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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟑𝟎

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TRÊS ANOS DEPOIS

ARROW HOUSE, WARWICKSHIRE

Negativo. Quem diria que uma palavra simples pudesse despertar sentimentos ruins? Amara sentiu a garganta seca ao terminar de ler o resultado do exame que chegou naquela tarde. Assim como todos os outros que começou a fazer após um tempo, aquele também negava seus supostos sintomas de gravidez. Um pensamento ruim a assolou ao imaginar que talvez o destino não quisesse que a maternidade fizesse parte da sua vida. Quem sabe, engravidar naquele momento fosse algo precipitado, principalmente quando a companhia Shelby e as empresas Abbott trabalhavam juntas, exigindo muito mais dela e de Thomas no comando.

Amara afastou a tristeza para longe. Por um curto período, teve a pequena felicidade em deduzir que possivelmente estava gerando novamente um futuro herdeiro para o império que construiu, se sentindo abençoada por ter mais um sonho realizado. Depois do casamento, pensou seriamente em acrescentar mais um membro na família Shelby, assim como seria bom ter suas próprias crianças correndo pelos enormes corredores da mansão em que vivia. Os sintomas clássicos a encheram de esperança, inclusive Thomas, que parecia mais radiante em saber que provavelmente seria pai. Amara sentiu a cabeça latejar com a notícia que teria que dar-lhe, ainda não se sentia pronta para ver a tristeza pairar naqueles belos olhos azuis. Não novamente. Principalmente depois da primeira tragédia na vida do casal. Ouviu duas leves batidas na porta do escritório, e antes que autorizasse a entrada, escondeu o exame embaixo de outros documentos.

— Trouxe chá para a senhora, gengibre e limão, o seu favorito. — Mary sorriu para ela.

— Você é muito atenciosa, Mary. — Amara esboçou um pequeno sorriso a governanta.

O chá foi servido em uma xícara. Amara bebeu um gole generoso. O líquido adocicado e morno atingiu seu estômago vazio sem piedade, lembrando-a de que não comeu nada ao longo do dia. Amara pigarreou, enquanto a governanta a encarava com um semblante piedoso no rosto.

— Sei que algo não está bem com a senhora. — Mary deu um passo para frente. O rosto enrugado pelo tempo demonstrou um semblante bondoso. — Se precisar conversar, estou aqui.

— Você é uma boa ouvinte, Mary. — Amara deixou a xícara acima da mesa. — Infelizmente, ainda não chegou a hora de ter uma miniatura minha ou do Tommy correndo pela casa. — Tentou soar humorada.

— O Sr. Shelby, assim como a senhora, ainda são jovens e podem tentar novamente. — Mary tinha um tom único de consolar Amara, além de ser uma boa companhia para ela naquela mansão, principalmente quando a Shelby escolhia o escritório de casa para trabalhar. — Orarei para que um filho possa vir com saúde e logo possa encher essa mansão com uma alegria única.

— Obrigada, Mary.

Sem mais palavras, Mary a deixou sozinha. Amara recuperou a postura para continuar com o trabalho. Disposição para fazer um filho era o que não faltava entre ela e Thomas. Mesmo triste, tentou enxergar o outro lado da situação, um filho poderia afastá-la de todas as obrigações que tinha. Após unir os negócios com Thomas, Amara viu sua fortuna, assim como o serviço triplicar. A abertura de uma filial do Pacific Modern Diary em Londres também tomava seu tempo. Graças ao serviço bem-feito de Andrea na América, Amara pôde se mudar para a Europa e continuar suas obrigações de lá. A parte mais difícil era ficar longe das Lowry 's, mas neste momento, Ariana se encontrava ocupada, principalmente por concluir o curso de medicina com notas altas, se tornando finalmente médica cirurgiã.

Amara desviou o olhar para o porta-retrato ao seu lado. A fotografia em preto e branco mostrava Thomas e ela em frente da estátua da liberdade. Amie se lembrava bem daquele momento que havia acontecido durante a segunda lua de mel, logo após o casamento civil em Londres.

"Você precisa sorrir, Tommy." Amara bateu o pé de modo insistente, enquanto o fotógrafo esperava pelas ordens um pouco mais a frente. Thomas suspirou e abraçou mais a esposa com um único braço. A América era fria, e Thomas ainda se acostumava com a ideia de liberdade, principalmente estampada naquela enorme estátua.

"É assim que fazem no futuro?" Ele questionou, curioso.

"Sim" Respondeu Amara de modo paciente. "Olhe para mim e sorria, senhor Shelby"

"Isso é muito fácil." Thomas a fitou apaixonado. Segundos depois um flash brilhava diante do jovem casal.

Aquela lua de mel estava carregada de boas lembranças. Amara se lembrava bem das expressões que recebeu ao apresentar Thomas Shelby como seu esposo. Era claro que o menos alegre era Andrea, mas ele deveria saber que sua relação com a antiga Abbott não passaria de algo casual, e tentou não soar incomodado quando soube que ela se casou novamente e principalmente, com um Shelby. Ariana não dispensou o comentário ácido a respeito da decisão da amiga, pelo que parecia, Amara fizera muito mais que apenas negócios na sua volta para a Inglaterra. A família Shelby a recebeu de braços abertos, principalmente Polly Gray, agora ambas estavam se dando bem depois de tantos altos e baixos.

O latido de Anúbis, o bullmastiff dado por Alfie Solomons como presente de casamento, chamou atenção de Amara, fazendo com que ela se desse conta que já era noite. Minutos depois, ouviu passos pesados serem dados para o escritório, surpreendida por Thomas que suspirou cansado ao passar pela porta. Uma pequena agitação ocorreu quando Anúbis entrou logo atrás de Thomas, colocando as patas sujas de terra preta no colo de Amara, sujando-a. Entre lambidas e latidos altos, a mulher tentou controlar o cão e toda sua animação por vê-la.

— Anúbis, você estava fazendo buracos no jardim novamente? — Amara tentou soar séria, ao reparar nas patas do animal. O cachorro de pelagem negra e brilhante se encolheu no chão.

— Solomons nos mandou um verdadeiro escavador. — Thomas colocou a bolsa acima da cadeira. Um comando em rokka fez com que o cachorro se sentasse de modo obediente. — Vamos ter trabalho para treiná-lo. — Concluiu.

— Ele obedece a você facilmente. — Amara se levantou da cadeira. Em um passo largo se uniu ao marido, recebendo um beijo molhado e rápido nos lábios. — Talvez eu deva aprender rokka, pelo menos alguns comandos.

— Posso te ensinar algo. — Disse ele. — Trabalhando até uma hora dessas? — Thomas observou os papéis jogados acima da mesa.

— Eu perdi a hora. — Ela se virou para a mesa novamente. Arrumou os papéis com paciência, até pegar o exame. Sentiu o coração bater mais rápido. Teria que falar com Thomas sobre o resultado. — Eu acho melhor você se sentar.

— Aconteceu algo?

Thomas pressentiu a tensão da esposa. Sentou-se na primeira cadeira que viu, esperando por uma resposta. Amara o encarou com um papel nas mãos. Ligeiramente ansioso, Thomas passou a mão pelo rosto. Amara deu um curto passo até o marido, sentando-se no colo dele, enquanto criava forças para falar o que queria.

— Você está me deixando preocupado. — Thomas falou.

— O exame chegou hoje cedo. — Ela começou. Seu olhar se prendeu ao papel. Uma voz baixa e carregada proferiu as palavras. — Eu não estou grávida. Pelo que parece, é só o velho estresse de muito trabalho.

— Amie... — O nome saiu em forma de suspiro. Thomas acolheu a esposa em um abraço apertado, afagando os cachos longos e escuros. O cigano sentiu um pequeno vazio no peito com aquela notícia, mas deveria se demonstrar forte acima de tudo. A esposa precisava se sentir segura e acolhida ao seu lado. — Eu amo você. Quando for a hora de termos um filho, isso irá acontecer. Não se cobre, não precisamos ter pressa.

— Eu não entendo, Thomas. — Amara se afastou do abraço para encará-lo melhor. — Eu estou bem e você também, então porque não consigo... Às vezes me pergunto se isso tem algo a ver com a viagem.

— Vamos conseguir tudo no momento certo. — Thomas suspirou. De alguma forma ele parecia conformado, embora a tristeza ainda percorresse em seus olhos azuis.

— Mary disse que somos jovens ainda, podemos tentar novamente. — Ela sorriu levemente. Thomas acenou lentamente, concordando.

— É por isso que gosto da Mary, ela sempre parece saber de tudo. E tentar novamente é a parte mais divertida de fazer um bebê. — Disse levemente humorado, tentando de alguma forma melhorar o humor da esposa.

— Thomas! — Amara socou o ombro dele com brincadeira. Um riso fluiu levemente nos lábios do marido, porém uma sombra ainda pairava sobre o olhar do cigano, o que preocupou a mulher. — Você parece cansado. — Notou. — Devo perguntar como foi seu dia? Como uma boa esposa?

— Não. — Ele suspirou novamente.

— Mas pelo seu olhar, eu sei que ele não foi tão bom. Você pode falar comigo.

Thomas engoliu em seco.

— Eu percebo que meus empregados estão planejando uma futura manifestação e agora tenho que fazer meu serviço e do John e evitar paralisações nas fábricas. — Explicou rapidamente.

— Pobre John, agora deve se virar em três para cuidar daquelas crianças. — Amara lamentou.

Desde a fuga de Esme, John deixou a vida que tinha ao lado de Thomas para se dedicar aos filhos. O fato era que cuidar de cinco crianças, um ainda bebê, assustava todas as babás disponíveis de Small Heath, e qualquer nova mulher que se candidatasse ao papel de esposa. Nos últimos anos algumas coisas haviam mudado drasticamente na família Shelby. Arthur estava comprometido com uma religiosa e conservadora chamada Linda, levando Amara a se questionar se aquele relacionamento realmente iria durar, mas pelo que parecia, a mulher fazia bem ao Shelby mais carrancudo, afastando-o inclusive do consumo excessivo de drogas. Thomas também caminhava no limite do certo e errado. Era claro que sair dessa vida não era fácil. Tommy não era capaz de esconder os transportes ilegais de bebidas e cigarros, além de seus negócios com Alfie, outras gangues, e seu controle sobre muitos bairros de Birmingham.

— Eu não queria encher seus ouvidos essa noite, mas estou planejando nosso evento de caridade. — Amara disse. — Nossa instituição irá inaugurar em alguns dias e estou vendo que nomes grandiosos posso convidar.

— Quase havia esquecido disso. — Thomas limpou a garganta. — Em quem pensou?

— Além da nossa família e nossos amigos mais próximos. Pensei em chamar as autoridades de Birmingham, Nova York, Espanha. — Disse entusiasmada. — Eu estou ansiosa para ver o brilho no olhar daquelas crianças quando receberem um lar mais digno e futuramente uma família.

— Eu sei que está. — Thomas segurou o queixo dela, deixando um leve beijo nos lábios macios. — Eu verei o que posso fazer. As obras estão quase finalizadas.

— Thomas precisamos fazer isso dar certo, será um bom jeito de sermos lembrados no futuro. — Ela disse. — Pelo visto terei muito o que escrever para os convidados.

— Eu dei a você uma máquina de escrever no seu aniversário só para que suas mãos não calejassem. Eu sei que escreve com força. — Disse ele.

— Eu sei, mas convites desse tipo não são feitos por máquina de escrever. Devem ser formais e escritas a punho. — Ela o beijou novamente. — Eu quero que tudo dê certo.

— Eu vou garantir que esse dia seja perfeito. — Falou. Então ergueu uma sobrancelha. — Agora, acho que podemos subir para nosso quarto e continuar tentando ter um bebê ou podemos fazer isso aqui mesmo.

— O Anúbis ainda está aqui. — Amara desviou o olhar para o cão deitado no tapete.

— Tudo bem, eu levo você para o andar de cima.

Amara soltou um gritinho quando Thomas a ergueu nos braços e a carregou para o andar de cima sem protestar nenhum segundo. Antes de fecharem a porta, ouviram o latido de Anúbis. Muitas vezes o cachorro dormia no quarto com eles, principalmente em noite de tempestades, onde o cão pedia espaço na cama. No entanto, aquele seria o momento que o animal seria deixado de fora.

Carícias, beijos e até mesmo as poucas palavras trocadas, foram feitas de modo lento e cuidadoso. Os corpos suados e unidos quase em um casulo, foram afundados em uma piscina de prazer. Saciando suas vontades e liberando o cansaço de uma forma peculiar, Thomas guiou o corpo de Amara para um orgasmo acentuado, enquanto era absorvido pelo próprio clímax em um ritmo proeminente. O dia não havia sido fácil para nenhum dos dois, mas ali, juntos, sabiam superá-los de uma forma quase única. Até quando os corpos pareceram pesar como chumbo, não pararam o ato. Somente quando o cansaço adornou os amantes, levando de vez todas as forças e dificuldades vividas durante o dia, foi que se permitiram adormecer nus entre os lençóis grossos, acreditando que o dia seguinte seria ainda mais trabalhoso de lidar. Felizmente, os Shelby sempre sobreviviam ao fim de dias ruins.

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ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

O dia parecia promissor. Antes de ancorar no porto de Southampton e pegar um trem para Warwickshire, Ariana recordou-se do que havia deixado naquele país, para ser mais exata, em Small Heath. A Lowry deveria se sentir nostálgica, talvez Sarah se sentisse assim, tal como Krishna, mas tudo que a médica cirurgiã sentia era um intenso frio na barriga ao pensar que logo estaria novamente na presença de um antigo amor. O aperto de Nicholas a trouxe para a terra, fazendo-a se lembrar que o passado deveria ficar para trás. Agora, Ariana estava sendo amada e respeitada da forma que deveria. Vivendo em uma bela casa no subúrbio de Boston e dando a melhor vida que podia à irmã mais nova. Ela tinha tudo que merecia e era agradecida por isso.

Krishna estava ansiosa, e ao lado de Sarah, ambas uniam as animações e comentários a respeito das paisagens vistas através das janelas do trem. Ariana sentiu os lábios de Nicholas em seu rosto. O médico era um homem justo e bom, a ensinou e a tornou uma ótima profissional. Ariana sempre seria grata por todas às vezes que o homem saiu em sua defesa quando muitos não acreditavam em seu potencial. Era ele que estava lá para lembrá-la que toda a determinação e força só viria se ela deixasse que acontecesse. E aconteceu.

Horas se passaram, mas ao chegarem ao centro da nova cidade, um carro luxuoso os esperava. O sobrenome Shelby foi dito com orgulho pelo motorista, indicando que aquele veículo os levaria para a enorme mansão onde ficariam por algumas semanas. Levou um tempo para que Ariana se acostumasse com à ideia de ver Amara casada com um Shelby, fazendo agora parte da família, e quem sabe, se envolvendo com os negócios ilegais que eles tinham. Ser convidada para ser madrinha do casamento não a pegou de surpresa, esperava por isso, mas saber que Amara e Thomas já haviam tido uma primeira celebração a deixou chateada. Pelo que parecia, eles já haviam se casado durante uma fuga para o País de Gales.

Ariana se lembrava bem da celebração feita há três anos. Tudo acontecera de forma simples, feita em um cartório para oficializar o casamento e finalizado no pub de Arthur, em Small Heath, onde os irmãos dos Shelby comemoraram da sua maneira extravagante e festiva. Ver John naquele momento não fez bem para Ariana, principalmente na tentativa de aproximação vinda do Shelby. Vê-lo com cinco filhos e um segundo casamento indo pelo ralo, a fez criar uma certa empatia pelo jovem homem. John tentava não demonstrar a tristeza por não estar indo tão bem com a atual esposa, Esme, mas não havia nada que Ariana pudesse fazer por ele, nem se ela quisesse.

— Nossa, acho que vamos precisar de um mapa para andar nessa casa! — Krishna arregalou os olhos, despertando Ariana de seus pensamentos.

— O que acha de termos uma casa assim em breve? — Nicholas perguntou próximo ao ouvido de Ariana. Ela sorriu, apertando mais a mão dele.

— Sabe que eu me contento com menos. — Falou.

— Menos pode ser mais. — Um riso charmoso percorreu os lábios de Nicholas.

Segundo depois se encontravam na enorme mansão Shelby. Ariana espirrou quando o enorme cão pulou em seu colo. Sarah se animou com o animal, principalmente por saber que todo aquele tamanho e postura, era apenas uma espécie de máscara para um cachorro brincalhão e dócil. Krishna se uniu a garota, não sabia disfarçar seu amor por cachorros. Amara atravessou as enormes portas da mansão. A nova Shelby usava um vestido ciano de mangas longas e bufantes, com pequenas flores vermelhas estampadas. O modelo era justo apenas no decote e esvoaçante para baixo. O cabelo escuro estava solto e mais comprido, chegando um pouco abaixo dos ombros, e marcados como se antes estivessem presos em um penteado improvisado, denunciando que a Shelby provavelmente estava trabalhando. Amara parecia jovem e iluminada, exibindo um belo sorriso, enquanto dizia algo em outro idioma, cujo nenhum dos visitantes conseguiu entender, mas o cão sim.

— Que fofinho! — Sarah elogiou o animal, enquanto Ariana recuperava a postura ao lado de Nicholas.

— Finalmente chegaram — Amara abraçou a amiga com força. — Estou tão feliz que todos estejam aqui.

— Não pensou que eu deixaria de presenciar mais uma conquista sua? — Ariana perguntou.

— E você tem uma bela casa. É tão grande que me lembra os palácios de Londres, mas aposto que o rei ficaria com inveja de você e... — Krishna mordeu a língua quando se deu conta que falava demais. Amara sorriu, algumas coisas pareciam não ter mudado.

— Além disso, estávamos ansiosos para chegar. — Nicholas falou. — Também estou aqui para fazer uma doação significativa para sua instituição.

— Nicholas, muito obrigado. — Amara levou uma mão para o peito. — Thomas e eu ficaremos muito gratos, assim como as crianças.

— Seu cachorro é sempre tão fofo, eu estava com saudades dele. — Sarah interrompeu os adultos.

— Ele é uma máquina de fazer buracos em gramados. — Amara respondeu à menina. — A propósito, é ótimo vê-la tão crescida, Sarah.

A adolescente sorriu. Aos dezesseis anos, Sarah abandonara toda sua expressão infantil, assumindo de vez a postura de uma jovem mulher. O vestido rosa e de mangas curtas, feito sob medida, combinava perfeitamente com chapéu redondo, assim como as luvas brancas de tricô que ela usava. Amara a puxou para um abraço quando ela finalmente soltou Anúbis, talvez algumas coisas ainda não houvessem mudado na garota.

— Preciso mostrar a vocês seus quartos. — Amara os convidou para dentro com um aceno. — Temos tantas coisas para conversar.

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BIRMINGHAM

SMALL HEATH

A chegada dos carros luxuosos era o motivo de parar o simples bairro de operários, levantando pequenas discussões e murmúrios dos mais curiosos. Ninguém naquelas redondezas tinha tanto poder quantos os Shelby's, e nos últimos anos, a fortuna da família de gangsters triplicou. Atravessar a multidão na casa de apostas foi fácil, ninguém atreveria cruzar o caminho de Thomas Shelby. Quando a presença autoritária do líder cigano preencheu o lugar, Polly o acompanhou até o cofre. Uma bolsa foi aberta e bolos de dinheiros foram arrumados acima das prateleiras. Em silêncio, a Gray observou o poderoso Shelby arrumar uma parte da sua imensa fortuna nos espaços apertados de notas da moeda local.

— Sonhei com corvos. — Ela comentou.

Entrou de vez no cofre, o que tinha a dizer não deveria ser ouvido por outros.

— E isso significa o quê? — Thomas não deu atenção a tia.

— Eles estavam arrancando seus olhos, ainda vivo. — O modo áspero que aquilo foi dito arranhou o interior de Thomas. — Algo ruim está prestes a acontecer. — Disse. — Tem algo que eu deva saber? Algo que você está planejando sozinho?

Thomas rangeu os dentes. Enfiou a bolsa entre duas prateleiras. Toda aquela fortuna acumulada era o pagamento de seu trabalho, tanto na companhia quanto em outros esquemas. Thomas evitou encarar a tia, mas sabia que não podia esconder as coisas dela tão facilmente.

— Um trabalho... — Disse em um tom de voz baixo.

Polly arrumou a postura. Olhou por cima do ombro se certificando que ninguém os incomodaria. Voltou atenção para Thomas.

— Que trabalho?

— Algo que envolve os monarquistas Russos. É um caso perdido, mas o Churchill é o intermediário das negociações. — Disse ele, sem qualquer emoção.

— Thomas isso é perigoso!

— E você pensa que eu não sei? — Seu tom de voz se elevou. Os olhos de Polly se mantiveram firmes. — Isso tudo vai contra a política do governo, é algo que deve ficar em segredo.

— Olhe a sua volta. — Polly ergueu um dedo no ar e apontou em volta. — Olhe todo esse dinheiro e todas as riquezas que acumulou durante esses anos. Você quer mesmo trocar isso por um serviço que pode ser sua ruína? O que acha que sua esposa vai dizer? Ela por acaso sabe disso?

— Eu não tive coragem de dizer a ela. — Thomas limpou a garganta. — Mas é algo que não posso esconder por muito tempo. Amara me conhece bem.

Lembrava-se do olhar que sua amada possuía quando lhe deu a notícia de que ainda não seria mãe. Naquele mesmo dia ele também havia recebido uma carta informando seus novos serviços. Duas notícias ruins em um único dia, mas ele podia suportar a dor calado. Diferente de Amara, que mesmo exibindo um belo sorriso, ainda sentia a dor de não ter um sonho realizado.

— Amara tem passado por um momento ruim, eu não quero preocupá-la. E eu não pretendo aceitar o serviço.

— E o que acontece se recusar? — Polly estreitou o olhar.

— Eu não sei, Polly. Eu não sei. — Thomas massageou a testa.

— Incrível como os problemas grudam em você como cola. — Polly saiu do cofre quando se sentiu claustrofóbica. — Será que você nunca terá um momento de paz?

— Eu vou aumentar a segurança, principalmente agora que o evento de caridade está perto. Esse dia é importante para Amara, e tem que ser perfeito.

— Então você sabe o que fazer. — Polly relaxou os músculos, mas sua preocupação ainda continuava. — Eu espero que use sua inteligência e não deixe sua esposa viúva. Você sabe de todos os sacrifícios que ela fez.

— É por esse motivo que recusarei o serviço. — Thomas travou o maxilar. As palavras de Zaira, dita antes do casamento no acampamento, latejavam na mente do cigano.

'Não deixe que ela se vá novamente'

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Ser recebido por Anúbis sempre que chegava em casa era costumeiro para Thomas. Contudo, naquele dia, enquanto dava passos em direção para as imensas portas da mansão, sentiu a ausência do cão. Thomas ainda se recordava do presente de casamento ilustre que recebeu do judeu Solomons, mas sua surpresa realmente veio após ler a carta melancólica pendurada na pequena cesta em que o filhote havia sido colocado. Alfie estava chateado por não ser convidado para o casamento, e principalmente por não ser o padrinho do Shelby. No entanto, mostrando como não era um homem que guardava rancor, mandou um pequeno filhote de sangue puro, filho do seu cão, Cyril.

Amara criou uma teoria a respeito do presente. Anúbis era um escavador, treinado por Alfie para criar túneis e dar possíveis fugas aos donos se precisassem, além de claro, um bom destruidor de jardins. Thomas criou outra teoria, talvez o cão houvesse sido mandado apenas para atormentá-los em dias de tempestades ou quando pedia por atenção excessiva. Porém, não negava que gostasse da companhia do animal, principalmente em dia de caças ou quando se via perdido em pensamentos ruins, sempre que Amara não se encontrava em casa para ouvi-lo e acalmar seu coração dizendo que tudo ficaria bem.

Thomas ouviu vozes no jardim dos fundos, recordando-se das visitas que estaria hospedando por alguns dias. Seus passos pesados pararam brutalmente ao se deparar com uma garota de cabelos castanhos presos em um laço, sentada de forma despretensiosa no tapete da sala principal. Anúbis latiu para o dono como um pedido de socorro, balançou a cabeça para retirar a fita rosa colocada em seu pescoço. Mesmo que o bullmastiff não pudesse falar, era nítido em seu semblante que ele não estava gostando da brincadeira.

— Sr. Shelby. — Sarah levantou-se do chão às pressas. Arrumou o vestido e ergueu a mão para o homem.

— O que estava fazendo com meu cachorro? — Thomas ergueu o rosto, ignorando a mão da garota a sua frente. Anúbis passou por Sarah de maneira dócil. Era a primeira vez que Thomas via seu cão tão civilizado.

— Rosa combina com o pelo dele. — Ela sorriu, levando as mãos para trás de modo sapeca. Se o Shelby bem se lembrava da garota, sabia que aquilo fazia parte de uma das ideias dela. Sarah era uma rebelde incurável. — Thomas... Digo, Sr. Shelby, o Finn irá comparecer ao evento de caridade? Faz tanto tempo que não o vejo.

— É provável. — Thomas respondeu antes de girar os calcanhares para fora da sala.

Seu pulso foi seguro de modo firme, impedindo de dar mais alguns passos. Thomas prendeu a atenção nos olhos castanhos e animados, percebendo finalmente que a garota crescera muito em todos esses anos, ou ele já se encontrava mais velho.

— Pode me levar a Small Heath? — Ela pediu. Thomas uniu as sobrancelhas, afastando-se das mãos de dedos longos e esguios.

— O que quer fazer em Small Heath?

— Você vai me levar até lá? — Sarah rebateu a pergunta. — Prometo não colocar mais fitas coloridas no Anúbis.

— Não faço negócios com crianças.

— Caso não tenha reparado, eu não sou mais criança. Sou uma jovem mulher. Tenho dezesseis anos e um futuro promissor como advogada. — Disse de modo orgulhoso. Thomas poupou o sorriso. As Lowry não eram tão diferentes quanto pareciam. Ele sabia que Sarah seria a famosa advogada do diabo.

— Então peça a sua irmã, e eu a levarei quando puder.

— Isso é um não. — Sarah revirou os olhos, frustrada. Passou por Thomas. — Eu acredito que terei que dar meu jeito. — Reclamou antes de sumir no corredor.

Thomas respirou fundo, agora teria que lidar com uma Lowry a menos. Após dar uma singela ordem a Mary para manter Anúbis longe das mãos criativa de Sarah, percorreu o caminho que o levaria para o jardim dos fundos. Era fácil ser contagiado com a risada macia de Amara, ela conseguia melhorar qualquer humor, até quando não pretendia fazer isso ou quando não encontrava em um bom momento. Thomas parou brevemente para contemplar a esposa em uma distância considerável. Em meio às amigas, ela parecia mais jovem e iluminada, esquecendo-se por um tempo os pesadelos que vinha tendo desde a trágica notícia que recebeu por não ser mãe. Durante algumas semanas, Thomas acordava com soluços e até gemidos dolorosos vindo da esposa ainda adormecida. Amara dizia em poucas palavras o que realmente acontecia com ela durante as noites sombrias. Pelo que parecia, algo a machucava em seus pesadelos, arrancando de dentro dela o seu bem mais precioso: um filho. O cigano sempre a acolhia em abraços apertados, sentindo o corpo suado da mulher colar no dele, sussurrando nos ouvidos dela que tudo ficaria bem. Assim ele acreditava.

Naquele momento, Thomas também se permitiu contagiar-se com a alegria da esposa, mesmo sabendo ser algo momentâneo. Amara estava afundando em serviços, essa era a forma que ela usava para não cair em pensamentos negativos a respeito da própria fertilidade e até da sua existência naquele século. Thomas deu um passo para o jardim elaborado por um famoso arquiteto francês, deixando o ambiente muito parecido com o que o falecido Abbottt tinha em Boston. O Shelby gostava da combinação de flores exóticas com as locais, assim como sentia a brisa fresca cada vez que as gotas do enorme chafariz de mármore respingavam em rosto com as leves rajadas de vento. Um conjunto de mesa e cadeiras de ferro estavam ocupadas e um lanche reforçado era servido às visitas.

—... Ele sempre está trabalhando, não importa se eu dou férias para meus funcionários ou não! — Amara gesticulou com a atenção presa aos convidados.

— Andrea não sabe a hora de parar. — Krishna fez um breve comentário.

Ouvir o nome de Andrea, fazia com que o estômago de Thomas revirasse. O Shelby não conseguia sentir a verdade vinda do advogado. Muito menos confiava no olhar que o italiano dava sobre sua esposa. A situação piorara quando Amara o contou sobre o pequeno caso que tiveram, alegando que nada entre eles não passara de sexo casual, algo semelhante ao que Thomas tinha com sua secretária Lizzie, antes do casamento. Na mesma moeda, era assim que Thomas Shelby se sentia com Amara. Contudo, seu casamento estava firme e livre de traição de qualquer parte. Amara sabia que Thomas jamais tocaria ou desejaria outra mulher, assim como ela jamais se deitaria com outro homem.

— Tommy... — Ele ouviu o apelido sair de modo suave. Sorriu ao dar passos mais largos até a esposa.

— Oi, meu raio de sol. — Um beijo leve foi deixado acima dos fios escuros e soltos. Amara sorriu enquanto seu esposo se acomodava no braço da cadeira de ferro. — Chegaram cedo.

— Você nem imagina a surpresa do Nick. — Amara o encarou. Seus olhos verdes brilharam enquanto ela erguia o rosto para encarar o marido. — Ele fez uma doação para nossa instituição.

— Foi mesmo? — Thomas encarou o homem sentado na outra ponta. Nicholas acenou levemente. — Obrigado, toda ajuda aquelas crianças são bem-vindas.

— É uma honra estar ajudando um serviço tão bonito como o de vocês. Estou ansioso para o grande dia. — Nicholas encarou Ariana, que o deu um leve sorriso como respostas.

— Todos estamos ansiosos para o grande dia. — Thomas respondeu, mas ele não parecia animado ao dizer aquelas palavras.

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Amara deixou que o brilho da lua banhasse seu corpo coberto por uma camisola fina de cetim. Cantarolou baixinho a música que sua mãe cantava quando ela ainda era uma criança. Era em espanhol e agora, após tanto tempo, ela mal se lembrava da letra completamente. Deixando os pensamentos vagar em direção ao céu iluminado daquela noite, imaginou como seria viver entre as estrelas. Talvez fosse frio demais para ela suportar sem reclamar. Alto demais para poder pôr os pés no chão para se sentir realmente segura. Amara concluiu que não gostaria de viver entre as estrelas, assim como não se sentia brilhando como antes.

— "Fuentecita que corre, clara y sonora, ruiseñor que a la selva, cantando llora... — Amara murmurou. A melodia tocou no fundo da mente, ouvindo claramente a voz rouca e suave da mãe. — ...calla mientras la cuna se balancea. A la nanita nana nanita ella..."

— Gosto quando canta. — Ouviu a voz de Thomas dizer.

Amara se virou, vendo-o dar passos até a janela. Um abraço a envolveu por trás e um beijo foi deixado na curva do pescoço dela, fazendo que com alguns pelos eriçarem devido ao toque.

— Continua... — Thomas sussurrou. — São raros os momentos que a ouço cantar.

— Eu não lembro tanto da letra, faz muito tempo que não a canto. — Amara explicou.

— Tem uma voz tão serena e calma, que eu não me importo se errar uma palavra. Além disso, eu não falo espanhol.

Amara sorriu levemente antes de umedecer os lábios. Seu olhar se prendeu novamente na lua, pegando inspiração de lá.

— "A la nanita nana, nanita ella nanita ella, mi niña tiene sueño ... — Amara relaxou a tensão dos ombros, entregando-se ao toque de Thomas. Ele a embalou levemente, no ritmo em que a letra fluía dos lábios dela. — bendito sea... bendito... sea."

A voz se calou. O silêncio pairou no quarto, sendo possível ouvir apenas o barulho das corujas do lado de fora. A escuridão era bonita. Ao longe, pássaros voavam em direção a luz, se tornando pequenos à medida que alcançavam a altura, até por fim, sumirem na imensa e brilhante luz da lua.

— Me diga, Tommy, vai ficar tudo bem? — Amara quis saber.

Thomas encheu os pulmões.

— Eu vou cuidar para que tudo seja perfeito para você.

— Isso é o que sua boca fala, mas não é o que seu coração diz. — Amara se virou para ele. — Tem algo errado, eu consigo sentir. — Ela levou a mão para o peito nu de Thomas. Sentia o coração dele acelerado, mesmo que ele não demonstrasse nada nas feições. — Os pesadelos, eles... são horríveis, mas acho que estão me avisando sobre algo...

— Shii... — Ele emitiu um leve ruído. — Isso não passa de sonhos. Você está ansiosa por conta do evento, eu entendo, também estou sentindo a mesma coisa. — Disse. A firmeza dos olhos de Amara o intimidavam, embora quisesse, era quase impossível esconder algo da esposa. Ela parecia ter um dom natural para entrar na mente dele e arrumá-lo ou desvendá-lo. — Eu vou garantir para você que tudo seja bem-feito e essa noite possa ser lembrada por muitos anos.

— Se você diz...

Amara escapou dos braços dele sutilmente, indo para a cama. Puxou os cobertores, se enfiando embaixo do último. Chamou Thomas com aceno e logo ele se deitou ao lado dela. O abraço quente e forte dele a acomodou, aquele era o sinal de que ela estaria segura durante a noite inteira. Amara fechou os olhos, deixando que a voz da mãe ainda soasse em seus ouvidos com a música de ninar. Orou pedindo para ter um sono profundo sem sonhos, e principalmente, sem pesadelos.

SURPRESAS É AQUI MESMO!

E a prova de que tenho os melhores LEITORES da fanfic é esse presente abaixo dado pela Thaisbatera que edita MARAVILHOSAMENTE BEM e fez um vídeo todo especial para a fanfic, sério, isso tá ou não tá a nível de trailer da Netflix? Obg Thais, você é uma das leitoras mais fiel que tenho e sou grata pelo seu carinho pela fanfic.
( Se inscrevam no canal dela TB EDITS ) esse vídeo vai ficar na primeira página também ❤️

[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

Saltos temporais são necessários [ terá mais saltos ]. É aquela história que já falei antes, não há motivos para encher linguiça desnecessariamente quando podemos ir para as partes interessantes da trama. Bem vindos a terceira e ultima parte da fanfic é aqui onde o negócio fica doido. Se quiserem saber qual a música a Amara cantou, é essa ai embaixo ♥:

[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

Capitulo postado dia (28/01/2022), não revisado.

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