03 | Invasão de propriedade
ᴿᴼʸᴬᴸ ᴱⱽᴱᴿᴰᴱᴱᴺ
MINHA CAMA estava molhada pelo meu suor quando eu acordei nela no outro dia, o sol interrompido de incomodar meus olhos pela cortina cuidadosamente fechada.
Encarei o teto rosa clarinho do meu quarto e fiquei um pouco confusa do que tinha acontecido. Minhas roupas estão trocadas por uma pequena e confortável camisola, mas eu ainda cheiro a cerveja e minha pele ainda gruda. Mas creio que também seja pelo suor.
Com cuidado, me levanto da cama e sinto um cansaço me alcançar, como se tivesse acabado de ser atropelada por um caminhão.
Retiro o lençol que cobre a cama e amasso-o antes de jogar no cesto de roupa de cama suja. Eu deveria levar logo para a lavanderia, mas meus músculos gritam em negação somente com o pensamento de fazer.
Ainda parecendo uma morta-viva, arrastei-me até o banheiro do meu quarto e fui me despindo pelo caminho. Quando entrei no compartilhamento do banho, eu já estava completamente nua.
Minhas costas arquejaram quando a água fria bateu nelas, mas esperei ali embaixo até que eu me acostumasse. Assim que os arrepios ficaram menos intensos e a vontade de desviar da água sumiu, coloquei minha cabeça embaixo.
Como se estivesse molhando meu cérebro diretamente, as lembranças correram até mim.
O caminho até a praia, a tensão com Rafe dentro do carro, JJ jogando cerveja em mim — passo um sabonete específico de corpo na região que gruda com a lembrança —, JJ arrumando briga com Topper, o amigo de JJ, John B, comprando essa briga e quase sendo afogado.
Quase.
Se não fosse pelo maldito psicopata de JJ Maybank que levantou uma arma para Topper que imediatamente recuou com Sarah e Kelce. Eu já estava sendo arrastada por Rafe nessa hora.
É o que eu teorizo, pois sei que a verdade é que eu paralisei com o barulho de arma sendo disparada.
Era um som endurecedor por si só. O barulho é como se estivesse quebrando os mundos que existem entre nós, rompendo raios e impedindo o silêncio cuidadoso de adentrar nossas vidas.
A primeira vez que eu ouvi foi tão perto que achei que tinham atirado de mim. A sensação continuou depois que eu percebi que o alvo abatido foi meu tio. A dor que me causou naquele momento foi pior do que se tivesse levado um tiro.
Eu sobrevivi naquela noite, mas cada vez que minhas crises de ansiedade por conta de barulhos extravagante corre até se arrastar pelos meus ossos, fecho os olhos com força e desejo ter sido eu naquela noite.
Algo perto daquilo ontem já me ocorreu. As mãos suando, meu cérebro desobedecendo qualquer comando, meu coração palpitando mil vezes por segundo como uma bomba relógio. Mas sinto de alguma forma que foi diferente. A tremenda falta de ar foi nova, o medo de morrer também.
Talvez tenha sido porque os barulhos de antes nunca foram iguais àquele que assombrou minhas noites.
Temi ter deixado a porta aberta da casa ontem quando entrei, pois não me lembro de conseguir fechá-la tão silenciosamente. Creio que se tivesse fechado, teria acordado todos desta maldita casa e estaria acordando bem diferente agora.
Meu celular tocou assim que sai do banheiro, as pontas do meu cabelo pingando um pouco de água pelo chão. Peguei meu aparelho e caminhei até minha janela, abrindo as persianas.
Meus olhos se estreitaram com ardência e eu aceitei a chamada rapidamente, pois minha cabeça começou a doer.
— Alô?
— Rô? — Sarah gritou e eu retirei o celular da orelha. — Como você está? O que foi aquilo ontem!?
— Estou bem.
— Sim, e...? — Quis saber mais. Virei as costas pra janela e passei minha mão na cara.
— E nada — dei de ombros. — O maldito do seu namorado e aquele Pogue de merda me assustaram!
— Nem me fale — ela pareceu suspirar, mas eu não ouvi. — Teve notícias do John B? Eu o vi se afogando e perdendo a consciência. E não veio trabalhar hoje. Acha que ele morreu?
Girei meus olhos com escárnio, mas dentro de mim foi criado uma preocupação.
— Ele não morreu, Sarah.
— Você acha? — Eu estava preocupada, mas Sarah parecia exagerada agora. — Tentei falar com Rafe, mas ele me ignorou. Falar com Topper sobre isso deixa ele calado.
— Alguma coisa tinha que deixar — murmurei e ouvi um barulho no andar inferior. — Tenho que desligar agora, Sarah. Não se preocupe com o Pogue.
Desliguei antes que ela pudesse dizer algo e sai do meu quarto encaixando meu aparelho no meu bolso do short jeans colado em meu corpo. Cheguei até o topo da escada e meu coração deu um pulo dentro da minha caixa torácica.
Mamãe voltou para o seu consultório hoje e não volta antes do pôr do sol e papai está tão embolado em seus deveres com a prefeitura para reformar os caos que Ágatha deixou para trás que vê-lo em períodos específicos era motivo para acreditar na existência de um
bem divino.
Uma lembrança correu até minha mente e lembrei dos braços que me pegaram ontem quando eu caí no meu quarto.
Desci os degraus, pouco me importando com o barulho dos meus passos. Se mamãe estivesse aqui agora, repreenderia-me pela minha pressa ao descer as escadas. "Você pode cair", ela diria.
Mas a pessoa que me recebe na cozinha — de costas inicialmente, mexendo nas panelas para um café da manhã saboroso — apenas sorri ladino.
Ao contrário de mim, que rasgo as bochechas com um sorriso aberto e corro até seus braços, que me recepciona. Jaden, meu irmão mais velho, abraça todo o meu corpo e me levanta um pouquinho antes de me colocar em um banco na frente da bancada e do lado da pia.
Me senti com 9 anos novamente.
— Ainda não consegue alcançar o chão — ele observa e eu encaro meus pés que balançam no ar, depois encaro ele com raiva.
— Esse comentário vai ter que ser substituído por algo.
— Eu imaginei — Jaden pontuou e pegou a frigideira, dançando pela cozinha até o prato e despejando o conteúdo. — Bacon's saído direito do fogo. Minha especialidade!
Sorri e pulei da cadeira, indo até o prato e o arrastando até atrás da bancada, onde pude sentar novamente no banco enquanto meu irmão colocava nova remessas de bacon em sua panela gordurosa.
— Como foi a viagem?
Ele deu de ombros e deixou a panela no fogo sozinha, se abaixando para se apoiar na bancada em minha frente.
Seus olhos verdes e suas sobrancelhas dançantes — um conjunto de nossos pais —, continuaram me encarando enquanto eu pegava uma tira de bacon e levava até meus dentes que trituraram o produto fabricado.
— Como foi sua noite?
Parei de mastigar, levantando meus olhos para ele novamente que não tinha mudado de posição ou de cara. Odiava quando Jaden fazia isso.
— Boa.
— Sim? — Sorriu mais amplamente. — Boa o suficiente para voltar pra casa tendo uma crise de pânico?
Encarei o bacon em minha mão e meu estômago se revirou. Decidi deixá-lo repousando no prato por enquanto. Não faria bem se eu vomitasse tudo que eu comi tendo essa conversa com o meu irmão.
— Se sabia, por que me perguntou?
— Porque eu sabia que mentiria — levantou da bancada e foi até as frigideiras no fogo. — Agora me conte o que aconteceu. Eu vi o carro do Rafe indo embora. Ele fez alguma coisa? — Fiquei em silêncio. Esse silêncio o fez voltar-se para mim. — Se o Cameron te fez algo...
— Ele não me fez nada.
— Então quem foi?
Com um simples olhar para o meu irmão, eu sabia que ele
destruiria a pessoa que me fez chegar naquele estado ontem.
Eu poderia tentar dizer que não foi direto, que JJ não direcionou o ataque a mim. Mas, de qualquer jeito, Jaden escaparia daqui, pegaria Rafe contigo e faria uma visita que JJ Maybank jamais esqueceria.
Meu irmão não era uma pessoa ruim, mas quando mexia com alguém que ele gostava, até eu me assustava.
Diante desse fato, eu recuei.
Eu não podia mentir.
Jaden descobriria antes mesmo que eu terminasse. Então eu tinha que colocar outra coisa no lugar do que acorrentou tudo aquilo ontem. Alguma hora, ele descobriria que JJ atirou para cima na praia, mas até lá, eu poderia achar um jeito de relaxar seus nervos.
— É daqui duas semanas.
Tudo no seu corpo denunciou que ele esperava por tudo, menos por isso.
Depois que meu tio morreu, há dois anos atrás, eu nunca disse nada sobre o ocorrido. Com a polícia, talvez, mas o guarda que me interrogou parecia que estava ouvindo sobre o meu dia-a-dia, como um psicólogo, anotando tudo. Mas eu sabia que ele não estava absorvendo nada.
Para eles, não fazia sentido meu tio ser assassinado e eu sair viva, como testemunha. Mas eles também não tinham como explicar aquela bala no meio da testa do meu tio.
E quando eu insistia em minha história, eles me diziam que eu estava muito machucada e não podia dizer direito. Que meu tio pode ter provocado o acidente de propósito e quando acreditou que eu tinha morrido e ele não, deu um tiro na própria testa.
Tudo isso porque a arma do crime foi deixada no local e estava registrada pelo meu tio, Nicholas Everdeen. Suas digitais estavam frescas.
Então, mesmo diante ao fato de que meu tio foi horrivelmente assassinado, não houve investigação. Todos apenas viraram a cara quando eu passava ou fechava os ouvidos para não me ouvirem.
Então eu me silenciei sobre esse assunto.
Encarei meu irmão, ainda estagnado no lugar, alguma coisa borbulhando no fundo da nossa mente.
Talvez Jaden estivesse pronto para bater em qualquer um por mim, mas não estava para lidar com os meus sentimentos. Ou com os próprios.
Ele apenas acordou do transe quando sentimos o cheiro de queimado. Ele soltou um xingamento e apagou o fogo, dando um tapa tão forte na frigideira ao ver o seu bacon da cor de um carvão que a panela voou do fogão e caiu direto na pia.
Antes mesmo que ele urrasse com a dor de queimadura, eu já estava pulando da cadeira e voei em sua direção, recolhendo sua mão, colocando-a embaixo da água corrente da torneira.
Ele soltou um suspiro de alívio ao meu lado e continuamos na mesma posição pelos próximos segundos. Até que virou minutos e meus olhos continuaram naquela água que corria.
A lembrança de John B sendo afogado volta a minha mente e a preocupação de Sarah pelo telefone acompanha logo em seguida. Ele estava bem?
Desliguei a torneira, interrompendo a água de descer e recolhemos nossas mãos. A dele muito mais vermelha do que a minha.
Tudo isso porque nenhum dos Everdeen conseguiam lidar com seus sentimentos voltados para que, daqui há quatorze dias, seria o aniversário de Nicholas Everdeen.
— Ficou sabendo da briga na praia entre Topper e John B? — Questionei, me arrependendo por ter estragado o clima da sua volta.
Jaden apenas acenou com a cabeça enquanto se afastava. Tentei até jogar para longe aquela ideia da minha mente, rir de mim mesma e bufar, mas antes que ele sumisse da cozinha, eu o perguntei:
— Ficou sabendo alguma coisa sobre John B?
— Sobre o John B? — Ele repetiu, parecendo cético pela minha pergunta. — Por que eu me importaria com um Pogue de merda, porra?!
Saiu pisando duro da cozinha e provavelmente ia se trancar no seu quarto até enterrar seus sentimentos tão fundo dentro do seu peito que nem mesmo Deus poderia enxerga-los.
É isso que os Everdeen faz, falei a mim mesma, fazendo o mesmo.
*
A ideia pareceu razoável quando eu a tive lá do outro lado da Ilha, no conforto da mansão do prefeito, bem longe de qualquer praia que me faça lembrar dele ou do ocorrido ontem na festa da fogueira.
Mas agora que estou aqui depois de percorrer quilômetros com minha bicicleta, ter passado do meu lado da Ilha para chegar até aqui, no endereço que eu consegui invadindo o computador do meu pai, acho que, verdadeiramente, foi uma ideia terrível.
Tentei me convencer por todo o caminho que eu não tinha nada a ver com o que aconteceu ou com o que desenrolou depois disso.
Não foi minha culpa que JJ é um estúpido que veio arranjar intriga com pessoas que não deveria tentar. Não foi minha culpa que John B foi afogado e não seria minha culpa se ele estivesse... impossibilitado.
Eu não fiz nada de errado e estava isenta desse critério. Mas cada partícula do meu corpo continuou repetindo a última coisa que meu irmão falou para mim naquela cozinha:
"Por que eu me importaria com um Pogue de merda?" Ele se perguntou.
Jaden nunca se importou em entrar na briguinha boba dos Pogues contra os Kook, ele, assim como eu, achava isso tão ridículo que ria sempre que algo se desenrolava na frente dos seus olhos.
Se meu irmão, que queria ser um médico nominado e se importava com vidas alheias não se importava com um Pogue de merda, como dissera ele, quem se importaria? Quem procuraria aquele jovem que foi afogado? Alguém ousaria fazer vingança contra Topper?
Ele foi levado ao médico depois daquele transtorno? Alguém cuidou da sua cabeça que digeriu tanta água que perdeu a consciência?
As perguntas começaram a ficar perigosas demais, então eu apenas parei de fazê-las e adentrei o escritório do meu pai, pesquisei pelo nome de John B, mas não apareceu nada. Minhas pesquisas tiveram que ser profundas para eu encontrar o pai dele na internet.
O cara que sumiu no mar.
"Não me faça te afogar que nem aconteceu com o seu velho, John B!" Foi o que Topper rosnou na noite passada.
Procurando agora pelo nome do pai pelo banco de dados, apareceu uma propriedade na beira do mar. Eu anotei e corri antes que Jaden pudesse me ver com a minha bicicleta.
Agora estava aqui na frente da propriedade, contemplando o tremendo desastre que Ágatha deixou para o jovem. Deixei minha bicicleta apoiada em uma árvore ali perto e caminhei em passos calculados até os degraus que dava até a porta.
Pela pequena janela de vidro que tinha na porta, dava para ver apenas pedaços da casa. Estava tão silencioso que eu podia ouvir com clareza aquela galinha cantando no galinheiro ou os pássaros passeando muito acima da minha cabeça.
Levantei a mão para bater na porta, mas parei de súbito. E se ele aparecesse, com um olho roxo, o cabelo embaralhado e com roupas despojadas — bem — para me atender?
O que eu poderia dizer a ele? Que estava preocupada com o bem estar dele, sem nem mesmo conhecê-lo? Sem nem mesmo ter movido um grão de areia para ajudá-lo naquela briga na praia?
Eu podia não conhecer John B, mas eu apostava que seu sentimento por mim beiravam ao mesmo que Maybank ou a Carrera. Não duvidava nada sobre terem dito uma ou duas coisas sobre mim em seu tempo junto.
Então pensei em algo que estaria fora de cogitação para mim há pouco tempo.
Eu sei que invadi áreas que já não deveria quando entrei no escritório de meu pai e procurei sobre a propriedade que meu tio, junto com Scooter, tinham naquele hotel caindo aos pedaços ou quando procurei a propriedade que agora vivia John B, mas eu só acho que a partir do momento que eu giro a maçaneta — e a porta se abre —, estou perto de cometer um grande erro.
A consciência é uma benção ou, quando se invade a casa de alguém que nem te conhece, uma maldição.
Mas eu não paro.
Assim que a porta se abre, penso na segurança deste lugar. Como é que ele deixa a porta aberta quando qualquer um poderia entrar aqui?
Meu primeiro passo ressoa na casa quando eu acabo chutando uma latinha de cerveja. Ela quica até o portal onde parecia ser uma sala. Passei por um quarto entreaberto, sem ninguém, então por uma porta trancada e um banheiro.
Cheguei na sala e evitei torcer o nariz ao perceber que aqui dentro estava pior do que lá fora. Latinhas de cerveja rolavam pelo chão, com resto de comida e pacotes de salgadinho.
No sofá-cama dali, John B estava deitado de barriga para baixo. Prendi minha respiração, desejando refazer todos os passos antes que pudesse acontecer alguma coisa, mas meus olhos insistem em descer até seu peito descoberto para ver o subir e descer da sua respiração.
Quis rir de mim mesma quando uma parte da minha tensão foi embora. O que eu estava esperando? É claro que ele estava bem e vivo.
Agora eu só precisava sair daqui sem que ele acordasse. Se bem que não seria uma luta tão grande assim. Ele estava em um sono tão pesado que eu já conseguia ouvir o seu ronronar do outro lado da casa.
Recuei, evitando as latas de cerveja e refrigerante que poderiam acorda-lo rapidamente.
Estava tão concentrada em não acertar em nenhum lixo ou tropeçar em alguma porta que assim que cheguei na saída, nem reparei que um carro parava do lado de fora da casa e uma mulher marchava até a porta.
Eu a reconheci de imediato.
Era a Xerife Susan Peterkin uniformizada, com a mão relaxada em sua arma, uma pose que já era normal aos meus olhos. Ela foi nomeada como a Xerife assim que meu pai subiu na posição de prefeito. Nikolai confia nela. Todos os Everdeen confiam nela.
Eu confio nela.
Foi uma das únicas que acreditou em mim sobre o que aconteceu no "acidente". Mas não estava na sua assada, apesar de que ela me garantiu que tentaria achar alguma pista para trabalhar escondida.
Recuei dois passos, disparando meus olhos para aqueles cômodos que eu poderia me esconder. Corro sem me importar com o barulho dos passos até o quarto com a porta aberta.
A cama desarrumada ficou clara para mim e senti uma bile subindo pela minha garganta quando dei de cara e senti cuecas sujas pelo quarto.
O mesmo barulho que eu fiz ao entrar pela porta da frente quando invadi, soou pela casa quando a Xerife também invadiu. Não que eu ache que ela esteja dentro dessa lei. Talvez tivesse motivos para entrar ali. Talvez estivesse preocupada com John B.
Fechar a porta era arriscado demais, contando que ela ouviria o baque e saberia que não havia sido John B quando o visse deitado no sofá da sala.
Meus olhos fixaram-se no armário que tinha ali e sem pensar duas vezes, abri as portas e entrei dentro. Fiquei em pé entre os cabides com blusas praianas parecidas demais uma com a outra.
Eu não estava ouvindo nada, apenas vendo por uma fresta que tinha na porta do armário onde eu estava.
Até tentei aguçar meus ouvidos, mas eu só soube que ela acordou John B quando eu o vi entrando no quarto apenas com uma samba canção e uma camiseta de botão aberta, mostrando seu peitoral.
Ele estava caminhando até mim.
Até o armário.
Tinha uma cara pensativa e agora que estava acordado, dava para ver claramente o que Topper fez com ele. O olho roxo seria difícil de curar.
Eu sabia que já estava ferrada antes mesmo dele agarrar a porta do armário e abrir, dando de cara comigo. Meus olhos se arregalaram e meu coração, que já estava disparado, começou a fazer uma corrida sobrenatural para sair de dentro do meu peito.
John B ainda estava com uma cara de sono quando recuou assustado e começou a xingar. Então ele coçou seus olhos e olhou novamente para mim, acho que se perguntando se ele estava delirando de alguma forma.
— O que você está fazendo aqui?
A forma como ele perguntou, de maneira sussurrada para que a Xerife não ouvisse do lado de fora, ascendeu uma chama de esperança em meu peito de que ele não me denunciaria.
Abri a boca para responder, mas eu não consegui fazer muito mais do que gaguejar uma resposta que não chegava nem perto do que ele queria escutar.
— Tá — me interrompeu, com a mão erguida. — Só... fica aqui. A última coisa que eu preciso é que a Xerife saiba de você aqui, 'belê?
Acenei rapidamente, pois nossos interesses nesse assunto é igual. Não sei o motivo pelo qual ele esteja com medo da minha presença, mas se a Xerife me descobrir aqui e for falar com os meus pais, ferrada seria apenas o começo do que eu passaria a estar.
Ele pegou um short e vestiu sem se importar com a minha presença fora do armário. Depois ele me olhou mais uma vez e murmurou algo como "caralho, o JJ vai me matar." Depois que a Xerife lá fora não fosse um problema para nós dois, eu deixaria claro que seu amiguinho psicopata que tem uma arma não pode saber disso.
A conversa chegava em meus ouvidos abafada, mas eu decidi não focar muito na história toda que depois que o pai de John B sumiu — para não dizer morreu — ele ficou sem responsável legal, já que seu tio Teddy foi viajar há três meses atrás.
Considerando que ele é um adolescente de 16 anos, acho que não é muito legal que ele esteja vivendo sozinho, sem nenhuma fonte de renda ou responsável para responder por ele.
A Xerife Peterkin também comentou sobre a briga de ontem e mencionou a arma. John B negou rapidamente, com uma forma tão despojada de mentir que se eu não estivesse lá ontem, eu pensaria em acreditar nele.
— Mas, se vou me arriscar por você, você precisa me ajudar.
Franzi as sobrancelhas.
O que a Xerife poderia querer com ele? Me aproximei mais da porta que agora estava entreaberta e enxerguei pela fresta a sala onde John B estava em pé em frente a sua porta da entrada e a Xerife indo de encontro com ele.
— Acharam um cadáver no pântano ontem. — Ela estava falando de Scooter. Colei meu corpo com a ponta da porta, agarrando a maçaneta para não me desequilibrar. — Você estava no pântano ontem?
— Sim, estávamos pescando.
— Pegaram alguma coisa? — John B negou. — Estranho. É bom pescar depois de tempestades. Fica tudo agitado. Viu algum barco naufragado ontem?
Mesmo que eu não estivesse vendo sua cara, sua voz teria me dito transparentemente sobre sua mentira. Ele encontrou um barco. Mais precisamente, o barco que Scooter estava.
— Você está na beira do precipício, John B. Aqui embaixo ficam o lar adotivo e o reformatório. Uma queda e tanto para um garoto esperto como você. Aqui em cima estão você e seus amiguinhos fazendo o que querem. Outer Banks ou lar adotivo no continente.
Mas ele apenas se sentou no sofá e continuou mentindo sobre o barco naufragado.
A Xerife saiu rapidamente da casa e eu abri a porta com uma calma extraordinária, pegando John B jogando uma latinha de cerveja na parede com raiva. Acho que ele estava esquecido da minha presença, pois quando me notou ali, parada como estátua, ele bufou.
— Saia da minha casa!
— Você está bem? — Perguntei, com o cenho levemente franzido.
— Você se importa? — Rebateu, se levantando. Eu não o respondi. Não deveria, é o que eu falaria se conseguisse, mas sim. — Agora, saia da minha casa.
A porta da frente se abriu novamente e nós dois nos encaramos com medo de ser a Xerife. John B pulou em minha direção e se colocou em minha frente. Tentei não ficar ofendida, mas seu corpo realmente cobria completamente o meu.
— Aí, cara, você não vai acreditar no que...
Os ombros de John B desceram com tanta força que ele recuou pra frente, revelando à mim para seu amigo que tinha entrado.
JJ me olha como se estivesse vendo uma assombração, então encara o amigo que ainda estava se recuperando do susto. Depois volta para mim e seus passos são tão largos que em meio segundo ele já está apertando meu pulso e me puxando pra fora.
— Que porra é essa? — Gritei, fixando o pé no chão e puxando meu braço. Mas então ele pega o outro e me impede de se contorcer pelo seu toque quando ele me empurra pra si. — Me solta, JJ.
— Que porra você acha que está fazendo aqui? — Ele sussurrou, com algo brilhando nos seus olhos. Então encarou por cima dos seus ombros. — O que ela está fazendo aqui?
— Eu sei lá! — John B coçou a nuca e depois apontou sua mão pra mim. — Essa maluca invadiu minha casa.
— Eu não sou maluca!
— Você... — JJ se interrompeu de continuar ao voltar pra mim. Minha mão esbelta em seu peitoral para impedi-lo de se aproximar tremia tão intensamente que chamou sua atenção. — Está tremendo. Por que está tremendo?
— Me deixe ir, JJ — tentei implorar, mas meu tom de voz era carregado de raiva e medo e súplica e desespero. Quero ir embora.
Quero ficar longe dele.
Ele estava com sua arma agora?
— Está com medo — a casa ficou em silêncio. — De mim?
Quando eu não neguei, ele se afastou ferozmente e eu segurei minhas mãos. Evitei encarar JJ e olhei para John B. Abri a boca para perguntar sobre o barco, mas eles não tinham nada a ver com aquilo.
Eu descobriria sozinha.
Não precisava deles.
Marchei até a porta da frente, desci os degraus e andei até a minha bicicleta. Quando subi nela, deixei aquela casa pra trás e todos que estavam nela.
( • ) ESPERO QUE ESTEJAM GOSTANDO!
Tá, eu disse que a Royal seria meio paranoica, só esqueci de adicionar que ela era meio impulsiva também... rsrs
JADEN completamente apresentado a vocês. Eu sei que ele parece um babaca, mas ele não é 😫
Não esqueçam de VOTAR e COMENTAR!
Até dia 18.
💋
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