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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟐𝟎

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INGLATERRA

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Amara tentou não dar atenção ao nervosismo do seu acompanhante, Michael, assim como tentava controlar o próprio enquanto era levada ao bairro de Camden Town. Ainda se lembrava pouco do lugar em suas rápidas pesquisas, mas sabia da movimentação futura que aquele bairro teria, e que com certeza, faria bons investimentos ali. Durante toda a longa e exaustiva viagem, se preparou para fazer negócios com o judeu Solomons, sabendo que talvez teria que dobrar seus lances para conseguir o que queria. No entanto, seus pensamentos ainda estavam pendurados na viagem e na pequena aventura que se envolvera quando estava ainda em alto-mar. No momento em que se via perdida entre os corredores do navio, foi abordada por um jovem político de sorriso charmoso, que se dispôs a pagar uma bebida à bela dama de olhos instigantes.

Amara não recusou, aliás, realmente estava a fim de beber algo para distrair o medo de estar no meio do mar. Se lembrar do trágico acidente do Titanic naquelas horas não era muito saudável e os enjoos devido ao balanço do mar só dificultavam tudo. Embora a bebida tenha sido boa, assim como a conversa, o resto da noite passada ao lado daquele homem foi desprezível, cujo desempenho não durou muito mais que um minuto, sendo prazeroso apenas para uma pessoa. Amara não pensou em se despedir do homem, mal se recordando do segundo nome dele, não era o tipo que valia a pena ser lembrado. E torceu fortemente para não o encontrar ao ancorar no porto de Southampton, saindo tão depressa do navio ao lado de Michael, quanto entrara.

— Sabe que ele é judeu, não sabe? — Perguntou Michael, despertando Amara de suas lembranças ruins vividas no navio.

— Não é um problema para mim. Para você é? — Ela perguntou, sem encarar o jovem.

— É bom tomar cuidado. — Alertou. — Alfie é muito respeitado nesse bairro, ele controla tudo. Ainda não entendo por que ele procurou por você, que vive praticamente do outro lado do mundo, para fazer negócios.

— Andrea deve ter entrado em contato com ele. De qualquer forma, estou aqui para ouvir propostas e fazer também. — Disse. O carro entrou em uma avenida movimentada, onde judeus cruzavam a rua sem cuidado, não se importando em dividir espaço com um veículo. — Você conhece os negócios do Solomons?

— Bem, ouvi boatos... — Michael deu de ombros.

— Boatos enchem nossos ouvidos. Eu não me importo com a má fama das pessoas, apenas com o que elas têm a me oferecer. — Sorriu de modo seco para o jovem.

— Senhora, chegamos. — Disse o motorista ao parava o veículo em frente uma fábrica.

— Está preparado? — Perguntou ela, antes de sair do carro.

— Um pouco nervoso.

— Então é melhor guardar seu nervosismo no bolso. Preciso de um advogado competente ao meu lado, então... coragem, garoto. — Ela disse. Michael engoliu a saliva, e viu Amara sair do carro com toda a autoridade que tinha.

Michael abriu caminho na frente da mulher, enquanto eram guiados para dentro de um armazém. Amara não pôde deixar de reparar em trabalhadores suados e muitos barris de bebidas. Não esperava entrar, literalmente, em uma destilaria, embora ainda sentisse o cheiro de pães que eram assados vindo de longe. De uma porta, viu um homem alto surgir. Estreitando o olhar na direção dele, sentiu a densa energia traiçoeira que o cercava. Ele era forte enquanto andava pesadamente. Uma barba grossa por fazer preenchia seu rosto, assim com um riso de ouro se abriu na sua direção.

— Me perdoe pela recepção, Sra. Abbott, mas um homem nunca para. Somos uma máquina constante de trabalho. — Disse ao se aproximar. — Sou Alfie Solomons, ao seu dispor.

— É bom finalmente conhecê-lo, Sr. Solomons. — Sorriu, apertando a mão grande e encaliçada de Alfie.

— Só Alfie. — Disse ele ao lançar uma piscadela.

— Certo, Alfie. — Amara puxou a mão novamente, esfregando o dedo ao senti-los sujos de farinha. — Esse é Michael Gray, meu advogado.

— Um garoto cheirando a leite. — Alfie deu um passo até Michael, apertando a mão do garoto um pouco mais do que deveria. — Vamos aos negócios, venham.

Amara percebeu o entusiasmo de Alfie, sendo guiada para o fim da fábrica, passando por uma porta até um pequeno escritório de decoração simples. Sentou-se em uma cadeira, assim como Michael se acomodou ao seu lado. Solomons colocou duas garrafas de Rum sobre a mesa, apontando para elas.

— Quer experimentar meu pão? — Ele perguntou. Amara uniu as sobrancelhas, se dando conta que ele se referia às bebidas.

— É claro. — Aceitou.

— Então, você prefere branco ou integral? — Ele a encarou com riso de lado, aguardando sorrateiramente pela resposta.

— Branco.

— Muito bem! Boa escolha. — Disse contente. Alfie serviu um copo, empurrando-o para a mulher logo depois.

Amara bebeu um gole generoso, sentindo sabor adocicado afundar até o estômago. Era uma boa bebida, diferente das que já estava acostumada, mas nem de longe se comparava a qualidade dos uísques que tomava. Michael fez o mesmo, embora não tenha se agradado tanto do sabor que era demasiadamente doce.

— E o que achou, Sra. Abbott? — Alfie perguntou antes de sentar-se atrás de uma mesa repleta de papéis.

— Seu pão é bom. — Comentou. — Um pouco mais doce do que estou acostumada.

— Entendo. — Ele coçou a barba. — Agora sei que estou fazendo negócios com a pessoa certa, você sabe admirar uma boa bebida. É uma chefe, como eu esperava.

— E sobre os negócios... — Amara cruzou as pernas, após deixar o copo vazio sobre a mesa. — Tenho interesse em comprar alguns imóveis neste bairro, então dê o seu valor.

— Você é direta. — Alfie pareceu empolgado, arrumando a postura na cadeira do outro lado da mesa. — Gosto de pessoas diretas. Geralmente não tenho muito tempo para conversas, mas é claro que eu abriria uma exceção para você, suponho que temos muita coisa incomum.

— Foi por isso que se interessou em fazer negócios com ela? — Michael se pronunciou. Amara o encarou de soslaio, reprovando seu tom de voz arrogante e intrometido.

— Eu ouvi falar muito em Amara Abbott. — Alfie respondeu com paciência. — Ouvi muitas coisas...

— Que tipo de coisas? — Amara o encarou.

— Algumas não muito agradáveis, mas principalmente que é uma mulher objetiva e cheia de planos e claro, muito atraente. — Ele sorriu galanteador, fazendo Amara erguer ligeiramente uma sobrancelha. — E foi aí que eu pensei, você sendo uma pessoa que procura progresso em todos os sentidos, talvez quisesse aumentar seu ramo mobiliário em outros países, sei que tem comprado muitos imóveis na América e como tenho alguns disponíveis para venda no meu território, logo pensei que estaria interessada em ampliar seus negócios por aqui.

— Então não foi o Andrea que entrou em contato com você? — Ela questionou.

— O advogado italiano? — Alfie estalou a língua. — Eu entrei em contato com ele e logo depois escrevi uma carta para você.

— E aqui estou. — Amara sorriu levemente. — Ouvindo atentamente suas propostas.

— O que proponho é uma parceria entre nossos negócios. — Gesticulou. Amara inclinou o rosto, esperando por mais. — Sei que também é dona de um hipódromo e como eu também trabalho nesse ramo, supus que seria interessante começar a ter um olhar mais além do que Londres pode me oferecer.

— E isso quer dizer que devo por seus agentes de apostas dentro do meu hipódromo? — Questionou, lentamente. — Mas acho melhor irmos por parte. Primeiro, quero saber o que tem a me oferecer e depois, digo o que posso realmente dar a você.

— Sra. Abbott, essa sua energia por fechar negócios me deixa afoito. — Sorriu ao dizer aquilo. — Tenho bons imóveis, os melhores do centro e posso levá-la pessoalmente até lá se preferir. Além disso, meu serviço de proteção é muito respeitado, então é como comprar algo e levar um brinde, os americanos gostam disso, não é? Meus imóveis e proteção, em troca de um pequeno espaço no seu hipódromo.

— E se eu recusar a última oferta? — Perguntou ela, erguendo uma sobrancelha.

— Seria uma lástima, das grandes. — Alfie se aproximou da mesa, unindo as mãos. — Eu vou te pagar dez por cento dos lucros que conseguir nas apostas, sem falta.

— Quarenta por cento. E você vai me dar os melhores prédios da região e proteção. — Ela fez o mesmo, estreitando o olhar com o judeu. — É pegar ou largar.

— Sabe, Amara, se é que posso chamá-la assim. Inteligência e negócios são coisas que caminham juntos, mesmo quando a inteligência chega um pouquinho tarde demais depois que os negócios são fechados. — Disse, se encostando na cadeira novamente. — Supondo que eu aceite esse acordo, sei que você não quer perder nada, assim como eu. Entramos como sócios no esquema de apostas e...

— O fato é, Alfie. — Usou o mesmo tom de voz do homem. — Eu não tenho interesse em sociedade, não nesse momento. Então, supondo que nossos negócios sejam fechados agora, você irá trabalhar para mim, em Boston. Eu aceitarei seu pessoal, ficarei com uma parte do lucro e você ainda sairá ganhando muito. Aqui em Londres, comparei alguns imóveis com um bom desconto, e você me dará a proteção que prometeu.

Alfie travou o maxilar com tudo que ouvira. Já tinha tido tempo suficiente para estudar Amara e principalmente, seu método de negócios, sabendo que ela não daria o braço facilmente a torcer e não sairia sem nada a ganhar. Ele via como ambição dançava naqueles olhos intensos e verdes. Era claro que com seus lucros indo por água abaixo, aceitaria qualquer coisa para recuperar seu poder. Montar seu esquema na América seria como dar um passo audacioso no tabuleiro de xadrez, deixando para trás até seu novo sócio, Thomas Shelby.

— Eu aceito. — Alfie respondeu, esticando o braço para um aperto de mão.

— Muito bem. — Amara respondeu ao apertar as mãos firmes do homem. — Agora, eu quero conhecer os imóveis, assim como você terá uma longa conversa com meu advogado depois.

— Só quero dizer que de qualquer forma, eu aceitaria suas condições. — Alfie manteve a mão feminina e lisa segura entre seus dedos, deixando um demorado beijo no topo.

— É bom saber que é um homem aberto a negociações. — Amara sorriu, sabendo que todo aquele charme era um truque barato para conseguir algo a mais. — Mas diferente de você, eu não estaria disposta a receber qualquer coisa que me fosse oferecida.

— Você, minha querida, queima como fogo! — Ele sorriu, exibindo mais uma vez seus dentes de ouro. Amara sorriu sutilmente, deixando que seu lado frio congelasse de vez aquele inferno.

Quando Alfie saiu na frente falando bem do seu bairro e contando a história do seu povo. Amara foi puxada por Michael, que reduziu os passos, mantendo uma distância considerável do judeu.

— Acha que acabou de fazer algo certo? — Perguntou. Amara não encarou, mas desviou das mãos do garoto. — Sabe quem realmente é esse homem?

— Acha que sou burra ou algo do tipo? — Rebateu. — Alfie é útil para os negócios em Londres, sem falar que ele é o tipo de homem que as pessoas temem por aqui.

— E quanto aos agentes dele em Boston?

— Não deve se preocupar com isso. — Ela o encarou. — Eu os mantenho no controle. Agora faça sua obrigação, aliás, é o único motivo de estar aqui.

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Após conhecer os novos imóveis em Camden Town e fechar negócios com o Judeu, Amara voltou ao hotel. A noite de Londres era movimentada, e mesmo estando hospedada no mais alto e caro hotel da cidade, ouvia as risadas e buzinas de carros soando do lado de fora. Fazer negócios com Alfie, cujo não conseguia esconder tanto seus esquemas sujos, a fez se sentir beirando novamente às margens do perigo, mas dessa vez, manteria as rédeas bem presas para que nada saísse do seu controle. Não era tão tarde quando ouviu duas batidas sutis em sua porta. Vestindo um roupão pesado, Amara não teve pressa em abrir, sendo surpreendida por Michael, que estava bem-vestido como se estivesse pronto para sair.

— Achei que estava se preparando para dormir, tivemos uma viagem cansativa e um dia bem longo. — Ela comentou.

— Eu sei, mas fui convidado para a reinauguração do um clube e achei que gostaria de ir. — Disse. Amara uniu as sobrancelhas.

— Convidado? Por quem? — Perguntou, temendo pela resposta.

— Minha mãe disse que eu posso levar um acompanhante. Vai ter bebida e comida de graça a noite toda ou até quanto você aguentar.

Amara sorriu de lado. Era claro que Michael não deixaria de entrar em contato com a família estando praticamente em casa. No entanto, aquele convite a fez estremecer ao pensar em quem certamente encontraria naquele lugar. Pensou no que Ariana diria se caso estivesse ali, com toda certeza a Lowry recusaria o convite, porém, Amara era diferente. Ela não só aceitaria, mas como faria questão de mostrar quem tinha se tornado.

— Vou descer em dez minutos. — Respondeu ela, antes de fechar a porta do quarto.

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EDEN CLUB

— O Tommy, olha só essa bebida. — John chamou, erguendo no alto uma taça rasa cheia de licor de amora. — Como vamos chamar?

— Seja criativo e crie um nome. — Respondeu, procurando no bolso os cigarros.

O Shelby abriu caminho no salão onde as pessoas dançavam animadas. Deu ordens para a banda tocar uma música menos barulhenta das que eles estavam acostumados a tocar quando o clube pertencia a Sabine. Tomar o controle daquele lugar era seu modo de dizer quem realmente mandava, mas deixá-lo nas mãos de Arthur não estava sendo um bom investimento, visto que o irmão mais velho gastava os lucros em coisas supérfluas, levando Thomas acreditar que talvez deveria deixar o clube com John.

— Thomas, vamos dançar? — Lizzie surgiu em seu campo de visão o impedindo de dar mais um passo.

— Outra hora, Lizzie. — Desviou sutilmente da mulher, mas sendo segurado novamente.

— É a reinauguração do seu novo clube e você não consegue parar de trabalhar nem um momento? — Ela o puxou. — Se dê uma folga, vamos dançar, Tom.

— Tudo bem, uma dança. — Cedeu, sabendo que Lizzie não o deixaria partir com tanta facilidade.

Thomas a guiou para o meio do salão, com passos contados enquanto prendia sua atenção em pessoas diferentes das que convidara, sentindo que algo não estava indo conforme tinha planejado. Dançar com Lizzie não era tão ruim, mas assim que John e Arthur se aproximaram, disputando sua atenção com a ex-prostituta, Thomas teve um vislumbre do que acreditava ser um sonho. O tecido vermelho como sangue foi a primeira coisa que chamou sua atenção. A dama que se encontrava no balcão do bar, esperando por uma bebida, sorriu abertamente para o jovem ao lado, desviando o olhar para trás quando Polly Gray abordou o garoto com um abraço maternal e caloroso. Thomas engoliu o sabor amargo do cigarro que fumara horas antes, deixando de ouvir o que era dito ao seu lado. Piscou algumas vezes, acreditando que o que estava diante dos seus olhos, a apenas alguns metros, não poderia ser uma ilusão da cocaína que usara mais cedo ou de todas as doses de uísques que ingerira, mas sim Amara. Essa que se encontrava ainda mais bela do que ele se lembrava. A única mulher capaz de trazer de volta a confusão para seus pensamentos tempestuosos, e ferver em uma só sintonia todos seus sentimentos conturbados.

— ...Vamos fazer agora! — Ouviu quando tudo ao redor pareceu voltar repentinamente. Era John, que mudara o semblante de alegre para preocupado, chacoalhando o irmão para que ele lhe desse a merecida atenção. — Você me ouviu?

— Eu volto já! — Thomas disse enquanto se preparava para dar alguns passos em direção a mulher, mas foi impedido por Arthur.

— Que porra deu em você? — Arthur perguntou entredentes, impedindo a passagem de Thomas. — Acabamos de dizer que nossos guardas acabaram de ver os homens de Sabini vindo para cá, todos armados!

— O quê? — Perguntou, se sentindo atordoado com a notícia.

— Eu acho que entendi o motivo do nosso irmão estar assim. — John sorriu de lado, apontando com o queixo na direção do bar. Arthur olhou por cima do ombro, bufando ao entender o que tinha deixado Thomas naquele estado quase catatônico.

Ela voltou e está muito bonita, mas você tem algo mais importante agora do que ir se rastejar até lá. — Arthur levou as mãos para o ombro de Thomas. — Tommy, temos que agir antes que eles cheguem aqui quebrando tudo e matando essas pessoas, até mesmo ela!

— Tudo bem. — Respondeu Thomas, trincando o maxilar. — Lizzie, diga a Polly que vamos dar uma saída. — Disse ao desviar o olhar para a mulher.

— Algo mais, Sr.Shelby? — O tom que Lizzie usou incomodou Thomas, deixando visivelmente claro que ela se encontrava chateada por algo.

— Só isso. — Disse, antes de partir com os irmãos.

Thomas olhou uma última vez na direção do bar, enquanto Arthur e John abriam caminho pelo clube. Sentiu o coração acelerar ainda mais rápido quando trocou olhares com Amara, e viu, por uma fração de segundos, um sutil sorriso surgir nos lábios que ele bem conhecia. Ela realmente tinha voltado, depois de todo esse tempo, Amara estava de volta.

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— Michael, meu amor. — Amara ouviu a voz familiar.

Polly abraçou o filho como se não fizesse aquilo por muito tempo. Enquanto Amara esperava por sua bebida, e tentava não interromper o encontro familiar, espiou vagarosamente o ambiente ao seu redor. Era um belo clube, maior do que a entrada prometia. Em um palco, dois dançarinos dançavam, enquanto algumas pessoas os acompanhavam mais abaixo, no salão. O dourado e o marfim enchiam seus olhos, dando a vaga sensação de luxúria. O uso excessivo de cocaína pelas pessoas daquele lugar a deixavam deslocada, mas consciente que estava em uma nova área dominada visivelmente pelos Peaky Blinders. Um copo com gelo e uísque foi servido. Amara bebeu um gole pequeno, antes de se virar para as outras duas outras pessoas ao seu lado.

— Sra. Abbott, essa é... — Michael começou.

— Polly Gray, achei que nunca mais fosse pronunciar esse nome em voz alta ou vê-la novamente. — Amara disse. Polly ergueu o queixo, exibindo um quase sorriso nos lábios finos e enrugados.

— Você voltou. — Foi a única coisa que disse.

— Eu sinto algo estranho. Chego a me perguntar se o convite para esse lugar realmente foi só por acaso. Mas se tratando da família Shelby, nada é por coincidência. — Amara franziu o cenho. Polly suspirou, enquanto dava um passo para mais perto da viajante.

— Eu preciso conversar com você, em um lugar mais apropriado que esse. — Ela disse, abrindo a pequena bolsa enquanto tirava um cartão. — Esse endereço, me encontre lá.

— É muita ousadia sua querer que eu coloque meus pés novamente em Small Heath. — Amara sorriu amargamente, enquanto guardava o pequeno cartão de visitas na bolsa que carregava. — Mas eu nunca guardei mágoas do nosso passado, pelo contrário, eu segui seu conselho e até dei um emprego para seu filho.

— Por isso eu devo algo a você. — Polly disse. Levou uma mão para o rosto do filho, se orgulhando do homem justo que ele tinha se tornado. — Deu uma chance ao meu Michael, eu serei eternamente grata por isso. Michael, querido, a leve até minha casa, sei que nesse lugar ela não se recusará a pôr os pés. — Ela disse com um toque de humor. Amara confirmou lentamente.

Amara bebeu o último gole de uísque, deixando o copo novamente sobre o balcão. Uma pequena movimentação do centro do salão chamou sua atenção. Notou primeiro Arthur, com a velha carranca no rosto, abrindo caminho grosseiramente pelas pessoas, seguido por John que não estava tão diferente, mas parecia animado com algo. Contudo seu coração bateu mais forte no momento em que trocou olhares com Thomas. Foi como se tudo tivesse parado ao redor e as pessoas desaparecessem diante seus olhos. Amara não soube fazer nada além do que dar o mais sutil e verdadeiro sorriso para ele. O Shelby, por outro lado, a olhava como se de alguma forma ela não passasse de uma alucinação, ou talvez, na pior das hipóteses, um fantasma. Pelo modo como os Peaky Blinders andavam para a porta do clube, e como uma jovem mulher abordava Polly, Amara sabia que uma confusão estava chegando.

— Eles não vão parar até se matarem. — Amara comentou alto, roubando atenção de Polly e a outra mulher.

— O que disse? — A morena, não muito mais velha que a Abbott, perguntou. Amara a encarou.

— Que Thomas Shelby e seus irmãos não vão parar até um deles morrer. Eu espero que isso não aconteça tão cedo, mas é um pouco difícil, já que o perigoso vive nas sombras deles. — Disse claramente.

Lizzie, obrigado por avisar, você pode ir agora. — Polly encarou a mulher. Amara suspirou entediada. Lizzie se foi assim que Polly se aproximou do balcão pedindo por uma bebida forte. Os dedos da mulher tremeram levemente, enquanto pegava um cigarro da bolsa e acendia entre os lábios.

— Mãe, você está bem? — Michael se aproximou da mãe, recebendo um riso bondoso, embora angustiado.

— Eu já disse que admiro você? — Amara se aproximou da mais velha. — É tão forte aguentando tudo isso. Eu particularmente não aguentaria, todo esse vai e vem em nome dos negócios.

— Você também se tornou uma mulher de negócios, deve entender bem pelo que eles passam diariamente. — Polly tragou o cigarro, dizendo aquelas palavras quando a fumaça finalmente saiu dos pulmões.

— É diferente! Eu não trabalho com algo que vai encher minha boca de formiga se eu pisar no formigueiro errado. — Disse carregada de orgulho. No entanto, mudou o tom de voz quando os olhos da Gray brilharam. — Polly, eu sei que se preocupa com essa família, ama seus sobrinhos como se fosse seus próprios filhos. Aceitar o Michael em minha empresa é um meio de dizer que de qualquer forma, eu também me importo, e que principalmente, respeito você. Sei o que as pessoas têm falado sobre mim, principalmente quando olham para essa aliança no meu dedo, mas não sabem realmente pelo que passei para estar onde estou. — Amara pigarreou. — Ser mulher e ter poder é perigoso demais. Eu preciso das pessoas certas ao meu lado.

— Por isso voltou? — Perguntou.

— Estou aqui a trabalho, mas acho que... — Amara fez uma pausa quando um grupo de homens invadiram o lugar, tomando sua atenção.

— Michael! — Polly gritou de modo estridente quando uma metralhadora foi disparada para o alto.

O caos se instalou no clube em poucos segundos. Amara viu quando seu braço foi puxado para longe da confusão, enquanto tudo à sua volta se tornava flashes de um pandemônio, e a gritaria a ensurdecia. Michael puxou Polly para baixo quando uma cadeira os sobrevoou, se estilhaçando no chão segundos depois. Amara reprimiu um grito quando um homem caiu em sua frente com um enorme ferimento no peito, por um momento, se recordou do que passara há anos ao lado de Thomas. Com a ajuda de Michael, Polly e Amara saíram em um beco escuro, apressando os passos para a avenida movimentada. Com o vento frio, Amara estremeceu, mas nada comparado ao ver homens armados entrarem naquele clube, enquanto outras saiam apavoradas pisoteando quem ficava para trás.

— São os homens que trabalham para o Thomas. — Polly explicou, ofegante.

— Mãe, vou levá-la para casa. — Michael disse. — Amara, você...

— Pode levá-la, eu volto sozinha para o hotel. — Respondeu sem encará-lo. — Só espero que meu motorista ainda esteja vivo.

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Amara viu quando um homem apontou a arma em sua direção e disparou. Ela poderia ter sentido a dor do tiro se ele a tivesse atingido. No entanto, o homem caído aos seus pés agonizava com a dor que deveria ser direcionado a ela, enquanto uma mancha vermelha crescia gradativamente na altura do coração. Thomas a encarou de baixo, pronunciando palavras que Amara não conseguia ouvir. O aperto que sentiu no peito foi semelhante à dor do tiro que Thomas levará, e antes que pudesse dizer algo a ele, a claridade ofuscou sua visão, cegando-a quase instantaneamente.

O dia amanhecera tão deprimente quanto Amara se sentia naquela manhã. A noite anterior não fora fácil, nem quando ela teve que dirigir o próprio carro até o hotel, pois seu motorista fugira quando o ataque começou. Amara não o ocupava, ninguém gostaria de morrer por uma possível briga de território, principalmente ela. Em frente ao espelho encarou as olheiras profundas e escuras de uma noite mal dormida, se preocupando também com o estado que Polly chegara em casa, e se Thomas ainda estaria vivo a essa hora.

Amara encheu uma banheira, afundando por alguns minutos. Era isso que acontecia quando cruzava o caminho com Thomas Shelby, sangue inocente escorria livremente. Criminosos não tinham empatia em ferir aqueles que não faziam parte do seu acordo, e por pouco, ela não teve sua vida roubada naquela confusão. Amara voltou à superfície, saindo da banheira enquanto colocava todos os pensamentos em ordem para enfrentar mais um dia, pretendendo chegar viva até o fim dele.

Guardando alguns documentos na bolsa, Amara se preparou para uma longa viagem. Depois de um café reforçado, aguardou na recepção do hotel seu motorista. As pessoas comentavam sobre a noite passada. Amara deu um passo até um grupo pequeno de empregados do hotel, ouvindo que os homens de Sabini perderam mais uma vez para a nova gangue que se instalará no Eden Club. Amara limpou a garganta, sabendo que Thomas estava mais uma vez brincando com fogo.

— Sra. Abbott! — Michael a chamou, enquanto desviava de algumas pessoas até alcançá-la. — Já vai partir para o encontro com May Carleton?

— Na verdade estou indo para o País de Gales. — Respondeu, dando um passo até o jovem advogado.

— País de Gales? — Perguntou ele, ligeiramente confuso. — E quanto ao seu encontro?

— Diga a Sra.Carleton que eu sinto muito por está adiando nosso encontro, marque para outro dia, o que tenho que fazer hoje é mais importante. — Respondeu. Michael acenou em silêncio passando a mão pelo curto cabelo. O rosto do jovem estava vermelho, assim como algumas olheiras denunciavam sua noite mal dormida. — Sua mãe chegou segura em casa?

— Sim, sim. — Respondeu.

— Que bom. — Desviou o olhar para a porta, vendo seu carro parar. — Agora eu preciso ir, não me espere, não tenho horas para voltar de Gales.

— Não quer que eu acompanhe você? — Michael perguntou. Amara negou com a cabeça.

— Preciso de você aqui, resolvendo as coisas por mim. — Disse, antes de caminhar para o carro do lado de fora do hotel.

Amara se acomodou no banco traseiro, vendo Michael ficar para trás na porta do hotel. Newport ficava há duas horas de Londres e se o tempo colaborasse, não sofreria nenhum imprevisto durante a viagem. Viajar para buscar respostas sobre o que estava vivendo a deixava nervosa, não sabia como seria recebida no acampamento, mas não sairia daquele lugar até falar com a rainha daqueles ciganos. Amara deixou que seus pensamentos fossem levados conforme se distraía com a paisagem de Londres. Não demorou para que a cidade cercada de prédios de tijolos marrons, torna-se campos abertos e verdes.

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Novamente, o sonho em que Thomas era atingido por um tiro em seu lugar a assolou, deixando que a claridade a cegasse segundos depois, e a dor do vazio preenchesse seu peito. Amara abriu os olhos se dando conta que adormecera boa parte da viagem, mas ainda era dia quando chegara finalmente a Newport. O motorista abriu a porta para ela sair, colocando primeiro o pé direito para fora do carro como um sinal de boa sorte. Os velhos hábitos nunca morriam. Amara olhou à sua volta. Ela estava em um campo aberto, sentindo a brisa livre de poluição encher seus pulmões, assim como o cheiro de grama invadir suas narinas. Ao longe, notou uma fumaça cinza subir para o céu. Em volta da grande fogueira, avistou caravanas, enquanto adultos e crianças faziam seus afazeres distraídos.

— Me espere aqui, talvez eu não demore. — Disse ao motorista, enquanto se preparava para descer o pequeno morro íngreme onde o caminho de terra terminava.

Amara ensaiou o que diria aquelas pessoas. Pensava estar preparada para finalmente encontrar o clã Flynn, mas estava mentindo a si mesmo por todo esse tempo. Tudo que ela sentia agora era medo de ouvir coisas que não gostaria. Zaira, era quem deveria procurar, a rainha daqueles ciganos e possivelmente sua tataravó. Um jovenzinho foi o primeiro a notar sua presença, correndo em direção a uma carroça, surgindo segundos depois ao lado de uma mulher alguns anos mais velha que Amara, com uma característica peculiar nos olhos. Enquanto o lado esquerdo era expressivo em um verde brilhante, o lado direito soava perigoso em um tom de ônix tão escuro quanto a noite.

— Quem é você? O que faz aqui? — Perguntou ela, com um forte sotaque. Amara parou onde estava, vendo que as pessoas ao seu redor a encaravam como gatos ariscos prontos para atacar.

— Eu me chamo Amara Abbott e procuro por Zaira Flynn, a rainha. — Disse de modo seguro. Demonstrar medo seria a última coisa que faria na frente daquelas pessoas, embora fosse isso que sentisse um pouco naquele momento.

A mulher cigana cochichou algo em seu idioma nativo para o jovenzinho. Amara viu quando o garoto correu para o fim do acampamento. O relincho de cavalos chamou atenção da visitante, alguns animais passeavam soltos pelo lugar. Longe de qualquer civilização, o clã poderia viver livremente sem temer por nada. Por um curto momento, Amara os invejou, diferente deles, ela não tinha tanta paz quanto pretendia, muito menos após optar voltar para Inglaterra.

— Venha. — O garoto correu novamente até Amara, puxando-a pela mão. — Ela espera por você.

Amara deixou ser guiada para o meio do povo, passando por eles, enquanto entrava cada vez no acampamento. O olhar pesado e curioso do povo que ela poderia chamar de seu, chegava a queimar na pele. Mesmo que carregassem o mesmo sobrenome, Amara vivia uma realidade muito distante daquelas pessoas. O garoto parou ao lado de uma carroça, onde cortinas roxas e pesadas cobriam a entrada. Com um sinal de cabeça, Amara entendeu que deveria entrar. Um suspiro rápido esvaziou metade da tensão que a mulher sentia naquele momento. Ergueu o pé direito para subir no degrau, sendo acolhida pela escuridão de modo gradativo.

O cheiro de velas a deixou tonta por um momento, assim com um sutil aroma de rosas a fez se sentir embriagada. Amara deixou que a curiosidade guiasse a sua atenção dentro daquela carroça. O lugar era mais espaçoso do que esperava. A decoração rústica e simples era convidativa. Cada canto daquela modesta carroça era novidade para os olhos da viajante. Uma mulher sentada atrás de uma mesa redonda pigarreou, tomando atenção de Amara. Um baralho de cartas de tarô era bem embaralhado por dedos enrugados, trabalhando com maestria, antes de jogá-las acima da mesa.

— O navio. — Uma voz sedosa se arrastou pelo ambiente. Amara segurou mais firme a bolsa que usava, aproximando o olhar da carta virada para cima. — Remete a viagem e passado. — Amie franziu o cenho ao ouvir aquilo. Os dedos ágeis mexeram novamente nas cartas, virando uma nova. — A cegonha, remete a novidade e futuro.

Amara deu um passo para frente quando a mulher finalmente revelou seu rosto das sombras. A primeira coisa que notou além do rosto marcado pelo tempo, foram os penetrantes e brilhantes olhos verdes. Zaira parecia ter sido uma bela mulher na juventude. Os traços faciais eram semelhantes aos de Amara. Na cabeça, mechas escuras lutavam por espaço com as mechas grisalhas, por todo o longo e cacheado cabelo. Naquele momento, Amie não soube dizer se o formigamento em seu peito era efeito das velas e do incenso, ou da energia que sentia vindo daquela mulher.

— Eu sabia que viria, mas você demorou para chegar até mim, viajante. — Zaira sorriu, exibindo dentes de ouro.

Sua mão ergueu no ar, soprando um sutil pó em direção a visitante. A princípio, Amara tentou não respirar aquilo, mas viu que isso não interferiu que ele invadisse seus pulmões, fazendo-a cair em um sono profundo segundos depois.

E a verdade sobre salto temporal da Amara está bem ai, já quero ver quem acertou com as teorias ou pelo menos passou perto. Thomas e Amara sentindo coisinhas durante o breve encontro, imagina quando eles realmente se encontrarem cara a cara? Segurem as fanfiqueiras de plantão. 

Aliás, muito obrigado pelos 50k, VOCÊS NÃO TÊM NOÇÃO DO QUANTO ME FAZEM BEM E FELIZ. Tenho os melhores leitores do mundo e tenho provas. A princípio achei que ninguém fosse ler uma fic com essa ideia, eu nunca tinha visto nenhuma assim por aqui até eu começar a escrever Dobra no Tempo. Ainda tem tanta coisa para acontecer e faço tudo pensando nos surtos de vocês e espero que Thomas e Amara tenham realmente conquistado seus corações. É SOBRE ISSO <3

https://youtu.be/mPVqRMLpdWU

Capitulo postado dia (18/10/2021), não revisado.

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