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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎┊𝟎𝟏𝟔

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A noite caiu silenciosa. Amara dobrou uma peça de roupa em silêncio. Nem mesmo as conversas paralelas de Ariana e Sarah sobre a nova vida na América conseguiam tirá-la dos pensamentos a respeito da decisão que tomara, e principalmente, da conversa que tivera com Polly. Quando guardou na mala as poucas peças doadas pela amiga enfermeira, sentou-se na cama, unindo as mãos em frente ao rosto. Fizera uma boa escolha pelo bem de si mesmo, embora sentisse um pequeno aperto no coração quando pensava em quem abandonaria. Talvez Polly estivesse certa, Amara estava fugindo do que tinha medo de sentir por um criminoso, ainda que pensasse em seu futuro a partir dali.

— Em Ohio faz calor? — Ariana perguntou ao entrar no quarto com duas peças de roupas. Parecia confusa com o que levaria e o que deixaria para doação.

— Acredito que durante o verão, sim. — Respondeu Amara, levantando-se da cama. Ariana abaixou as mãos, percebendo o semblante abatido da amiga. — Porque essa cara de velório?

— Contei ao Thomas que estava partindo e ele me fez mil propostas. — Disse, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Ele acredita que pode te dar tudo, bem, talvez realmente ele possa. — Ariana deu um passo para frente.

— Eu não preciso de um homem para pagar minhas contas. Eu sempre me virei sozinha desde que sair da casa dos meus pais para a universidade. — Disse com orgulho da independência que tinha desde cedo. — Mas eu senti um leve desespero em suas palavras. — Era como um pedido de socorro, pensou. — Eu tenho realmente pena do Tommy, mas eu não posso resolver os problemas que ele tem.

— Suponho que Thomas Shelby não tenha conserto. — Ariana sorriu maldosa. Desviou o olhar para a pequena bolsa acima da cama. — Já sabe o que vai fazer quando chegar em Ohio?

— Procurar um emprego, longe de pubs e coisas do tipo. — Amara disse. Puxou os pertences com que saltou no tempo. Os encarou por um momento, até lembrar-se das palavras de Polly. — Talvez, procurar pelos meus parentes e quem sabe, achar respostas sobre tudo que está acontecendo.

— Como assim? — Ariana perguntou, curiosa.

— Polly me perguntou se eu tinha sangue cigano, realmente é algo que não posso responder, ainda. — Explicou. — Conheço bem meus avós maternos e não há ciganos na família da minha mãe. Já os paternos, bem, eu não os conheci e meu pai nunca falou sobre eles. Quem sabe se eu procurar pela família Flynn deste século eu ache algo?

— Está com você é viver aventuras em cima de aventuras. — Comentou Ariana.

— Vamos ganhar uma nova vida em Ohio e garanto que vou passar longe de aventuras suicidas como as que tive aqui. — Amara sorriu.

— Por favor. – Ariana reagiu da mesma forma.

— Amara, Ariana! — Sarah chamou alto, fazendo ambas as adultas descerem as escadas depressa.

No andar debaixo, se depararam com a presença ilustre de um homem na sala de estar. Sarah sorriu para a irmã mais velha, enquanto recebia um olhar feio de volta. A garotinha escondeu bem entre as pequenas mãos, a moeda dada pelo visitante para poder entrar na residência. Amara, por outro lado, prendeu a respiração enquanto era fitada pelos olhos azuis e frios de Thomas. Ele esboçou um leve sorriso, vagando o olhar curioso pelo cômodo pequeno da casa.

— É muita ousadia sua vim aqui. — Ariana disse entredentes. Cruzou os braços e deu um passo para frente. Thomas ergueu o queixo, encarando a Lowry de cima a baixo.

— Nunca quis desrespeitá-la, Ariana. — Thomas disse, lentamente. — Minha tia e minha mãe sempre me ensinaram a ser sincero com as pessoas, principalmente com as mulheres. — Desviou o olhar para Amara, que tinha uma expressão indecifrável no rosto. Ele voltou a encarar Ariana e seu olhar intimidador, até para ele. — Também nunca tive a chance de pedir desculpas por minhas palavras. Sinto muito por ofender você.

— É claro que foi sua intenção me ofender, mas não importa mais. Por que está fazendo isso agora? — Ariana perguntou.

— Porque todos estão indo embora. — Ele disse com tristeza. Um movimento fez com que seu ombro baleado doesse, mas evitou fazer uma cara de dor. Por sorte, seu casaco grosso cobria bem todo o corpo. — Gosto de manter meus negócios bem resolvidos.

— Eu não tenho negócios com você, Thomas Shelby. — Ariana deu um passo até ele. — E agora que já disse tudo, pode se retirar da minha casa antes que eu enxote você com uma vassoura.

— Eu ainda não disse tudo. — Thomas falou alto. — Preciso falar com Amara, uma última vez.

— É claro. — A Lowry ironizou. 

Ariana olhou por cima do ombro, recebendo um aceno da amiga. Amara deu um passo até Thomas quando Ariana e Sarah subiram para o andar de cima e fecharam a porta. Thomas finalmente pôde soltar o ar que sentia preso no peito, sentindo uma dor latejante percorrer todo seu corpo como uma agulha grossa e pouco afiada. Deu um passo para trás, revelando o machucado da guerra que tivera mais cedo, e claro, vencido com muita sorte.

— Você está machucado! — Amara disse, preocupada. Ela deu um passo largo na direção de Thomas, mas parou quando ele levantou uma mão.

— Eu estou bem. Estou bem. — Disse lentamente, se recompondo.

— E o que veio me dizer? — Ela o encarou, mantendo uma distância moderada.

— Eu não sei Amara, o que você tem a me dizer? — Disse, deixando a palavra você mais forte. Amara engoliu seco. Talvez Polly dissera seu segredo a ele ou quem sabe, ele quisesse ouvir a verdade naquele momento.

— Quer saber realmente quem sou de verdade? — Ela ergueu as sobrancelhas. Thomas sorriu de lado.

— Acho que tenho ideia de quem realmente é. — Ele disse. A conversa com Polly sobre os sentimentos de Amara o deixou mais atordoado que o tiro que levara, ainda assim, confiava nas palavras da tia. Polly jamais erraria nos assuntos do coração. — Assim como você sabe quem realmente eu sou.

— Não, você acha que me conhece, Thomas. — Amara deu um passo, encurtando o distanciamento. Segurou a nuca de Thomas, fazendo com que seu olhar penetrasse no dela. — Eu fiz mais por você do que realmente deveria ter feito, Tommy, e isso me custou um preço alto.

— É, você fez. — Confirmou em um murmúrio. — Fez o que outras não fariam ou fariam até menos.

— Eu nunca vim a esse lugar para trabalhar como garçonete, vim aqui para conhecer você. — Amara pronunciou as palavras lentamente. Thomas franziu o cenho, mas se manteve em silêncio querendo ouvir mais. — E o conheci bem. Diria que até melhor do que esperava.

— O que você é? Uma viajante?  — Perguntou após uns segundos. Amara fechou os olhos brevemente. Ela era sim uma viajante, mas não como Thomas certamente imaginava.

— Sim, uma viajante em busca de aventura, talvez. — Sorriu de lado. — Mas meu lugar não é aqui e nem com você. O que tivemos foi... Foi intenso, prazeroso, mas creio que não passou do momento de emoção que nos encontrávamos. Um desejo, eu acho. Nós nos envolvemos mais do que esperávamos. Levamos tudo no calor do momento.

— É isso que tem para me dizer? — Ele ergueu o rosto, engolindo o sabor amargo que se formava na boca. Manteve os olhos fixos nas safiras verdes e obstinadas. Thomas conhecia aquele olhar de muito tempo, embora não se recordasse bem de onde. — Nossas circunstâncias nos trouxeram até aqui, e eu não me arrependo de ter tido você por um momento. Já conheci muitas mulheres nessa vida, mas nenhuma delas era tão enervante e desafiadora como você, Amie.

— Espero que isso seja um elogio. — Amara se afastou um passo, quando Thomas puxou algo de dentro do casaco. Era uma medalha de prata, pequena e brilhante. Ela se lembrava das palavras de Polly ao dizer como Thomas as arremessaras no canal, mas pelo que parecia, não tinha se livrado de todas.

— Guardei uma única medalha, só por recordação. Bravura, combina bem mais com você, principalmente depois de tudo que fez. — Ele a levou para os lábios, deixando um beijo demorado sobre a peça. — Eu quero que fique com ela.

— Obrigado. — Disse ao pegá-la. Sentiu uma energia percorrer seu corpo, algo que Thomas também pôde sentir. Foi como um choque rápido, acendendo alguns sentidos adormecidos. Amara piscou algumas vezes, se recompondo. — Tem certeza disso? — Perguntou. Thomas assentiu.

— Hoje foi um bom dia, mesmo com todas as desavenças. — Ele disse após um suspiro. — Enquanto os homens do Kimber estavam ocupados aqui, os Lee ficaram com todas as apostas em Worcester. Minha empresa agora é a maior do ramo desse país. Talvez se eu tivesse planejado, não teria dado tão certo.

— Você mesmo disse, todos os dias são difíceis, mas sempre consegue vencê-los. — Amara sorriu de lado.

— Você também merece ter seus dias vitoriosos. — Ele inclinou o rosto. — Soube que Campbell está saindo da cidade e sei que ele nunca vai parar de me perseguir e nem você, ele pode voltar a qualquer hora. Eu poderia matá-lo depois de todas as ameaças, mas estou um pouco indisposto no momento. — Continuou. — Lembra do que eu disse para você no cemitério?

— Pegar toda minha raiva e usar contra Campbell. — Disse lentamente. Thomas sorriu de lado.

— Ele tentou matar você, por meio da Grace. — Thomas ergueu uma sobrancelha. — É melhor correr enquanto tem tempo, talvez ainda o encontre na delegacia, pelo que sei, ele é sempre o último a sair.

Amara engoliu seco, entendendo o que Thomas estava propondo entrelinhas. Ele deu um outro meio sorriso, dessa vez, caminhando para a direção da porta.

— Tenha uma boa viagem de volta para o seu país. — Desejou de modo sincero. — Ohio parece ser um bom lugar para se viver.

Amara prendeu a respiração com aquelas palavras. Thomas com certeza havia conversado com Polly antes de ir para lá ou não saberia para onde ela estava indo. Talvez até já soubesse quem ela realmente era, o que fazia com que o peso do seu peito fosse deslocado. Ele parou na porta, seguindo os passos de Amara até sua direção. Tudo que ele poderia dizer naquele momento foi reduzido por um beijo molhado e caloroso, o último que teria daquela mulher. Da viajante misteriosa, que conseguira despertar sentimentos em seu coração congelado.

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Era noite, e Amara ainda tinha algumas horas antes de embarcar pela manhã no trem que a levaria para Londres. O frio percorreu sua espinha quando pensou que em alguns minutos um homem de meia-idade sairia pela porta da delegacia. Por um momento, pensou bem no que estava fazendo, questionando se era realmente aquilo que queria. Sua mão estava se tornando vermelha com tanto sangue que tirava desde que saltara no tempo. Nunca pensou que um dia pudesse trocar os livros e pesquisas, por armas e assassinatos. Certamente, seus pais ficariam desapontados pela pessoa que ela se tornara, corrompida e com princípios feridos. Prometeu a si mesma que aquela seria a última decisão trágica que tomaria, depois disso continuaria sua vida com paz novamente, fazendo decisões certas e justas. Sem mais mortes depois daquela noite.

Com um grampo retirado do cabelo, abriu a porta do carro. Comemorou internamente pelo carro antigo não ter qualquer tipo de alarme, assim como ser tão fácil de invadir. Amara respirou fundo e esperou pelo momento em que o homem se sentasse na direção. De todas as ideias que poderia ter naquele momento, Amie escolheu o que mataria sua sede da melhor maneira. Sem vacilar, abriu o tambor da arma que antes pertencera a uma agente da Coroa, retirando algumas balas, deixando apenas uma. O escuro a acolheu facilmente como parte dele, assim como ela sentiu um pouco da escuridão impregnar em seu coração. Minutos se passaram até Campbell abrir a porta do veículo, dando vitória por finalmente estar saindo daquela cidade imunda, mesmo que seu principal objetivo não tivesse sido concluído. Estava prestes a ligar o carro quando sentiu algo gelado tocar em sua têmpora, assim como o perfume feminino que o envolveu rapidamente.

— O quê... — Perdeu as palavras ao tentar formulá-las.

— Olá, senhor Campbell. — Amara disse em um sussurro, próximo ao ouvido do velho. — A sua arma, me dê ela agora!

— O que está fazendo, garota burra?! — Disse entredentes. Amara sorriu perversa, quase não se reconhecendo. Puxou a arma de dentro do paletó vagabundo, se certificando que o Inspetor não estava mais amado ou se havia alguém na rua para ajudá-lo.

— Eu não iria embora sem resolver algumas questões nessa cidade. — Ela inclinou o rosto, encarando Campbell, que começava a soar. — Como posso recomeçar minha vida quando a maior pedra continua dentro do meu sapato?

— Vai me matar? — Ele sorriu secamente. — Muita coragem sua fazer isso bem na frente de uma delegacia. Está fazendo isso por causa do Thomas Shelby? — Perguntou ao deduzir a iniciativa da mulher. — Você e seu namoradinho são dois insanos e não vão durar muito! — Falou.

— Thomas me deu uma ideia muito boa em usar minha raiva contra você. — Confessou. — Mas percebi que não posso ter mais sangue nas minhas mãos. Já nas dele, bem, Thomas é um gângster, um assassino frio, e uma morte a mais não vai fazer diferença.

— Você é louca! — Disse alto, mas se calou ao sentir o cano ser colado ainda mais contra sua cabeça. — Já ameaçou minha agente, fazendo com que ela pedisse demissão e fugisse do país. — Disse ao recordasse de Grace. Seu coração bateu só de lembra o fim que teria ali. — Não faça nada precipitado, Amara. Eu posso esquecer tudo, todas as mortes e seu envolvimento com os Peaky Blinders. Posso limpar sua ficha e até te dar uma nova identidade.

— Você é bom em fazer propostas. — Falou. — O que mais tem para me oferecer? — Amara passou a língua pelos lábios, saboreando o efeito de terror que causava no homem.

— O que mais você quer? — Campbell perguntou, nervoso.

— Vingança. — Respondeu ela, lentamente. — Olho por olho, dente por dente, Inspetor. Você mandou a Grace me matar, sendo que a confusão era apenas entre nós, seu velho covarde. Você gosta de se sentir superior, não é? Gosta de ver o medo nos olhos das pessoas. Adivinha? Eu também estou começando a gostar disso.

— Amara, por favor. — Disse, quando ouviu a arma ser destravada.

Campbell sentiu a pressão subir. Não importava o que dissesse, aquela mulher provavelmente não pararia até vê-lo morto. Por um curto momento, se sentiu culpado por envolve-la em seus planos. O inspetor havia subestimado uma simples garçonete.

— Eu deixei só uma bala no tambor da arma, então vamos fazer uma brincadeirinha. O senhor já brincou de roleta russa? — Ela perguntou, em um tom divertido. Chester fechou os olhos. — Eu vou apertar o gatilho e se não disparar, você vai me dar tudo que prometeu. Esse é um jogo onde eu ganho, até quando você não perde. Estamos entendidos?

— Não faça isso, você não vai muito longe se me matar. — Disse. Amara revirou os olhos. Era por isso que estava fazendo isso ainda no território dos Peaky Blinders. A culpa cairia sobre eles e esse problema poderia ser facilmente resolvido por Thomas.

— Vamos ver o que o destino reserva para você. Se for um homem de fé, senhor Campbell, sugiro que comece a rezar agora mesmo. — Disse, friamente.

— Amara...

Seu dedo deslizou suavemente no gatilho, disparando. O estrondo foi alto, mas abafado devido os vidros do carro. Alguns segundos se passaram até Amara se encostar no banco de couro gelado, encarando o corpo de Campbell caído para frente. Uma quantidade significativa de sangue e massa cefálica manchava tudo ao redor, inclusive, ela. Ele não era um homem de fé, ela pensou de forma maldosa. Estava feito, aquele inferno acabara. Reunindo forças, Amara colocou os pés para fora, deixando o corpo e em péssimas condições para trás. Aquela parte da sua vida seria enterrada com Campbell, e uma nova vida a aguardava em Ohio.

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Amara já estava em pé antes mesmo do amanhecer. Se encarou no espelho pequeno e manchado do banheiro. Seu reflexo mostrava uma noite virada, com olheiras escuras marcando a pele quase pálida e cabelo bagunçado. Depois do que fizera a Campbell, não conseguiu dormir. Talvez fizesse isso quando pegasse o navio para os Estados Unidos, deixaria o sono roubar-lhe, e levar de vez, suas aventuras naquela cidade. Antes de sair de casa e entrar no táxi, olhou uma última vez para o bairro pobre de Birmingham. Small Heath começava a despertar com os barulhos das fábricas. Ela jamais esqueceria aquele lugar cinza, e principalmente, do rei daquele lugar.

— Vou sentir falta daqui. — Sarah murmurou. Amara olhou para baixo, encarando a garotinha vestida com um casaco grosso e laço nos cabelos. — Você também?

— Não sei, isso só o tempo dirá. — Amara respondeu.

— Sarah, Amara, vamos? — Ariana as chamou.

Amara caminhou até o táxi, entrando logo depois de Sarah. O caminho até a estação de trem foi feito com os planos de Sarah e Ariana na nova cidade, cercadas de esperanças do que as aguardavam lá. Amara permaneceu em silêncio, absorvendo tudo que vivera em menos de um mês, mas que valeu por uma vida quase toda. Horas depois, quando se encontravam acomodadas no trem, Amie puxou o pequeno e fiel Watson, escrevendo o que sua mente mandava. Sentiu as pontas dos dedos doer devido à força que fazia com a caneta trazida do próprio tempo, ela precisava registrar tudo aquilo enquanto pudesse.

— Alguém está criativa. — Ariana comentou.

— Sim. Eu estou decidida, vou fazer meu livro, mas de uma forma diferente do que estava pretendo. — Disse esperançosa.

Aquele era só o começo da sua trajetória no século vinte, e ninguém a impediria de fazer o que realmente queria. Talvez fosse seu nome que seria lembrado mais tarde. Amara trabalharia para isso acontecer.

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As primeiras brechas solares invadiram cuidadosamente o quarto escuro e pequeno. Thomas abriu os olhos, mesmo que não tivesse dormido verdadeiramente a noite toda. Ainda sentia a dor do ferimento latejar na altura do ombro, lembrando-o de como nada em sua vida seria conseguido facilmente, mas já estava preparado para ganhar barganhas e quebrar quantos ossos fosse possível. Se levantou da cama, sentindo uma dor além do tiro, doer em seu peito. Seus pensamentos se prenderam a mulher que deixou partir, Amara, ele jamais impediria a decisão dela, assim como sabia que sobreviveria novamente a um coração partido.

No andar de baixo, a movimentação da casa de apostas estava a mil. Seus negócios estavam indo bem e o coração da empresa Shelby batia forte como de um cavalo. Thomas sorriu levemente para Ada e seu filho, quando eles cruzaram seu caminho, não podia negar que tivesse um adorável sobrinho abençoado com a beleza dos Shelby e com toda certeza, herdado a teimosia dos pais, principalmente agora que Freddie havia voltado. Thomas atravessou a casa de apostas, indo em direção ao escritório, gostaria de ficar sozinho para que pudesse por seus pensamentos em ordens, mas não demorou para que Polly colocasse uma xícara de café preto e amargo sobre a mesa, da forma como ele gostava. Thomas limpou a garganta, sentindo o peito latejar com dor.

— Você vai ficar bem? — Ela perguntou, preocupada.

— Foi só um tiro, vou sobreviver. — Ele apontou brevemente para o peito enfaixado. Não fora fácil se vestir, mas conseguiu com sucesso.

— Não estou falando disso, Tommy. — Polly o encarou de cima, cruzando os braços. O semblante preocupado da mulher o incomodava. — Estou falando dela.

— Sobre isso também. — Respondeu, indiferente. 

Polly amassou o próprio ombro, sabendo exatamente como o sobrinho reagiria depois de tudo que passara ao lado na mulher. Ele fingiria que nada havia acontecido, mesmo que, no fundo, estivesse se martirizando por não ter feito algo diferente ou que mudasse a ideia de Amara em partir. Thomas não a encarava, sua atenção estava presa no jornal do dia. Polly o conhecia bem para saber que era aquele modo que ele usava para fugir da conversa. Foi sincera no dia anterior quando falou sobre Amara e seus sentimentos, ocultando alguns fatos para que não aterrorizasse o sobrinho, aliás, não era fácil contar-lhe que a mulher que trouxera um pouco de vida para o gângster, era uma viajante do tempo. Por mais louco que fosse ouvir a confissão da jovem mulher, Polly ainda acreditava nela, mesmo que tivesse suas dúvidas de como tudo aquilo estava acontecendo. Ainda assim, a Gray estava ciente que o mundo era grande demais e cheio de mistérios ainda não desvendados, e Amara era parte de um desses enigmas.

— Quer falar mais alguma coisa? Preciso trabalhar. — Thomas abaixou o jornal, percebendo que a tia ainda o encarava com piedade, o olhar que ele odiava receber de qualquer pessoa.

— Não, é melhor deixar você trabalhar e manter sua cabeça focada em algo. — Disse antes de sair do escritório.

— Tommy, tia Polly, venham cá! — Ouviram John chamar, pelo seu tom de voz, algo ruim havia acontecido.

Thomas foi o primeiro a dar passos para fora da sala, acompanhado por Polly. Por um momento, o salão de apostas estacara, e os homens olhavam para Thomas apreensivos, esperando qualquer reação do poderoso cigano. O Shelby travou o maxilar só de imaginar qual problema chegara tão cedo para ele. Viu quando um dos policiais que subornava escondido de Campbell abriu caminho na multidão, parando a alguns metros, com um semblante vazio no rosto.

— Todos voltem a trabalhar. — Thomas ordenou. Deu um passo para frente quando as pessoas ao seu redor voltaram aos seus afazeres. Estreitou o olhar com o policial. — O que aconteceu?

— Achei que iria gostar de saber que Campbell foi encontrado morto essa manhã com um tiro na cabeça. — O policial disse. Thomas piscou, puxando ar para os pulmões. Por um momento se viu confuso, mas se lembrou bem do que propusera na noite anterior. Ela tinha feito, ele pensou. — E você é o principal suspeito, uma viatura está chegando para levá-lo para a delegacia, é melhor pensar em algo.

— Por Deus. — Polly levou as mãos para o peito. — Thomas, você...

— Polly. — Ele chamou, sem encará-la. — Diga para os outros que vou me ocupar por algumas horas. Talvez dias.

— O que você está falando? Você matou aquele homem? — Polly perguntou, nervosa. Segurou o braço do sobrinho, tomando atenção dele. Olhos azuis e livres de culpa a fitaram.

— Só fiz o que tinha que fazer. — Foi a última coisa que disse. — Vou esperar pelos policiais no meu escritório, tenho que fazer algo antes de ser preso, não quero que ninguém me incomode.

— Mas que porra aconteceu? — Ouviu Arthur perguntar e o ignorou da mesma forma que fez com os outros.

Thomas se trancou na sala. Suspirou cansado ao mesmo tempo que deixou que um riso quase orgulhoso passeasse pelos lábios. Encarou a máquina de escrever quando se sentou novamente na cadeira, imaginando que a essa altura, Amara se encontrava muito longe de Birmingham. Um dos seus principais inimigos agora estava morto. Aquele era um trabalho que poderia ser feito facilmente por ele, mas sabia que Amara merecia se vingar, e ela fez da melhor forma que pôde. Seus dedos se moveram para as teclas, vendo primeiro a identidade visual da empresa marcando o topo da folha: Shelby Brothers, limited. Birmingham. O som do que escrevia enchia seus ouvidos, enquanto deixava o coração falar por meio das palavras. Thomas precisava desabafar naquele momento, mesmo não sabendo se aquela carta realmente fosse chegar nas mãos de quem deveria.

Querida, Amara;

Escrevo pessoalmente essa carta, pois somente eu posso dizer como me sinto no momento. Embora minha tia seja boa em ler as pessoas, ela ainda não é capaz de adivinhar verdadeiramente o que se passa no coração delas. Você chegou em um momento caótico das minhas decisões, se envolvendo em meu inferno e mexendo profundamente com meus sentimentos. Após anos negligenciando sentir amor novamente, você chegou para me puxar dessa escuridão atormentadora. Sei que amor e paixão são coisas diferentes, mas sei também que tudo que senti por você foi e sempre será real, por isso sei que quando amamos alguém, a deixamos partir.

Sei que terá uma vida promissora nos Estados Unidos, confesso que isso me soou tentador. Em tempos atrás, eu largaria tudo por amor e viveria uma vida simples e abastecida de aventuras ao lado da mulher que escolhi amar, mas nos dias de hoje tenho outras prioridades e responsabilidades, mas jamais esquecerei você e como trouxe novamente uma luz calorosa para meu coração. Eu sou grato pelas vitórias que você me ajudou alcançar e amargamente arrependido por sujar suas mãos com sangue e a envolver em outras situações, entenderei se nunca me perdoa por isso.

Eu conversei com minha tia e ela me disse que você se sentia da mesma forma que eu, apaixonada, e sei que nesses assuntos, minha tia meia-bruxa nunca erra. Quando fiz todas aquelas promessas a você, eu estava sendo sincero, eu seria capaz de fazer tudo para vê-la sorrir e se sentir segura. Antes de ir me despedir de você, tirei na moeda, um velho costume que sempre tive antes da guerra, e ela me mostrou que a melhor decisão era não impedir a sua escolha.

Eu amo você, por isso, sei que estará melhor longe de mim e dessa vida perigosa que levo. E se um dia quiser voltar e me aceitar da forma que sou, estarei aqui. Talvez isso possa levar meses, anos, décadas, eu sempre estarei aqui, esperando por você. Amara Flynn, só quero que saiba que seus olhos obstinados e afiados me recordam alguns momentos da juventude, por um momento, sinto que tive a mulher dos meus sonhos em meus braços. Você e sua língua afiada, conseguiram me lembrar da parte prazerosa da vida.

Ps. Eu já sei que você me deixou um belo de um problema, mas nada que eu não possa resolver. Como você sabe, eu sempre venço.

Com todo meu amor, admiração e respeito, Thomas Shelby.

Fim!

É brincadeira kkkkkk

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No meu perfil, na bio, tem um link que leva para a playlist de Dobra no Tempo e claro, outras redes sociais que podem me encontrar.

Capitulo postado dia (16/08/2021), não revisado.

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