. Elas irão ficar felizes.
— Algo mais que devo saber? — Thomas desviou o olhar para os papéis.
— Sim. Problemas com o sindicato. — Lizzie puxou um documento, apontando diretamente para uma linha. Thomas franziu o cenho ao ler o nome onde a mulher insistia em apontar.
— Problemas com Jessie Eden. Eu já esperava. — Thomas gesticulou. — Se é só isso, você já pode ir. Tenha um bom Natal, Lizzie.
— Ah, Tom. — Lizzie usou um termo direito para chamá-lo. Thomas a encarou. — Recebi cartões de Natal do John, Arthur e Polly. Soube também que a Ada está vindo de Boston para passar o Natal e ano novo em Birmingham.
— Eu dei folga para ela passar os feriados com a família. — Respondeu de modo seco.
— Então vai passar o natal com sua família? Vão para Small Heath? — Com uma sobrancelha erguida, Lizzie esperou uma resposta de Thomas.
— Sim, irei passar com minha família e não, eu não pretendo ir para lá. — Thomas assinou um documento. — Algo mais?
— Não. Tenha um Feliz Natal. — Lizzie deu um passo para trás.
— Lizzie, espere! — Disse alto. — Tenho um presente para você. — A voz de Thomas fez com que a secretária olhasse por cima do ombro. O homem tinha a mão erguida no ar, os dedos estavam em volta de um pequeno bolo de dinheiro.
— Dinheiro? — Ela caminhou de volta à mesa.
— O suficiente para ter um Natal decente com suas amigas. — Thomas deixou as notas sobre a mão da mulher. Lizzie esperou por um convite para poder passar o natal com os Shelby, mas não veio. Talvez estivesse esperando muito por parte do chefe. Após seu casamento com Amara, todas suas relações haviam sido cortadas, até as mais amigáveis.
— Obrigado, Tom. — Ela agradeceu, saindo em seguida sem qualquer emoção.
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ARROW HOUSE, WARWICKSHIRE
Thomas atravessou as portas da mansão sendo recebido por Anúbis. Com uma pequena bola redonda trazida pelo próprio cachorro, Thomas a arremessou para longe. Chamou por Amara, mas foi recebido por Mary e seu clássico tom de voz.
— A senhora Shelby ainda não chegou, senhor. — Disse ela. Thomas acenou em silêncio, abrindo caminho até o escritório.
A maleta que carregava foi deixada acima da mesa. Thomas se virou, notando que Mary havia o seguido.
— Desculpe incomodá-lo, mas o chefe gostaria de saber o que deve ser preparado para a noite de Natal. — Mary se aproximou de Thomas. — E quantas pessoas virão esse ano. Ele é novo e ainda está se acostumando com tudo.
— Todos os Shelby, incluindo todas as crianças de John, então esconda os vasos caros e troque todas as cortinas caras por outras. — Thomas abriu um botão do paletó. — Diga ao chefe que quero um veado cortado em bifes, peru e gansos. Além de sobremesas, isso inclui a torta de banana preferida da Amara, tente seguir ao máximo a receita que ela passou. Suponho que a senhora Shelby já deva ter acrescentado algo mais para a ceia.
— Me perdoe por ser intrometida, senhor, mas a senhora Shelby ainda não me passou nenhuma lista para o Natal deste ano. Eu estou preocupada, ela é sempre tão adiantada com tudo...
— Amara anda com a cabeça ocupada com as obrigações do jornal e os outros negócios, mas nada com o que deva se preocupar. — Thomas se virou e caminhou até a janela. Já era noite e a lua não brilhava tanto graças às nuvens pesadas em volta dela. — Para beber vamos querer o de sempre: uísque, brandy e vinho da adega, só os melhores que tivermos. É só isso, por enquanto.
— Sim, senhor.
Mary se retirou após um rápido aceno. Thomas retirou os óculos que usava, jogando-os para cima da mesa. Seus olhos estavam cansados e sua cabeça estava latejando. Uma claridade fez com que o homem arrumasse a postura novamente. Amara havia chegado da viagem. Em passos largos ele se adiantou até a sala, abrindo um leve sorriso ao se deparar com a esposa sendo recebida por lambidas de Anúbis. Ela se afastou do cão, segurando nas mãos a bolinha do cachorro.
— Já disse para não jogar essa bola em casa, Tommy. — Ela falou ao dar passos até ele. — A última vez você conseguiu fazer com que o Anúbis quebrasse um dos meus jarros caríssimos.
— E eu compensei dando outros três para você. — Thomas falou. Amara revirou os olhos ao derrubar a bolinha no chão. Anúbis foi rápido em prendê-la na boca e correr novamente pelo corredor longo.
Próximo o suficiente, ela o beijou calorosamente. Precisava do toque do marido. Estar longe dele, mesmo que fosse apenas por um dia, era como viver uma década dentro de um buraco escuro. Amara não sabia quando exatamente passou a se sentir assim, mas sabia que o mesmo ocorria com Thomas. Eram raros os dias que ele não procurava o calor dela por baixo dos lençóis, mesmo quando chegava tarde do trabalho a acordando só para poder amá-la até que os corpos não aguentassem mais.
Ela voltou a encará-lo. Thomas tinha detalhes que Amara jamais se cansaria de apreciar. Olhos azuis brilhantes e intensos como o mar, onde cílios grossos e escuros chegavam a fazer sombra. O cabelo escuro era sempre bem raspado nas laterais, no entanto, agora, uma mecha comprida e lisa insistia cair sobre a testa dele, ela adorava arrumá-la. Thomas tinha o rosto marcado fortemente pelas mandíbulas e lábios carnudos bem desenhados, que eram um convite para Amara sempre o beijar.
— Preciso de um banho. — Ela murmurou, animando levemente o marido.
— Eu também. — Disse ele, antes de puxá-la para as escadas.
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O volume dos dois corpos na banheira fazia com que a água caísse nas laterais. Thomas estava logo atrás de Amara, massageando os ombros lisos e tensos da mulher. Ela, por sua vez, estava em silêncio, absorvendo cada vez mais o toque do marido enquanto a mente vagava pela viagem. Ir para Gales era exaustivo, mas nada perto dos problemas que encontrava ao pôr os pés em Londres ou quando precisava resolver todas as questões na América. Ser uma mulher de negócios era estressante.
— Quer me dizer algo? — Thomas trocou as mãos pelos lábios. Amara gemeu de modo baixo. Fechou os olhos e deixou que os lábios do marido a guiasse para o caminho da tranquilidade e prazer. — Eu sou o marido que ouve a esposa depois de um dia cheio.
— Você é bom marido. — Ela virou o rosto para Thomas, a primeira coisa que notou foi a cicatriz do tiro que ele levou há três meses. Então ergueu o olhar para o dele. — Eu amo você, Tommy, e queria saber até onde você é capaz de ir comigo?
— Que tipo de pergunta é essa? — Questionou com um semblante contraído. Amara suspirou. O movimento feito por ela na banheira derramou mais água.
— Só me responda. — Insistiu.
— Para onde você quiser. — Ele segurou o rosto dela. Os olhos verdes estavam escuros, de uma forma que Thomas quase desconhecia. — Amara, você é a mulher que eu escolhi amar e isso vem de muito tempo, antes de nós nos conhecemos pessoalmente. Você sabe.
— Um amor que transcende o tempo. — Ela sorriu, sentindo um calor evoluir do estômago para todo o corpo. — Acho que tudo que vivemos daria uma boa história. Um livro, talvez.
— Talvez possa escrever uma, você é uma boa escritora.
— A parte ruim das histórias é que elas têm finais e eu não quero que a nossa chegue ao fim. — Amara se inclinou para frente. Deixou um beijo rápido dos lábios de Thomas. — Nunca.
— Na vida, cada final é um novo começo. — Ele ergueu rapidamente as sobrancelhas. A puxou pela cintura, fazendo que a esposa se sentasse em seu colo.
Amara mordeu os lábios sem respondê-lo. Deixou que o olhar de Thomas a banhasse com desejo, enquanto o pênis dele entrava nela vagarosamente. Um ruído baixo foi emitido pela mulher, fechando os olhos para poder senti-lo com mais prazer. Thomas apertou a cintura fina, arfando quando finalmente sentiu o membro chegar ao fundo dela. Amara era apertada, e os gemidos que soltava cada vez que montava nele, fazia com que todas as partes do Shelby fervilhassem de prazer.
Como pode uma mulher ser tão devassa? Thomas se questionava agradecido.
— Eu gosto quando faz assim... — Ele falou quando Amara começou a se movimentar lentamente. — Gosto de senti-la até o fim.
— Hum... — Ela emitiu um rápido murmúrio. — É mesmo? — As mãos finas subiram para o pescoço do Shelby. — Eu gosto quando faz essa cara. Está delirando, mas não acabe agora.
— Isso é uma ordem.
Então uma mão alcançou um seio firme e levemente maior. Thomas podia sentir e notar como o corpo de Amara dava sinais diferentes, em algumas semanas ela parecia ter ganhado curvas mais acentuadas, mesmo que não fizesse nenhum tipo de atividade física. Ela soltou um gemido quando os lábios do marido chuparam os mamilos sensíveis. As mãos deles agora agiram depressa em volta das curvas dela, fazendo com que os movimentos se tornassem mais fortes e mais água fosse jogada para fora da banheira.
Amara sorriu ciente de todo o poder que tinha sobre o marido. Nunca imaginou que um dia fosse ter Thomas Shelby somente para ela e vivendo por ela. Esse fato fez com que tudo mudasse na vida deles, fazendo com ambos morressem um pelo outro. Então era isso que era o amor, sim?
Thomas apertou Amara contra o corpo. O clitóris raspava no pau com carícias provocantes. Gradualmente o orgasmo crescia no interior da mulher, o mesmo acontecia com Thomas. Agora se encontravam molhados de suor mesmo que metade dos corpos estivessem submersos na água. Com um abraço apoiado na borda da banheira, Amara arqueou o corpo sentindo o interior tremer em uma sensação íntima e prazerosa. Thomas saboreou a pele da esposa, afundando o rosto no espaço do pescoço. Sentiu os orgasmos chega-lhe também, atravessando o corpo interior como uma lança pontiaguda.
Aliviados, ambos se encaravam na banheira, sabendo que teriam que tomar outro banho, dessa vez, no chuveiro.
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PACIFIC MODERN DIARY, LONDRES
Sonolenta, era assim que Amara se sentia. Os olhos pesados quase se fecharam antes que a porta se abrisse. A jornalista limpou a garganta, arrumando a postura na sala de reuniões. A noite anterior havia exigido dela, e pela manhã se sentia melhor, no entanto, ao decorrer do dia, o sono a atingia lentamente. Michael atravessou a porta com um riso no rosto, colocando papéis à frente da superior.
— Ela está aqui. — Ele falou. — Krishna está tentando controlá-la na recepção. — Alertou. Amara piscou algumas vezes. Confusa.
— Ela quem? — Perguntou.
— Jessie Eden. — Michael a encarou profundamente. — Amara, ela está insatisfeita com algumas questões nas fábricas Shelby 's. Eu até tentei resolver, mas ela não quis dar muita atenção.
— Diga que estou esperando por ela. — Disse Amara. Passou uma mão pelo cabelo, se preocupando ligeiramente com a aparência.
Encarou o espelho redondo no fim da sala. Seus cabelos escuros estavam bem alinhados em ondas grossas, beirando a altura do ombro, soltos da forma que ela gostava. O blazer cor de creme que usava por cima de uma blusa preta de cetim estava bem alinhado em seu corpo, mas talvez a calça estivesse um pouco apertada nas coxas e marcando muito a cintura, insinuando muito mais suas curvas. Contudo, ela estava bem apresentada para qualquer reunião de última hora.
Michael saiu depressa da sala. Amara se levantou da cadeira, estava prestes a acender um cigarro quando sentiu uma azia. Talvez não fosse um momento adequado para fumar. Pela janela de vidro, viu Eden se aproximar da porta. Amara sorriu para a mulher que deveria chamar de amiga. Jessie possuía um olhar desafiador, até para a Shelby. A jovem revolucionária retirou o chapéu da cabeça e estendeu a mão para a outra.
— Olá, Amara, ou devo chamá-la de Sra. Shelby? — Perguntou. Amara sorriu de lado, apertando a mão da mulher.
— Ainda sou a mesma Amara que conheceu há alguns anos. — Disse ao indicar uma cadeira. Jessie se acomodou no mesmo instante que Amara. — Sei que está insatisfeita com...
— As inúmeras fábricas que seu marido, o Sr. Shelby, possui? Sim, estou. — Falou de modo direto. — Em algumas, as pessoas recebem o salário digno das horas trabalhadas, enquanto nas demais...
— Essa é uma questão que está sendo debatida com o senhor Shelby. — Amara a interrompeu. — Não concordo tanto quanto você, mas o Thomas acredita que em serviços diferentes, os salários também devem ser. Os negócios do meu marido são...
— Eu não sei que tipo de negócios seu marido faz. — Ela interrompeu mais uma vez. — Mas sei que não deve ser algo bom, não ao ponto dele colocar todas as fábricas que tem em outros nomes. Como Arrow House Holdings e a Vans Manchester que fabrica carros em nome da Tilting Company Limited. Não podemos nos esquecer da fábrica de ferramentas em Hay Mills e Grett em nome de Stechford Engenharia ou a Fundição e Prensagem Bilstone em nome da Calnalside, além de armazéns na rua Gas... — Jessie citou facilmente. — E tem também o condomínio inteiro que ele comprou no mês passado.
— Nossa. — Amara piscou. — Você tem feito o dever de casa direitinho. — Jessie ergueu uma sobrancelha. — Acabei de entender tudo. Seu problema não é com o salário que ele paga para as pessoas, mas com o Thomas. Errou de escritório nesse caso.
— O motivo de eu estar aqui é saber que você é uma pessoa mais aberta e maleável que ele! — Jessie sou exasperada. — Thomas Shelby é durão e ameaça com poucas palavras.
— Thomas é um homem de negócios, ele não precisa ameaçar se não for ameaçado. — Amara aumentou o tom de voz. — Eu sei como age, Jessie, sei que pode fazer uma manifestação e uma enorme paralisação, e isso seria ruim para todos.
— O que está querendo dizer?
— Você sabe que o Thomas tem poder, muito. Mas estamos na véspera de Natal e uma implicação do seu sindicato contra ele nesse momento será drástico para todas as partes. — Amara se inclinou para frente. — Imagine quantas famílias deixariam de ter o que comer por sua causa?
— Você se deixou levar pelo sistema. — Jessie parecia frustrada. — Não conheço mais a Amara a quem fui apresentado tempos atrás. Perdeu todas suas ideologias?
— Não, eu só aprendi a caminhar com outros pés. Jessie, eu falarei com o Thomas sobre essas questões. — Amara se levantou da cadeira. — Como sei que meu marido é orgulhoso e teimoso, eu proponho um acordo. — Jessie pareceu interessada. — Não permitirei que ninguém receba menos em nenhuma das mil fábricas que a família possui. A companhia Shelby também não permitirá nenhum tipo de desigualdade entre sexos, algo que já conseguimos em metade das fábricas.
— E em troca?
— Paz. — Amara exibiu um sorriso cordial. — E seu sindicato fora do nosso caminho. Além disso, Thomas pensa em entrar para a política, algo que ainda consegui tirar da cabeça dele, e talvez, você possa ser útil.
— Thomas Shelby, um parlamentar? — Jessie evitou sorrir. Só podia ser piada.
— As coisas vão se tornar difíceis daqui para frente, Eden. — Amara havia mudado o tom de voz. Ela se apoiou na mesa e estreitou o olhar. — E apesar de tudo, Thomas pensa em fazer mudanças, mesmo que pequenas. — Ela se aproximou de Jessie. — Gosto das suas ideologias e apoio suas causas, mas destruir o sistema é impossível. Se não pode contra o inimigo, alie-se a ele.
— Exatamente como você fez. — Jessie se sentiu enjoada. Levantou-se da cadeira. — Eu não irei me aliar a seu marido. Está fazendo propostas erradas ao sindicato.
— Todos precisamos fazer sacrifícios, Jess. — Disse Amara, recuperando a postura. — Seja pelo bem da boa e velha causa ou por nós mesmos. Então, Eden, pense sobre o assunto e me procure em alguns dias. Como você sabe, eu sou mais maleável, mas não menos inteligente que Thomas Shelby. Acho que por hoje é só.
Jessie não emitiu qualquer palavra. Com o chapéu em mãos, ela saiu da sala de reuniões em passos pesados e largos. Amara voltou para a cadeira, sentando-se quando sentiu as pernas fraquejarem. Jessie Eden era uma pedra no caminho e não seria tão fácil chutá-la para longe, assim como se aliar a ela, não seria ruim.
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ARROW HOUSE, WARWICKSHIRE
Antes que alcançasse os degraus que o levariam para dentro de casa, Thomas teve o casaco puxado por Anúbis. Ver o cão tão inquieto despertou curiosidade no Shelby, mas não partiu atrás do animal antes que pegasse uma submetralhadora e munição. Anúbis latiu alto, guiando o dono para o campo seco graças a época fria em que se encontrava. A terra escura contrastava com o céu branco que se perdia no horizonte. O vento frio fazia com que o cabelo e casaco do homem fosse jogado para trás. Thomas parou abruptamente ao se deparar com algo fincado no meio daquele campo deserto.
— Fica aqui. — Falou para o cão.
Thomas atravessou uma pequena porteira, checando a cada segundo se o cão realmente o havia obedecido. Anúbis continuava sentado, no entanto, inquieto. O animal não era o único, já que o cigano sentia o mesmo cada vez que se aproximava do espantalho. Vestindo roupas sociais, o Shelby se questionou quem teria tanto humor ácido para fazer aquilo. Uma carta estava presa no colete do boneco. Com pressa, ele a abriu.
Olhe para trás e veja o que não destruiu. Na terra em que pisa existem as sementes do que plantou. — Mancini.
O papel se tornou uma bola pequena e amassada. Thomas sentiu um estranho sabor amargo na boca e estudou o terreno ao redor cuidadosamente. Aquilo era mais que uma charada, era um aviso, uma ameaça de morte. Thomas prendeu a respiração, quando desviou o olhar para alguns metros ao lado, onde um pequeno explosivo esperava para ser detonado assim que pisado. Estava agora em um campo minado e as horas que passavam no relógio de Thomas poderiam ser as últimas que ele teria.
Com cautela, deu um passo para frente. Na guerra, aprendeu a andar sobre pólvoras e cadáveres, não seria diferente naquele instante. Mesmo longe, ouviu Anúbis latir. A ordem em Rokka não foi o suficiente para o cão obedecer, o instinto animal pedia para proteger o dono. Porém, qualquer passo em falso tudo iria pelos ares. Enxergou bombas que antes não havia visto, e que por muita sorte, passou por cima sem acioná-las. Ainda havia alguns metros até que o cão o alcançasse. Thomas engoliu em seco, girando com a arma, pensando em uma solução.
Ninguém iria morrer, nem mesmo ele. Thomas abriu fogo contra o boneco, sentindo a arma dar socos violentos contra o ombro que ainda doía depois dos últimos acontecimentos. Thomas daria essa mesma sensação a quem fez aquilo quando tivesse a chance. Sua mente gritava o nome de Mancini, então seria o italiano que agonizaria até a morte. A munição acabou, fazendo com que o Shelby trocasse rapidamente. Arrumou a arma no braço e apontou para o chão à medida que se afastava. A explosão foi contínua, e em poucos segundos o enorme boneco estava em chamas. O próximo a ficar naquele estado seria Andrea Mancini.
— Vem! — Gritou para Anúbis, que com as explosões, se encolhera no meio do caminho.
Thomas cruzou a porta da mansão, ofegante. No escritório andou de um lado para o outro inquieto. O autor daquela explosão estava perto. Depois dos acontecimentos em Boston, Thomas deixará de confiar ainda mais em empregados. Em voz alta, chamou por Mary, que em questão de segundos, compareceu ao escritório.
— Posso ajudá-lo, senhor? — Perguntou. Ela estava assustada pelas explosões que ouvira. Thomas se virou para mulher. Mary era ainda mais velha que Polly. A governanta de confiança dos Shelby.
— Disse que o chefe era novo? — Thomas encurtou o passo até ela. Mary acenou. — Quando ele começou?
— No fim de outubro, senhor.
Thomas mordeu o canto interno da boca. Sentia o suor gelado escorrer por dentro da camisa.
— No fim de outubro. — Murmurou. — De onde ele é?
— Suponho que seja italiano, embora esconda bem qualquer sotaque. — Ela disse. — Até agora é o melhor chefe que já tivemos em casa. O único problema... — Mary fez uma pausa quando Thomas se aproximou mais.
— Que problema?
— Não com o chefe, ele tem boas referências, ele se chama Bertorelli. — Mary manteve a voz firme. — No entanto, o assistente não é tão bom na cozinha.
— Que assistente? — Thomas recuou um passo.
— O homem que ele trouxe recentemente, se apresentou como subchefe.
Thomas passou a mão pelo rosto antes de dispensar Mary com um aceno. Novamente sozinho, voltou para a mesa, puxando do fundo da gaveta as fichas dos funcionários. Uma mansão como a que vivia exigia uma gama alta de empregados, na maioria das vezes, Amara ficava encarregada disso, já em outras, cabia a Mary. Uma ficha escorregou de dentro de um envelope. O Shelby a leu rapidamente, levando-o a acreditar que Mancini estava mais próximo do que pensavam.
Segundos se passaram. Thomas sabia que ainda tinha algumas horas sozinho em casa antes que a esposa chegasse. Cruzou o corredor que levaria para a cozinha. À medida que descia a escadaria, percebia como o ambiente ficava mais escuro. Aquela era a segunda cozinha da mansão, uma área pouco acessada pelos Shelby e mais pelos funcionários. Três homens estavam ocupados com temperos e pareceram surpresos ao notar a presença de Thomas ali.
— Senhor Shelby, estamos preparando as carnes para a ceia de Natal. — Um deles disse. Thomas se aproximou, estudando-o em silêncio.
— Qual seu nome? — Perguntou ao levar as mãos para trás.
— Max, senhor. — Disse o homem, nervoso. Thomas acenou lentamente, passando para o próximo.
O homem que cortava batatas fumava um cigarro e não parecia ter tanta prática com a faca quanto os outros dois assistentes. Quando notou a presença autoritária do chefe, o homem levantou-se de onde estava, enxugando ligeiramente as mãos no avental limpo.
— Senhor Shelby, sinto muito por fumar aqui dentro. — Desculpou-se.
— Contanto que não caia nada na comida. — Thomas ergueu o queixo. — Você é novo? Ainda não tive tempo para me apresentar, creio que nem minha esposa.
— De fato. — O homem puxou os lábios em um sorriso por baixo do bigode grosso. — Me chamo Antônio.
— Antônio. — Thomas engoliu em seco. — O que fez de tão errado para estar cortando batatas?
— O que quer dizer?
— Você é um subchefe, deveria estar ajudando o chefe. — Thomas gesticulou.
— É só uma emergência, ficamos sabendo que vem muita gente para o Natal. — Explicou. Thomas acenou.
— Entendo. — Thomas deu uma última olhada no balde de batatas. — Pode continuar.
Atravessando uma porta, a escuridão acolheu o Shelby ainda mais. O odor de sangue era forte e isso acontecia devido os animais abatidos e pendurados por ganchos afiados. O chefe estava distraído, mas com um pigarreio, o homem ergueu o olhar para Thomas.
— Como está tudo? — Thomas perguntou.
— Eu estou preocupado com amanhã, é noite de Natal. — Disse Bertorelli. Thomas deu um passo até ele.
— É, eu também estou preocupado com muita coisa. — Thomas apontou rapidamente para a porta. — O Antônio me preocupa. Ele chegou há dois meses, não nos conhecemos. É culpa minha, tenho andado ocupado. Nem nos conhecemos também.
— Não há com o que se preocupar, senhor. — Bertorelli sorriu. Thomas deu outro passo até ele, erguendo a mão.
— Sou Thomas Shelby. — Se apresentou.
— Tem sangue nas minhas mãos, senhor. — O homem encarou as próprias mãos sujas. Thomas sorriu de lado.
— Nas minhas também!
Um aperto de mão cauteloso foi trocado entre os homens. Contudo, Thomas foi rápido em empurrar o chefe para a parede. O tom de voz saiu baixo e áspero.
— Eu tenho teorias sobre o Antônio, sabe? Antes de descer aqui, eu li a ficha dele e cheguei à drástica conclusão de que ele é um espião de Mancini. — Disse entredentes.
— E-eu não sei de quem está falando...
— Não? — Thomas apertou a mão em volta do pescoço do homem. — Talvez o seu assistente saiba quem é.
— Eu não faço ideia, senhor... — O homem agonizou com o toque frio em volta do pescoço. Thomas agia como uma cobra, apertando-o cada vez mais.
— Esse seu assistente deve ter vindo de Boston e você facilitou colocando-o dentro da minha casa. — Falou. — Ouviu as explosões? — Bertorelli negou. Thomas passo a língua pelos lábios ressecados. — Foram as bombas que seu ajudante provavelmente colocou para me matar. Ele é um assassino.
— Eu não faço ideia, senhor. — Thomas reparou nas maçãs vermelhas do homem. — Só me disseram para trazê-lo para cá ou matariam minha família.
— Chame-o! — Thomas disse ao soltá-lo.
Thomas suspirou, exaurido. Puxou um gancho do alto antes de caminhar para trás da porta. Com um aceno, esperou que o chefe chamasse Antônio em italiano. Ouviu os passos cautelosos serem dados em direção ao cômodo. Thomas se preparou para o ataque, girando o gancho ao ponto que entrasse no ombro do homem e não saísse tão facilmente. Um grito doloroso escapou da boca de Antônio, que foi arrastado e arremessado até uma mesa.
— Você é o espião que Mancini mandou? — Thomas gritou, imobilizando o homem contra a mesa de cortes. — Quantos de vocês ele mandou?
— Era para você ter morrido. — Antônio sorriu em meio a dor. Thomas puxou a arma de dentro do colete, retirando a trava. — Era para ter explodido no campo, e então a sua esposa seria o próximo alvo, mas eu tinha algo mais criativo para ela.
— Você não me respondeu! — Thomas gritou.
— Não há como vencer ele. — Antônio sorriu alto.
A raiva se apossou do cigano, e antes que se desse conta de qualquer coisa, Thomas apertou o gatilho contra a cabeça do italiano. O sangue espirrou quente sobre ele, assim como pedaço de coisas indescritíveis. Levou um tempo para que o Shelby voltasse a respirar, estava atônito pelo que acabara de fazer. Thomas voltou para Bertorelle, encolhido em um canto.
— Você foi jogado no meio de uma guerra. — Thomas abaixou a arma. O sangue escorria quente em sua face e molhava a camisa. — Na família Shelby ou você mata, ou morre!
— Senhor...
— Vá para Londres, tire sua família da cidade e não volte nunca mais. Caso contrário, você será o próximo que irá morrer pelas minhas mãos.
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HORAS DEPOIS
A claridade vinda da janela quase ofuscou a visão do Shelby. Thomas apressou os passos para pegar uma arma da gaveta da mesa e receber quem quer que fosse. Jonny já havia retirado o corpo de Antônio, e os empregados ganhado subornos para que não comentasse o que havia ocorrido há algumas horas. Thomas guardou a arma novamente quando percebeu quem chegava. Ouviu passos de saltos serem dados e Anúbis latir. Segundos depois a porta do escritório se abriu, mas não foi Amara que atravessou por ela.
— Ada. — Thomas suspirou, mas não menos tranquilizado.
— Nunca vi um homem tão triste em me receber. — Ela falou, decepcionada. Thomas se virou para a mesa, servindo rapidamente dois copos com uísque.
— Beba comigo. — Ele empurrou um copo nas mãos dela. Ada revirou os olhos.
— Olá, querida irmã, que bom vê-la após longos meses. Chegou cedo, o Natal é só amanhã. — Fez uma péssima interpretação do irmão. Thomas deu passos largos até ela, puxando-a para um rápido abraço e sem jeito. — Por Deus, Tommy, seu coração está disparado, o que aconteceu?
— Eu matei um homem. — Thomas se afastou. Bebeu um gole do uísque na tentativa de se acalmar.
— Se Thomas Shelby não matar um homem de vez em quando, esquece quem é de verdade. — Soou irônica. Thomas não sorriu, o que preocupou Ada. — Tommy, o que aconteceu?
— Mancini aconteceu! Ele está por aí, planejando ataques. Ele nunca morreu, como sempre desconfiamos. — Elevou o tom de voz. Ada engoliu em seco, abandonando o copo com bebida sobre uma pequena mesa. — Precisamos ficar juntos, por esse motivo, vamos voltar para Small Heath!
Thomas abaixou o olhar quando Ada o estudou mais de perto.
— Meu Deus! Thomas, você está com medo. — Ada parecia perplexa, mas além da voz dela, outra entrou logo atrás.
— E ele não é o único!
Era Amara, com um semblante assombrado após ouvir as palavras ditas por Thomas de forma assustadora. Era realmente verdade quando diziam que momentos de tranquilidade são sempre seguidos de momentos de grande dor.
Oie gente, espero que estejam gostando, tem muita treta ainda para acontecer rs pq a autora aqui só trabalha com caos.
Vim da um aviso: Fiz uma comunidade no twitter para os leitores de Dobra no Tempo, lá podemos está conversando, trocando ideias, vou está postando spoilers, edits, manips, avisos etc. O link está no em aviso no meu mural ou podem procurar indo no fim do fixado do meu perfil no tt: istreff1
Capitulo postado dia (13/03/2022), não revisado.
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