𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟏𝟕
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OHIO — ATHENS
DEZ MESES DEPOIS
Os primeiros meses não foram fáceis. Dividir uma casa com mais quinze mulheres de diferentes nacionalidades e personalidades também não era tão bom quanto parecia no começo. O barulho e os hormônios femininos pareciam se unir em uma orquestra infernal, mas nada que com o tempo não se acostumasse. Amara sentou-se à escrivaninha do quarto que dividia com as irmãs Lowry. Escreveu uma carta, desta vez para o jornal da cidade Columbus, solicitando uma entrevista. Depois do que tinha passado, e deixado para trás em Birmingham, Amara voltará para sua velha carreira, mesmo que não fosse da forma que pretendia. Durante alguns meses escreveu dicas femininas em jornais pequenos da cidade que vivia, mas quando suas verdadeiras intenções de conscientização eram percebidas entrelinhas, recebia a temível carta de demissão sem qualquer justificativa plausível. Parecia que os Estados Unidos ainda não estavam preparados para ver mulheres no comando de algo ou dando ideias a outras.
Estava feliz por ver Ariana ir bem na universidade. Sarah parecia já ter se acostumado com a nova cidade e a escola, tendo facilidade em fazer novas amizades. Mesmo sendo eternamente agradecida pela amiga enfermeira, a viajante queria mais. Não era errado ter um pouco de ambição na vida. Mesmo longe de Birmingham, Amara ainda sentia a influência da cidade do caos em seu interior e de tudo que tinha feito por lá. Também seria difícil esquecer magicamente de Thomas Shelby e principalmente, da última conversa que teve com Polly Gray. A ideia de conhecer seus parentes daquela época não havia ainda dissipado da sua cabeça, no entanto, não saberia por onde começar sua pesquisa, visto que se encontrava presa em um século em que tudo era muito mais difícil de se achar. Quem diria que uma rápida pesquisa no google viesse fazer tanta falta.
Amara terminou a carta, selando-a para que pudesse enviá-la assim que chegasse ao centro da pequena cidade. Guardou o envelope dentro do Watson, seu fiel amigo, e torceu para que tudo desse certo. Antes de atravessar a porta do quarto, se encarou no espelho oval pendurado acima de uma penteadeira. Seus cabelos estavam mais curtos e lisos, logo acima do ombro, deixando-a um pouco mais jovem do que era. Logo estaria completando trinta anos e não se sentia tão preparada para isso, principalmente por saber que comemoraria o primeiro aniversário longe dos pais. Felizmente, conseguira uma família naquele século. As irmãs Lowry eram como uma benção em sua vida, a acolhendo mesmo quando Amara não tinha nada para dar em troca a não ser sua eterna amizade.
O clima era leve. O sol brilhava do lado de fora. Mesmo com o dia livre de nuvens pesadas e ventos frios, Amara cobriu o corpo com um casaco de tricô e desceu as escadas em direção a porta, esbarrando em Krishna, a garota indiana recém-chegada à cidade.
— Ah! Olá, Amara, estava de saída? — Ela perguntou. Falava o idioma perfeitamente, mesmo que puxasse um leve sotaque no fim das palavras. Amara passou a mão pelos fios curtos do cabelo, confirmando com a cabeça.
— Sim. Vou deixar essa carta no correio da cidade e ir a outro lugar. — Respondeu. Krishna se colocou ao lado dela, sorrindo.
— Posso acompanhá-la? Mas não quero atrapalhar você. Preciso ir ao centro comprar algumas coisas e ainda não tive chance de conhecer nada a não ser a casa onde trabalho. Como você está a mais tempo aqui do que eu, acho que pode ser uma boa companhia até o centro e podemos...
— Tudo bem. — Amara acenou, a interrompendo sutilmente. Krishna não parecia perder o fôlego, e se perdia facilmente nas palavras. Amara só gostava daquela característica quando se via sem assunto com a imigrante, também percebendo ser uma boa ouvinte. — Vamos?
A pensão feminina da Madame Clare não ficava tão longe do centro da cidade. Além disso, Athens não era tão grande quanto Amara pensava, mas estava em pleno desenvolvimento. Krishna tagarelou boa parte do caminho, parando de falar apenas para fazer cafuné em um cachorro de rua, ela não escondia a paixão pelos animais. Amara a analisou melhor. Krishna era uma imigrante se aventurando no famigerado sonho americano. Ela era jovem, não tendo mais que vinte anos. Trabalhava em uma casa de família durante três dias e era dona de uma beleza acentuada. Seus olhos amendoados escuros eram profundos e expressivos. Seu rosto era marcado principalmente pelo nariz alongado, além de uma pele cor de oliva limpa de qualquer imperfeição, e claro, longos cabelos lisos e escuros, sempre bem presos em uma trança lateral. Ainda que não dispensasse alguns acessórios indianos como os anéis e pulseiras, Krishna parecia se familiarizar bem com a moda ocidental, não dispensando o uso de vestidos leves e soltos em cores claras.
— O que foi? — Perguntou a garota, sorridente. Amara desviou o olhar para a rua, levemente constrangida.
— Nada. — Respondeu. — Krishna, não sente medo de morar sozinha nessa cidade?
— No começo sim, mas eu precisava fazer isso. — Ela uniu as mãos em frente ao peito. — Tive que sair do meu país e principalmente, fugir do meu pai.
— Por que estava fugindo dele? — Amara a encarou novamente. Krishna cerrou os dentes.
— De onde venho é tradição os pais escolherem maridos para as filhas, às vezes fazem isso antes mesmo delas nascerem. — Explicou com certo desgosto. — Não foi diferente na minha família, eles seguem à risca todas as tradições. Meu pai arranjou um marido para mim quando completei dezenove, mas eu não o amava, e ele era um velho asqueroso, não podia me casar com ele e acabar com minha vida.
— Então fugiu por não querer se casar. — Amara concluiu.
— E, porque eu queria ter minha independência. — Disse de modo firme. — Eu não fiz isso sozinha, eu tive ajuda do meu irmão gêmeo, ele também estava fugindo de um casamento arranjado.
— E onde ele está? — Amara perguntou.
Amara se recordava de que há um mês Krishna Kapoor havia chegado à pensão sozinha, pedido abrigo prometendo pagar todas as despesas quando arrumasse emprego. De alguma forma, Amie se viu naquela garota de olhos escuros, já que há pouco tempo, era ela que se encontrava na mesma situação. Madame Clare foi bondosa em ceder abrigo até ela conseguir um emprego e se acostumar com o modo de vida americano.
— Morto. — Krishna afastou a vontade de chorar. Manteve a atenção na rua, evitando encarar a mulher ao seu lado. — Tivemos uma longa viagem da Índia até a África do Sul e de lá para Inglaterra, e muitas aventuras. Infelizmente, há alguns meses, meu irmão adoeceu. Ele havia contraído a gripe nos navios em que entramos como clandestinos. Em Londres, meu irmão piorou e quando foi para o hospital, não saiu de lá. Ele deve ter sido enterrado como indigente e eu nem tive chance de me despedir.
— Eu sinto muito. — Amara parou no meio do caminho. Segurou o pulso de Krishna para poder encarar profundamente os olhos escuros e expressivos.
— Eu sinto falta dele, mas eu tinha que continuar com minha vida. Então decidi pegar tudo que já tinha ganhado nos Pub de Londres e me aventurar na América. Quem sabe, não posso conseguir algo melhor aqui? — Disse de modo esperançoso. Colocou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha e encarou Amara. — E você?
— Eu sou americana, me aventurei em Birmingham e voltei para casa, tecnicamente. — Amara disse, parando em frente aos correios.
— Então não tem uma família? — Krishna perguntou, curiosa.
— Ariana e Sarah são minha família. — Respondeu, deixando um riso leve escorregar pelos lábios. — As irmãs que eu precisava.
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Krishna provavelmente já havia voltado à pensão quando Amara pôs os pés na rua novamente. Torcia para que sua carta chegasse ao jornal da cidade de Columbus e assim pudesse ter uma boa oportunidade de emprego. Ela não poderia e nem pretendia viver eternamente em um casarão antigo com várias outras mulheres. Fazendo o caminho que planejava, Amara seguiu para a biblioteca local, apertando cada vez mais o Watson entre os dedos. A biblioteca se localizava em um prédio pequeno e simples, mas serviria para ajudar ela no que precisava agora. Além de ser o único lugar que poderia colocar sua mente para trabalhar, longe de todo caos que a pensão poderia trazer. Depois de todas suas desventuras em Birmingham ao lado de Thomas, Amara tinha em mente exatamente o que faria com tudo que absorvera naquele lugar, mesmo que fosse algo arriscado a ser feito naquela época. Ao adentrar no lugar, puxou todo o aroma de livros que podia para os pulmões. Se sentia bem nesses ambientes, principalmente quando não tinha ninguém para ameaçá-la. Aproximando-se de um balcão alto de madeira escura, Amara pigarreou para chamar atenção de uma mulher de meia-idade.
— Posso ajudá-la? — Perguntou a mais velha.
— Por acaso vocês teriam uma máquina de escrever? — Sorriu afetuosa.
— Somente uma, mas não está disponível para todos da cidade. — Disse a mulher. Amara suspirou, espiando o nome dela escrito no crachá: Carmen.
— Nem se pagar pela hora que usar? — Questionou. A mulher abaixou os óculos que usava, fitando Amara dos pés à cabeça.
— O que tem de tão importante para escrever? — Carmen quis saber.
— Um livro. — Respondeu com um meio sorriso.
Carmen ponderou por poucos segundos, por fim, abriu caminho para a jovem mulher. Amara foi guiada por um corredor de livros até uma sala reservada no fim de um corredor, onde uma máquina de escrever parecia esperar por ela. Amara não conseguiu segurar o riso vitorioso, tomando atenção da mulher mais velha por poucos segundos.
— Sabe usá-la? — Perguntou Carmen.
— Não deve ser tão difícil. — Disse Amara ao dar de ombros. Aproximou os passos da mesa, passando sutilmente os dedos sobre as teclas de ferro da máquina. Então se virou para a mulher, tirando uma nota da bolsa pequena que usava. — Vou pagar adiantado.
— Muito bem! — A mulher suspirou, pegando a nota, amassando-a dentro do bolso. — Tenha um bom trabalho.
Amara acenou. Quando enfim se encontrava sozinha na sala, sentou-se na cadeira, arrumando algumas folhas na máquina. Abriu o fiel caderno e estralou os dedos em um pequeno ritual. Pensou brevemente no que começaria a escrever a partir daquele momento. Aquele seria um novo começo, onde finalmente estaria dando vida para a pesquisa e sentido para a viagem trágica ao passado. Tornando todas as experiências que viveu entre os Peaky Blinders em um livro de verdade. Teria que ser cuidadosa com as palavras e nomes, mas sabia que faria um bom trabalho, tinha consciência do próprio potencial.
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ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
O silêncio da pensão era algo suspeito. Era difícil não acordar com alguém gritando no banheiro pedindo por sabonete novo ou passos de saltos sendo dados pelo assoalho de madeira da mansão. Amara vestiu o robe de seda, descendo as escadas com cautela. Sem nenhuma movimentação feminina, chamou por alguns nomes, mas não obteve nenhuma resposta. Amara tremeu quando um vento frio atingiu seu corpo, fazendo com que se protegesse ainda mais no robe. Caminhou até a cozinha, sendo surpreendida por uma figura pulando em seu colo.
— Feliz aniversário! — Sarah saltitava alegre. Em alguns meses tinha ganhado pares de pernas longas.
Amara piscou algumas vezes, se dando conta que as outras colegas se encontravam espremidas na cozinha de azulejos brancos, sorrindo e cantando parabéns de forma desordenada e quase engraçada. Ariana surgiu do meio delas, colocando um bolo alto de chocolate acima da mesa. Amara abriu os lábios para dizer algo, mas não conseguiu. Desviou o olhar para todos os rostos jovens e maduros, se sentindo em casa depois de muito tempo.
— Vai, faz um pedido! — Ariana gesticulou na frente dela. Estava ansiosa.
— Eu não acredito que fizeram isso... — Amara murmurou sem acreditar, enquanto puxava o fôlego para apagar todas as velas pequenas, pensando em um bom pedido.
— Só porque queríamos comer bolo. — Sarah disse, sincera.
— Sarah! — O nome da garota foi chamado em coro pelas outras mulheres. Sarah se encolheu no banco, revirando os olhos.
— O que você desejou? — A mais nova daquela casa voltou a falar. — Espera, não conta, ou ele não vai se realizar.
— Eu sei, Sarah. — Amara disse. — Eu não sei como agradecer a vocês, tudo isso... Muito obrigada!
— Não acabou ainda. — Krishna passou pelas colegas, deixando uma carta acima da mesa. — Recebemos isso há alguns dias. Acho que é a resposta que você espera, eu vou ficar na torcida por você, estou tão ansiosa que sinto meu coração pular na garganta e... — Parou de falar quando mordeu a língua.
— Abre logo! — Amara ouviu alguém dizer.
Suas expectativas foram ao limite ao tocar naquela carta. Rasgou o envelope com pressa, lendo as letras datilografadas. Um riso surgiu nos lábios de Amara, assim como uma pequena chama em seu peito. Deixou o papel na mesa, levando as mãos para o rosto. Tudo que ela queria naquele momento era gritar pela casa o que tinha conseguido.
— E então? — Ariana perguntou. A Lowry sentia o coração bater forte no peito.
— Fui chamada para uma entrevista no The Columbus Post. — Respondeu ao tentar conter a animação.
— Eu sabia que ia conseguir. — Ariana a puxou para um abraço.
— Parabéns... — Sarah cantarolou. — Agora podemos comer o bolo? — Sarah chamou atenção das adultas.
Amara sorriu, suas mãos ainda tremiam enquanto partia fatias do bolo. Momentos depois, sentada em uma cadeira de balanço do terraço dos fundos, leu novamente a carta, mas dessa vez, sentindo um pequeno vazio no peito. Há dez meses havia sido jogada no passado e desde então, criado à própria sorte. Seus sentimentos ainda eram confusos pelo que tinha deixado para trás, em Birmingham, embora estivesse ciente que fez o certo, aquela vida não era para ela. Pensou no que sua mãe diria, com certeza, algum dos seus conselhos agora seriam bem-vindos pelo menos para acalmar suas tempestades interiores. Amara se levantou da cadeira, subindo novamente para o quarto.
O manuscrito que começara há alguns dias estava guardado em uma caixa, logo abaixo da medalha dada por Thomas. Amara foi delicada em descrever exatamente tudo que vivera entre os Peaky Blinders, mudando alguns detalhes. Se pretendia publicar esse livro ainda na década de vinte, então teria que modificar alguns fatos. Thomas Shelby cedeu lugar a Kevin Mooney e sua genialidade quase diabolicamente perfeita. Aquele não seria um livro sobre um brilhante criminoso, mas sobre um homem que saiu das sombras da pobreza para um futuro promissor, alcançando um poder invejado por muitos.
— O que está fazendo? — Ariana perguntou ao entrar no quarto. Amara encarou a amiga, que deixava uma pequena pilha de livros grossos de ciência em uma penteadeira alta.
— Dando uma olhada no que escrevi. — Respondeu. Ariana a encarou, erguendo as sobrancelhas.
— Você não desiste mesmo de escrever sobre eles...
— Eu estou nesse lugar por um motivo e depois de tudo que vivi, não podia deixar nada passar em branco. — Folheou algumas folhas. Ariana deu um passo até Amara, sentando-se ao seu lado.
— Não tem medo desse livro chegar até o Thomas? O que ele vai achar quando ler sobre ele mesmo?
— Se chegar até ele, espero que se sinta prestigiado. — Amara sorriu ao olhá-la. — Não se preocupe, o máximo que as pessoas vão achar é que esse livro é ficção pura, nenhum homem ainda conseguiu todo o poder e influência que Kevin Mooney tem, nem mesmo o Thomas, ainda...
— Talvez sirva de incentivo para ele... — Ariana deixou uma folha na cama.
Amara encolheu os ombros. O final do seu livro não diferia do trágico e futuro final de Thomas Shelby. O cigano Kevin Mooney tinha conseguido tudo que queria, mas no fim, acabou sem nada. Com as crises e a chegada da segunda guerra, tornou- se um homem solitário e hostil. Quem sabe, se um dia o livro tivesse a oportunidade de chegar nas mãos do verdadeiro cigano que deu inspiração a ele, talvez pudesse mudar um pouco o rumo de certas coisas.
— Amara Flynn vai publicar esse livro? — A voz de Ariana soou no quarto.
— Ainda estou pensando sobre isso. — Respondeu Amara, guardando os rascunhos na caixa. — Ainda tenho medo de recusarem ele só por ter sido escrito por uma mulher, então talvez o Caleb possa me ajudar, mas apenas se for muito necessário. — Lançou uma piscadela a amiga.
— E sua entrevista? Quando vai partir? — Ariana perguntou.
— Logo. Eu estou tão nervosa ao mesmo tempo que confiante. Sei que vou conseguir esse emprego e logo, publicarei meu livro ou o Caleb irá publicar.
— Vou ficar na torcida e qualquer coisa, faça um pedido para uma estrela-cadente.
— Sem mais pedidos para estrelas-cadentes, Ari.
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BIRMINGHAM
O barulho das pás havia voltado e nem o ópio surtia mais efeito como antes. Thomas abriu os olhos quando a claridade bateu em suas pálpebras sem piedade. Seu ombro direito formigou lembrando-o que não se encontrava sozinho no quarto. As madeixas escuras e femininas quase lhe trouxeram alegria novamente, mas ao reparar no rosto ao seu lado, seu semblante se desfez. Não era ela e sabia que talvez nunca mais teria a chance de vê-la novamente. Thomas se levantou da cama, deixando Lizzie ainda adormecida e nua entre os lençóis. Encarou a rua movimentada pela janela embaçada pelo frio. Era mais um dia de luta e com sorte, venceria.
Se vestiu rapidamente, deixando uma quantia acima da cômoda feminina antes que saísse. De qualquer forma, ele sempre pagava pelos serviços de Lizzie quando sentia o coração ferido doer. Os meses foram promissores na companhia Shelby, até mesmo quando foi culpado pela morte do inspetor Campbell e quase levado à cadeia por isso. Amara fez muito mais que só despertar sentimentos em seu coração tempestuoso, ela havia deixado uma bela de uma confusão para trás, sabendo que ele lidaria melhor com assassinatos do que ela.
No fim de tudo, Thomas aprendeu a amar novamente e jamais deixaria de sentir tal sentimento pela viajante. No entanto, em hipótese alguma renunciaria tudo que conquistara com tanto sangue e suor. Assim como sabia que Amara tinha ambições além das que ele poderia realizar. Ele se importava o suficiente para saber que não poderia mais sujar as mãos da mulher com sangue, se arrependendo amargamente de tudo que causara na vida mulher com que ele ainda sonhava.
Cruzou o caminho para a casa de apostas, mantendo a postura rígida capaz de arrancar qualquer pessoa do seu caminho e receber pedidos de desculpas por isso. Gostava de ser autoridade máxima em Small Heath, esse era seu reino, afinal. Abriu a porta de madeira, entrando na casa. O lugar estava quieto, as apostas ainda não tinham começado e uma reunião de família aconteceria antes de abrirem. Atrás da mesa de negócios, procurou cocaína para se manter concentrado pelo resto do dia. Contudo, o que encontrou foi cartas, muitas das que desistira de mandar para Ohio, inclusive, a primeira que escreveu. Thomas sabia que teria de arrumar um lugar seguro para elas, uma hora ou outra, um de seus irmãos ou até mesmo Polly as encontrariam.
— Chegou cedo. — Ouviu a voz de Polly soar no salão. Então fechou a gaveta antes que a mais velha percebesse o que de fato ele escondia ali.
Polly torceu os lábios com a expressão do sobrinho. Thomas tinha o cabelo bagunçado e leves olheiras sob os olhos, assim como não parecia ter dormido tão bem. Ela se aproximou cruzando os braços. Sabia que mais uma vez o sobrinho passara a noite com uma puta e possivelmente, abusado das drogas exatamente como fazia depois da guerra.
— Precisamos lidar com as novas expansões o quanto antes. — Thomas disse, desviando o olhar da tia.
— Thomas, você está usando ópio novamente? — Perguntou ela, dispensando o comentário anterior do sobrinho. Thomas travou o maxilar.
— O que eu uso ou deixo de usar, não é do seu interesse, Polly. — A voz saiu suave, mas carregada de grosseria. A mulher soltou um suspiro abafado, dando um passo largo até ele.
O que veio a seguir pegou Thomas de surpresa. O tapa que levou doeu menos que um tiro, mas foi forte o suficiente para despertá-lo. Polly bateu as mãos na mesa, fazendo que o estrondo ecoasse pelo salão vazio. Ela manteve o olhar fixo nos olhos frios e azuis do sobrinho. Queria lê-lo de alguma forma, embora agora ele se encontrasse ainda mais fechado do que antes.
— O que está acontecendo com você, porra? — Polly perguntou, alto. Thomas limpou a garganta, se encostando na cadeira. A pele do rosto ainda pinicava devido às mãos finas e ágeis da tia. — Ela foi só uma mulher e você ainda terá muitas em sua vida!
— Ela quem? — Ergueu o queixo ao perguntar. Polly revirou os olhos com o cinismo de Thomas.
— A mulher que você fingiu que superou! — Respondeu de forma áspera. — Eu disse que ela veio de muito longe para conhecê-lo e fez isso, agora, cada um deve seguir com suas vidas e você deve continuar a sua.
— E é o que estou fazendo, Polly! — Thomas se levantou da cadeira, aumentando o tom de voz. — Ou acredita que tudo que conseguimos até agora surgiu magicamente em nossa frente? Hein? Eu trabalho dia e noite, porra! Dou meu sangue nessa empresa e nos negócios e isso ainda não parece óbvio?
— Você pode tentar enganar seu coração, mas não a mim. — Polly puxou o ar para os pulmões. — Eu sabia que isso aconteceria e no fim das contas, nunca estive errada sobre aquela mulher. É isso que elas fazem com vocês, os deixam cego.
— Já chega! — Thomas bradou. — Eu não quero ouvir você brigando comigo de manhã cedo.
— Você está sempre fazendo tudo sozinho. Seus irmãos estão começando a pensar que algumas coisas estão saindo do controle e eu também. — Polly descansou as mãos na cintura, enquanto Thomas caminhava para fora do seu campo de visão.
— Tudo está sob controle, diga isso a eles. — Thomas passou a mão pelo rosto, não gostaria de levar um sermão naquela hora.
— Diga isso pessoalmente, eles chegaram. — Polly disse ao sentir a presença dos outros sobrinhos.
— O que aconteceu? — John perguntou. — Porque essas caras de que comeram mingau azedo no café da manhã?
— Tia Polly disse que estão preocupados com a atual situação da empresa e eu digo que está tudo sob controle, indo a mil maravilhas. — Thomas colocou as mãos no bolso e encarou os irmãos. — Agora que estamos todos reunidos, vamos começar o nosso processo de expansão. E quero deixar claro que só quero ao meu lado, aqueles que forem tão ambiciosos quanto eu. Estamos entendidos?
— É claro. — John respondeu, desviando o olhar para a Tia.
— E quais são as ordens para o processo? — Arthur perguntou, sentando-se em uma cadeira. Ele não parecia tão interessado no processo.
— Quero que reúna os novos homens e garotos, precisamos de poder e quanto mais soldados melhor. — Thomas deu as ordens. — Primeiro, vamos mandar um recado para os irlandeses.
— Irlandeses? — Polly perguntou, surpresa. — Quer arrumar guerra com os irlandeses?
— Não é guerra, são negócios. — Respondeu sem encará-la.
— Pelo visto você não está batendo bem da cabeça, não vai parar até que revidem contra a gente. — A voz de Polly soou alta e severa o suficiente para atingir o sobrinho.
— Se eles fizerem isso, então atacaremos. — John deu um meio riso. — Somos os malditos Peaky Blinders, ninguém que ferra conosco, sai ileso.
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COLUMBUS
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
Um apito alto acompanhado do barulho de freio e fumaça escura, informaram que Amara chegará a nova cidade. Ao descer do trem, encarou a passarela movimentada. Esfregou as mãos antes de puxar a mala para cima. Columbus era movimentada e promissora, uma versão bem mais moderna da pequena Athens. Ela apressou os passos para pegar um táxi na avenida principal. Logo teria sua entrevista, por isso se sentia nervosa, como se fosse a primeira vez que faria algo do tipo. Por um momento, sentiu nostálgica naquele carro, tendo a mesma emoção que sentiu há muito tempo quando decolou para Birmingham, momentos antes de cair em uma verdadeira montanha-russa de problemas.
— A senhorita é nova na cidade? — O homem na direção do veículo, perguntou.
— Sim, vim para uma entrevista de emprego no jornal The Columbus Post. — Respondeu com certa animação, enquanto ainda se distraía com as novidades de Columbus.
— É um bom jornal, o mais famoso, eu diria. — Respondeu. — Você vai ficar aqui? — Desacelerou o veículo, parando em frente a um modesto hotel.
— Sim. É um bom hotel. — Sorriu ao dar de ombros.
Antes que pudesse passar pelas portas do hotel, desejou que portas além daquelas se abrissem. Ser uma mulher com pensamentos e atitudes progressistas que era, poderia ser quase prejudicial na época que estava vivendo. Com as chaves do quarto em mãos, Amara seguiu por um corredor largo até o elevador de engrenagens. Deu uma boa olhada no salão principal. A escolha do hotel foi fácil, graças aos contatos da Madame Clare, Amara conseguiu um bom hotel na cidade para ficar pelo tempo que precisasse, não era tão caro e nem tão longe do jornal, assim como era bem localizado e em um bairro seguro.
O dia parecia passar mais rápido enquanto Amara se via distraída em escrever a punho detalhes essenciais do próprio livro. Se deu conta que era noite quando seu estômago protestou por comida. Espiou pela janela do quarto a movimentada avenida, contagiada pela cidade animada. Gostaria de ligar para Ariana e contar como Columbus era bela, mas com certeza, sua amiga se encontrava entre livros e atividades do curso de medicina. Com uma roupa apropriada para suportar o clima da cidade, Amara desceu para o andar debaixo, se lembrando vagamente de um restaurante que o hotel tinha.
Caiu em descontentamento quando percebeu que o lugar estava cheio, mas talvez conseguisse uma mesa para jantar, aliás, estava sozinha.
— Boa noite, por acaso não há nenhum lugar disponível? — Perguntou ela na recepção do restaurante. Seu riso cresceu sutilmente ao notar uma mesa vazia em um canto. — Tem uma mesa ali.
— Sinto muito, senhora, mas a mesa já está reservada. — O garçom disse. Amara emitiu um ruído de frustração, enquanto o garçom arrumava a postura como se tivesse visto o próprio rei. — Senhor Abbott, sua mesa é por ali.
— Não pude deixar de ouvir que essa bela jovem também procura por uma mesa para jantar nessa magnífica noite. — Ouviu um homem dizer. Seu sotaque carregado soava engraçado. Amara o encarou por cima do ombro, era um homem que lembraria facilmente o próprio pai. Cabelos grisalhos, vestes de primeira mão e um riso amigável no rosto.
— Não precisa... — Ela tentou formular uma frase, mas o homem ergueu um dedo no ar.
— Eu insisto. Jantar sozinho é um pouco deprimente, ainda mais sendo velho. — Abbott sorriu da própria piada. — Espero que não recuse o pedido de um senhor como eu, senhorita...
— Flynn. Amara Flynn. — Se apresentou. — E já que insiste, não tenho como recusar. — Aceitou ao ouvir o estômago protestar novamente.
Amara e o senhor Abbott foram guiados para a mesa em uma área mais reservada do restaurante. Poucos segundos depois, um novo garçom os atendia, anotando os pedidos, enquanto outro servia um champanhe visivelmente caro. Amara sentiu o interior congelar só de imaginar a conta daquele jantar.
— Parece nova na cidade, nunca a vi por esse hotel e olha que sempre me hospedo aqui.
— Sim, cheguei hoje cedo e me perdi nas horas enquanto escrevia. — Disse antes de beber um gole de champanhe. — Ainda não tive tempo para conhecer a cidade.
— O que te traz para Columbus? — Perguntou, curioso.
— Oportunidade de emprego. A cidade tem muito a oferecer. Assim como acho que terei uma chance promissora aqui. — Respondeu. O senhor Abbott fez o mesmo, deixando uma ruga preencher o meio das grossas sobrancelhas.
— Disse estar escrevendo, então estou diante de uma jovem escritora? — Perguntou. — Isso é empolgante. — Acrescentou.
— Sim, senhor Abbott. — Respondeu.
— Ah! Minha jovem, me chame de Richard. — Ele disse em um tom descontraído. — E nada de senhor, isso só me lembra o quanto estou velho e hoje quero me sentir jovem.
— Tudo bem, Richard. — Ela sorriu de modo tímido. Às vezes se intimidava com personalidade tão excêntricas, só às vezes. — E se me permite dizer, sinto que você tem uma alma tão jovem quanto a minha.
— Então um brinde às nossas almas jovens, minha cara Amara. — Disse ele, erguendo uma taça no ar. Amara fez o mesmo. Brindaram rapidamente. Richard voltou a encarar após beber um pequeno gole da bebida. — Sobre o que estava escrevendo?
— Hum... — Amara engoliu de vez o champanhe. — Sobre algo que pode servir para abrir muitos olhos.
— Estou curioso. — Disse animado. — Que bom que tenho a noite inteira para ouvir o que tem a dizer. — Um riso fluiu nos lábios dele. Amara fez o mesmo.
Richard era dono de uma alma jovial e Amara gostava da sua energia contagiante. Em algumas horas de conversa, notava o espírito aventureiro sempre em busca de coisas que o deixassem mais vivo. Se surpreendeu ao saber que ele lutou na primeira guerra e que por pouco, não perdeu a perna esquerda quando sofreu uma emboscada. Mesmo que gostasse de soar simples ao se hospedar em hotéis não tão grandiosos, Abbott não disfarçava seus luxos e sua possível fortuna, liberando entrelinhas suas posses e falando com orgulho do seu hipódromo e trabalho com cavalos. O resto da noite foi regada de comida gostosa e champanhe caro, assim como uma boa conversa a respeito do futuro. Amara foi cuidadosa em colocar seu ponto de vista sobre a política e conscientização dos direitos das mulheres, citando Jessie Eden em muitos momentos. Richard estava atento a cada palavra, se surpreendendo principalmente com as ideias avançadas da jovem moça. Em muitos anos, Abbott não se sentia encantado como se via ali, ouvindo os pensamentos de uma jovem que era visivelmente à frente do seu tempo.
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Amara ergueu o pé direito, supersticiosa em dar o primeiro passo de sorte para dentro do jornal. Após se apresentar formalmente na recepção, foi guiada ao outro lado do enorme prédio. Deixou que o queixo caísse admirado com a sala de produções. Se sentiu minúsculas entre a quantidade de pessoas indo de um lado para o outro com papéis nas mãos e do barulho de teclas das máquinas de escrever formando uma orquestra no lugar. Através de uma porta espaçosa, ao fim da sala, viu grandes máquinas trabalhando incansavelmente em produzir jornais.
— Você deve ser a Amara Flynn. Venha, venha! — Um homem barrigudo e calvo, segurando um charuto, a chamou. Ele parecia com pressa como o coelho da Alice.
Amara o seguiu pela multidão de escritores, subindo alguns lances de escadas para o segundo andar. Passou por um corredor estreito até chegar em uma sala, ofegante. O homem se sentou em uma cadeira atrás de uma enorme mesa com pilhas de jornais. Amara limpou a garganta, sentando-se na cadeira indicada pelo homem. Na placa que jazia acima da mesa, leu o nome que tinha escrito: Joshua Miller. Diretor de redação.
— Quando recebi sua carta, entre várias que recebo diariamente, fiquei intrigado. — Começou. Amara pigarreou quando sentiu a garganta reclamar do forte cheiro de charuto cubano. — Mas não sei se percebeu, mas poucas mulheres trabalham aqui e como o tempo está mudando cada vez mais...
— Posso acrescentar muito nesse jornal. — Disse. Joshua arrumou os enormes óculos e a encarou.
— Eu pesquisei sobre você e suas matérias em outros jornais — Mencionou ao se aproximar da mesa. Amara travou o maxilar. —, e vi que foi demitida de todos que esteve.
— Algumas pessoas não estão prontas ainda para a verdadeira revolução e eu me refiro aos direitos iguais. — Ergueu o queixo.
— Entendo, entendo. — Miller gesticulou, entediado. — Você é uma dessas mulheres com pensamentos à frente do tempo. Mas ouça, senhorita Flynn, o que preciso agora é de uma presença feminina nesse jornal que mostre a outras mulheres como serem mais delicadas, entende? Boas donas de casa.
— Perdão? — Amara franziu o cenho, evitando sorrir com o que ouvia.
— Digamos que eu contrate seus serviços. Você terá uma coluna só sua no jornal, onde poderá escrever sobre moda, dicas de beleza e tudo que quiser, desde que seja dentro o mundo feminino. — Foi mais claro dessa vez. Amara levou uma mão para os lábios, raspando o dente na unha. Não era possível que estivesse ouvindo aquilo.
— Senhor Miller, fui demitida desses jornais por um simples motivo. — Seu de tom voz saiu calmo. Amara encarou o homem. — Eu não quero escrever sobre moda, dicas femininas ou qualquer coisa do tipo, não mais. Existem coisas mais interessantes que isso e que também podem despertar a atenção de outras mulheres. Quero falar de revoluções, novos pensamentos e movimentos.
— Minha cara, já temos homens fazendo isso.
— Sim, mas homens que escrevem para homens. — Rebateu.
— E quem leria o que você tem a dizer? — Perguntou com um meio riso no rosto. Miller tentava não rir dos pensamentos da jovem à sua frente.
— Outras mulheres como eu. — Ela respondeu, sutilmente.
Miller abandonou o charuto e se levantou da cadeira dando a volta pela mesa. Amara engoliu seco quando teve que levantar o rosto para encarar o homem de perto. Também não se agradava nem um pouco do espaço pessoal sendo invadido.
— Senhorita Flynn, confio no seu potencial, eu li seus posts dos outros jornais... — Ele disse. —, mas deixe a política com os homens, entendemos melhor. Se quiser fazer parte do jornal, então terá que escrever o que é cabível a você. Mas se quiser escrever tanto sobre esses... delírios, então sugiro que procure outro jornal da cidade ou crie o seu.
Sua voz saiu sutil, mas atingiu a jornalista dolorosamente. Amara piscou algumas vezes, assimilando tudo que ouvira. Não iria fazer parte de um jornal cujo patriarcado estava impregnado em cada pilar e tijolo do prédio, e sabia que não seria diferente em outros locais. Essa era a realidade daquela década, infelizmente. Um riso quase maquiavélico deslizou pelos lábios de Amara, enquanto ela se levantava da cadeira com todo o orgulho que podia exibir. Filha, dobre seu orgulho se quiser chegar em algum lugar, ouvia a mãe dizer.
— Acabei de perceber que sou boa demais para esse lugar. — Começou. Seu interior estava em erupção, mas sua voz soava calma. — Um jornal que aceita mulheres apenas para cumprir com as cotas, realmente não se importa com os interesses delas ou tampouco com o que elas têm a dizer. Talvez eu realmente crie meu jornal, senhor Miller. Foi bom ter essa conversa com o senhor, algumas coisas ficaram mais claras para mim. Eu realmente tenho um bom potencial em redações, e principalmente em calar pessoas iguais a você. Aliás, foi bom conhecer seu jornal e ver que esse país precisa de algo melhor para mantê-los bem informados. Bom dia.
Amara saiu tão depressa da sala, quanto entrou, não esperando por uma resposta do homem. Cruzou toda a multidão do jornal até chegar à porta da rua. Respirou fundo sentindo um misto de emoções nebulosas em seu peito. Se sentia infeliz e desacreditada, em pleno século vinte a sociedade negava progredir. Uma gota gelada atingiu o topo da sua cabeça, escorrendo pelo rosto. Antes que ela pudesse sair do lugar, olhou uma última vez para o prédio, apenas para ter certeza de que nem sempre teria tudo que almejava. Naquele momento, entendeu que os nãos também poderiam se tornar chaves para novas portas, mesmo que essas se encontrassem bem trancadas.
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O tempo havia virado de uma hora para a outra, assim como o humor de Amara. Desistindo de se proteger da chuva, ela continuou a caminhada sob a chuva. Enfrentando os pingos gelados na pele, pouco se importando em pegar um resfriado. Sua cabeça latejava com as palavras de Miller e sua proposta nem um pouco tentadora. Estava tão perdida em meios aos pensamentos a respeito da entrevista fracassada, que mal se deu conta do carro que parava ao seu lado.
— O que está fazendo nessa chuva? — Ouviu a voz rouca e amigável de Richard. Amara encarou o luxuoso carro ao seu lado, vendo o vidro baixo. Richard a encarava preocupado, o semblante que fez com que um nó apertasse na garganta dela. — Entre minha menina, vamos.
Amara não discutiu. Segundo depois se acomodava ao lado de Richard, enquanto sentia o vestido colado no corpo devido a água da chuva e os cabelos pingarem no ombro. Ela tremia de frio e ainda estava atônita, mas podia ouvir o comando do homem ao seu lado. Abbott alterara o caminho dos seus afazeres naquela cidade para o hotel novamente. Não demorou para que Amara sentisse algo ser colocado acima dela. Richard a cobriu com o paletó branco, ligeiramente preocupado com o estado da jovem mulher.
— Por que está com essa cara? — Perguntou ele. Amara o encarou, lutando contra as lágrimas de pura indignação. — Tem a ver com sua entrevista? Lembro-me de ter mencionado ela ontem, quando conversamos.
— Sim. — Disse sem emoção. — Resumindo tudo, não consegui a vaga.
— É uma pena para o jornal, perderam uma grande profissional. E após ouvir tudo que você tinha para dizer ontem, confesso que passei a olhar minha volta de outra forma. — Disse, sincero.
— Pelo menos minhas palavras surtiram efeito em alguém. — Amara encarou a rua brevemente, antes de voltar atenção para Richard. Ela queria gritar de raiva, mas se controlou. No entanto, ao abrir a boca novamente, sentiu o tom de voz sair ríspido. — Eu sei que posso fazer muito mais que escrever dicas femininas para donas de casa entediadas de seus maridos machistas de pau pequeno!
— Eu tenho que concordar. — Richard levou as mãos para as da jovem, sentindo a pele fria e feminina congelar as pontas dos seus dedos enrugados. — A parte do pau pequeno eu não sei o que dizer. — Ele soou humorado, fazendo Amara quase sorrir. — Eu acredito no seu potencial, Amara. E você lembra muito minha falecida esposa, ela também era uma mulher com atitude e isso é algo que admiro nas pessoas.
— Você parece apaixonado quando diz isso. — Amara relaxou com o toque. Richard sorriu levemente.
— Minha Alice. — Suspirou. — Serei eternamente apaixonado por ela, mas aquela gripe maldita a tirou de mim. — Por um momento, Richard pareceu pensativo. Falar da esposa falecida ainda era algo doloroso, por isso, quando mencionava o nome da amada, optava por lembrar apenas dos momentos felizes ao lado dela. — E o que fará agora?
— Criar um jornal, talvez. — Brincou. Deu de ombro ainda pensativa, provavelmente ficaria na cidade para conseguir algo mais, não iria se dar por vencida tão cedo. — Vou ficar em Columbus por mais algumas semanas, consegui algo, e bem, se nada der certo, voltarei para Athens. — Ou voltar para Small Heath e pedi um emprego para o Thomas, ela pensou de modo áspero. Não, definitivamente não faria isso, concluiu.
— Sabe minha jovem. — Richard a chamou. — Sou um homem aventureiro e sei que você também é uma mulher cheia de vida e o que acabou de dizer, me trouxe uma grande ideia.
— Richard, você é muito gentil, mas...
— Eu não terminei. — Ele ergueu um dedo no ar. — Embora tenha outros negócios como turfe, sei que poderia aumentar meus negócios para o ramo de comunicação, e já estou vendo a melhor jornalista na minha frente, pronta para falar o que realmente queremos ler, de um ponto de vista rico e muito grandioso. Mulheres têm uma capacidade especial de fazerem isso muito bem-feito, e estou diante de uma que sabe fazer muito bem o uso das palavras.
— Isso é uma grande loucura, Richard.
— Que bom que sou um louco incurável. — Ele sorriu batendo um dedo na cabeça. — Há alguns dias fiz um pedido para uma estrela-cadente e pedi que uma luz iluminasse novamente meu caminho e me trouxesse a vontade de viver um pouco mais. E ontem conheci você e todos seus pensamentos. Confesso que desde que minha Alice se foi, não tive noites tão descontraídas como aquelas.
— Por que fala como se estivesse prestes a morrer? — Amara observou. Richard desfez o riso enquanto a tristeza percorria seu olhar.
— Descobrir um câncer, infelizmente, nem todo meu dinheiro é capaz de me salvar. Eu poderia pedir uma cura para aquela estrela, mas sei que elas não fazem milagres. Mas aqui está você, me dando uma ideia promissora para meus novos negócios. — Disse, orgulhoso. — Então aqui vai a pergunta de ouro: você aceita trabalhar no meu futuro jornal, Amara Flynn?
— Isso é sério? — Amara deixou que o queixo caísse. O coração bateu mais forte quando o homem acenou lentamente. — É claro que eu aceito. Meu Deus! Como eu aceito. — Ela sentiu o calor percorrer todo o corpo. — Richard Abbott, você não foi meu pedido para uma estrela-cadente, mas acredito que foi a melhor coisa que ganhei nessa viagem.
EEH! teve capitulo novo!! Perdoa a demora gente, eu tenho andando muito ansiosa ultimamente e um pouco dispersas nos dias. Estou liberando esse capitulo um dia antes do meu aniversário, a festa é minha, mas o presente é para vocês kkkk
É isso, estamos praticamente em uma nova 'fase' da fanfic e vocês nem imaginam tudo que ainda vai acontecer [e já ta tudo escrito kkkk], então se preparem para muitas emoções tanto do Thomas, quanto da Amara, eles vão causar muito. Eu apresentei os novos personagens no meu twitter [ISTREFF1], e todos são importantes para o progresso da fic tanto nessa fase quanto na próxima.
Quero agradecer também os +30k da fanfic, sério, eu nem imagino que tenho alcançado números tão alto, gratidão, fiz um videozinho para agradecer vocês:
https://youtu.be/GPuKFg5nVCE
SIM, ESSA MÚSICA REPRESENTA MUITO ELES ENTÃO SE SINTAM LIVRES PARA OUVIR ELA TODA VEZ QUE LEREM AS PARTES DO TOMMY.
Capitulo postado dia (06/09/2021), não revisado.
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