09 | Lares destruidos
ᴿᴼʸᴬᴸ ᴱⱽᴱᴿᴰᴱᴱᴺ
A CASA em reforma há mais de quatro anos no coração do Figure Eight continua da mesma forma. A fachada é um muro alto sem acabamento, um arco aberto e espaçoso onde deveria ser o portão. Então, sem qualquer jardim, a porta de madeira da frente depois de subir três degraus.
E... um espaço enorme com apenas uma separação, que podia vir a ser uma sala e uma cozinha. Mas ainda assim, ali não parecia residir nenhum pensamento.
Apenas espaço, silêncio e uma mesinha construída à mão por mim e pelo JJ quando éramos... o que éramos.
Pego-me dividida e surpresa ao se deparar com o mesmo sentimento que eu me debatia ao estar aqui. Aquela inconstância real, o vazio, o espaço de ser quem quer que eu tenha nascido para ser.
Quem quer que eu queira ser.
Sem barreiras, sem espaços para temer caso algum tropeço aconteça. Apenas um lugar vazio, esquecido e silencioso.
Nem mesmo trancada no meu quarto parece que eu consigo chegar a essa sensação. A essa satisfação realistica e anti-dimensional.
— Por que me trouxe até aqui? — Virei para ver JJ ainda parado depois da porta, olhando ao redor, para o nada que aqui obtém, parecendo sentir as mesmas coisas que eu nesse momento.
— Você ainda está sangrando.
— E por que eu deveria acreditar que você se importa? — Ele volta para mim, ignorando, como eu novamente, a dimensão de tudo isso.
Desse sentimento.
Dessa nostalgia.
— Sabe que eu não aguento ver um cachorro abandonado, Maybank — respondi, dando-lhe as costas para chegar até a mesa. — Senta aqui.
Indiquei o banco, também improvisado que depois de tantos anos, deveria estar prestes a cair aos pedaços. JJ nota a mesma coisa enquanto caminha até mim, com os olhos estreitados em um desafio.
Mas ele não se senta.
Apenas fica ali, atrás de mim enquanto eu organizo as coisas empoeiradas da mesa. O que usávamos quando vínhamos para cá. Curá-lo. Consertá-lo de suas brigas, na maioria, com o seu pai.
Não, não briga.
Mas surras.
— Essas coisas devem estar mais infeccionada do que um lixão, Royal! — Ele estremeceu quando eu avancei com gases e com soro fisiológico.
— Primeiro — inclino o queixo para olhá-lo e ergo somente um dedo —, estou impressionada com o fato de você saber falar "infeccionada". — JJ revira os olhos, sua cabeça levantando em repúdio. — Segundo, você se importa?
JJ não me respondeu, então eu também não avancei.
Eu nem sabia o porquê, de fato, tinha o trazido aqui. Talvez eu tenha batido a cabeça forte demais para raciocinar. Talvez eu estivesse realmente com pena por saber que ninguém cuidaria dele.
E para onde JJ voltaria?
Provavelmente para a casa de seu melhor amigo, John B. Eu esperava que sim, na verdade. Mas e se ele fosse para sua casa? E se seus machucados piorassem por razões óbvias?
Eu não devia me importar, mas algo dentro de mim batia forte só em pensar que JJ não teria uma boa noite de sono em sua própria casa.
Apesar de tudo — e eu o odiava por isso —, ele merecia ser cuidado.
— Só vou cuidar disso aí — apontei para os seus machucados — e prometo que vou embora sem nem olhar para trás. Combinado?
— E o que quer em troca? — JJ estreitou os olhos, desconfiado.
— Que sua voz pare de soar nos meus ouvidos — forcei um sorriso. — Da pra ser? — Acenei quando ele ficou quieto, levando aquilo como um "sim, claro, Royal".— Agora sente-se.
— Nesse banco? — Ele apontou para o pedaço de madeira apodrecido. — Deveria ter me ouvido antes quando eu disse que um tronco de árvore seria melhor.
Reviro os olhos, lembrando-me exatamente dessa nossa discursão. JJ queria arranjar um tronco de árvore para colocar aqui na sala em vez de uma cadeira, que realmente fora feito para se assentar.
Eu insisti em ser um banco, ele concordou quando notou que eu não ia desistir de argumentar contra tão cedo, mas parece que o bebê ainda não havia superado ter perdido nessa batalha.
— E como quer que eu alcance seu rosto?
— Fique em pé você no banco — ele sorriu, maldosamente. — É justo que você sofra as consequências das suas escolhas.
E apenas para contracenar seu showzinho, ele arrasta o banco para a minha frente. Não era um banco alto, tinha menos de um metro de altura. Se eu ficasse em pé nele, ficaria cara a cara com JJ, ou talvez um
pouquinho mais elevada.
Sorri para ele tentando encaixar uma confiança inexistente enquanto eu subia no banco, meus pés cobertos pelo sapato se ajustando para que eu pudesse ficar fixa, sem bombear para nenhum lugar.
Meu sorriso aumentou quando eu percebi que não ia cair e levantei a cabeça para encarar JJ, que fechava um sorriso sem mostrar os dentes a força ao erguer as sobrancelhas.
— Tudo bem — ele disse, dando um único passo à frente para compararmos nossas alturas.
Não havia ficado tão cara a cara assim com ele e muito menos elevada. Eu só precisava levantar a mão para alcançar seu rosto, o que era mais fácil que antes, mas ainda assim... Fiquei na ponta dos pés para visualizar sem dificuldade a gravidade dos seus hematomas.
Limpar era a única coisa que eu poderia fazer neste momento para ajudar a ferida, então começo a pegar o algodão, então o soro e a juntá-los.
Enrolo o pano molhado em volta do meu dedo indicador e me aproximo de sua face para começar com o machucado de sua testa, o sangue já seco mancha as gases conforme eu esfrego.
Quando termino de limpar, restando apenas o corte que fora feito, encaro seus olhos, que já estudavam o meu rosto tão, mas tão intensamente que surpresa é a única coisa que consegue me invadir. Estreito os olhos para aquele olhar, querendo que uma descrição viesse até a minha mente.
Quando claramente não vem, pergunto:
— Que 'que foi, hein?
JJ abre a boca e sorri. Com todos os seus dentes levemente tortos, porém fofos. Seu sorriso sempre me entregará a máxima vontade de sorrir e sentar e admirar tudo o que é de lindo nessa Ilha.
— Tinha esquecido o quão baixa você é. — Abro a boca, incrédula e ele se inclina pra frente, soltando uma risada. — Tem noção... — Ele se recupera da risada para continuar e penso se ele estava bêbado. Se ele riria comigo desse jeito estando são. — De que você está na ponta dos pés em cima de um banco?
— Banquinho — conserto sua observação e ele recomeça a rir.
Sem aguentar, solto um sorriso meio incrédulo e meio de escárnio. O empurro para tentar fazê-lo parar de rir, meu dedo ainda enfaixado pelo pano que estava usando para limpar suas feridas.
Mas algo da errado em menos de um segundo.
Eu me desequilibro, fazendo o banco dançar no chão e por fim, se desmontar. Caio para frente em um ato automático, os braços de JJ me agarram, mas ele também perde o equilíbrio e vamos direto ao chão, com ele amortecendo a minha queda.
— Aí, meu Deus! — Resmungo, em cima dele. Me apoio em seu peito para ficar de joelhos no chão, entre suas pernas e para que ele pudesse se sentar. — Tá tudo bem? Você vai acabar tendo um traumatismo craniano dessa forma!
— É, eu também acho — ele murmura, alisando a parte de trás de sua cabeça, onde ele recebeu o baque pois suas mãos estava ocupadas demais segurando-me para proteger sua cabeça. — Você me atacou feio, gnomo.
Seguro a vontade de revirar os olhos para ele e me permito suspirar, relaxando em cima dos meus tornozelos ao ver suas pupilas normal.
Eu nem saberia como chegar até o hospital.
Seria uma merda se ele morresse lentamente na minha frente.
Maybank me encara, por fim, mas é a nossa posição atual que faz ele abrir lentamente um sorriso malicioso. Sentado no chão com as pernas abertas, eu estava bem entre elas, ajoelhada e sentada sobre os meus tornozelos, minha mãos apoiadas nas minhas coxas.
— Se queria se jogar em cima de mim, princesa — ele se aproxima, mas não me toca. — Era só pedir.
— Que nojo — contorço a cara e ele arqueia as sobrancelhas. — Sério, me dá vontade de vomitar.
Ele só solta um risinho.
— Vamos — chamo-o para se levantar. — Já estou terminando, bebê chorão.
— Ah, ah! — Ele pressiona suas mãos em minhas coxas, impedindo-me de se levantar. — Acho que esse é o único jeito de você terminar seu trabalho direito, Rô. — É a minha vez de levantar as sobrancelhas. — Bora lá. Teste. Fique de joelhos.
Solto um riso incrédulo sobre a atual cena e começo a torcer para que ele tenha um treco e que seu cérebro minúsculo tenha diminuído, ainda assim, me ergo de joelhos e descubro que ele estava minimamente certo.
Nessa posição, com ele sentado e eu de joelhos entre suas pernas, conseguia ficar elevada sobre seus machucados, vendo perfeitamente onde eu ainda podia limpar — sem feri-lo ou infeccionar a ferida.
Evito olhar para o seu olhar convencido quando ergo o dedo enrolado na gase e termino de limpar o machucado da testa, que tinha ficado resquícios que na posição anterior, não dera para eu ver ao certo.
— Aí! — Ele recuou com a cabeça quando eu pressionei levemente seu machucado.
— Ops! — Fingi, meus olhos arregalados mostrando minha confusão, mas minha boca já deixando claro o quão de propósito havia sido feito. — Foi no lugar errado.
Então passei direto por seus olhos e desci para o machucado nos seus lábios.
Minha outra mão ergueu-se para tocar em seu queixo e ergue-ló para mim, mas minha alma resetou quando senti suas mãos caminharem por trás da minha coxa. Encaro, enfim, os seus olhos. Ele sorri quando encara a mim, assustada diante ao seu toque.
— Por que parou? — Ele tombou a cabeça, confuso.
— JJ...
— Continue — ele sussurrou, tão suavemente que eu o confundi com o ar e com sua carícia. Ele apertou minha carne da coxa nua, me obrigando a se aproximar mais dele, entre suas pernas. Ele não para de puxar-me para ele até eu estar o segurando pelos ombros, nossos peitos roçando conforme respiramos. — Por favor, princesa.
Meu ar se entrecortou, mas eu ergui minha mão do seu ombro, meio trêmula e passei por sua ferida nos lábios.
— Você gosta de ficar provocando todo mundo, não é, princesa? — Seu tom continua baixo, porém agora um pouco mais áspero conforme ele vai subindo suas mãos pela minha pele. — E insiste em não fixar um lado.
— Não sei... Não sei do que está falando.
— Estou falando que você fora para aquela praia mais cedo com Rafe Cameron — ele esclareceu, suas mãos agora paradas. — Então, nos defendeu na briga e me trouxe para cá para... cuidar de mim, mas esta usando a jaqueta dele.
Levanto os olhos pela sua face até chegar nas suas íris azuladas, completamente dilatas.
É, JJ com certeza estava bêbado. Ou drogado. Provavelmente os dois.
— Rafe é meu amigo.
— Como eu? — Ele me questiona e eu estreito meus olhos até os seus, esquecendo de vez o machucado em sua boca ao segurar em seus ombros para me equilibrar. — Sou seu amigo, Royal?
— Não acho que você queira ser meu amigo neste momento, JJ — sorrio, escondendo o quão este fato me magoa.
— Verdade. — Ignoro o embrulho ruim no estômago. — Amigos não podem ficar tão perto um do outro assim. — Seu pomo de Adão se mexe conforme sua cabeça, totalmente inclinada para cima, para encarar-me, elevada a ele. — Ou tocar com tanta fascinação como estou tocando você.
Perco meu ar e minhas palavras se atropelam uma nas outras, formando murmúrios desconhecidos quando ele aperta forte a minha coxa.
— Amigos não podem se desejar como a gente se deseja.
— Eu não te desejo.
JJ Fodido Maybank sorri.
— Mas eu desejo você.
Ah, meu Deus.
Algo dentro de mim lateja e acompanha toda a pulsação do meu corpo. Do meu coração. E daquela minha parte entre minhas pernas.
JJ aproxima sua cabeça da minha, ajeitando completamente sua postura para se aproximar do meu rosto, nossos lábios quase se tocando. Quando ameaço falar alguma coisa, eles se roçam e eu fecho meus olhos, a procura daquele auto controle longe de mim.
— Aceite.
— Não.
Suas mãos sobem mais um pouco e então, elas estão encaixadas embaixo de minha bunda.
Nossas testas se colam quando eu abaixo a minha, puxando qualquer coragem que chegue até mim para se afastar. Ou para se aproximar.
— Aceite-me, Rô.
Em uma última tentativa para impedi-lo, para fazê-lo recobrar qualquer consciência por nós dois, pois eu não conseguiria, olhei em seus olhos.
— Você vai se arrepender disso.
Ele olhou nos meus olhos, então para a minha boca entreaberta e depois para os meus olhos novamente.
— Medrosa.
Meu olhar se transforma com raiva, mas determinado. Seguro no seu queixo, seus olhos se modificando em uma fração de minutos conforme eu o puxo. Mas sua mão, que estava subindo disfarçadamente pelo meu corpo, segura minha nuca, impedindo-me de se aproximar mais.
Estamos há centímetros de tocar nossos lábios.
Não consigo entender ou raciocinar, na verdade.
Não até ele rosnar:
— Merda.
E eu estar no chão.
Em um momento, ajoelhada em sua frente, tão perto, me faz perceber o quão o tempo é poderoso. Não há distinção sobre o quão rápido ele pode mudar as coisas.
— Merda, merda.
JJ continua murmurando depois que praticamente me joga para longe de seu corpo. Só então consigo perceber o meu estado. A forma como meu corpo praticamente grita por ele, como minha respiração procura pelo seu toque para me acalmar.
Ele também está ofegante, mas apenas se levanta.
Ainda estava sem raciocinar quando ele me olhou, sem saber, sem qualquer reação, no mesmo local que ele me jogou.
— Royal — ele gagueja, os lábios ainda molhados pela sua língua. Ele levanta a mão para os cabelos bagunçados pelos meus dedos. — Royal, escuta... Merda. Não podemos fazer isso.
Não o olhei mais.
Encarei o chão, que parecia um fiel amigo.
— Deveria ter ouvido-me, JJ Maybank. — Minha voz está baixa. Algo tão inconfundível passando por mim que sinto-me fora do plano inicial do mundo. — Sobre você se arrepender disso.
— Isso nunca daria certo — ele murmurou, quase implorando pela minha confirmação. — 'Qualé, já tentamos.
— Tem razão. — Ergui os olhos que lacrimejavam e sorri, ajeitando meus ombros, mas não me levantando. — Minha memória foi um pouco curta, mas você tem razão. Obrigada por ter me afastado, sabe, antes de você me trair novamente.
— Royal...
— Sai daqui, Maybank. Antes que você estrague tudo novamente.
Minha voz quebrada o disparou para longe. JJ recuou aos passos hesitantes, bêbado. Como dizer para alguém como JJ Fodido Maybank que ele havia acabado de estragar o que era o primeiro beijo de uma menina?
Exato, isso não se fala.
Quando o loiro desapareceu no escuro e, segundos depois, eu ouvi a porta se fechar, me encolhi no canto escuro. Sentindo-me suja. Completamente errada e sem juízo. Como que eu...
Aí, meu Deus!
O que acabou de acontecer?
*
Era tarde da noite e estava frio.
Me levantei do chão e fui direto pegar aquela camiseta de Rafe para enrolar-me, então ir logo embora.
Mas eu ouvi a porta da entrada se abrindo em um baque novamente e parei no lugar. Antes que eu pudesse teorizar o motivo da volta de JJ, vozes invadiram meus ouvidos e pela agressividade em uma delas, eu recuei para o canto escuro novamente, tentando não fazer barulho.
Quem poderia ser?
Não pareciam adolescentes procurando um lugar para enrolar-se um ao outro.
— Acho que ele esta nos enrolando, é isso que acho! — Disse a voz mais agressiva. — Deveríamos começar a trabalhar para nós mesmos. Pegar o maldito do ouro e dar o fora.
Tampei minha boca para impedir que minha respiração acelerada desse qualquer indício da minha presença naquele lugar.
Eles poderiam ser qualquer um, mas falavam de ouro. Havia apenas uma história rolando pela Ilha que envolvia ouro e neste momento, eu estava envolvida nela até as minhas entranhas.
Pela distância de onde suas voz pareciam estar, eles estavam na cozinha.
Eu avancei um passo, tão silencioso quanto uma pena caindo no chão. Quando testei mais uma vez o chão e sorri por não fazer barulho, avancei para conseguir chegar no portal que dividia de onde eu estava para onde eles estavam.
Colei meu corpo na parede ao lado da porta, meu coração disparado com a adrenalina.
— E, sem os recursos deles, o que poderemos fazer sozinhos? — A outra voz parecia estar mais calma. Por algum motivo, fora essa que eu tive mais medo. — Vamos esperar. Já não conseguimos pegar a porcaria daquela bússola com aquela velha. Só precisamos seguir aquelas crianças.
— Matá-los?
Encarei a parede em minha frente, minha mente disparando. Eram os homens que invadiram a casa da Sra. Lana e a espancaram. Os que estavam procurando por aquela bússola do John B e que o perseguiram com tiros. Cujos homens... Meu pai falava no telefone.
São capangas dele.
E não há mais nenhuma chance para mim fugir dessa verdade.
Porque eles estão aqui.
Não porque é uma casa aleatórias, que eles podem marcar esses encontros para contrabandear informações e pagamentos. É um dos terrenos que o prefeito obtém. Fora por isso que eu trouxe JJ pra cá pela primeira vez, só pra começar.
Eu sabia que se falasse para JJ que essa casa era minha, ele jamais pisaria aqui. Nem antes e muito menos agora. Então deixei que ele pensasse que era apenas uma casa abandonada, que não tinha terminado a reforma, quando na verdade era minha antiga casa, antes de Nikolai se tornar o prefeito.
Mas agora isso só servirá para me revelar uma verdade crua e sem sabor algum.
— Quando eles se tornarem descartáveis, sim.
Eu precisava sair daqui, mas a única saída possível era a entrada, onde ficava claramente na vista deles. Eles eram tremendamente perigosos, isso já ficará bastante claro. Eu não podia...
— Ouviu isso? — Um deles perguntou, então o silêncio. Eles estavam ouvindo o meu coração. — Tem alguém aí?
Apertei mais minha boca e recuei para a escuridão. Então os passos pesados deles vieram até o meu encontro e assim que dei mais um passo para trás, eu consegui ver um deles.
Seu olhar escuro veio imediatamente para o meu.
— Quem é você?
O outro chegou.
Os dois eram bastante parecidos. Talvez irmãos? Suas estruturas eram altas e forte e não tentei me enganar pensando que aquele volume debaixo de suas camisas eram algo menos perigoso do que uma arma.
Meu coração estava tentando me largar aqui neste ponto, assim como minha consciência.
Abaixo a mão da minha boca e digo, mais trêmula do que achei que estaria.
— Estou indo embora.
Tento ultrapassar a sala por outro lado, mas os dois se movimentão e tampa a saída da sala onde estávamos. Paro entre eles, há metros de distância o bastante para que eu não precisasse implorar de medo do que eles poderiam fazer.
— O que você ouviu?
— Olha a cara dela! — Apontou o homem cuja voz eu reconheci como aquele que parecia ser mais agressivo ao chegar. — Ela ouviu tudo.
— É uma pena — suspirou o mais calmo, cuja voz me dera mais medo.
Posso afirmar que sua aparência condizia com a sua voz.
Ele puxou uma arma e apontou para a minha direção, claramente mirando bem em minha cabeça. Eu arregalei os olhos e travei, o momento que ele leva para destravar a arma passando aos poucos, como se o vento parasse e o tempo se desse para mim.
Para eu pensar.
E algo tomou conta do meu corpo.
Eu reconheci aquela válvula de escape, a minha única, que eu carregava por toda a minha vida, afim de tentar passar uma imagem mais confiante ou de Rainha Vadia de Outer Banks e a agarrei com tanta força que nem ao menos divaguei antes de abrir um sorriso ladino, minha pose tomando forma e confiança.
Os dois franziram as sobrancelhas para mim conforme via o medo sumindo e aquele sorriso de lado tomando forma em meus lábios.
— Vocês nunca vão achar o ouro.
Os dois se entreolham e voltam para mim, dessa vez com o mais agressivo puxando sua arma.
Havia duas armas apontadas em minha direção e eu estava sorrindo. Algo dentro de mim — e sei que era o medo e o terror — gritava para sair. Mas eu segurei com toda a força e os encarei nos olhos.
— O que você sabe do ouro, gatinha?
Eles se aproximaram.
— Não muita coisa — dei de ombros. — Apenas que vocês são idiotas demais para achá-lo.
— Você se acha esperta, não é? — O que parecia ser o chefe dali disse, terminando com a nossa distância. O cano de sua arma está há centímetros da minha testa. — Mas adivinha? — Meu sorriso ampliou e eu levantei minha sobrancelha. — Sou eu quem está armado aqui.
— Ah, você não vai atirar. — Eu não sabia disso.
— Por que não?
Não respondê-lo naquele momento foi como se eu tivesse assinando uma folha, permitindo que o outro se aproximasse e selasse minha face com um soco.
Foi quando o sorriso e a máscara e minhas forças se partiram bem ao meio. Eu caí para trás, minha testa batendo no chão e tudo ficando opaco. Vazio. Impossível de pegar ou digerir.
Só suas vozes, parecendo se divertir enquanto meu corpo mexe de um lado para o outro com seus chutes. Acho que estou gritando.
Mas só tenho certeza quando os golpes param.
— Quem você disse que era? — E, pela primeira vez, houve medo em sua voz.
Meu peito inchou.
Eu não precisava de mais provas para ligar os dois ao meu pai, ainda assim, foi excruciante ver o seu recuo e o seu medo e, por fim, a sua fuga quando, com o gosto de sangue manchando minha boca, eu repito:
— Royal... Everdeen.
Espero que estejam gostando!
Muito obrigada pelos 4K, estou muito feliz por essa enorme conquista! Estou um pouco sumida em relação a essa fanfic porque ainda estou muito mal com a perda do nosso loirinho, então... Vamos aos poucos, ok?
Até alguns dias!
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