𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟐𝟕
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LONDRES
Faltava apenas um dia para a grande corrida de Epsom, assim como para o que Thomas fora forçado a fazer. Era da sua consciência o que aconteceria em seguida, fazendo-o quebrar a promessa feita a Amara. Talvez ele não a visse mais, sentia nas entranhas que o próprio fim estava próximo. A caneta pousou sobre a carta que escrevia, aquela seria uma das últimas mensagens que deixaria quando o que tivesse que acontecer em Derby fosse concluído. Ouviu a irmã mais nova, Ada, perguntar-lhe algo, mas a ignorou. Sua atenção estava presa ao que escrevia ali, a carta especial para Amara. Eu não posso perder você, se ela soubesse o quanto essas palavras se repetiam na cabeça do cigano Shelby, não as diria com tanta força. Thomas engoliu o nó que sentiu na garganta e fez uma promessa a quem estivesse disposto a lhe ouvir: Se saísse vivo desse esquema, mudaria o rumo da sua vida.
— Eu trouxe seu chá mesmo assim, seu ignorante. — Ada deixou uma xícara ao lado dele. Thomas ergueu o olhar, ainda pensativo. — O que aconteceu? Quem morreu?
— Ninguém, pelo menos, não ainda. — Disse em tom baixo. — Ada, eu preciso de um favor seu.
— Ah, meu Deus, lá vem. — A mulher revirou os olhos. — O que quer? — Ada sentou-se do outro lado da mesa, abrindo um pequeno espaço na bagunça que Tommy havia feito.
— Eu escrevi duas cartas. — Apontou para os papéis. A Thorne encarou o irmão, principalmente pelo tom de voz melancólico que ele usava. — E você ficará encarregada de entregá-las para as pessoas certas.
— O quê? — Ela ergueu uma sobrancelha.
— Não faça perguntas difíceis. — Thomas suspirou brevemente. Puxou a primeira carta e entregou à irmã. — Essa carta será enviada para o endereço que está nela, é um assunto confidencial e do interesse de pessoas que trabalham para a Coroa.
— E a outra carta?
— Essa... — Thomas umedeceu os lábios ressecados. — Você dará pessoalmente a Amara, depois da corrida.
— O que você está aprontando, Tommy? — Ada uniu as sobrancelhas. Sua face nublou com preocupação. Thomas desviou a atenção perante o olhar piedoso da irmã, odiava receber olhares como aquele. — Qual o seu problema? Por que nunca se abre com sua família? Eu sou sua irmã e amo você, mas é tão difícil entender o que passa na sua cabeça.
— É melhor assim. — Ele a encarou novamente. — Eu amo você, Ada, e por esse motivo é melhor não saber muito sobre o que tenho que fazer.
— E quanto a Amara? — A voz de Ada afinou. Aquele era um sinal de que ela começava a ficar furiosa. Thomas a conhecia bem para saber.
— Ela vai ficar bem, está segura, vou garantir isso. — Disse ao alcançar o paletó sobre a mesa. — Só faça o que eu pedir, tudo bem?
Ada acenou em silêncio. Thomas deixou um beijo casto na testa da irmã. O homem conhecia todos seus irmãos para saber que Ada, mesmo com toda a teimosia, obedeceria a seus últimos pedidos. Em passos largos, chegou até a porta. Seu dia ainda estava começando.
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CAMDEN TOWN
O rei de Camden Town se achava esperto, mas o diabo de Small Heath era o que carregava as cartas nas mangas. Mesmo sendo avisado que Solomons se encontrava ocupado, Thomas adentrou na destilaria, fazendo o que precisava ser feito. Ao lado de um barril, amarrou o cadarço do sapato, fazendo questão de demorar tempo suficiente para que o funcionário de Solomons reclamasse. Tomando a frente com autoridade, Thomas chegou rapidamente ao escritório. Ouviu um entre ser dito entredentes. Com certeza Alfie não se encontrava nos melhores dos humores naquele dia.
Thomas atravessou a porta, mas parou abruptamente no meio da passagem. Seu coração acelerou com a presença inusitada de Amara, fazendo-o pensar rapidamente em novo plano. Com um riso quase sedutor e inapropriado, Thomas sentiu seu corpo ser puxado para ela, como um ímã. O cigano ainda não entendia como poderia perder facilmente o controle perto dela. Alfie inclinou o rosto, visivelmente aborrecido.
— Que merda! Eu não disse que estava ocupado? — O judeu reclamou ao funcionário que sugira logo atrás de Thomas.
— Ele simplesmente entrou...
— Eu tenho pressa. — Thomas limpou a garganta. Desviou a atenção de Amara para Solomons.
— E eu estou em uma reunião. — Alfie disse.
— Eu não me incomodo com a presença do Sr. Shelby. — Amara se pronunciou, tomando a atenção dos homens naquela sala. — Acho que ele também não se importa com a minha, não é, senhor?
O olhar obstinado não desviou seu foco. Thomas não sabia que encontraria Amara com Alfie naquele dia, tampouco não fazia ideia do que ela conversara com o judeu horas antes. Tentou não levar sua curiosidade para o caminho dos ciúmes, mesmo que começasse a sentir isso bem no fundo do peito. Thomas sentou-se na cadeira ao lado dela, mantendo a expressão serena no rosto, tentando controlar a todo custo suas outras intenções. O telefone tocou prendendo a atenção de todos naquela sala. Alfie limpou a garganta impaciente.
— Será que é para você? — Alfie perguntou a Amara, que negou lentamente. Seu olhar pousou sobre o Shelby, que o encarava como certo desprezo. Alfie não negava que gostava do modo audacioso de Thomas Shelby. — Então é para você!
— E, porque não seria para você? É o seu telefone, no seu escritório. — Thomas disse. Lentamente.
— Que seja! — Alfie alcançou o aparelho.
Deslizando o pé sutilmente até Thomas, Amara o chamou cautelosamente. Algo em seu interior dizia que a visita de Thomas ao escritório de Alfie não era um bom sinal. Principalmente ao saber que o homem era o principal responsável pela prisão de Arthur. Quando Thomas a encarou, ela lançou um olhar questionador, mas recebeu em troca apenas uma piscadela rápida. Aquilo a deixou enfurecida, principalmente por ser deixada fora do assunto e consequentemente ignorada.
— Bem, era o Arthur e ele me deu um belo de um bom dia. — Disse Alfie, ao desligar o telefone. A ligação não havia durado nem um minuto.
— Ah, é mesmo? — Amara soou sarcástica.
— Não, ele me mandou para um lugar bem ruim e disse para eu enfiar algumas coisas pontiagudas no meu... Bem, eu acho melhor não entrar em detalhes em respeito a Sra. Abbott. — Disse amargamente.
Alfie arrumou a postura na cadeira, se acostumando com a presença daqueles dois.
— Será que eu deveria estar surpreso por sua presença aqui? — O judeu questionou ao encarar Thomas. Suspirou impaciente. — Hoje o dia me promete ser longo. Principalmente quando todos querem tirar vantagens de mim.
— Vantagens? — Amara se pronunciou.
— Exatamente. — Alfie colocou os pés acima da mesa, enquanto arrumava os óculos em frente ao rosto. — O que eu vou ganhar com vocês aqui?
— Eu consegui autorização para você colocar seu rum em nossos carregamentos. — Thomas limpou a garganta, abrindo a mala que carregava. Entregou ao judeu o papel assinado pelo próprio ministro do império. — Não vai correr o risco de ninguém revista seus carregamentos.
— Estou vendo que tem agido legalmente. — Alfie comentou. Amara encarou Thomas de soslaio.
— As coisas devem ser feitas do modo certo. — O cigano respondeu.
— Seu advogado entrou em contato com o meu. — Amara tomou a atenção de Solomons. — Achei que tinha deixado claro sua margem de lucro no meu hipódromo.
— Eu estou ciente que isso a deve ter pegado desprevenida. Mas eu pensei muito em meus negócios e percebi que não estava ganhando muito com isso. — Amara rangeu os dentes com o teatro barato do judeu. Thomas estava certo sobre ele, Alfie era muito esperto e pouco confiável.
— Você já é bem grandinho, deveria aprender a fazer negócios da maneira certa. — Ela disse. — E manter sua palavra.
— Eu acho engraçado. — Thomas falou.
— Engraçado? — Alfie encarou Thomas.
— Sim, engraçado. — Repetiu Thomas. — Você diz que está sendo usado, mas é o que tem saído com mais lucro. Sei que vendeu imóveis à Sra. Abbott, assim como está tentando tirar toda a minha margem de lucro.
— Negócios são negócios.
— Lá fora tem um homem me esperando. — Thomas sorriu levemente. — Um anarquista.
— E eu o que eu tenho a ver com isso? — O judeu questiono com escárnio.
— Antes de chegar a sua sala eu parei para amarrar o cadarço, então deixei uma granada embaixo de um dos seus barris. — Disse. Amara sentiu as pontas dos dedos adormecerem com a ameaça. Ao contrário dela, Thomas estava pacífico. — Ela está armada com um fio. O homem que ficou lá fora é um daqueles anarquistas que não tem nada a perder e, é ele que está cuidando do fio. Então em poucos minutos, se eu não atravessar aquela porta com o que quero, esse lugar inteiro irá por ar e todos aqui irão morrer.
— Thomas... — Amara murmurou o nome. Seu coração acelerou ao imaginar se aquilo que o cigano dissera era um flerte ou verdade.
— E eu não dou a mínima. Eu vou morrer mesmo, todos vamos. — Thomas finalizou a frase ao olhar para a mulher ao seu lado.
O silêncio se apossou da sala. Thomas não parecia culpado por algo, seu modo calmo entregava que algo estava errado. Amara apertou a mão em um punho, sentindo as unhas machucarem a pele. Encarou Alfie, que parecia avaliar o que Thomas dissera.
— Amigos, acho que podemos resolver essas questões como adultos civilizados. — Amara esboçou um sutil sorriso, no entanto, não foi o suficiente deter a guerra visual de Thomas e Alfie. — Por que homens sentem prazer em matar um aos outros? — Bufou impaciente.
— Tem razão, querida. — Alfie disse. — Eu acho melhor eu ir lá fora e matar somente quem quer nos matar aqui dentro.
— Se sair por aquela porta, além de mim, ele detona a granada. — Thomas foi rápido em falar.
— Eu acredito que tem uma chance muito grande de estar mentindo. — Alfie deduziu.
— Eu não duvidaria. — Amara encarou Thomas. Queria puxá-lo para o fundo da sala e perguntar que tipo de merda ele estava planejado, talvez estapeá-lo também, mas ao invés disso, deixou que a falsa calmaria se apossasse e proferisse as próximas palavras. — Thomas é audacioso, frio e calculista o suficiente para matar qualquer um.
— Até a namorada dele? — Alfie questionou. O olhar do cigano queimava sobre a pele de Alfie. Dizer aquelas palavras com escárnio em voz alta incomodará Thomas.
— O que disse? — Amara foi pega de surpresa. Alfie sorriu de lado.
— Acha que eu não pesquiso sobre as pessoas com quem faço negócios, Sra. Abbott? — Solomons disse. — Eu sei que você e o Thomas Shelby tem algo, que não é do meu interesse, é claro. Também dá para sentir esse tesão palpável entre os dois. Até sinto que estou sobrando aqui. — Fez uma breve pausa antes de continuar. — Por isso acho que não há bomba nenhuma lá fora. Ele não colocaria a vida da mulher que compartilhar a cama em perigo.
— Você não está levando em conta quem eu sou. — Thomas ainda mantinha a expressão suave no rosto, mesmo que seu interior começasse a ferver com as palavras do judeu. — Eu explodir meu próprio pub só por causa do seguro. E não vamos esquecer que eu mandei minha própria tia para a prisão. — Falou sutilmente.
Amara encarou o chão. Aquilo que Thomas dizia não era uma verdade, mas Alfie precisava acreditar que sim. Foi então que entendeu o plano do gângster. Thomas Shelby era um bom mentiroso. Genioso como o diabo.
— Bem, levando em consideração o grande filho da puta que você é... — Alfie ponderou por um momento. — Acho que posso fechar ambos os negócios com sessenta e cinco por cento dos lucros, é claro, se for do seu agrado, Sra. Abbott.
— Ainda é muito, você sabe! Vamos manter o que foi feito há alguns dias, sem mais e nem menos. — Amara respondeu.
— Eu também não aceito. — Thomas disse alto. Com um movimento rápido, jogou para a mesa uma pequena trava do explosivo. — Pense melhor, Alfie. Eu não tinha ideia de que encontraria minha namorada aqui, então, se eu e você tivermos que morremos, infelizmente ela também irá.
— Então que tal... Quarenta por cento?
— É claro que não! — Thomas se inclinou para frente.
— Ah! Porra, vocês querem me levar a falência. — Alfie reclamou.
— Ainda temos quatro minutos. — Thomas o lembrou, batendo os dedos na mesa.
— Escuta, eu fico com os trinta por cento das exportações, Thomas. — Disse. Seu olhar se desviou para o outro lado. — E Amara, continuamos com o que foi acertado. — Alfie disse.
— Feito. — Thomas acenou.
— Por mim tudo bem. — Amara respondeu.
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ALGUMAS HORAS ANTES
BIRMINGHAM
Era a primeira vez que Amara conhecia de perto o escritório de Thomas, pelo menos, o que tratava de negócios legais. Ainda era cedo quando pediu ao motorista para levá-la ao centro de Birmingham. Ao pôr os pés para fora do carro e subir os degraus que a levariam para o escritório do Shelby, traçou novamente tudo que pretendia dizer a Thomas. Estudou as palavras que usaria para convencer o gângster que era uma viajante do tempo que conseguira fazer uma vida melhor no passado, e que estava ali apenas para salvá-lo.
Não parecia ser fácil contar toda a verdade, e o estômago de Amara revirava só de imaginar como Thomas acolheria todas aquelas informações. Com duas batidas, foi recepcionada pela mesma jovem mulher que virá no Eden Club há muitos dias. Amara esboçou o melhor sorriso ao entrar no modesto escritório. Lizzie parou atrás da mesa, cruzando os braços com um semblante desagradável no rosto.
— O que a rainha veio fazer aqui? — Lizzie perguntou. Amara uniu as sobrancelhas, confusa.
— Eu não sou rainha. — Falou. — Embora pertença à realeza cigana e fique muito bem usando uma coroa cravejada de jóias. — Puxou um leve riso de lado quando a secretaria bufou. — Vim falar com o Thomas, ele está?
— Não, ele foi para Londres, deve estar na casa da irmã, Ada. Pelo que parece, tem alguns compromissos por lá. — Falou.
— Você deve ser a Lizzie. — Amara e fitou. — A antiga noiva do John Shelby. Eu lembro de você no Eden Club.
— Sim, você é a mulher que destroçou o coração do Thomas.
— O quê? — Amara recuou um passo. Lizzie deu um para frente.
— Você chegou na cidade e todos só falavam do seu envolvimento com o Thomas. — Lizzie disse. Se recordava do momento em que Thomas deixará de pedir seus favores por conta da nova garçonete. Mesmo que não tivesse tido a chance de conhecê-la pessoalmente, aquilo a fez se sentir descartada pelo Shelby. — Então você foi embora e o Thomas ficou desolado.
— Mas aposto que você o consolou bem.
— Ele não falou de mim, não é? — Lizzie perguntou. Amara suspirou, negando. — Saiba agora que em muitas noites, fui eu que evitei que o coração de Thomas se partisse ainda mais. Eu tive que ouvir ele sussurrando seu nome em meu ouvido. Gozando em mim enquanto pensava em você. E agora você voltou, vai fazer a mesma coisa novamente?
— Lizzie, você não faz ideia do que aconteceu. — Amara deu um passo para frente, estudando a mulher. Lizzie engoliu o nó que se formava em sua garganta. — Você é apaixonada pelo Thomas, e mesmo assim, iria se casar com o irmão dele.
— Eu acho que é você não faz ideia do que aconteceu enquanto estava fora. — A secretária deu as costas. — Mas ele escolheu você. Sempre será você.
— Eu sinto muito por você. — Amara deu outro passo para frente. Ergueu a mão para tocar o ombro da mulher, que recuou rapidamente. — Eu sei qual era o seu passado, seu antigo trabalho. Creio que não teve uma vida fácil, mas o Thomas te deu uma oportunidade de mudar de vida, então quer dizer que ele gosta de você também. Imagino que sua relação com o Tommy seja de muito tempo. Eu entendo o que você sente por ele, também me sinto igual.
— Se o amasse não teria partido.
— Naquela época eu não queria sentir nada por ele, mas isso mudou.
— E agora terei que vê-los juntos. — Ela sorriu secamente.
— Compreendo que será doloroso, mas é um sacrifício que terá que fazer. — Amara engoliu em seco. — Você ainda encontrará um homem que ame você na mesma intensidade que ama o Thomas.
— Você não se importa com isso? — Lizzie perguntou. Amara deu de ombro.
— Eu sei o que Thomas sente por mim, então não, eu não me importo por você ser apaixonada por ele. — Respondeu. — Mas não cruze meu caminho, não quero ver você como inimiga. Aliás, podemos ser boas amigas, se quiser.
— Podemos. — Sorriu. — Mas infelizmente, isso é algo que não acontecerá. — A secretária falou. A decisão de Lizzie estava tomada, e Amara não questionaria.
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AGORA
Longe de Camden Town, Alfie e suas façanhas para conseguir mais lucro, Amara voltou a respirar. Por um momento achou que fosse morrer, Thomas realmente parecia sincero quando dizia ter deixado um explosivo para acabar com todo o lugar. Se não fosse suas últimas palavras alegando ter destruído o próprio pub e colocado Polly na prisão, ela com certeza teria caído de vez no teatro do gangster cigano. Ao sair da destilaria, pediu a Thomas um lugar reservado para conversar. Enquanto cada um seguia o rumo em carros diferentes, Amara ensaiou o que diria. Espiou rapidamente o lugar que estava, era Small Heath.
Amara sabia que Thomas estava preocupado com o que ela tinha de dizer. A última vez que pedira a ele para conversar em particular, foi quando disse que partiria para a América. No entanto, ela não estava ali para se despedir. Olhando em volta, percebeu estar próximo a um canal, onde talvez Thomas recebia suas mercadorias contrabandeadas, isso poderia explicar a quantidade de barcos ancorados e caixas de madeira. O frio fez com que Amara fechasse mais o casaco, enquanto caminhava logo atrás do Shelby.
— Eu não venho aqui há muito tempo. — Thomas falou ao parar. Tirou do bolso um cigarro, acendendo-o. Amara emudeceu os lábios e aceitou de bom grado quando o cigarro foi colocado em sua direção.
— O que vinha fazer aqui? — Ela perguntou antes de fumar.
O frio naquele lugar era impiedoso e o silêncio era ensurdecedor. Amara procurou abrigo em uma doca enquanto Thomas parecia pensar no que diria.
— Era onde eu encontrava uma moça, durante a adolescência, antes da França. — Ele respondeu. Amara ergueu as sobrancelhas, surpresa. Tragou mais uma vez o cigarro na tentativa de aquecer o corpo por dentro.
— E vinham para cá porque é afastado e tem aparência de abandonado?
— Sim. Mas desde a morte dela, eu prometi que nunca mais voltaria aqui. — Ele se virou para ela.
— E então por que viemos para cá? Poderíamos ir ao seu escritório.
— Eu achei que aqui seria apropriado para conversarmos. — Encurtou a distância. Amara devolveu o cigarro. Era hora de contar o que queria. — Talvez eu já saiba o que quer dizer.
— Eu não vim me despedir de você, Thomas. — Sorriu levemente ao dizer aquilo. Queria tranquilizar o coração do cigano. Thomas aliviou as expressões pesadas do rosto, jogando o cigarro para o chão, apagando-o. — Acho que já está na hora de você saber quem eu realmente sou.
— Eu sei quem você é. — Ele sorriu.
Amara foi colocada acima de um caixote, no mesmo momento em que deixou os lábios serem tomados para um beijo lento e molhado. O toque de Thomas em seu corpo era forte e caloroso, e ela lutou contra os desejos para o afastar.
— Tommy, eu preciso te contar de onde eu vim. — Disse ao empurrá-lo levemente.
— Da América, eu já sei.
— Não. — Ela o segurou. Thomas balançou a cabeça, ligeiramente confuso. — Eu vim do futuro. Do século vinte e um. Para ser mais exata, do ano de dois mil e vinte um.
A primeira reação do cigano foi sorrir, mas fechou os lábios em uma linha dura quando percebeu que Amara não parecia contar uma piada. Thomas deu um passo para trás, enquanto seus olhos se arregalavam para o que ela dissera.
— Que tipo de piada é essa? — Ele perguntou. Amara suspirou.
— Não é piada. Eu não teria motivos para mentir ou fazer piadas sobre isso. — Disse ela. — Eu saltei no tempo quando acreditei fazer um pedido para uma estrela-cadente. Aposto que já ouviu histórias sobre viajantes do tempo.
— Minha mãe costumava contar a mim e a meus irmãos, mas são apenas histórias. — Ele estava em negação, o que era compreensível. Amara passou a mão pelo rosto. Precisava ser mais convincente.
— O meu livro. O que você leu é sobre você Thomas, sua vida inteira está ali, inclusive, o final. — Revelou. Thomas travou o maxilar, por um momento sentiu uma leve tontura, mas se manteve de pé. — Em meu século, eu estava pesquisando sobre mentes criminosas brilhantes até chegar em você. Acontece que os Peaky Blinders são famosos e você é a mente mais engenhosa que tive a chance de conhecer. Eu fiz muitas pesquisas, vim para Birmingham para conhecer seu bisneto, Caleb Shelby, mas infelizmente sofremos um acidente depois do meu trágico pedido. Tecnicamente, morremos naquela linha temporal. — Por um momento ela perdeu o fôlego. Thomas estava em choque, talvez fosse muita informação para assimilar. Amara fez uma pequena pausa antes de continuar. — Eu sempre soube dos seus esquemas e principalmente onde te encontrar, mas precisava de uma forma para me aproximar de você. No começo foi apenas para a pesquisa, eu acreditava que só assim eu voltaria para meu tempo. Mas então nos envolvemos e eu percebi que não voltaria facilmente para o século vinte e um. Eu partir e reconstruir novamente minha vida, mesmo sentindo falta dos meus pais e amigos deixados no futuro, e principalmente de você, deixado em Small Heath. Mas eu descobri que minha volta ao passado tem um significado maior. A sua carta também serviu para abrir meus olhos.
— Minha carta? — Murmurou as palavras. Thomas estava pálido, e em um estado quase catatônico.
— Você sonhava comigo. — Respondeu. Thomas suspirou, piscando várias vezes. — Você disse isso na sua carta e me confirmou também naquele dia no hotel. E minha volta para o passado foi para salvar você do mesmo destino de Kevin Mooney. Aqui estou, disposta a acabar de vez com toda a linha temporal escrita naquele livro e de onde vim só para criar uma segura para nós dois. Eu sei que isso pode ser egoísta, puta merda. — Ela balançou a cabeça decepcionada consigo mesma. — Nosso envolvimento destruiu o surgimento de algumas pessoas, mas eu amo você, Thomas. E eu demorei para perceber isso e agora que não tenho medo de esconder o que sinto. Eu preciso te salvar para poder ficar em paz.
— Amie... — Thomas piscou, em choque.
Amara saltou do caixote.
— Eu sei que é difícil acreditar nessa história. — Ela segurou o rosto dele. Thomas puxou o ar para os pulmões. Aquilo tudo que ouviu não era realmente fácil de digerir.
— Alguém mais sabia disso?
— A Ariana, a Sarah e a Polly...
— A Polly sabia? — Ele se afastou em um passo. — Eu fui o último a saber?
— Olha o seu estado! — Amara aumentou o tom de voz. — Como eu contaria isso anos atrás sem ser levada ao manicômio? Thomas, eu estava me protegendo.
— Me dê uma prova que realmente veio do futuro. — Ele trocou o peso da perna. Amara bufou.
— Uma guerra. — Falou, foi a primeira coisa que pensou. Thomas engoliu em seco. — Em mil novecentos e trinta e nove irá acontecer uma Segunda Guerra Mundial e ela vai ser ainda mais devastadora, principalmente para o nosso povo.
— Nosso povo? — Questionou.
— Eu descobri que sou metade cigana, eles vivem no País de Gales, mas isso é outra história. — Falou ao gesticular. — Durante a guerra, judeus e ciganos serão um grande alvo. Atentados, bombardeios, mortes e outras coisas terríveis acontecerão a boa parte da população mundial.
Thomas deu passos largos para fora da doca, precisava ar puro. Seu olhar vagou pelo canal. Uma nova guerra. Talvez ele não suportasse outra, não quando seus negócios estavam começando a dar certo.
— Não será o último problema do mundo. Ainda teremos a quebra da bolsa de Nova York em vinte e quatro de outubro de mil novecentos e vinte e nove.
— O futuro me parece perigoso. — Murmurou ao fechar os olhos. Era difícil acreditar em tudo aquilo. — Então, meu destino é desaparecer?
— Sim. Eu sinto muito, Tommy. — Amara manteve uma distância segura. Thomas girou os calcanhares e deu passos na direção dela.
— Eu estou tentando acreditar em tudo isso.
— Eu sei que é difícil, mas lembre-se das histórias. Elas não são só lendas.
— É difícil. — Confessou. Então ficou em silêncio por um longo tempo.
Amara cruzou os braços. Thomas estava abismado e inquieto.
— Então eu me casei e tive netos? — Finalmente ele falou.
— Dois casamentos. Dois filhos. — Ela ergueu o queixo. — Você não era muito feliz, foi o que eu soube, mas não cheguei a me aprofundar tanto em sua vida pessoal... não tive tempo.
— E você mudou tudo... — Thomas lambeu os lábios.
— Drasticamente, sim. — Respondeu. — De alguma forma estamos ligados, eu vi isso em uma espécie de visão. Existem coisas que eu não sei como funciona, ou como explicar. Mas sei que tenho que salvar você Tommy, foi por esse motivo que abri mão da minha vida no futuro e fui jogada no passado.
— Tantos sacrifícios...
— Por isso estou disposta a fazer outro. — Deu um passo para frente. Thomas tinha um olhar benevolente. — Vamos fugir, vamos deixar nosso lado cigano falar mais alto, e eu sei que ele tem gritado no seu interior. Precisamos nos afastar e pensar sobre o que podemos fazer a respeito do nosso futuro, mas temos que fazer isso longe dessas pessoas. Desse lugar! — Amara soltou uma respiração profunda. — E então, você vem comigo?
— Eu... — Thomas ergueu o rosto para o céu. Tudo que ouvira era perturbador e instigante. Quando voltou a encarar a mulher à sua frente, se deparou com olhos firmes e penetrantes. Mesmo dizendo quem era de verdade, Amara jamais deixaria de ser um mistério. — Eu não posso fugir do acordo com a Grace...
— Então faremos isso quando você terminar o que tem que fazer. — Amara se uniu ainda mais a ele. Segurou o rosto do cigano. — Podemos ir para Gales, ficaremos seguros lá e podemos fazer uma nova vida.
Ele não conseguiria dizer não, mesmo que seu destino depois do serviço ainda fosse incerto. Lembrou-se vagamente da carta deixada com Ada, aquela fora uma medida precipitada da sua parte, mas necessária. Thomas cedeu ao pedido de Amara. Fugir era só o que ele queria.
— Tudo bem. — Thomas respondeu quase em um sussurro. — Compre as passagens para o País de Gales e fugiremos para lá quando eu terminar meu serviço na Derby.
Um riso satisfeito deslizou pelos lábios de Amara antes que ela puxasse Thomas para um beijo. Logo as carícias calmas se tornaram frenéticas e Amara foi levada novamente para dentro da doca, sentada acima do caixote. Um riso rebelde vacilou nos lábios de Thomas, enquanto agia rápido para liberar a ereção da calça. Ele a queria naquele momento.
— Eu faço isso por você. — Ela murmurou. A mão deslizou em volta do comprimento duro, masturbando-o lentamente.
Thomas deslizou as mãos por baixo do vestido, soltando um pequeno sibilo entre os dentes ao sentir que a mulher estava molhada. Seu polegar pousou logo acima da pequena protuberância feminina. Amara arfou, sentindo o clitóris receber uma atenção mais que especial. Thomas sentiu o pau endurecer um pouco mais, sua outra mão puxou os fios escuros para trás, inclinando o rosto de Amara para poder encaixar melhor o beijo.
— Não pare... — Thomas sussurrou com o modo habilidoso que Amara tinha em tocá-lo.
Amara encontrou uma posição melhor no caixote, guiando o pênis duro para sua entrada encharcada. Ambos possuíam uma necessidade insaciável de gozar, e mesmo que não dispensassem as preliminares, eles teriam outras oportunidades para se amarem. Thomas puxou Amara para frente, estocando-a de maneira forte e alta.
— Você é sempre tão bruto... — Ela sorriu enquanto mechas de cabelo cobriam seu rosto.
— Eu sei que gosta disso. — Disse entredentes.
Amara confirmou em silêncio. Prendeu Thomas ainda mais entre as pernas, não se importando com o leve incômodo de ter as coxas arranhadas pelas unhas curtas do homem. Ouvir o nome ser gemido alto, fez Thomas ir mais fundo, empurrando de vez o corpo dela para cima do caixote enquanto investia cada vez mais dentro. Amara arqueou as costas, tentando colar seu corpo o máximo que podia ao de Thomas, mesmo que peças de roupas ainda os manter-se levemente afastados.
O frio já não incomodava, nem mesmo o desconforto de trepar em cima de um caixote. O calor se apossara do casal, que mantinha um ritmo constante de vai e vem, em uma orquestra de rangidos de madeira e virilhas se batendo. Thomas respirava ofegante, com dentes cerrados. Sabia que mesmo que desse tudo no sexo, não seria capaz de saciar a fome de Amara, e ele jamais reclamaria disso. O creme que saía dela o fazia deslizar rapidamente para dentro. A forma quase feroz que ouvia os gemidos femininos o deixava mais perto do orgasmo. Amara se contraiu ao sentir todo aquele esforço ser dissolvido em um orgasmo intenso, com ondas fortes percorrendo do seu sexo para o resto do corpo.
Thomas a puxou para cima, sorrindo levemente ao saber que ela chegará ao orgasmo primeiro. Ele já estava acostumado e orgulhoso disso. Um gemido rouco voou da sua boca quando seu pênis despejou o leite denso entre as pernas dela. Aquela era a melhor sensação a ser sentida, poderia morrer assim se pudesse. Thomas ergueu a cabeça e fitou o teto de tijolos tomado por limo. Seu pênis ainda pulsava raspando a entrada apertada e quente. Sentiu o rosto ser puxado para baixo e um beijo delicado ser deixado em seus lábios.
Polly estava certa no que dissera, o amor o deixava mais vivo e disposto a ver o mundo de outra forma. Amara era a mulher certa para ele, e sua suposta viagem no tempo não seria em vão.
Capitulo postado dia (16/01/2022), não revisado.
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