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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟏

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A escolha dos saltos altos se dava por um motivo: Amara queria que sua presença fosse anunciada com antecedência. O sino tocou de modo estridente nos ouvidos dos visitantes, assim como espantou alguns pombos que descansavam no alto da torre. Thomas abriu a porta pesada com um empurrão grosseiro, deixando que sua esposa passasse na frente. Amara sentiu os dedos dormentes com a raiva que sentia. O coração bombeava o sangue rapidamente. Contudo, ela manteve o semblante pacífico, havia aprendido isso com os Shelby. Era o que os faladores diziam a respeito da família: eles são a calmaria que antecede o vendaval. Cada passo que dava no longo corredor do convento, ouvia os saltos ecoarem altos e pesados.

Desde que entrou para o mundo dos negócios, Amara enviava quantias altas para instituições de caridade. Foi então que criou o próprio fundo solidário para crianças — um desejo antigo que se tornou possível. Ter fortuna era também ajudar os menos favorecidos. Após casar-se com Thomas e unir a Companhia Shelby com as empresas Abbott, Amara propôs ao marido que as ideias filantrópicas fossem expandidas. Era como um jogo. A família Shelby precisava ter o nome bem-visto fora da Inglaterra, algo que também não ligasse as Empresas Abbott aos esquemas sujos que Thomas ainda insistia em fazer por baixos dos panos ou muito menos que envolvesse as inúmeras fábricas de autopeças.

Foi então que a Instituição Shelby surgiu. O número de crianças em situação de rua aumentava gradativamente nos bairros menos favorecidos da Inglaterra. A violência e a prostituição de menores era cada vez maior. Com as ordens de Thomas e com a ajuda dos judeus governados por Solomons, muitas crianças foram socorridas das ruas e de toda violência que poderiam sofrer em seus lares. O abrigo onde elas ficariam logo seria finalizado e muito em breve essas mesmas crianças poderiam ter uma chance de viverem em condições melhores. Enquanto isso, deveriam ficar sob a tutela do Orfanato Santa Rita, governado por freiras rigorosas. Pelo menos cinco vezes por mês Amara visitava as crianças resgatadas. Todos os rostos, idades e etnias diferentes eram unidas com um único desejo: terem uma vida melhor e serem amadas de verdade. Era difícil para Amara não se emocionar enquanto brincava com as crianças ou lia para elas. Perder um filho tempos atrás a deixou mais sensível do que se podia imaginar.

A bondade ainda habitava em poucos corações. Até mesmo o diabo de Small Heath deixava que ela tomasse um pequeno e sutil espaço em seu peito. Contudo, a maldade se impregnava nos lugares onde menos se esperava, levando pessoas que deveriam fazer o bem causarem dor por pura ignorância. Amara já não se considerava tão tolerante, na época que chamava agora de sua, não permitia muito disso. Foi consumida pela raiva quando denúncias chegaram aos seus ouvidos. Talvez isso desse significado a todos os pesadelos ruins, deixando-a ainda mais apreensiva para o grande evento.

Uma última porta foi empurrada, fazendo um imenso barulho. O grupo de freiras se reunia para o desjejum, unidas em uma oração guiada pela madre superior.

— ..., mas livrai-nos de todo mal...

— Amém! — Amara interrompeu a oração de modo alto.

Manteve o semblante impassível no rosto enquanto puxava uma cadeira para sentar-se. Thomas a acompanhou, sentando-se do outro lado, sacando do bolso os cigarros e um isqueiro.

— Queriam falar conosco, senhor e senhora Shelby? — A madre superior desviou o olhar de Thomas para Amara. Igual ao marido, ela acendeu um cigarro e prendeu nos lábios pintados de vermelho. — Não fumamos aqui, senhores...

— Mas eu fumo, vossa santidade. — Amara soprou a fumaça para frente, enquanto cruzava as pernas sob a mesa. — Será que você não sabe o motivo de estarmos aqui? Logo a essa hora da manhã de um sábado? Enquanto poderíamos estar em casa trepando?

— Também não usamos esses termos. — A madre disse entredentes.

— Eu imagino que não. — Amara inclinou o rosto. — Aposto que também vão dizer que não maltratam inocentes.

— Mas vocês sim, caralho! — Thomas bateu com a mão na mesa, fazendo que copos e talheres emitissem barulhos.

— Eu gostaria de saber do que se trata essa reunião. — A madre encarou Thomas, tendo certeza de que estava diante do diabo em pessoa.

— A Companhia Shelby e as empresas Abbott fornecem uma quantidade alta para essa instituição de caridade para abrigarem as crianças resgatadas de Birmingham, Londres e dos demais estados, sim? — Thomas abriu uma pasta de documento, enquanto sua voz era a única que soava no enorme salão.

— E somos gratas por ajudá-los. — A madre acenou lentamente. Amara bufou quando atirou outro documento para a mesa.

— Dizem que meu temperamento é como de uma onça. — Ela falou. — Eu costumo esperar a hora certa para atacar, enquanto isso, sou bem cuidadosa com minhas presas. Não é muito diferente do temperamento descrito da garota cigana neste relatório. — Amara ergueu uma sobrancelha ao tragar o cigarro e soprá-lo para o alto. — Mas eu costumo pegar presas do meu tamanho, diferente de vocês.

— Relatório? — A madre prendeu a respiração.

— Temos o depoimento de cinco crianças. — Thomas encarou o cigarro preso no dedo. — Duas judias, duas negras e uma cigana. Todas foram resgatadas de uma casa onde as exploravam das formas mais desumanas. São crianças de dez a treze anos, então elas sabem muito bem do que estão falando. Você quer saber o que elas disseram aí? — Thomas estreitou o olhar com o da madre.

— Com quem elas andaram falando? — Quis saber. A madre puxou o relatório, não disfarçando a leve tremura nas mãos.

— Não foi com Deus. — Amara uniu os lábios em uma linha dura.

— Deus é a testemunha delas. — A madre pareceu reprovar a blasfêmia da Sra. Shelby.

— Existe Deus, e existem os Peaky Blinders. — Thomas se inclinou sobre a mesa. — Estamos em Sparkhill, Small Heath. Então eu diria que estamos mais perto da fúria dos Peaky Blinders do que das mãos abençoadas do senhor.

— Eu soube de coisas terríveis. Coisas que me tiraram o sono. — Amara engoliu em seco. — Coisas que me deixaram muito, muito, furiosa.

— Aqui há crianças de todos os lugares. Crianças que foram ensinadas a mentir para se darem bem...

— As crianças negras são obrigadas a comerem longes das outras. As crianças judias são castigadas e espancadas sem ter feito nada. E a criança cigana é obrigada a usar um sabão diferente para não sujar as outras com suas impurezas. — Amara controlou o tom de voz. Por baixo da mesa balançou o pé ainda mais nervosa. — Eu não acho que seja mentira. — Pronunciou lentamente.

— Eu conheço bem os pecados que ambos já cometeram. — A madre ergueu o olhar diante as acusações.

— Nossos pecados. — Thomas riu com escárnio. — Já fizemos coisas ruins, mas nunca, nunca... — Seu tom de voz aumentou. — Nunca maltratamos uma criança usando tijolos e mangueiras! — Ele se mexeu inquieto na cadeira. — Nossos pecados... — Repetiu erguendo um dedo na direção da madre. — Eles não são comparados ao seus, que permite que essas crianças cortem os próprios pulsos para se arrependerem de terem nascido de cor ou em uma religião diferente da sua.

— Não vejo como...

— O que você não vê, porra!? — Thomas gritou.

O silêncio pairou por um momento. Thomas estava ofegante e o cigarro em seus dedos havia se apagado.

— O que você não vê? — Thomas perguntou novamente, quase em um sussurro raivoso. — Me responda, antes que eu permita que você realmente não possa mais ver nada! — Ameaçou. Amara puxou o ar para os pulmões.

— Não temos medo da sua oração. — Disse a Shelby. — Não temos medo do julgamento de Deus ou dos seus crucifixos. Você bateu e permitiu que outras pessoas desse lugar abusassem daquelas crianças. Agora me diga, acha que seu Deus vai perdoá-la por isso?

Silêncio. Amara deslocou o olhar para as demais freiras, todas estavam quietas, enquanto seus olhares eram baixos em uma postura submissa à madre superior, ou talvez, por pura vergonha. Raiva, era o que a Shelby sentia. Imaginar as crianças sofrendo abusos novamente nas mãos de pessoas que deveriam acolhê-las a deixava nauseada e consumida por um espírito vingativo.

— Vocês perderam a renda. — Thomas se levantou da cadeira. — As crianças serão retiradas desse lugar e levadas para outra instituição onde serão tratadas com carinho, da forma que merecem, além de receberem tratamento dos traumas que vão levar daqui.

— Vocês não podem levar as crianças! — A madre levantou-se da cadeira, erguendo o tom de voz. Amara ficou de pé, não se intimidando com a postura agressiva que a mulher mais velha assumiu.

— É melhor você abaixar seu tom de voz! — Amara bradou. — Ore para que esse lugar não seja incendiado a noite enquanto todas vocês dormem. Se eu quiser fazer com vocês o mesmo que fizeram com as crianças, eu farei. A próxima vez que ouvirem meus saltos batendo contra esse chão que deveria ser sagrado, dobrem os joelhos e peçam misericórdia a Deus, porque eu não terei. Eu sou uma Shelby, porra! — Cuspiu as últimas palavras. — Memorizem meus passos, podem ser os últimos que ouvirão. — Foi a última coisa que disse, antes de virar as costas e caminhar com o marido até a porta.

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DIAS DEPOIS

Amara tentou relaxar diante do espelho. O dia do evento de caridade finalmente chegara. O frio na barriga só crescia ao se imaginar fazendo um discurso em público, em frente a grandes nomes e financiadores do evento e claro, aos velhos sócios. Depois de quase um ano, finalmente a Instituição Shelby para crianças resgatadas das ruas e de lares violentos iria abrir as portas oficialmente, levando-as para longe das freiras racistas e abusivas. Amara respirou fundo enquanto Mary dava os últimos toques em seu vestido dado por Thomas.

O presente a pegou de surpresa. Quem diria que o Sr. Shelby tinha tanto bom gosto para mandar confeccionar um vestido que caiu como uma luva no corpo da esposa. Embora parecesse simples, o vestido era de um modelo ousado até para aquela época. Justo ao corpo, marcando especialmente a cintura, o vestido contava com uma fenda na frente, exibindo e valorizando as coxas. Era branco, liso, e o único detalhe mais glamouroso se encontrava na parte de cima. O decote quadrado era cravejado de pequenas pedras brilhosas, e havia uma única alça do lado esquerdo, evitando que o tecido sedoso escorregasse do corpo. Mary foi cuidadosa em fazer um penteado simples, deixando poucas mechas soltas e completando tudo com brincos de pérolas dado por Thomas para Amara no último aniversário.

Amara desceu as escadas, estava atrasada para o próprio evento. Ariana e os demais já haviam partido quando a anfitriã chegou à sala. Thomas bebia um gole de uísque, também parecia nervoso. Assim como a esposa, ele também usava branco em um terno requintado. Ele virou o rosto ao sentir o perfume favorito. Contemplou a Sra. Shelby, orgulhoso da visão que tinha. Ela sempre ficaria bela independente do que estivesse usando, pensou ele.

— O vestido ficou... incrível. — Amara encarou o corpo.

— Qualquer coisa em você fica incrível. — Ele se aproximou dela, deixando um suave beijo nos lábios rosados. — Vamos, talvez hoje até a lua fique com inveja do seu brilho e receie em sair do meio das nuvens.

— Meu marido, sempre sabendo o que dizer. — Amara sorriu, enquanto era guiada para fora de casa.

O carro já os esperava ligado, partindo em direção a Instituição Shelby em Londres. Minutos depois, Thomas ajudava Amara a sair do carro. A programação do evento era: Baile, jantar e por fim, o leilão beneficente. Logo depois a fita de inauguração seria cortada e o resto da noite seria festiva. O salão principal estava cheio, muitos rostos conhecidos e poderosos cumprimentaram o casal Shelby, aplaudindo-os com devoção. Amara sentiu as bochechas queimarem com a atenção excessiva, já deveria estar acostumada àquilo. Seu coração bateu mais forte quando Thomas se juntou às palmas, encarando-a de modo orgulhoso. Um Eu te amo, foi dito em um sussurro por ela, correspondido da mesma forma por Thomas.

Minutos depois, Amara foi servida com seu espumante favorito. Sorriu abertamente quando May Carleton se aproximou. Ela estava bela. Usava um social conjunto de terno tão bem-feito quanto os dos demais homens naquele local. Talvez fosse isso que chamasse a atenção deles para ela. Aliás, entre tantos vestidos de gala, May estava quebrando os protocolos com seu modo ousado de se vestir.

— A festa está muito bonita, senhora Shelby. — May sorriu.

— Fico feliz por aceitar o convite. — Amara se aproximou. Deu um leve abraço na socia, se afastando em seguida. — Sei que tem milhões de compromissos.

— É claro que eu viria, você é a minha socia e uma boa amiga. — May acenou levemente. — Mas não ficarei até o fim...

— Algum problema? — Amara frangiu o cenho.

— Não, nenhum. — A Carleton sorriu. — Só estou de malas prontas para uma viagem. Irei para a Escócia. Irei conhecer a família da minha...

Namorada? — Amara completou. May corou levemente.

— Sim! — Concluiu de modo firme. — Acho que volto no próximo ano. Não há com que se preocupar em relação aos negócios, deixarei meus melhores treinadores com seus cavalos.

— Eu tenho certeza, May. Aliás, meus parabéns por sua relação ir bem, espero um dia ser chamada para o casamento.

— É claro. — May acenou, antes de partir novamente.

Quando parlamentares da Espanha a abordaram, Amara se alegrou por poder gastar um pouco do espanhol, mesmo estando enferrujada por não o praticar com tanta frequência. De soslaio, avistou Thomas conversar com alguns homens, e pelo semblante, percebeu que algo preocupava o marido. Um sentimento ruim a assolou naquele momento, mas tentou focar em coisas boas, tudo daria certo naquela noite.

— Finalmente chegaram! — Ariana abriu caminho ao lado de Nicholas. — Nossa, você está deslumbrante.

— Não acha que eu estou muito chique para um evento de caridade? — Amara perguntou.

— Você pertence à realeza, tanto cigana, quanto Shelby. — Ariana foi sincera. Amara observou o vestido rosa e de franjas que ela usava, também estava bela. — Você está magnífica.

— Obrigada, a mãe do Nick tem ótimo gosto para vestidos de festa. — Confessou.

— Estou ansioso pelo leilão. — Nicholas ergueu uma taça de champanhe.

— Você já fez uma doação tão genuína e ainda irá participar do leilão? — Nick sorriu com as palavras de Amara. Ela estava realmente surpresa com toda a generosidade do médico.

— A noite está apenas começando, meu bem. — Ele falou com empolgação.

— Onde está Sarah? Krishna? — Amara olhou em volta.

— Vi Krishna com o Michael. — Ariana respondeu. — Já a Sarah, bem, deve estar tentando roubar algo na cozinha.

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Desviando das pessoas como serpente, Sarah conseguiu chegar até o outro lado do salão. Não sabia que eventos de caridade fossem tão formais e entediantes e que principalmente, a comida demoraria para ser servida. Descendo algumas escadas, Sarah foi guiada pelo próprio instinto para desvendar todo aquele local. Um ruído de desaprovação foi emitido alto quando se deu conta que ainda se encontrava em uma área social. Supôs que aquele corredor a levaria para os lavabos. Estava prestes a dar meia volta quando ouviu vozes masculinas e abafadas. Uma energia quase magnética percorreu o corpo da adolescente, fazendo com que ela seguisse os sussurros até parar diante de uma porta.

Deixe um pouco para mim! — Sarah sorriu de lado, reconhecendo o dono da voz.

Girando a maçaneta rapidamente, a Lowry entrou no cômodo pequeno e mal iluminado. O lugar parecia ser um armário de vassouras esquecido pelos funcionários. Dois rostos jovens e masculinos a encararam surpresos, não esperavam ser pegos naquele lugar. Sarah encarou atentamente os rostos. O primeiro era negro, possuindo um riso charmoso e belos olhos castanhos como mel. O segundo era branco e pálido, alto e a encarava como se puxasse do fundo da mente de onde a conhecia.

— Ora, ora, acho que encontrei dois ratinhos. — Ela cantarolou com um riso no rosto.

— Errou o caminho para o banheiro, boneca. — O garoto negro disse. Sarah ergueu a sobrancelha com o termo usado para se referir a ela.

— Na verdade, eu encontrei quem tanto queria ver, boneco. — Retrucou. Sarah encarou o jovem mais alto e esguio.

— Nos conhecemos? — Ele perguntou ao receber um olhar fixo e curioso da menina. Sarah emitiu um ruído, acertando um tapa na cabeça dele.

— Finn Shelby, será que terei que lhe dar uma surra para lembrar-se de mim? — Ela colocou as mãos na cintura. O Shelby mais novo abriu os lábios, parecia chocado.

— Sarah? — Ele chamou, surpreso. — Você... Você voltou e está... diferente.

— Acho que não fomos apresentados. — O garoto negro empurrou Finn para o lado. — Me chamo Isaiah Jesus, e o prazer pode acontecer quando você quiser...

— Vou lembrar disso, Isaiah. — Sarah disse. A atenção da adolescente prendeu-se no que os garotos escondiam. — O que estavam fazendo?

— Nada! — Finn respondeu, arisco.

— Nos divertindo, essa festa está muito parada. — Disse Isaiah. Com um leve puxão, ele a puxou definitivamente para o fundo do armário.

Sarah uniu as sobrancelhas com o que via acima de uma prateleira. Eram fileiras brancas de um pó, e algumas já estavam pela metade. Ela encarou Finn do lado esquerdo, depois Isaiah a sua direita. Garotos idiotas, ela pensou ao revirar os olhos.

— Não deveria mostrar isso a ela. — Finn reprovou a atitude do amigo.

— E daí? — Isaiah rebateu. — Quer provar? — Perguntou a Sarah.

— É assim que se divertem por aqui? — Questionou ela de modo curioso.

— Se chama neve ou Tokyo, é bom. — Finn pareceu relaxar. Por um momento se sentiu como um dos irmãos mais velhos, quando escondia as drogas ou cigarros para que ele não visse ou usasse.

— Ah! Que bom que cheguei à cidade novamente! — Ela sorriu de maneira audaciosa. — Posso ensiná-los a se divertirem do jeito americano.

— Ah, é? — Isaiah sorriu galanteador. Se aproximou mais da garota, afastando um cacho escuro do cabelo longo. — O que você tem para nos ensinar que já não sabemos?

— Consiga um carro e vamos a um lugar melhor que esse, e eu mostrarei. — Ela desviou o olhar para Finn. — Depois me leve a Small Heath, quero matar a saudade do meu bairro.

— Eu gostei dessa garota, como não nos conhecíamos? — Isaiah perguntou se aproximando mais dela. Finn limpou a garganta com a iniciativa do amigo.

— Que bom que agora nos conhecemos. — Sarah retribuiu com um charme. Finn revirou os olhos.

— Acho que vamos conseguir algo lá fora. — Finn deu passos para fora do armário. Checou rapidamente o corredor, acenando para os colegas. — Vamos!

Minutos depois os jovens fugiam da festa, passando quase despercebidos pelos adultos. Sarah avistou Ariana dançando com Nicholas, assim como Amara se encontrava com Thomas. Krishna também parecia muito ocupada com Michael. Do lado de fora, ela sorriu alto quando Isaiah gritou animado. Finn sibilou para o amigo, eles deveriam fazer silêncio se pretendiam roubar um carro. O lugar estava tomado por seguranças, mas todos pareciam ser conhecidos dos garotos, não tendo problemas para passar por eles. Sarah se aproximou do automóvel mais bonito e de lataria branca, indicando aos novos amigos.

— Esse! — Ela apontou.

— Tá maluca? — Isaiah desfez o sorriso. — É o carro do Tommy, ele vai ficar puto se souber que roubamos. Temos que pegar outro.

— Que tal esse? — Finn apontou para outro veículo. — É do Arthur, acho que ele e a esposa podem conseguir uma carona para casa.

— Então sejam rápidos, estou congelando aqui! — Sarah bateu o pé no asfalto.

Os garotos realmente foram rápidos em abrir o carro e ligá-lo. Sarah foi para o banco de trás enquanto Finn e Isaiah disputavam quem dirigiria para longe da festa.

— Os garotos maduros já terminaram o 'mamãe mandou'? — Sarah jogou o corpo para o banco da frente.

Finn bufou ao ter que ir para o lado do passageiro, enquanto Isaiah sentava-se na direção de modo animado. Ele era o mais velho, portanto dirigia melhor que o Shelby.

— Sabe realmente dirigir? — Sarah perguntou, preocupada. Ela não gostaria de morrer antes que tivesse a chance de se divertir um pouco.

— Confie em mim, boneca. — Isaiah lançou uma piscadela a ela. — Vamos ao meu lugar favorito de Small Heath, a proprietária de lá é uma perdição...

— Está falando da Elisa Romero? — Finn abriu um riso malicioso.

— Quem? — Sarah se sentiu fora do assunto dos meninos.

— Você vai saber quando chegarmos. — Isaiah acelerou o veículo.

— A propósito, Sarah, é muito bom que tenha voltado. — Finn a encarou por cima do ombro. Mesmo mais velha, Sarah ainda tinha o mesmo olhar sapeca que ele bem se lembrava. Estava realmente animado por vê-la e sabia que teria uma noite agitada.

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— Venha cá, querida. — Polly foi sutil em puxar Amara dos braços de Thomas. Usou um tom quase materno para apertá-la em um abraço. — Parabéns por suas conquistas. — Sussurrou. Ao se afastar de Amara, a cigana abriu a pequena bolsa, retirando de lá uma pulseira fina de ouro. Algumas pérolas se uniam em pares. Era simples e discreta. — Sei que isso nem se compara com as jóias que recebe do seu marido. — Polly encarou Thomas rapidamente. — Eu a encontrei junto a esse vestido, ambos foram roubados quando minha mãe era doméstica. Essas peças já pertenceram a uma rainha, acho justo que pertença a outra.

— E você a está dando para mim? — Amara encarou a peça delicada. Seus olhos brilharam cobiçando a jóia.

— Para proteger você. Não se preocupe, essa jóia foi abençoada por uma cigana. — Disse Polly. Seus dedos trabalharam rápido em fechar a pulseira em volta do pulso fino de Amara. — Acho que agora você está pronta para fazer seu discurso antes de cortar a fita.

— Eu estou nervosa. — Confessou em tom que somente Polly e Thomas pudessem ouvir.

— Vai dar tudo certo. — Thomas deixou um leve beijo no rosto da esposa. — Quando se sentir insegura, lembre-se que estou ao seu lado.

— Olha só se não é meu casal favorito? — John falou de modo alto. Um pouco da bebida da taça de champanhe caiu no chão. Amara mordeu o canto da boca, percebendo o estado de embriaguez do cunhado.

— Tommy... — Ela virou o rosto para encará-lo.

— Eu vou resolver isso. — Thomas passou pelas mulheres. Em passos largos chegou até o irmão, puxando-o para uma área menos movimentada do salão. — Que merda você acha que está fazendo? — Perguntou entredentes. John sorriu, apontando para a bebida.

— Me divertindo.

— Você já está bêbado. — Thomas passou a mão pelo rosto. Desviou a atenção para a multidão, avistando Ariana e Nicholas conversando. — Você precisa se controlar.

— Ele teve a cara de pau de vim aqui. — John chutou a parede, se encolhendo de dor em seguida. — Eles vieram aqui esfregar na minha cara que estão muito bem.

— Eles quem, porra? — Thomas tentou controlar a fúria, mas era difícil quando John agia como um adolescente inconsequente.

— Ela! — Ele apontou na direção de Ariana.

— Você tem que aprender a deixar as pessoas partirem, será que é tão egoísta assim? — Thomas se aproximou do irmão. Segurou o rosto de John, impedindo que o olhar do Shelby desviasse para outro canto. — Ela está bem, você sabe. Então deve deixar que ela siga com a vida dela, aproveita e faz o mesmo com a sua, não esqueça que você tem cinco filhos para criar.

— Cala a boca! — John se afastou bruscamente. — Eu não sou você que deixou o amor da sua vida partir e ficou se lamentando por isso durante anos. Eu luto pelo que é meu, Ariana ainda me ama, eu sei disso...

— Escuta aqui... — Thomas o encurralou na parede. — Esse evento é importante para a Amara e se você fizer algo que estrague só porque está com ciúmes do atual namorado da sua ex, eu vou te dar uma surra que você nunca mais vai esquecer. Estamos entendidos?

John abriu os lábios, ofegante. Thomas sentiu a têmpora doer, era isso que acontecia quando chegava ao limite. Soltando o irmão, ele avançou contra um garçom, pegando duas taças de champanhe e bebendo-as em goles generosos. John fechou os olhos, precisava de ar puro.

— John! — Ouviu o nome ser chamado por Thomas. — Vai para o banheiro, lave esse rosto e fique sóbrio, vamos para o jantar.

— Você adora dar ordens...

— Faz o que eu estou mandando, porra! — Thomas disse severamente ao irmão.

John engoliu em seco, abrindo caminho pela multidão até chegar do outro lado. Thomas puxou o relógio do bolso, ainda estava longe daquela festa acabar. Seu olhar cruzou com o de um velho conhecido, fazendo com que um ligeiro incômodo fosse sentido no peito. Com passos largos Thomas chegou até a esposa, que se encontrava tão surpresa quanto ele naquele momento.

— Não acredito que mais uma vez me deixaram de fora da lista de convidados, logo quando ajudei a recolher tantas crianças das ruas. — Alfie fingiu uma falsa tristeza. — Achei que éramos amigos.

— Não somos amigos. — Thomas foi rápido em responder de forma ríspida.

— Ai! — O judeu levou uma mão para o coração, onde fingiu ter levado um golpe.

— Alfie, somos gratos por sua ajuda, mas o evento... — Amara foi interrompida.

— Eu entendo, nada de gângster, mas lá fora eu vi vários Peaky Blinders e aqui dentro estou vendo o líder da gangue. — Disse de modo sarcástico. — Mas eu realmente não guardo mágoas, nah. Eu estou aqui pela boca livre e até para fazer algumas doações. O que posso fazer? Eu adoro crianças.

— Então seja bem-vindo. — Amara se uniu a Thomas, e esboçou o melhor sorriso ensaiado.

— Obrigada, Sra. Shelby. — O judeu se afastou acompanhado de seus seguranças.

— Não sei se quero mais surpresas. — Thomas disse quase em um sussurro.

— Ei... — Amara puxou o rosto dele para próximo do dela. — É um evento, sempre há penetras, mas vamos relaxar e aproveitar o resto da noite, ainda tem muita coisa para acontecer.

— Isso também me preocupa. — Thomas aliviou a tensão dos ombros ao sentir os lábios da esposa tocarem os dele. O beijo foi calmo e rápido. Talvez se ela demorasse, ele a arrastaria para uma sala vazia e a deixaria bagunçada. — Eu amo você.

— Eu te amo. — Respondeu ela, antes de dar outro beijo. Por cima do ombro, Amara avistou mais dois nomes importantes para aquela noite. — Agora exiba seu belo sorriso, Sr. Shelby, nossa noite está só começando.

— Eles só querem ser bajulados. — Thomas rangeu os dentes ao olhar rapidamente para trás.

— Bajular por dinheiro é o que fazemos todo dia, querido. — Amara abriu um riso para os líderes do conselho municipal de Birmingham, se esforçando para conseguir boas doações.

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As vozes se mesclavam com risadas e barulho de talheres batendo nos pratos. Mesas redondas estavam espalhadas pelo segundo salão, enquanto o jantar era servido por garçons. Amara percebeu que Thomas não tocou na comida servida, mesmo sendo o prato favorito dele. Também notou o modo que John parecia inquieto ao lado de Arthur e Linda. Tirando um pequeno frasco do bolso do paletó, Thomas bebeu em goles generosos o uísque que trouxe de casa.

— Você viu a Sarah? — Ariana perguntou a Amara, que negou. — Ela já deveria estar aqui.

— Também não vejo o Finn... — Amara respondeu ao olhar para o lado que a família Shelby estava unida. — Nem o Isaiah.

— Ah, essa garota está muito ferrada quando aparecer. — Ariana fechou a mão em um punho.

— Meu bem... — Nicholas puxou levemente o queixo de Ariana. — Sarah é esperta, ela saberá se cuidar seja onde estiver.

— Ela é esperta até demais. — Thomas respondeu ao fechar a pequena garrafa, lembrando-se vagamente da proposta da garota há alguns dias.

— Senhores... — Nicholas levantou-se. O encontro da colher no cristal da taça ecoou pelo salão, chamando rapidamente a atenção de todos. — Sinto muito por estar atrapalhando o jantar de todos, mas essa noite grandiosa deve ser marcada por muitas celebrações. — Nicholas desviou o olhar para Ariana, que de uma hora para a outra exibia bochechas vermelhas. — Quando eu conheci você, logo vi que teria grandes problemas. Ariana Lowry foi a aluna mais desafiadora que tive em todos esses anos atuando como professor. Ela sempre estava cheia de questões, levantando debates e me mostrando que em muitos momentos, eu estava errado. — Ele sorriu, sendo acompanhado por algumas pessoas. — Acho que foi por isso que me apaixonei perdidamente por ela. Ariana é uma mulher de um coração de ouro e uma grande profissional, é a mulher que eu escolhi para ser minha companheira para o resto da vida e a futura mãe dos meus filhos.

Ariana abriu os lábios, puxando todo o ar para os pulmões. O olhar dela pousou em Amara, que tinha um riso aberto no rosto. Ela encarou um pouco mais além, se deparando com o olhar de John, que mais pareciam pedras geladas. Um nó na garganta a incomodou. Nunca foi fácil estar no mesmo lugar que John Shelby, principalmente naquele momento. Ela ergueu a cabeça novamente, quando sua mão foi puxada para cima. Seu coração acelerou quando Nick ajoelhou-se, abrindo uma caixinha vermelha. O anel com um enorme brilhante no topo parecia captar todas as luzes do salão, brilhando com esplendor.

— Ariana Lowry, você aceita se tornar a dona do meu coração? — Nicholas pediu. — Quer casar comigo?

— Nick... — Ariana pôde sentir o mundo girar, mas ela se manteve no lugar. Tentou não olhar para nada mais além do que seu namorado. — Eu aceito. — Um riso tomou de conta dos lábios dela e uma salva de palma foi feita de maneira alta, mas não suficiente para abafar o barulho de vidro se partindo no chão.

John deu passos largos e pesados para longe do salão, Thomas o seguiu, sabendo que a fúria que o irmão sentia nesse momento poderia ser prejudicial. Amara estava feliz pela amiga, mas naquele instante, correu atrás do marido quando o viu partir furioso atrás do irmão. Seus saltos faziam barulhos de maneira alta no piso bem polido da instituição. Avistou John tropeçando nos próprios passos enquanto Thomas o segurava com força.

— Thomas! — Amara gritou, mas não foi ouvida.

Ela apressou os passos, tendo que correr até a porta do prédio para alcançá-los. Ao se aproximar percebeu que os Shelby falavam na língua dos ciganos e não pareciam tão calmos. Thomas estava uma verdadeira pilha de nervos e isso era algo que a incomodava por semana. Amara sabia que o marido escondia algo grave dela e isso deveria ser esclarecido antes que uma briga acontecesse entre eles.

— Chega! — Ela gritou novamente, dessa vez possuindo a atenção dos homens. — Qual o problema de vocês?

O coração bateu acelerado, Amara rangeu os dentes com raiva.

— Volta lá pra dentro! — Thomas ordenou, apontando para ela.

— Não! — Amara deu passos para a direção da porta. A brisa gelada pinicou a pele nua, fazendo-a estremecer. — Tem algo errado acontecendo e você não quer me contar. — Ela apontou um dedo na direção de Thomas. — E você! — Se virou para John, que tentava se manter de pé. Amara quase sentiu pena do cunhado, ele parecia devastado e muito bêbado. — Se recomponha!

— Amara, escuta... — Thomas tentou segurá-la. Amara se afastou, descendo alguns degraus da escada. — Entra, por favor, e eu explico tudo para você.

— Sem segredos Thomas, você me prometeu isso todas as noites. — Ela cuspiu as palavras. — Uma noite perfeita, você me disse.

— Que tudo isso se foda, eu só quero que você fique bem, agora entra. — Thomas desceu alguns degraus.

— A culpa é minha... — John cambaleou para baixo, esbarrando em Amara quando tropeçou.

Thomas! — Alguém gritou.

Foi rápido, pelo menos deveria ser. Amara gostaria de saber o tempo que a morte levava para se anunciar, talvez segundos. Grandes acidentes acontecem rapidamente. Falhas podem ocorrer em quaisquer ocasiões. Um único deslize e tudo pode ir para o ar, em tragédias irreversíveis. Mas em sua visão, tudo acontecera em câmera lenta. Primeiro viu o cunhado esbarrar em seu corpo, levando-a para trás quando ambos perderam o equilíbrio das pernas. Aquele momento a pegou desprevenida, mas serviu para encarar o homem que abriu caminho no meio dos seguranças. Ele atirava assim como os assassinos profissionais representados em filmes que ela assistia no século vinte e um. A morte chegou dessa vez em uma forma humana.

Amara foi ao chão sentindo o impacto acumular-se principalmente na cabeça, fazendo soltar um ruído de dor. O peso que sentiu no peito a fez procurar por ar desesperadamente. Mesmo no chão, viu algumas sombras preencher o campo periférico da visão. Os Peaky Blinders agiram rápido. Amara ainda pôde ver a arma do homem ser jogada para o lado, enquanto ele era duramente espancado. Algo quente inundou o corpo dela, assim como o peso do cunhado ainda a incomodava. John emitiu um ruído baixo, as pupilas dilatadas estavam fixas e brilhantes. Os olhos azuis estavam cinzas.  Amara arfou, levando a mão para acariciar o rosto jovem que John tinha.

— Socorro! — O grito de Thomas encheu os ouvidos de Amara. — Chame uma ambulância!

O peso foi retirado de cima dela. Amara estava em choque, sentindo todo o corpo paralisado devido ao susto. John agonizou ao lado dela. Ele sentia dor, muita. Thomas se atirou ao chão, checando o corpo da esposa, vendo sangue e nenhum ferimento. Ele gritou mais uma vez, dessa vez atraindo a atenção dos convidados da festa.

— John! — O nome foi gritado por uma voz feminina.

Ariana e Nicholas se aproximaram das vítimas atiradas no chão, agindo rapidamente.

— Eu não vejo, não vejo... — Thomas não soube elaborar mais palavras. Amara finalmente piscou quando os olhos arderam. Ela chorou, sendo acolhida em um abraço apertado.

— Ele foi atingido. — Nicholas falou com um olhar clínico. Ariana sentiu as mãos tremerem e os olhos lacrimejarem. — Não dá tempo de esperar uma ambulância. — O médico disse. — Levem esse homem para dentro, precisamos operá-lo. — Gritou. — Ariana, vou precisar de você!

Capitulo postado dia (30/01/2022), não revisado.

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