𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟐𝟏
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BIRMINGHAM
Thomas praguejou baixo quando sentiu o álcool ser derramado em sua ferida do ombro. A briga com os homens de Sabini não fora fácil, e depois de um intenso banho de sangue na reinauguração do Eden, os Peaky Blinders ganharam o controle novamente do lugar. Thomas sabia que teria que ter uma abordagem mais agressiva e mandaria uma boa mensagem para Sabini, o que acontecera na noite anterior não sairia impune. Sabini não tinha só colocado em perigo a vida de muitos inocentes, mas como a vida da mulher que Thomas jamais conseguiu esquecer. Se algo grave acontecesse a Amara naquela noite, Tommy sabia que jamais se perdoaria. Do outro lado, Polly cuidava do ferimento, limpando e suturando com cuidado o tiro de raspão que por muita sorte não atingira o peito de Thomas.
— Você falou com ela? — Thomas perguntou tão baixo que duvidou se Polly tinha realmente ouvido algo.
— Sim. — Respondeu. Quebrou a linha suja de sangue após dar um nó apertado. Se levantou da cadeira segundos depois, arrumando a bagunça sobre a mesa. — E ela saiu apavorada daquela confusão.
Thomas suspirou, jogando a cabeça para trás. Quando fechava os olhos, era possível se lembrar do rosto e do belo sorriso dado em sua direção antes que um confronto começasse do lado de fora e terminasse dentro do clube.
— Eu errei... — Murmurou, mantendo os olhos fechados, enquanto a dor latejante do ombro insistia em lembrá-lo o que acontecera horas atrás. — Ah, se eu tivesse novamente uma chance de fazer tudo diferente...
— Você deve estar delirando por causa do tiro que levou no braço. — Polly comentou. — Ela voltou, mas não por sua causa. Na verdade, parece muito bem e saudável longe de você.
— Então você acha que eu faço mal a ela? — Thomas se levantou da cadeira. Encarou a tia, esperando por uma resposta.
— Você quer que eu responda mesmo? — Polly o encarou. O olhar da tia o fez pensar novamente em tudo que passara ao lado de Amara, enquanto ela fingia ser uma garçonete. Momentos ruins ainda o incomodavam profundamente. — Sabe porque o John e a Esme brigam tanto?
— Não, eu não tenho interesse em saber. — Disse.
— Porque a Esme não aceita a vida que leva ao lado dele.
— Ela é uma Lee, deveria estar acostumada. — Comentou.
— Uma Lee que vivia livre e não confinada entre quatro paredes. — Polly suspirou. Deu um passo largo até o sobrinho, segurando o belo rosto entre as mãos. — Eu peço a Deus que dê muitos anos para aquele casamento, assim como peço em minhas orações que ele tenha piedade da sua alma.
— Primeiro tenho que fazer as pazes com Deus para que depois ele possa ter piedade da minha alma. — Thomas se soltou da tia e caminhou até o outro lado da sala, vestindo seu casaco.
— Já vai sair? — Polly perguntou.
— Sim, eu tenho que resolver alguns conflitos. — Respondeu.
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Thomas sabia que teria um bom tempo para falar com Amara quando resolvesse o que precisava com Grace. Pensou seriamente em não comparecer à reunião, algo em seu interior gritava para que ele desse meia volta e não entrasse naquele convento. Um suspiro cansado saiu das suas narinas. Thomas subiu as escadas, se deparando com um corredor longo e estreito, no entanto, sua atenção pousou sobre a mulher que o esperava. Grace sorriu ao avistar seu Peaky Blinders favorito, e não poupou de fazer um comentário maldoso ao perceber seu estado. Sabia que a noite anterior fora intensa a Thomas.
— Você está vivo. — Sorriu maldosa. Thomas puxou o ar para os pulmões prendendo-o ali para que não fizesse uma besteira com aquela mulher e piorasse toda a situação. — Espero que seu clube não tenha ficado tão destruído.
— Ele não ficou, mas não posso dizer a mesma coisa dos rostos dos homens que invadiram o lugar. — Disse de modo áspero.
— É bom saber que compareceu à reunião, venha. — Disse ela, abrindo a porta ao lado.
Thomas entrou logo após Grace, parando alguns segundos ao ver seus inimigos irlandeses sentados do outro lado de uma mesa. Thomas podia disfarçar a dor de muita coisa: de um tiro ou a perda de um animal, mas não sua raiva em ser usado para algo. Principalmente pelos seus dois grandes inimigos.
— O que foi? Viu um fantasma? — Perguntou Grace, enquanto se sentava em uma cadeira.
— Fantasmas me deixariam menos puto que agora. — Disse ele, ao dar um passo cauteloso. — Demônios, por outro lado, me incomodam profundamente. Estão trabalhando juntos. Agora tudo faz sentido. — Thomas estreitou o olhar no de Grace, fechou as mãos em um punho apertado, sentindo o machucado em seu ombro latejar. — Explodir meu pub foi sua ideia. A tal da escolha foi armada também. Grace, você estava por trás de tudo.
— Touché. — A loira sorriu. — Acho que consegui mais uma vez surpreender você.
— Surpreender? Não, você ainda está longe disso. — Thomas sorriu de modo seco. Seu olhar pousou sobre os irlandeses, especialmente na mulher, Irene. — Sabe, acreditei que os fenianos tinham princípios e não trabalhavam para agentes da Coroa ou muito menos misturavam sua vida pessoal com política.
— Chega! — Irene disse entredentes.
— Sabemos que os mais zangados são os mais fáceis de lidar. — Grace cruzou os braços. — Vamos direto ao assunto...
— Quem está no comando aqui? — Thomas levantou a voz.
— Se você fosse menos arrogante e ouvisse mais... — Grace disse alto. Thomas a encarou.
— É melhor medir suas palavras, eu não estou acostumado a ser tratado dessa forma. — Disse. — Eu não vim fazer parte de um exército.
— Então... Você já cumpriu uma missão militar e agora cumprirá outra. — Grace empurrou um envelope. — Podemos terminar isso rápido, já que está óbvio que ninguém aqui quer respirar perto do outro, Thomas.
O Shelby deu um passo à frente, pegando o papel. Um riso ácido surgiu em seus lábios ao ler a ficha do seu novo alvo.
— Por que ele? E porque eu tenho que fazer isso? — Thomas perguntou.
— Porque sim. — Grace respondeu. — Porque optamos pelo óbvio.
— Porque se alguém descobrir que fui eu que fiz, será um ato criminoso e não político. — Thomas jogou a pasta sobre a mesa. — Ou pessoal.
— E não será a primeira vez que fará isso, se lembra de Campbell? — Grace estreitou o olhar com Thomas. — Mas dessa vez não será descoberto, eu vou garantir que ninguém descubra sobre isso, vai receber imunidade depois disso.
— E durante a missão? — Thomas questionou.
— Não terá ajuda de nenhum agente da Coroa, estará sozinho.
— E nem podem saber que estamos envolvidos. — Irene se pronunciou.
— Você foi escolhido e não tem a menor escolha. — Grace se levantou.
— Você morre se recusar e tenho certeza de que ninguém vai chorar sua morte. — O homem que acompanhava Irene falou.
Thomas rangeu os dentes. Estava sendo encurralado em uma jaula cheia de leões, sabia que morreria de qualquer forma. Seu olhar pousou sobre Grace, chegando a uma conclusão drástica.
— No entanto, eu me recuso. — Foi a última coisa que disse, antes de sair da sala, voltando a respirar longe daquelas pessoas.
— Thomas! — Ouviu Grace chamar. Ele parou no meio do caminho, sem encará-la. — Vai perder tudo que pediu naquela carta. Tem certeza de que vai renunciar a tudo?
— Aquele que me olha com superioridade, o que acompanha a Irene, é Donal Henry, um espião. — Voltou na direção dela, dizendo aquelas palavras quase em um sussurro. Grace puxou o ar para os pulmões ao encarar Thomas de perto. — Está trabalhando com os irregulares contra o grupo pré-acordo.
— Como sabe disso?
— Meus homens vão aonde os homens que trabalham para Coroa não vão. — Thomas passou a mão pelo rosto, sabendo que provavelmente estava vermelho de raiva. — Quando eu disse que você estava se metendo em algo que não conhecia, eu estava te alertando sobre esses perigos de se expor tanto. Você quer agir com sabedoria, mas está sendo muito burra em acreditar naquelas pessoas e vai acabar morta, e infelizmente não vai ser pelas minhas mãos.
— Se o que diz é verdade, eu vou resolver. — Respondeu depois de um tempo. Thomas deu alguns passos para trás.
— Se o espião morrer, então temos um acordo. — Disse ele, tomando das mãos de Grace o envelope pardo.
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NEWPORT
A luz branca quase a cegou. Amara sabia que estava em um sonho, o mesmo que tinha quase diariamente desde que chegara aquele tempo. O branco tomava de conta do chão ao teto, estava em uma espécie de sala sem móveis, um cubículo branco como papel. Girou olhando em volta, tentou gritar, ouvindo sua própria voz ecoar pelo lugar inúmeras vezes. Lugar nenhum, provavelmente era onde estava. Amara deu um passo para frente, seguido de outro. Caminhou por mais tempo que esperava, mesmo que não parecesse ter saído de onde estava, era se como estivesse em uma esteira elétrica, um ciclo interminável. Por fim, ao se sentir cansada e sabendo que não receberia a ajuda que precisava, sentou-se no chão, encolhendo as pernas e se concentrando para acordar daquele sonho. Foi então que viu uma linha vermelha de lã surgir do que parecia ser uma sútil neblina que a cercava.
Se levantou do chão quase em um salto. Seguiu a linha até se deparar com uma porta, que antes não se encontrava ali. Amara não pensou duas vezes antes de girar a maçaneta, encontrando uma escada branca que a levaria para uma espécie de piscina de linhas vermelhas, exatamente como aquela que se encontrava em suas mãos. Com um passo de cada vez, Amara desceu os degraus com cautela, se sentindo confusa enquanto esperava onde aquilo a levaria.
— É o destino. — Ouviu uma suave voz dizer, como se pudesse ler seus pensamentos. Se não soubesse que estava em um sonho, com certeza estranharia o fato de ouvir sua própria voz vinda do além.
— O que isso quer dizer? — Questionou de forma clara.
— A linha que segura é o seu destino. — A resposta veio em seguida.
Amara encarou a linha que segurava, percebendo alguns nós apertados. Não eram tantos, mas ao dar alguns passos, percebeu que outra linha se unia à sua, formando uma espécie de trança. O caminho para o fim daquelas linhas entrelaçadas estava encoberto por uma neblina, dessa vez mais densa, na qual Amie temeu se aventurar.
— O que isso quer dizer? — Ela perguntou. — De quem é essa linha entrelaçada com a minha?
— Ela é a causa do seu salto. O seu propósito. — A voz respondeu.
Amara engoliu em seco, soltando a linha para o chão. Novamente, sentiu a mesma dor que sofreu no acidente de carro, tendo flashes da noite em que fez um pedido trágico, aquele que causou uma grande mudança em toda sua vida. Estilhaços de vidro, sangue e mato se transformaram em uma única imagem tortuosa, enquanto o carro capotava para fora da estrada. O ar faltou em seus pulmões, assim como a dor que sentiu no pescoço a fez concordar de que ela havia realmente morrido naquele tempo.
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Agora tudo parecia diferente. Amara viu uma cidade erguer-se diante dos seus olhos como linhas tracejadas em um papel sem pauta. Era Small Heath, ainda mais cinza do que ela conhecia. Talvez fosse mais um sonho, ao menos foi isso que deduziu naquele instante. Risadas infantis encheram seus ouvidos, eram contagiantes. Um grupo de meninos passará correndo ao seu lado, todos sujos e usando roupas amarrotadas. O primeiro era o mais alto e velho, segurava algo nas mãos que Amie não podia deduzir o que era. Os garotos passaram por ela como se não a enxergassem. Amara prendeu a respiração quando o último menino parou ofegante devido à corrida.
Ele era o menor do grupo e talvez não tivesse mais que dez anos. Era firme, possuindo uma confiança sem igual para uma criança. Suas bochechas redondas estavam vermelhas. Embora ele usasse típicas roupas de garotos, parecia mais gracioso que os demais meninos. Seus olhos azuis eram intensos e brilhavam divertidamente por baixo dos cílios longos e escuros. O cabelo era bem aparado e negros como a noite, escondido parcialmente sob a boina cinza. O menino mordeu os lábios bem-feitos com força, e foi naquele instante que Amara percebeu quem estava adiante: Thomas Shelby.
— Quem é você? — O garotinho olhou diretamente para ela como se tivesse ouvido a voz dos pensamentos da mulher.
— Você consegue me ver? — Amara pronunciou lentamente. Olhou ao redor, se deparando com o grupo de garotos congelados no tempo.
E como se as coisas não pudessem ficar mais estranhas, Amara perceberá que invadira um sonho de Thomas Shelby durante a infância. Ela se aproximou um pouco mais, percebendo como o Thomas havia mudado muito da infância até a fase adulta. Principalmente no rosto, onde ganhara ossos mais angulosos, marcas de sol e cicatrizes de guerra.
— É claro, você está no meu sonho. — Ele falou.
— Como sabe que está sonhando? — Amara quis saber.
— Porque eu sempre tenho esse sonho. — Thomas apontou para os amigos. — Arthur, meu irmão mais velho, sempre rouba o meu doce e corre com os amigos para o ferro-velho do nosso tio.
Amara abriu os lábios, mas não soube o que responder.
— Você parece perdida. De onde veio? — Thomas bateu os cílios. Amara achava adorável sua velha curiosidade combinada com a voz infantil.
— De muito longe. Agora eu preciso ir. — Falou, mesmo não sabendo como faria para sair dali.
— Espera! — Thomas aumentou a voz. — Você vai voltar? Acho que não é a primeira vez que a vejo perambulando em meus sonhos.
— Talvez em um futuro próximo. — Deu um sorriso ao garotinho.
— Qual o seu nome? — Ele inclinou o rosto para o lado.
Amara balançou a cabeça. Foi então que uma forte ventania fez com que uma cortina de poeira levantasse do chão ao ponto de machucar a pele. Tudo ao redor se desfez em instantes e Amara sentiu um forte empurrão ser dado em suas costas.
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Foi como se sua alma tivesse retornado ao corpo. Amara acordou em um salto, sentindo que tinha despencado do alto de um prédio ao encontro de um doloroso chão de concreto. Demorou poucos segundos para que se recordasse de onde estava. Seu olhar vagou pelo interior da caravana, parando na mulher que servia duas xícaras de chá. Espiou pela pequena janela. Viu que a lua já se encontrava no alto do céu, brilhando fervorosamente. Amara sentou-se novamente, levando a mão para a cabeça sentindo-a latejar de dor.
— O que você fez comigo? — Perguntou ainda sonolenta. Zaira entregou uma xícara de chá de canela, recebendo o olhar desconfiado e familiar. — O que tinha naquele pó ou fumaça? O que era aquele lugar?
— Você faz muitas perguntas, viajante. — Zaira sorriu. Amara emitiu um ruído impaciente.
— É por isso que estou aqui. — Respondeu como se fosse óbvio. — Você sabe quem eu sou?
— Eu reconheceria esses olhos de qualquer lugar. — Zaira segurou o queixo da jovem mulher, deixando que suas unhas pontudas afundassem na pele macia. Estranhamente elas tinham o mesmo olhar. — Então aconteceu novamente.
— O que aconteceu novamente? — Amara se desviou das garras. Zaira se cobriu com o casaco de lã, sentando-se do outro lado da caravana. Amara não pode deixar de reparar na quantidade exagerada de ouro que aquela mulher usava, deixando claro seu status naquele acampamento.
— Um viajante do tempo. — Respondeu de modo sutil.
Amara engoliu seco, abandonando a xícara sobre a pequena mesa. Se lembrava bem da conversa que tivera com Polly antes de partir de Birmingham, o motivo para procurar suas origens e respostas verdadeiras para seu salto temporal. "O povo cigano sempre contou história sobre viajantes de muito longe, de outros séculos, às vezes por meio de cantigas, mas sempre achei que não passasse de lendas". O que algumas pessoas, inclusive Polly Gray, achavam que não passavam de lendas e cantigas, era real. Amara sabia que era a prova viva que pessoas podiam saltar no tempo, voltar para casa, no entanto, poderia ser o que poucas sabiam.
— Só acontece com os ciganos? — Amara perguntou lentamente, recordando-se das palavras de Polly.
— Não necessariamente. O que temos é algo como se fosse uma maldição. — Zaira suspirou. — Nunca paramos em um lugar por muito tempo. Somos inquietos. Mas o salto temporal tem um significado maior do que você espera, principalmente para os Flynn.
— Então os Flynn são amaldiçoados? — Amara uniu as sobrancelhas.
— Depende do seu ponto de vista do que é uma maldição ou uma vantagem. Temos muitas histórias, contadas de tantas formas, por diferentes famílias ciganas. — Zaira respondeu. — Eu tenho uma favorita. Gostaria de ouvir? — Amara acenou. Zaira limpou a garganta. — Certa vez um homem sonhou com uma mulher, uma bela mulher de intensos olhos verdes e cabelos negros com a noite. Ele a desejou mesmo sem conhecê-la, sua paixão por ela foi mais forte do que podia esperar.
"Ele a procurou incansavelmente, mas em meios as pesquisas, descobriu que a mulher que o visitava durante seu sono já não se encontrava entre os vivos. Ele sabia que o único lugar que poderia encontrá-la era em seus sonhos, mas ele não podia desposar dela ali. Então quando uma tempestade se aproximava, e seus desejos por aquela mulher crescia incansavelmente, ele desejou conhecê-la pessoalmente, pelo menos uma vez. Um sacrifício foi feito naquela noite quando ele morreu ao ser atingido por um raio, pelo menos, foi o que ele pensou que tivesse acontecido. Quando o homem acordou novamente, percebeu que estava em um tempo diferente do seu, conhecendo pessoalmente a mulher que estava sendo levada à forca, acusada de bruxaria. Ele a salvou, fazendo com que assim o propósito da sua viagem fosse concluído."
— Ele voltou para o tempo dele após salvá-la? — Amara perguntou. Sua curiosidade para saber o desfecho daquela história falava mais alto.
— Um sacrifício foi feito novamente, durante uma tempestade. O homem partiu para seu tempo, mas a mulher não.
— Se ele fez um sacrifício, então por que ela ficou?
— Porque ela era seu sacrifício. — Zaira encarou as mãos, onde anéis de ouro preenchiam seus dedos enrugados. Fechou os olhos brevemente ao sentir a garganta apertar.
Aquele não era o final que Amara esperava ouvir. Isso provava que nem todos os finais eram felizes como os contos de fadas. A vida real era mais cruel e fria.
— Eu voltei ao passado ao pedir isso para uma estrela-cadente. — Explicou. — Então sofri um acidente, e quando acordei estava em outro lugar.
— Estrelas-cadentes são apenas estrelas, elas não realizam desejos, embora muitos acreditem que sim. — Zaira disse. Amara a encarou, sentindo um nó ser dado em sua cabeça. — Seu salto temporal não tem a ver com esse tipo de pedido.
— Como não? Eu...
— Você tinha um desejo, um propósito! — O tom de Zaira era firme, fazendo Amara encolher os ombros. — E fez um sacrifício na noite em que saltou no tempo. Você entregou algo para poder ir ao passado. Não foi uma estrela que atendeu seu pedido, mas o destino que aceitou a sua oferenda.
Amara passou a mão pelo rosto, enquanto tentava assimilar tudo que ouvira. Uma oferenda em troca de uma passagem para o passado. Agora Amie sabia que o acidente de carro levara não só sua vida naquele tempo, mas como a de Caleb, fazendo com que o destino aceitasse aquilo como uma troca de favores. As vidas perdidas naquela noite eram seus sacrifícios para poder saltar para o passado e conhecer pessoalmente Thomas Shelby. Amara sentiu um leve enjoo, imaginando o que teria que sacrificar para voltar ao futuro, se é que isso ainda fosse possível. Os sonhos recorrentes com Thomas morrendo em sua frente talvez respondesse à pergunta que surgia no fundo da sua mente. Thomas era o sacrifício, assim como na história que acabara de ouvir. No entanto, seu propósito naquele tempo não parecia ter sido concluído. Amara sabia haver lacunas ainda a serem preenchidas.
— Você disse que o homem voltou para salvar a mulher. — pronunciou-se depois de um tempo. — Ela estava sendo acusada de bruxaria e ele a salvou de uma morte. Então seja isso que eu deva fazer. Tenho que salvar quem foi o motivo de me trazer para o passado, salvá-lo da morte, do próprio futuro.
— Se sabe o que tem de fazer, então por que ainda não fez? — Zaira perguntou. Amara suspirou, sabendo que isso não era tão fácil quanto parecia. — O que viu no sonho?
— Linhas, muitas linhas. — Respondeu, erguendo o olhar novamente para Zaira. — E uma entrelaçada a minha e alguns nós. Depois foi como se eu tivesse invadido um sonho alheio, algo parecido com seu conto.
— É o seu propósito, os nós representam o que você ainda não fez. Você terá que desatá-los uma hora ou outra. — Respondeu. — O destino sempre dá um jeito de unir o que quer, seja por sonhos ou por viagens. Usa os dois em muitos casos.
— E se eu não fizer? Então nunca poderei voltar ao meu tempo?
— Você voltaria ao seu tempo sem concluir o que realmente veio fazer aqui? — Questionou.
— E se eu tiver feito, mas de uma maneira diferente? — Amara referia-se subliminarmente ao livro que escrevera. Talvez ele mudasse o rumo da vida do cigano Shelby quando ele o lesse.
— Não é assim que funciona. — Zaira deu de ombros. — Sua linha está entrelaçada com a de outra pessoa, o que me leva acreditar que você não conseguirá sair facilmente do que já está planejado. Sua chegada ao passado criou uma nova linha temporal, mudando drasticamente tudo que conheceu no seu tempo e principalmente na vida daqueles com que se envolveu. — Amara passou a mão pelo rosto, ainda se sentia confusa. — No entanto, você precisa saber que um sacrifício nem sempre precisa ser humano, pode ser algo emocional, algo importante. Uma jornada por outra.
— Depois de tudo que já consegui, depois de todos esses anos... — A tristeza nublou suas feições quando teve que pôr tudo em uma balança. — Eu não quero voltar ao futuro, não quando tenho que renunciar a vida que construí aqui. Acho que pela primeira vez estou com medo do que o destino me reservou nessa nova linha do tempo. Será que a minha própria existência corre perigo?
— Acho improvável, mas não diria o mesmo para a vida daqueles que conheceu no futuro. — Disse. — Eu sei que deve ter muito o que pensar. — Zaira deu um meio sorriso.
Amara pensou em Caleb e todos os Shelby que vieram depois de Thomas e seus irmãos, alguns simplesmente deixariam de existir, inclusive o legado quase falido dos Shelby. O que ela sentiu naquele momento foi uma culpa carregada de dor. Amara ergueu o rosto para Zaira, podia ver que por trás daqueles brilhantes olhos, a mulher escondia a dor, algo semelhante ao que ela sentia. Notou uma energia rondá-la, como um aviso.
— Você era a mulher... — Chegou à conclusão. Zaira desviou o olhar. — Quem era ele? De que tempo ele veio?
— Não importa, o que aconteceu foi há muito, muito tempo. — Zaira respondeu. — Mas ele deixou uma semente para trás e agora sei que a linhagem chegou longe, mas voltou novamente. É o que sempre fazemos.
— Somos parentes. — Amara comentou. — E você sabia que eu estava chegando.
— Eu sei quando os meus estão por perto. — Zaira se colocou ao lado de Amara. Puxou sutilmente a mão da mais nova, lendo com clareza a mão da viajante. — Você me faz lembrar de quando eu era mais nova. Você também tem o dom, mas não sabe desenvolvê-lo ou pelo menos não parece ter esse interesse.
— Dom? — Uniu as sobrancelhas. — Então você é realmente uma bruxa? — Perguntou.
— As pessoas chamam de bruxas mulheres à frente do tempo e sensitivas. Eles sempre vão ter medo de nós. O que é diferente, pode se tornar uma condenação. — Zaira ergueu o olhar.
Amara confirmou em silêncio. Pensativa com o relato da mulher, ela voltou a falar.
— Você o amou e mesmo assim ele te deixou. E se acontecer o mesmo comigo?
— Você é mais forte do que pensa, Amara. — Zaira disse. Seus lábios se curvaram em um riso ambíguo. — E as cartas que tirei assim que você entrou não mentem. Faça o que está em seu coração e não esqueça que seu destino e o futuro também dependem das suas escolhas. Você pode consertar muitas coisas, assim como pode causar uma imensa confusão temporal. Tenha cuidado com sua trajetória.
Dizem que algo tão pequeno quanto o bater das asas de uma borboleta pode causar um tufão em meio mundo. Amara sabia exatamente o que dizia a clássica teoria do Caos. A péssima notícia era que ela se encontrava no meio de uma.
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LONDRES
Já era madrugada quando Amara finalmente chegou ao hotel. Depois de tudo que ouvira e presenciado, sabia que seu motivo para estar no passado ia além de apenas conhecer Thomas Shelby e escrever sobre a vida dele. Amara tinha sido encarregada de salvar o gângster cigano do próprio destino incerto, uma tarefa que não parecia tão fácil quanto esperava. Em frente a lareira acesa, deixou que a atenção se prendesse às chamas. A partir daquele momento teria que tomar uma decisão que poderia lhe custar a vida novamente. No entanto, Amara não saberia dizer era se Thomas Shelby realmente merecia ser salvo. O fato era que obter o poder de alterar o destino de certas pessoas soava estranho, mas fazia com que se sentisse poderosa, aliás, muita coisa ruim poderia ser evitada no passado. Contudo, situações no futuro deixariam de acontecer por conta de decisões tomadas naquele instante. Era como estar em uma balança e Amara não sabia o que mais pesava: passado ou futuro.
Mais uma vez teve sonhos sem sentido, enquanto se via perdida no quarto branco. A imagem de Zaira ainda surgia em sua mente em pequenos flashes. Não viu quando amanheceu novamente ou muito menos que horas era, mas o barulho vindo da sala a despertou em um salto. Amara não esperava encontrar Michael Gray arrumando uma mesa de café, na verdade, não contava com tanta eficiência vindo do novo funcionário. O garoto sorriu bondosamente, enquanto cedia espaço para que a mulher se aproximasse da mesa de modo cauteloso.
Michael sabia que agradar sua chefe era uma tarefa árdua. Amara era como uma lebre selvagem, desconfiada e arisca.
— O que é isso? — Questionou.
— A senhora chegou tarde da noite, então achei que seria melhor que trouxessem o café para seu quarto ao invés de descer até o restaurante. — Explicou, enquanto Amara avaliava cada prato de comida a sua frente. O típico e farto café inglês começava a despertar sua fome.
— Como entrou?
— A porta não estava trancada. — Disse. Amara deu de ombros, se sentando à mesa. — May Carleton espera você em Doncaster Bloodstock, ela disse que tem algo lá que possa interessar a você.
— O que tem em Doncaster? — Perguntou antes de beber um gole de café.
— Cavalos. É um leilão. — Michael uniu as mãos em frente ao corpo. — Talvez ache o que procura por lá. Eu amo cavalos, posso ajudá-la. Quando eu morava com minha família adotiva, ia sempre em leilões com meu tio. Eu tomei a liberdade para dizer a Sra. Carleton que a estamos procurando um bom cavalo de corrida e ela conhece bem esse lugar.
— Não lembro de ter falado com você sobre estar procurando cavalos para corrida. — Amara uniu as sobrancelhas. Michael limpou a garganta.
— Andrea me informou, ele disse que aqui seria melhor de encontrar esses animais. — Deu um passo para frente, mesmo que o olhar frio que recebia o intimidasse.
— Sabe como uma viagem de trem e navio pode ser estressante para cavalos?
— Tem noção do quanto estaria perdendo se não comprar um? — Michael rebateu. — Mas tudo bem, sei que seus negócios com May são outros, então eu posso entrar em contato com ela para se encontrarem em outro lugar.
— Não precisa. — Amara se levantou. — Eu irei a Doncaster Bloodstock e você irá me indicar o melhor cavalo de corrida.
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May Carleton era tudo que Amara esperava: uma mulher segura e maleável, além de comunicativa e dona de uma segurança pessoal invejável. Diferente de Solomons, May não parecia ter outros esquemas além daqueles que exibia, deixando claro que seus negócios eram legais e suas propostas eram livres de segundas intenções. Doncaster estava cheio de homens ricos acompanhados de suas amantes, exibindo-as como troféu. Amara não poupou desviar seu olhar afiado daqueles que a encaravam com malícia. Ela estava ali para fazer negócios e não para se exibir.
— Não é sempre que mulheres aparecem desacompanhadas por aqui. — May comentou mesmo estando um passo à frente de Amara.
— Isso explica algumas coisas. — Amara subiu as escadas logo atrás de May, sentindo o odor de feno invadir suas narinas.
— Eu sempre venho aqui quando preciso de bons animais. — May se virou para Amara, que ainda avaliava tudo em volta. — Não se preocupe, eu estou aqui para ajudar você a comprar e treinar um bom cavalo.
— Você mencionou a corrida da Epsom, no dia da Derby. O quão confiável é esse lugar e esse evento? — Amara perguntou.
— É totalmente confiável, se competir, garanto o primeiro lugar para você. — May deslizou a mão, colocando-a sobre a da nova sócia. — Confie em mim, Sra. Abbott.
— Eu confio. E sem tantas formalidades, pode me chamar de Amara. — A Abbott deixou que um riso sedutor preenchesse os lábios, enquanto May fazia o mesmo.
— Eu acho que vão começar novos lances. — Michael disse, ao apontar para um novo cavalo. — Eu gosto dele, podemos levá-lo.
— É uma potranca. — May comentou. — Ela tem ritmo no galope, recebendo o treinamento certo pode ganhar facilmente uma corrida.
— Posso dar um lance, Sra. Abbott? — Michael perguntou.
Amara avaliou o animal. De fato, era belo. Seu pêlo cinza parecia sedoso, assim como era visivelmente dócil. Confiava na intuição e conhecimento de May o suficiente para levar a égua para casa e ganhar uma boa grana na corrida no dia da Derby. Antes que Michael pudesse dar seu lance, uma voz rouca preencheu o ambiente. O tom autoritário e confiante era inconfundível. Amara conheceria aquela voz até mesmo se estivesse submersa em alto mar. Sua atenção se prendeu do outro lado, entendendo de vez que não teria como fugir de Thomas Shelby.
— Não acredito. — May pareceu descontente. Amara a encarou, percebendo que o semblante da mulher tinha mudado de confiante para desgosto.
— Algum problema? — Perguntou.
— Ele é o problema. — May apontou com o queixo. Amara evitou olhar na direção, sabendo quem exatamente encontraria do outro lado do leilão. — Sempre aparece para levar os melhores cavalos.
— Mil Guinéus, ouvi alguém dizer mil e cem guinéus? — A voz entusiasmada do leiloeiro pareceu vibrar nos ouvidos de Amie. Thomas poderia ter o que quisesse, mas aquela potranca já tinha uma dona.
— Mil e trezentos. — Amara deixou sua voz ecoar pelo lugar.
Por um momento, foi o foco da atenção de todos. Mulheres não tinham costume de dar lances ou se manifestarem em lugares como aquele. Nem mesmo May Carleton dava seus lances sem a presença de algum homem. Contudo, Amara era diferente e ninguém a impediria de dar lances ou fazer qualquer outra coisa. Mesmo recebendo certos olhares feios, Amara estava segura, principalmente quando Thomas a encarou boquiaberto do outro lado do leilão.
— Ouvi mil e quatrocentos guinéus? — O homem perguntou.
Thomas acenou, cobrindo o lance.
— Ele vai levá-la, não adianta competir. — Michael disse em alerta, conhecendo bem o gênio que o primo possuía.
— Ele levaria se eu não estivesse aqui. — Respondeu, segura. — Mil e quinhentos. — Amara deu outro lance.
— Mil e setecentos. — Thomas falou alto. Desafiou a mulher que o encarava do outro lado. O riso quase diabólico que recebeu fez seu interior tremer, sentindo um misto de tensão e atração ainda maior por Amara.
Thomas sabia que não perderia aquela potranca, aliás, estava ali por ela, assim como seus planos dependiam daquele animal. Sentiu uma mão pousar em seu ombro, enquanto as palavras de alerta do tio Charlie soavam em seu ouvido. Você precisa parar. Thomas faria o que fosse preciso, e parar os lances naquela égua não era um deles.
— Nem trouxemos esse dinheiro, você ficou louco? — John disse em alerta.
— Eu vou levar essa égua. — Respondeu com uma calmaria invejável.
— Dois mil? — O leiloeiro disse. — Ouvir Dois Mil e Cinquenta? Quem dá mais?
— Três mil e cinquenta e nada mais que isso! — A voz de Amara soou novamente pelo salão. Thomas engoliu seco quando o martelo foi batido.
— Vendido! Para a Sra...?
— Amara Abbott. — Respondeu da forma mais alta e segura que pôde.
Thomas levou as mãos para o bolso, tentando ignorar o formigamento que sentia no peito enquanto o riso quase cruel de Amara era dado novamente em sua direção. Ela tinha vencido, levado algo que deveria pertencer-lhe. Agora a cabeça do Shelby latejava, imaginando um plano B, enquanto uma antiga paixão insistia em pisar em seu calo. Aquilo servirá para lembrá-lo de que ela não só voltará para acender uma chama em seu peito, mas como para impedir que alguns dos seus planos mudassem tragicamente.
— Que porra foi aquela? — Arthur perguntou ofegante, enquanto descia as escadas atrás de Thomas. — Abbott? Será que eu fui o único que ouviu esse sobrenome?
— Do modo que foi dito, era para deixar bem claro quem ela era. — John sorriu de lado. — Thomas, o gato comeu sua língua?
— Eu estou pensando no que fazer. — Respondeu ele, pensativo. — Precisamos daquela égua.
— Compre dela. — John sugeriu. Thomas evitou desferir um tapa no rosto do irmão. Depois do que presenciara saberia que a última coisa que conseguiria era comprar aquela égua novamente.
— Ou podemos roubá-la, como nosso pai fazia. — Arthur sorriu com John. Thomas os ignorou quando um perfume familiar invadiu suas narinas.
Seu olhar vagou pelo corredor largo, parando em belos pares de pernas. Ela estava perto, deixando seu clássico perfume de rosas o embebedar como antigamente. Thomas ergueu o queixo, enquanto dava passos curtos na direção da mulher que Amara tinha se tornado nesse tempo. Ela estava diferente, e não era só na forma de falar ou o novo sobrenome, mas algo parecia ter mudado. O olhar do Shelby caiu sobre a mão esquerda da mulher, onde uma aliança roubava atenção com uma pedra tão verde quanto os olhos que o encaravam. Aquilo fez com que seu coração voltasse a bater mais rápido.
— Você ganhou a égua de nós. — Disse. Amara emitiu um riso nasal, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Ganhei? — Ela ergueu o queixo. Fingiu estar magoada, embora estivesse se divertindo internamente. — Que pena, você parecia interessado nela.
Thomas passou a língua pelos lábios ressecados. Ouviu uma risada abafada ser dada em suas costas. O que John e Arthur estavam pensando naquele momento não era importante perto do que ele estava vendo a sua frente. Ainda não acreditava no que estava diante dos seus olhos, principalmente em confirmar todos os rumores que ouvira. Amara realmente tinha se casado com um homem rico durante o tempo que estava em outro país, além de escrever um livro que começava a se tornar famoso fora da América.
— Amara Abbott. — Ele repetiu o nome como se saboreasse cada letra. Amara prendeu a respiração por um curto período. — Então resolveu voltar depois de todos esses anos.
— Somente por causa dos negócios — Respondeu.
— Você me tirou algo. — Thomas deu um passo para frente. Amara limpou a garganta, ainda não tinha se acostumado com o olhar frio e penetrante que recebia. No fundo, sabia que Thomas estava furioso por perder uma coisa valiosa.
— Você vai precisar ser mais claro. — Ela piscou sutilmente. Thomas trincou o maxilar, confinando-a lentamente contra a parede. Seus olhos foram de encontro aos lábios rosados, entreabertos e convidativos. Por um rápido momento se viu beijando-os de forma quase selvagem.
— Agora que é uma mulher de negócios, acho que podemos conversar melhor. — Sorriu de lado ao notar a feição confusa de Amara. — Você vai pôr sua égua para correr?
— Qual seu interesse nisso? — Perguntou. Amara manteve o olhar seguro, mesmo sentindo seu interior ceder aos poucos. Está próxima de Thomas e, principalmente depois do que tinha descoberto, não era fácil.
— Nós nos conhecemos bem, Amie. — Pronunciou o apelido lentamente, desviou o olhar para o lado, vendo Michael conversar distante com May. — Fico contente em saber que deu uma oportunidade para meu primo, ele é um bom garoto, espero que esteja sendo útil. Vi que fez amizade com pessoas diferentes. May Carleton está com você, foi ideia dela comprar a potranca?
— Por que você não faz o seu trabalho enquanto eu faço o meu?
— E não é isso que estamos fazendo? — Sorriu de lado.
— Onde você quer chegar, Thomas? — Amara deu um passo para frente, fazendo o cigano recuar. — Por acaso quer comprar a égua? Sinto muito, mas ela não está à venda.
— Eu deduzir que não. — Respondeu.
— Tommy, temos que voltar para as caravanas. — Arthur disse alto. — As galinhas estão com fome, e eu também! — O riso e as piadas maldosas dos Peaky Blinders fizeram Amara sorrir brevemente.
— Eu quero alugá-la. — Disse. Amara franziu o cenho e desfez o sorriso rapidamente. — Colocá-la para correr e quando ela vencer, dividiremos o prêmio.
— Thomas Shelby sempre com uma carta nas mangas. — Ela deu um riso torto. — Que tipo de coisas ruins tem feito agora? Ah, espere, eu não quero saber.
— Será que você pode pensar sobre o assunto? — Perguntou, estreitando o olhar.
Se Amara não o conhecesse tão bem, duvidaria se Thomas realmente estivesse tão interessado naquele animal apenas para compor sua possível coleção de belos cavalos e manter sua autoridade. No entanto, sabendo o quão ruim eram os negócios do cigano, deduziu que a égua valia algo bem mais além do que um prêmio de corrida. Salvar Thomas de um futuro cruel era tão difícil quanto tentar pensar em outra solução para fugir daqueles olhos intensos, cujo transmitiam uma energia quase magnética. No fim das contas, Amara caiu em descontentamento sabendo que não conseguiria fugir do destino que já parecia ter sido traçado. Thomas sempre cairia em seu caminho de uma forma ou de outra.
— Vou considerar. — Respondeu. Thomas deixou um leve e sutil riso deslizar pelos lábios.
Ela o encarou profundamente, procurando qualquer resquício do garotinho que ela visitou durante um sonho, mas era quase impossível vê-lo. A guerra e a ambição realmente mudavam as pessoas.
— Espero ver você novamente. — Thomas disse ao dar alguns passos para trás. — Sabe onde me encontrar.
— É bom ver que ainda está inteiro, espero que se mantenha assim por um longo tempo. — Respondeu, virou o rosto na direção dos outros irmãos Shelby. — É bom ver vocês também, John e Arthur, dá para ver que não mudaram nada.
— A gente queria poder dizer o mesmo de você. — John respondeu alto.
Amara interpretou aquelas palavras como elogios. Sorriu de leve para os rapazes antes de girar os calcanhares na direção oposta da gangue, enquanto sentia as pontas dos dedos geladas devido o contato que fizera. Thomas fez o mesmo, sabendo que mesmo após anos, algo ainda não mudará entre eles. Foi pego de surpresa quando John o puxou pelo pescoço, se divertindo com as piadas sujas de Arthur.
— O quê que foi isso, Tommy? — John perguntou. — Se ela pisasse no seu pé, era você que deveria pedir desculpas.
— Ela voltou rica, mas tem alguma coisa errada. — Arthur pareceu criar teorias enquanto dava passos largos e apressados. — Viram o olhar? Ela não tinha aquele olhar quando trabalhava no pub.
— Eu não vi nada errado nela, Arthur. — Disse John. Não era como se nunca tivesse prestado atenção na beleza de Amara, principalmente quando ela trabalhava no pub. Agora a ex-garçonete parecia fazer questão de deixar em evidência não só a beleza, mas como todo o poder que tinha, assim como uma lábia macia e perigosa. — E então, acha que ela vai te alugar a égua?
— Eu não sei. — Thomas respondeu. — Mas espero que sim. A queda de Sabini também depende disso.
Thomas ainda podia sentir o olhar de Amara arder na pele. Do magnetismo que sentiu ao ficar tão perto da mulher que nunca conseguiu esquecer ou muito menos da atração que o tempo não conseguiu diminuir. Por um curto momento se viu perdendo o controle ao estar perto dela, desejando ferozmente o toque feminino e dos lábios volumosos contra os seus. Suas promessas feitas há anos latejavam no fundo da sua mente. Agora mais do que nunca sabia que teria que se esforçar para ser bom, pelo menos, o suficiente para conquistar Amara e não deixar que ela partisse novamente. Ele não perderia novamente a garota dos seus sonhos.
Quem entendeu a viagem no tempo bate palma, quem não entendeu paciência kkkkk lembra quando falei que era para ser confuso e não fazer sentido? É sobre isso, viagem no tempo é assim mesmo. O importante é que o encontro veio e com eles muitas decisões rs.
Gente eu fiz um tiktok e tenho postado edits de Dobra no Tempo por lá, além disso também criei uma tag #dobranotempofanfic [pena que lembrei disso só nos ultimos 2 edits postados kkk] quem quiser e seguir é só procurar por: istreff1 [ tem o link no meu carrd na bio ]... já achei edits da fic por lá e fiquei de olhinhos brilhando, quando fizerem me marquem plis.
Capitulo postado dia (30/10/2021), não revisado.
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