𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟒
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Os dias pareciam ter se tornado pequenos dentes-de-leão, e voados como se tivessem sido tocados por uma intensa ventania. Thomas foi claro em dizer que ninguém deveria saber daquela viagem, mas não pôde esconder da própria família. Amara teve uma longa despedida de Anúbis, prometendo que logo estaria em casa. O cachorro ficaria bem na companhia Mary e os demais empregados. Saíram cedo da mansão em direção ao aeroporto, onde um avião os esperava rumo a Boston. Thomas não confiava naquelas máquinas, mas sabia como a esposa não reagia bem em navios e zelar pelo bem-estar dela era sua prioridade. Além disso, Amara o garantira que aviões eram tão seguros quanto os carros, e logo se tornariam o meio mais prático de irem para um país a outro.
O voo durou algumas horas antes de pousarem em solo americano. Amara se questionou se teria oportunidade de ficar com Ariana, que voltara para os Estados Unidos alguns dias atrás. Decerto, tentaria isso, mas teria que se lembrar que estava indo para outro lugar para se manter em segurança e isso envolvia a segurança daqueles que ela amava. Nem de longe aquela viagem significasse férias, mesmo que sentisse que merecesse isso. Um carro os esperava no aeroporto, levando-os diretamente para o palacete que pertenceu a Richard enquanto vivo. Apenas alguns empregados haviam sido contratados para atender os Shelby 's durante a estadia em Boston — somente aqueles que eram da máxima confiança deles ou que já trabalhavam a mais tempo para o falecido Abbott.
Respirar aquele ar era estranho para Thomas. Boston era menos poluída que Birmingham, mas a agitação era quase igual. Para o gângster cigano era como está em outra realidade — uma bem distante da que pretendia. Sentiu um aperto na mão, lembrando-o de que não estava sozinho ali. Pela janela do carro, Thomas deixou-se impressionar pela gama de cores local. É outono, e isso faz com que os parques da cidade fiquem mais bonitos e chamativos. O amarelo e o marrom tomam conta de muitas ruas, mas o vermelho e laranja ainda é a cor predominante nas principais avenidas. Era um espetáculo agradável de se presenciar, Thomas tinha que admitir. Ao lado, Amara relaxou o rosto do ombro do marido, enquanto via o caminho para o palacete ser feito.
— Quanto tempo acha que vai demorar para as pessoas saberem que não estamos mais em Warwickshire? — Amara ergueu o olhar para Thomas.
— Espero que demore bastante. — Falou ele, ainda encarando o lado de fora do carro.
Thomas deixara John e Polly no controle da companhia Shelby, e Arthur na fábrica de carros. Amara estava confiante que Krishna e Michael dariam conta do jornal em Londres. Longe dos negócios, ambos se sentiam um pouco mais livres, mas não o suficiente para esquecerem o que de fato estavam fazendo ali.
— Isso poderia ser nossas férias. — Amara suspirou, entediada.
— Não precisa trabalhar enquanto estiver aqui. — Thomas a encarou. A esposa estava encolhida ao seu lado, quase como uma criança que pedia colo, por isso ele a abraçou. — Será que pode me prometer uma coisa?
— Não vou abrir a porta para estranhos, papi. — Ela disse ironicamente. Thomas emitiu um breve sorriso.
— E nem se arriscara. — Acrescentou. — Não é porque estamos supostamente longe do perigo que devemos confiar nas pessoas.
— Isso me pareceu pessoal. — Amara se afastou. — Quer acrescentar algo mais?
— Se for sair, avise aos guardas e vá sempre acompanhada de alguma empregada.
— Por Deus, Thomas. — Amara bufou. Encarou a paisagem do outro lado. — Não pode me privar do mundo. Pretende me manter presa no sótão da casa enquanto faz suas investigações? — Ergueu uma sobrancelha ao encará-lo novamente.
Thomas uniu os lábios em uma linha e acenou.
— Não é uma má ideia. — Respondeu com um leve divertimento nas palavras.
Amara emitiu um breve ruído de desaforo, mas logo sorriu.
— Você até que fica charmoso quando está sendo cuidadoso, mesmo que seja de uma maneira exagerada. — Ela deu um rápido beijo nos lábios dele. — E pela última vez, eu sei me cuidar. Também sei usar uma arma.
— Eu sei disso, mas vamos evitar gastar as balas com coisas desnecessárias.
— Vindo de Thomas Shelby, é difícil manter essa promessa intacta. — Ela balançou a cabeça. — Querido, vamos ficar bem. Se tem uma coisa que eu aprendi sendo uma Shelby é que ninguém que se mete no nosso caminho, continua vivo por muito tempo.
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O tempo não conseguiu mudar e nem envelhecer o palacete. Embora Andrea tivesse mencionado que uma reforma seria apropriada no lugar, Amara não permitiu que qualquer alteração fosse feita. Cada canto, móveis e pilares lembravam Richard de alguma forma e alterar algo seria como apagar um pouco do falecido. Infelizmente, desde a morte do Abbott e o casamento, Amara não voltou mais para aquele lugar. Era estranho estar ali sem a presença da pessoa mais especial, era como uma lacuna que jamais seria preenchida. A caminho da biblioteca, Amara deixou que o clima dos livros a envolvessem como um manto. Aquele era seu lugar favorito na mansão, logo depois do jardim.
Os empregados estavam fazendo um belo trabalho em conservar tudo. Não havia sequer qualquer particular de poeira acima dos livros ou móveis. A mesa estava arrumada, livres de papéis e documentos importantes. O espaço de madeira nobre era ocupado apenas por uma máquina de escrever e um telefone. Amara inclinou o rosto, parando a alguns centímetros do enorme globo. Quantas vezes ela não fez uma viagem ali sem ao menos mover os pés? Era nostálgico lembrar também as aventuras vividas por meio da leitura.
Pela visão periférica, algo chamou sua atenção.
Ela olhou para o lado e parou de respirar com o que vira. Richard passeava com um livro em mãos. O livro que ela escreveu. Olhando diretamente para a Shelby, deixou que um generoso sorriso tomasse posse de seus lábios. Caminhou até a mesa pousando o livro lá. Então da mesma forma que apareceu, sumiu. Amara piscou algumas vezes, sentindo os pelos do corpo arrepiarem. Ouviu a porta ser aberta e Thomas entrar a assustando brevemente. Evitou contar-lhe que há poucos segundos viu Richard, mesmo que fosse impossível descrever como. Talvez ela estivesse cansada demais depois da longa viagem.
— Você está aí. Esse lugar é tão grande quanto nossa casa. — Comentou olhando em volta. — Aliás, nossas malas já estão no quarto. — Ele falou.
— Será que fizemos certo vindo justamente para cá? — Perguntou.
— É um lugar seguro. — Thomas parou ao lado da esposa. Percebeu como o olhar da mulher parecia temeroso, além dela está um pouco pálida. — Você está bem? Parece que viu um fantasma.
— Eu só estou cansada. — Amara balançou a cabeça.
— Tudo bem. Vou pedir para fazerem sua comida favorita. — Thomas deu passos até a porta. — Tome um banho, vai se sentir melhor.
Amara acenou, mas não respondeu. Quando o marido se foi, ela soltou a respiração ofegante. Olhou em volta, estava sozinha. Porém, acima da mesa, onde não havia nada além de uma máquina de escrever e um telefone, agora estava seu livro: O Império de Mooney por Amara Flynn.
— Richie. — Murmurou o nome baixo.
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Amara não negava que sentisse falta do próprio lar e principalmente de Anúbis. Pensar que um dia havia escolhido Boston como casa agora soava estranho. Havia passado a gostar de Londres, em especial, Warwickshire, onde se sentia mais produtiva. Os primeiros dias longe dos conflitos estavam razoavelmente bem, talvez, fosse assim até que tudo estivesse terminado. Era esperado que logo os funcionários dessem por falta, mas tudo indicava que eles estavam se virando bem na ausência dos chefes.
Era noite, e o palacete Abbott estava quase silencioso se não fosse os passos apressados da criada batendo insistentes no mármore polido do chão.
— Sr. Shelby, chegou algo para o senhor. — Helena sorriu timidamente quando Thomas desviou o olhar do jornal para ela. Nas mãos da jovem havia um pequeno bilhete.
— Obrigado, Helena. — Thomas respondeu. Helena fez uma pequena referência desnecessária com o corpo e saiu do cômodo.
Amara acompanhou os passos da garota. Helena era a criada mais nova do palacete, filha do chofer e da cozinheira. A jovem de dezenove anos fazia um bom serviço em manter tudo em ordem. Ela era atenciosa aos detalhes e aos senhorios — Até demais para o gosto da Sra. Shelby. Amara encarou o marido, que abria a correspondência com certo tédio.
— Ela está caidinha por você. — Amara comentou ao deixar a xícara de chá sobre a mesa. Thomas ergueu uma sobrancelha.
— Ela quem? — Questionou, mas sem dar tanta atenção.
— Helena. — Respondeu. — Não percebeu ainda o modo como ela cora ao seu lado ou como rir quando você olha para ela?
— Não, eu não percebi. — Thomas deu de ombros. — Ela é só uma menina. E eu não tenho olhos para garotas como ela, principalmente quando sou bem casado.
— Bem, meninas também são capazes de se apaixonar perdidamente. — Comentou. Amara não se sentia intimidada pela jovem, ou muito menos por ela estar deslumbrada por um homem mais velho. Contudo, a senhora Shelby se manteria atenta caso surgissem mais insinuações por parte da garota.
Thomas mordeu o canto da boca. Abriu o bilhete lendo-o em silêncio. Um formigamento estranho surgiu no peito no cigano, quase na altura do coração. Aquele não era um bom sinal. Thomas encarou a esposa sentada em um sofá do outro lado da sala, lendo-o em silêncio.
— O que foi? — Amara perguntou ao levantar-se.
— É um encontro. — Limpou a garganta. — Devo encontrar alguém no cassino local.
— Está de brincadeira. — Amara deu largos passos até Thomas. Já perto, ela puxou o papel para ler. A caligrafia era quase agressiva aos olhos da mulher e o pedido ali escrito mais ainda — Quem pediria um encontro com você? Quem mais sabe que estamos aqui?
— Eu não sei, Amie. — Thomas passou a mão pelo rosto. — Eu fui cuidadoso com tudo.
— Você não vai, não é? — O encarou. O marido parecia ponderar a resposta.
— Talvez eu vá. — Thomas engoliu em seco. Traçou um plano na cabeça, aliás, o encontro deveria acontecer muito em breve.
— Thomas Michael Shelby! — O tom de voz foi elevado. Amara levou as mãos para a cintura. — O motivo de estamos aqui é para ficarmos protegido de sabe-se lá quem quer me matar e, na primeira oportunidade, você quer sair e se colocar em perigo?
— E se a pessoa que mandou isso sabe sobre algo?
— Não vale o risco.
— Talvez não, mas eu não sou o tipo de homem que se esconde do perigo. — Thomas se levantou. O olhar furioso que recebia parecia queimar na pele dele. — Amie, eu quero proteger você. Às vezes temos que nos arriscar para conseguirmos o que queremos.
— Não vai conseguir isso se estiver morto.
— Eu vou a esse encontro, seja do seu gosto ou não! — Thomas bateu um pé no chão.
Amara rangeu os dentes com raiva. Saiu da sala levando toda a raiva que sentia junto. Subiu dois lances de escada até chegar ao segundo andar. No corredor, caminhou em direção ao quarto que pertencia a Richard. Assim como o resto da casa, tudo no quarto ainda se encontrava da mesma forma. Amara sentiu um nó na garganta. Escolher aquele comodo para entrar havia sido uma péssima ideia. Era possível sentir uma densa energia no lugar, o cheiro de Richard parecia ainda estar no ar. Relutante, ela caminhou até a cama, sentando-se sobre o tecido. Estava quente, como se antes outra pessoa estivesse ali. Estranho.
Alguns segundos se passaram. Amara ouviu a porta ser aberta emitindo um ruído perturbador. Logo passos lentos e pesados foram dados para dentro.
— Eu quero ficar sozinha, Thomas. — Falou antes de se virar. Mas não havia ninguém lá e a porta continuava fechada.
Amara engoliu em seco. Será que aquele era o momento em que ela deveria acreditar no sobrenatural?
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Amara tentou não pensar nos acontecimentos da noite passada, nem quando dormiu furiosa ao lado do marido. A teimosia do Shelby era algo incontrolável e ela sabia que jamais conseguiria tirar a ideia absurda da cabeça dele. Em algumas coisas eles eram muito parecidos, a teimosia percorria ambos os sangues. Pela manhã, não o encontrou em casa. Decerto, Thomas saira cedo para resolver as questões que ainda insistia em manter em segredo da esposa. Quando desceu para o andar de baixo, encontrou uma farta mesa com o típico café americano, no entanto, nada daquilo despertou apetite na mulher.
As horas passaram lentamente. Amara poderia pegar o carro e partir para a sede do jornal se Thomas não tivesse saído nele. Por um instante, ela se perguntou se o plano do marido era realmente mantê-la em confinamento até que tudo acabasse. Se acabasse. Depois do almoço, desceu a caminho do jardim, precisava respirar um ar mais leve do que o de dentro de casa. Caminhou pela trilha e antes que pudesse chegar a enorme fonte, encontrou uma presença inusitada. O riso era inconfundível e sua energia densa também. O homem se levantou da cadeira de ferro dando passos largos até ela.
O abraço foi forte, como se não acreditasse quem realmente estava ali. Amara não soube reagir enquanto era apertada por braços mais largos e maiores que ela.
— Então você está viva. — Andrea se afastou, checando-a dos pés à cabeça.
— Falando assim até parece que você queria me ver morta. — Falou em um péssimo humor. Andrea balançou a cabeça. Umedeceu os lábios reconhecendo o típico mau-humor da chefa. — O que faz aqui? Como entrou? Porque os empregados não anunciaram você?
— Quantas perguntas, Amie. — Ele recuou um passo. Amara uniu as sobrancelhas com uma sensação estranha. Procurou uma cadeira, sentando-se rapidamente quando pontos escuros surgiram na vista. — Você está bem?
— Sim, foi só um mal-estar. — Ela gesticulou. Andrea a estudou, mas não parecia muito preocupado.
— Como seu marido é capaz de sair e te deixar sozinha em casa?
— Como sabe que ele veio comigo ou que saiu? — Amara ergueu o queixo. Andrea sorriu sedutor, levando as mãos para o bolso. Estava contra a luz do sol, mas ainda era possível ver o riso irônico nos lábios dele, assim como o velho olhar ambicioso e escuro.
— Bem, ele não está em casa, está? — Questionou. — Além disso, sei o que aconteceu no dia do seu evento em Londres e imaginei que ele jamais te deixaria viajar sozinha. Quanto a sua outra pergunta, eu sempre venho aqui quando posso, por isso os empregados não me anunciaram quando cheguei, também achei melhor não incomoda-la.
Andrea sentou-se na outra cadeira. Amara sentiu a boca seca ao ser observada. O advogado sorriu levemente ao ver o desconforto da chefa. Mancini sabia que Amara conseguia suportar qualquer coisa, mas olhares por tempo demais a deixava aflita. A Shelby não era tão durona quanto o sobrenome que carregava.
— O que veio fazer aqui? — Ela perguntou.
— A princípio, trabalhar em paz. — Ele apontou para a bolsa sobre a mesa. — Mas agora que sei que está aqui, podemos discutir algumas questões pessoalmente.
— Eu estou me dando alguns dias de folga. — Falou. — Você pode cuidar de tudo.
— Acho que vai gostar de saber o que aconteceu por esses dias em Londres. — Andrea falou animado. Amara ergueu uma sobrancelha quando o jornal foi empurrado na direção dela.
Leu a primeira página do Pacific Modern Diary datado em 25 de setembro de 1925. Jessie Eden estava movendo multidões com seus protestos. Agora que era a presidente sindical da fábrica de Lucas em Sparkhill, obteve força para convocar todas as mulheres que trabalhavam nos departamentos de solda para uma grande paralisação. Jessie acreditava em ideologias e principalmente que mulheres não devessem trabalhar em dias santos ou em condições precárias, tendo todos seus direitos feridos. Seus discursos ainda persistiam em críticas contra os salários inferiores para as mulheres e a insalubridade dos banheiros.
Amara desviou o olhar para a outra página, se deparando com uma fotografia no mínimo inusitada. Polly Gray estava ao lado de Eden. Um punho estava erguido no ar e o sutiã queimando na outra. Pela expressão facial, Amara sabia que Polly estava brava e reivindicava seus direitos da melhor forma que podia.
— Todas as trabalhadoras de fábricas abandonaram seus postos para se reunirem em uma passeata no Bull Ring. — Amara leu a primeira linha. — Todas as mulheres oprimidas buscaram em Jessie Eden a chance de terem as vozes ouvidas. A jornada para alcançar o salário digno e condições melhores de trabalho era a pauta principal na passeata. — Ela ergueu o rosto para Andrea, que parecia entretido com a leitura. — Eu saio da cidade por alguns dias e um protesto acontece sem minha presença? Eu deveria estar lá com essas mulheres queimando alguns sutiãs ou políticos...
— Eu tenho certeza de que faria isso. Acredito que vai gostar de saber que a Sra. Gray ameaçou colocar fogo na prefeitura, com o prefeito dentro. — Andrea disse. Amara emitiu um breve sorriso, aquilo era algo que Polly com certeza faria. — Nossos jornalistas e fotógrafos tiveram o privilégio de registrar esse momento. Como você mesmo diz, marcamos um ato histórico. No entanto, Jessie não parece satisfeita com algumas coisas que o senhor Shelby, seu marido, tem feito.
Amara suspirou. Era claro que Thomas jamais conseguiria manter escondidas todas as empresas que tinha em nomes diferentes. Entretanto, esse era um problema que deveria ser resolvido futuramente com Eden. Felizmente, Amara sabia lidar perfeitamente com a mulher.
— Gosto de vê-la sorrindo. — Andrea inclinou o rosto. Amara uniu os lábios em uma linha, pigarreando ao deixar o jornal na mesa.
— Eu acho que é melhor você ir embora. — Amara encarou profundamente o olhar negro de Andrea. Era perigoso tê-lo ali. Ela podia sentir isso em todos os sentidos.
— Por quê? Você está sozinha aqui. Não deve ficar sozinha. — Ele falou. O homem se levantou da cadeira, se ajoelhando na frente dela. O olhar dele havia mudado, parecia demonstrar dor mesmo que superficialmente. — Amie, eu fiquei tão... Preocupado. Quando soube do atentado e que havia tido feridos na família Shelby, eu só imaginei que... Meus Deus, eu só pensei que tinha perdido você.
Amara engoliu em seco. Ela não soube o que dizer, nem quando o advogado segurou suas mãos. As dele estavam quentes, enquanto as delas ficavam cada vez mais geladas, e não era por conta do frio.
— Andrea... — Se afastou do homem como pode. — Vai embora.
— Não quer que ele me veja? — Perguntou ele, audacioso.
— Exatamente. — Ela acenou, embora aquele não fosse o real motivo. — O Thomas pode chegar a qualquer hora e eu sei como vocês reagem perto um do outro. Uma maldita disputa de testosterona.
Andrea emitiu um breve sorriso, mesmo que não tivesse achado graça naquelas palavras. Se levantou do chão, e antes que pudesse pegar as coisas da mesa, se aproximou da chefa.
— Eu disse ao Richard que iria cuidar de você e dos negócios.
— Eu não sou uma criança. Muito menos preciso de cuidados além do que recebo excessivamente do meu marido. — Ela estreitou o olhar. A voz saiu seca, atingindo o homem dolorosamente. Ele sorriu de lado com a audacia dela.
— Bem, então você não me deixa escolha a não ser cuidar somente dos negócios. — Ele deu de ombros. — Até outro dia, Sra. Shelby. Não esqueça que o jornal de Boston também precisa da sua atenção.
— Eu não esqueci. — Rebateu ela.
Andrea acenou antes de pegar a mala com documentos e partir. Amara respirou fundo como se estivesse prendendo a respiração por um longo tempo. Se levantou e caminhou em direção a fonte onde algumas carpas nadavam tranquilamente. A sensação de vazio aumentou no peito.
Algo ruim iria acontecer.
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Os compromissos na cidade Boston eram maiores do que Thomas Shelby imaginava. Ainda cedo, deixou o palacete para enfrentar os negócios daquela cidade. A companhia Shelby da América cuidava somente dos negócios legais e gerava uma margem de lucro ainda maior que a de Londres. Thomas traçava um plano na cabeça. Em Boston deveria ter um Shelby para manter o nome da família solidificado e por esse motivo, daria uma vaga para Ada. Sabia que a irmã mais nova não recusaria a oferta, ela faria de tudo para sair do emprego da biblioteca. Durante um tempo a estudou, assim como os demais irmãos, e percebeu como ela estava mais envolvida com os negócios da família. Talvez pudesse tê-la no jornal, no entanto, Ada desistira completamente da ideia de ideologias comunistas e parecia se apegar ainda mais ao capitalismo, então tê-la no controle da empresa Shelby em Boston faria bem.
Thomas sabia da grande depressão e se preparava para isso. Não era atoa que todas as empresas eram em nomes distintos, para que assim, quando a grande crise chegasse, a perda dos lucros não fosse tão devastadora. Amara fizera bem o alertá-lo daquilo, mas assim como aquela notícia, a informação de que uma segunda guerra se arrastava silenciosamente entre os partidos o incomodava — e que por mais que tentasse, não havia como impedir isso. O Shelby sabia que não suportaria mais uma guerra, principalmente quando ele e a esposa também eram um alvo dessa vez. Amara mencionara-lhe sobre o Holocausto cigano durante a guerra, e como seu povo havia sofrido diferentes formas de perseguição, alguns que Thomas impediu da esposa contar.
No escritório, recebeu uma ligação importante. Era John, que parecia estar se recuperando muito bem. A notícia de que as mulheres das fábricas e até da casa de apostas haviam entrado em greve o deixou surpreso. No entanto, saber que o estopim daquilo era Eden, desfez a sensação. Jessie era a maldita pedra no sapato de Thomas, o incomodando e atingindo em pontos fracos. O Shelby não queria acreditar que uma parcela dos problemas poderia começar com aquela mulher e manteria o dobro de cuidados com ela. Jessie tinha fluência e uma língua muito perigosa.
A noite caiu suntuosa. Thomas dirigiu até o cassino local alguns minutos antes da hora marcada no bilhete. O Encore Boston Harbor era um lugar barulhento e agitado. Aquele ambiente sim, lembrava Birmingham, mesmo que ainda tentasse soar fino e agradável. No antro de jogatinas, sentou-se em uma mesa. Não demorou para ser servido rapidamente com uísque, mas não irlandês, o que não fez com que bebesse. Algumas putas também se ofereceram a ele, mas só receberam como resposta o olhar frio e cruel do cigano. Os americanos tinham um gosto peculiar por uísques holandeses e charutos cubanos, nem de longe os gostos prediletos do Shelby, a menos é claro, sua esposa, onde parte do sangue cubano corria forte.
Thomas acendeu um cigarro, estudando tudo ao redor. Mulheres usando vestidos brilhantes e curtos, estavam na companhia de homens usando ternos caros, enquanto riam de maneira exagerada cada vez que seus acompanhantes ganhavam uma aposta. Talvez abrir um cassino fosse uma boa ideia de lavar dinheiro, seria uma novidade agradável a Londres, mas teria que ter o dobro do trabalho para manter a polícia longe. Problemas que Thomas que não queria lidar. De certo, era melhor continuar com os mesmos negócios: corridas de cavalos e carros.
— Ah, você veio. — A voz fez com que cigarro se tornasse mais amargo na boca de Thomas.
O homem puxou uma cadeira na frente do Shelby, sentando-se empolgado. Thomas engoliu em seco, fechando a mão em um punho apertado. Realmente não deveria comparecer naquele encontro. Tentou somar a quantidade de tempo que não via aquele rosto velho que costumava roubar cavalos e que lhe ensinara muitos truques na infância. Thomas sentiu raiva, mas estava curioso para saber o que Arthur Shelby Sr. queria.
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Amara sentia raiva e preocupação. Era quase nove da noite e Thomas ainda não estava em casa. Imaginou por onde o marido estaria, provavelmente se arriscando nesse encontro às cegas com um possível inimigo. Buscando acalmar o terror interno, desceu as escadas em direção ao escritório. Era estranho estar em um lugar tão diferente da própria casa, mas ela gostava dali. Procurou entre os livros, algo que pudesse ler e dissipar os pensamentos ruins.
Um livro foi ao chão. Ela estremeceu quando teve a atenção tomada pelo pequeno estrondo. Com cautela se aproximou do livro, era Moby Dick, o favorito de Richie. Rapidamente puxou o livro, procurando o divã para se sentar. Fazia muito tempo que ela não lia aquela história. Foi então que se recordou de uma lembrança, fazendo com que se arrepiasse levemente.
Com a viagem no tempo, Amara havia passado acreditar em muitas coisas. Acreditar no sobrenatural também poderia ser uma delas. E, porque não supor que de alguma forma, Richard não estaria tentando alertá-la de algo? Talvez isso explicasse as sensações ruins que vinha sentindo.
— Richie? — Chamou baixo. Não teve uma resposta.
Amara suspirou, frustrada. Se sentia uma idiota fazendo isso.
— Mas você não é. — A voz veio rouca e distante. Amara ergueu a cabeça e arrumou a postura. Estava em alerta, se perguntando se havia realmente ouvido algo ou estava sonhando.
— Richie? — Chamou mais uma vez.
Uma brisa envolveu seu corpo. Amara sentiu um abraço gelado puxá-la pelos ombros. Era estranho, mas não aterrorizante. Ela não sentia medo, mas uma pequena sensação de aconchego. Fechou os olhos e deixou o corpo ser levado para o lado. Foi então que o cheiro agridoce e masculino a fez abrir os olhos e se surpreender com quem estava ali, sentado ao lado dela.
Richard.
— Parece que viu um fantasma. — Ele sorriu.
Amara estava boquiaberta. Em choque o suficiente para não conseguir reproduzir nada. Richard estava saudável novamente, usando as clássicas roupas cor de marfim e os cabelos brancos reluzentes. Ele parecia bem. Amara relaxou, talvez estivesse dormindo, então iria aproveitar o sonho. Ergueu a mão para tocá-lo, mas não conseguiu senti-lo totalmente, assim como perceber que a luz transpassava o homem facilmente. Era como um holograma, ela pensou. Um fantasma.
— Como... — Não terminou a pergunta. Richard deu de ombros e sorriu.
— Moby Dick, eu adoro esse livro. — Apontou. Amara olhou na direção, confirmando lentamente.
— Eu já o li tantas vezes para você. — Sorriu com as lembranças. Voltou a atenção para o velho amigo. — Richie, você está aqui mesmo?
— E, porque não estaria?
— Bem...
— Não diga. — Ele ergueu um dedo. — Você me chamou.
— Chamei? — Amara uniu as sobrancelhas.
— Eu ouvi seu coração. Tem muita dor aí dentro. — Richard pareceu triste. — O que te aflige, filha?
— Tantas coisas. Tantas. — Amara abandonou o livro. Passou a mão pelo rosto e suspirou de modo cansado. — Eu estou bem. Já perdi as contas de quantas vezes disse isso, mas eu não estou bem. — Ela ergueu o rosto. A garganta apertou novamente quando olhou para Richard. — Acho que todas às vezes que tentamos mostrar que somos fortes é quando nos encontramos mais quebrados. Eu me sinto assim.
— Você é uma mulher muito forte, Amara. — Richard falou. — Mas sua força não deve ser usada apenas para aguentar o sofrimento.
Amara não respondeu. Estava perdida nos próprios pensamentos e questionamentos. Havia tantas situações que a quebraram e mesmo assim ela continuou firme mesmo quando não estava. Richard estava certo, sua força não deveria ser usada somente com o sofrimento.
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— Pai. — Disse a palavra com dificuldade.
— Tommy, olha só para você, meu filho favorito. — Arthur abriu os braços. O sorriso falso fez com que Thomas desviasse o olhar para o outro lado.
— Você não tem um filho favorito. Você não tem filhos. — Thomas apagou o cigarro. — Se eu soubesse que era você que queria um encontro, teria ficado em casa com minha esposa.
— Que isso, filho. — Arthur pareceu decepcionado. Aproximou-se da mesa. — Precisamos conversar. A quanto tempo não o vejo? Já está casado há três anos e nunca vi sua esposa pessoalmente. Mas sei que vão ter filhos bonitos. E eu vou ter orgulho dos meus netos.
Thomas rangeu os dentes.
— Como soube que eu estava na cidade? — Questionou Thomas. Arthur arrumou a gravata borboleta que usava. Em muitos pontos, Arthur Jr. imitava o pai.
— Por acaso eu sei que aquele palacete no centro da cidade pertence ao falecido Abbott e depois passou a pertencer a sua esposa. — Explicou. — Soube do atentado que ocorreu durante um evento. Sua esposa é famosa, além de bonita. Você sempre consegue as melhores, puxou o seu pai nisso. Mas a questão é, eu estava passando por lá e vi uma movimentação diferente, foi então que o vi pela janela. — Arthur suspirou aliviado. — A única coisa que pensei foi em bater na porta e falar pessoalmente com meu filho, mas preferi escrever um bilhete e entregar para uma jovenzinha bem bonitinha que trabalha lá. Optei por não assinar, assim teria mais chances de você vir ao meu encontro.
— Você quer dinheiro? — Thomas ergueu o queixo. — É por isso que me procurou? Por acaso está devendo drogas ou alguém quer matá-lo?
— Filho, eu sou um servo do senhor. — Arthur pareceu ofendido. Péssima dramatização, pensou Thomas. Depois sorriu secamente.
— E o que um servo do senhor faz em um lugar como esse? — Apontou em volta.
— Achei que se sentiria em casa. Era aqui ou uma igreja, e sei que o diabo de Small Heath não entra em igrejas. — Deu de ombros.
— A última vez que vi você foi quando deu um golpe no seu próprio filho e quase o levou a morte em seguida. — Thomas se inclinou para frente. Abaixou o tom de voz, soando intimidador. — Eu deveria matar você, era isso que eu deveria fazer. Não quero que conheça minha esposa. Não quero que chegue perto da minha casa ou da minha família. É melhor nem tentar nenhum contato com meus irmãos.
— Thomas... — Arthur passou a mão pelo rosto. — Eu entendo sua raiva, de verdade. — Colocou a mão no peito. — E Deus foi cruel comigo depois daquilo. Uma puta levou tudo de mim e ainda me deu herpes, e foi difícil curar. Eu percebi que o que fiz com seu irmão foi errado. Eu me arrependo de ter usado o Arthur daquela forma, mas ele sempre foi o mais fraco de todos vocês.
— Meu irmão nunca foi fraco! — As palavras do pai surtiram efeito negativo em Thomas. Rapidamente o cigano sentiu o sangue ferver. — Você acabou com nossa família, deixando todos para trás. Minha mãe... Ela morreu esperando por você. — Thomas não soube disfarçar a raiva na voz. — Finn nunca viu o pai, e quer saber, nós cuidamos dele. Eu fui um pai para aquele garoto, assim como meus irmãos. Todo o castigo que seu Deus deu para você ainda foi pouco.
Thomas se levantou da cadeira no mesmo instante que o pai. O som desapareceu à sua volta. O olhar entre os Shelby havia se estreitado. Thomas tentou ler algo nos olhos do pai, qualquer vestígio de culpa, mas não foi possível. Arthur jamais mudaria, sempre seria o cigano que abandonara a família por uma aventura qualquer ao lado de uma puta. Thomas prendeu a respiração, abrindo caminho para fora do cassino.
— Filho! Espere! — Ouviu Arthur chamar.
Thomas não parou para dar atenção a ele. Seguiu até o lado de fora, parando apenas para falar com o manobrista para que o carro fosse buscado. Estava frio. A noite parecia ter se tornado mais escura e sem brilhos de estrelas ou da própria lua.
— Eu posso ajudar você a encontrar quem tentou matar sua esposa. — A voz de Arthur cortou a multidão. Thomas suspirou alto, apertando a fonte do nariz. — Eu posso ser útil para você aqui em Boston. Conheço muita gente.
— Não, você não pode! — Thomas praticamente gritou. — Por que não faz a única que sabe fazer de melhor e some mais uma vez no mundo? Hum? — Deu um passo até o pai. — Não vamos sentir sua falta, aliás, nem sabíamos que ainda estava vivo.
— Eu só queria ver seus irmãos uma última vez. A minha pequena Ada, ela já deve estar tão bonita quanto a mãe. — Arthur fechou os olhos. — Eu deveria pedir perdão por tudo que fiz e é por isso que estou aqui, por esse motivo mandei a carta. Me diga, filho... — Ele voltou a encarar o filho. Thomas estava vermelho, com pupilas dilatadas. Arthur sabia do temperamento de Thomas, mas ele ainda controlava a raiva bem mais fácil que o filho mais velho. — Pode me perdoar por não ser um pai presente ou por toda a dor que causei na sua vida e dos seus irmãos?
— O quê? — Thomas uniu as sobrancelhas. O tom saiu exasperado e surpreso.
Do carro de Thomas, um homem saiu, mas não era o manobrista. Arthur percebeu isso quando o homem encapuzado ergueu uma arma na direção de Thomas, que ainda estava de costas para a rua. O Shelby não pensou em muita coisa quando deu um passo largo até o filho, impedindo-o que o disparo o atingisse pela costa. Foi rápido, mas doloroso. Thomas segurou o corpo do pai no mesmo instante que puxava a arma de dentro do casaco e atirasse na direção dos disparos.
Estava acontecendo de novo. Era outro atentado, mas dessa vez, Thomas era o alvo. Uma sequência de disparos ocorreu na porta do cassino. Pessoas corriam em todas as direções, enquanto os seguranças agiram rapidamente. Thomas caiu de joelhos quando viu o atirador mascarado ser alvejado de balas. Desviou o olhar para o homem caído aos seus pés. Arthur Shelby se encontrava em uma poça de sangue grande.
— Filho... — Arthur tentou pronunciar as palavras quando Thomas o puxou para cima. — Mm.. Me perdoa...
Arthur engasgou-se com sangue ao proferir as últimas palavras. Thomas puxou o oxigênio para os pulmões. Sentiu os olhos queimarem, mas não deixou que nenhuma lágrima caísse. Assim como nenhuma palavra foi proferida dos lábios dele, nem quando via o pai dar os últimos suspiros.
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Amara foi arrancada da cama quando a porta da frente foi fechada com força. Armada, ela desceu cautelosa até o andar de baixo. Estava pronta para atirar se não sentisse as pernas bambas pela imagem deplorável do marido. Thomas estava sujo de sangue, mas não era dele. Os olhos estavam vermelhos, e não era devido ao possível uso de drogas. Ele estava parado na entrada, respirando pela boca, ofegante. Os cabelos estavam bagunçados como se tivessem sido puxados em um ato de fúria. Amara abaixou o punho, tentando assimilar o que realmente havia acontecido.
— Tem sangue em você, mas não está ferido... — Ela observou, cautelosa. Deixou a arma sobre a mesa ao lado e se aproximou mais alguns passos do marido.
Thomas não ligou para o que ela dissera. O peito suplicava por conforto. As vozes na cabeça falavam todas juntas, quase o ensurdecendo. No fundo daquele poço, ele precisava ser puxado para fora e a luz estava bem diante dele. Thomas deu um passo para frente, desabando para o chão de mármore, de joelhos. Amara tentou apará-lo, mas foi segurada pela cintura, em um abraço apertado.
— O que aconteceu? — A essa altura o coração da mulher bombeava o sangue tão forte quando de um cavalo durante uma corrida. Thomas emitiu um baixo ruído. Foi então que Amara se deu conta que ele chorava. — Tommy.
— Ele morreu nos meus braços. — Murmurou com dor. A voz rouca se tornou carregada devido ao nó da garganta. — Meu pai me pediu perdão e eu não pude dar. Eu não pude.
— O seu pai? — Quase gaguejou. — Perdão é uma palavra muito forte. — Amara sentiu o abraço de Thomas apertar ainda mais em volta da cintura. Ela baixou os lábios, deixando um beijo no topo dos fios bagunçados. — Eu sinto sua dor... — Disse ao sentir os olhos arderem. O ar faltava em seus pulmões cada vez que o braços do marido a apertava. Ela envolveu Thomas em um abraço. — Meu amor, olhe para mim.
Thomas negou, mesmo assim, o rosto foi erguido pelos dedos lisos e finos da esposa. Demonstrar fraqueza ao lado dela o incomodava. Ele deveria ser o pilar dela, o porto seguro da esposa. No entanto, estava destruido por dentro. O homem se deparou com o olhar verde e brilhante, e buscou forças neles. Amara piscou antes de se abaixar na altura do marido. O chão estava gelado. O sangue do corpo de Thomas inundava as narinas dela, fazendo-a enjoar, mas se manteve firme.
— A culpa corrói, mas precisa ser sentida. — Disse ela, usando o tom mais suave que podia. Segurou o rosto do marido quando ele não pôde manter o olhar firme. — O perdão é o ato mais humano que podemos fazer quando enxergamos a fragilidade em outra pessoa. Mas isso é algo que precisa vir daqui de dentro. — Amara abaixou a mão para o coração de Thomas. Estava acelerado, assim como dela. — Perdão alivia a culpa. Eu não sei o que aconteceu exatamente, mas estou aqui Tommy. Eu estou aqui e sempre vou está.
Thomas não respondeu. Ao invés disso, abraçou a esposa com mais força. Era a vez de Amara ser o seu bote salva-vidas e o impedisse de afundar em um mar de tristeza ou culpa.
Emoções a mil nesse capitulo, mas ainda tem mais...
Capitulo postado dia (20/02/2022), não revisado.
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