00 | Prólogo
ᴿᴼʸᴬᴸ ᴱⱽᴱᴿᴰᴱᴱᴺ
2 ᴀɴᴏꜱ ᴀᴛʀÁꜱ
— Querida, tem certeza de que quer ir?
Retribui o toque de minha mãe que estava quase me forçando a ficar no lugar. Evitei respondê-la quando meu tio passou pela gente, segurando minhas malas.
— Estou indo pro carro, burguesa.
— Eu já vou indo — respondi por cima do meu ombro, voltando-me pra mamãe que tinha o mesmo rosto. — Mãe... eu vou ficar bem.
— Seu tio não é lá o mais responsável de todos — contrabateu, querendo se explicar por estar tão preocupada. — Sem dizer que seu pai já está estressado por conta das eleições pela ilha. Não acho que ele vai aguentar se preocupar se o irmão irresponsável dele está cuidando bem de você.
Como forma de exemplificar tudo o que ela estava dizendo, encaramos meu tio encostado em seu carro. Era uma relíquia de família. Um Impala de 1967. Foi do nosso avô antes de ir pro irmão mais velho, ou seja, ele.
Mas a pintura nova já estava desgastada e havia alguns riscos visíveis no capô.
Nicholas Everdeen, o irmão mais velho do meu pai, estava com um cigarro atrás da orelha, soprando as sujas do cinzeiro que sempre fica entre os bancos da frente do carro.
Ele podia não ser o maior exemplo da família, mas eu o amava. Todos amavam ele. Minha mãe também, mas... ela era um tanto controladora quando o assunto era sairmos de Outer Banks.
Por sorte, meu pai saiu de casa e se aproximou de mamãe por trás.
— Amor... deixe-a ir.
Encarei meu pai, um pouco surpresa pelo seu jeito de portar. Ele costumava ser mais super-protetor que minha mãe, o que já é uma tarefa difícil, principalmente quando condiz a ovelha negra da família, seu irmão. Mas agora ele parecia tranquilo.
A conversa de horas entre ele e meu tio dentro daquele escritório deve ter surgido algum efeito.
Enfim, dou um abraço e um beijo nos dois, correndo até meu tio antes que qualquer um deles possam mudar de ideia.
Entrei no carro e sentei no banco do passageiro, sendo seguida por meu tio que após fechar a porta, liga o carro e acende seu cigarro. O ar exala cinzeiro, nicotina e álcool, mas por sorte consigo abaixar as janelas e o ar puro preenche meu olfato.
— Quer dar uma tragada? — Sugeriu Nicholas, estendendo o cigarro e me olhando de rabo de olhos enquanto continua dirigindo.
Encarei ele, incrédula.
— Eu tenho 13 anos!
— 14 — pontoou ele e colocou o cigarro entre os lábios, apenas para se inclinar pro banco de trás e pegar uma caixa embrulhada pra presente, tudo isso sem parar de dirigir. — Feliz aniversário, burguesa.
Abri um sorriso enorme e agradeci ele, pouco antes de rasgar o papel em busca de saber o que era o meu presente.
Abri a caixa com cuidado, encontrando uma camisa escrita Metallica e com uns desenhos em volta. Ao lado da camisa, tinha um mini abridor de latas e por fim, o que mais parecia um presente direcionado a mim, um colar com um pingente de coroa.
Ergui ele até a luz e ele brilhou sua cor de dourado.
Parecia banhado à ouro.
— Foi o primeiro presente que eu recebi — ele explicou, sem me olhar. Assim como o meu pai, tio Nicholas não curtia falar de coisas profundas. — Com os meus 22 anos. É claro que eu adicionei o colar — apontou, sem jeito pelo meu olhar. — Espero que goste.
— Eu amei — soei sincera.
O carro tomou o silêncio pra si, apenas com o ronco do motor embaixo da gente. Inclinei o rosto, sentindo o vento na cara.
— Pra onde estamos indo? — Perguntei quando vi a placa do início da cidade ficando pra trás.
Por fim, ele sorriu arteiro. O mesmo sorriso que ele deu quando roubou do cofre da família e culpou meu pobre irmão mais velho.
— Las Vegas.
Sorri junto, animada. Eu acreditava fielmente que esse seria o melhor aniversário de todos.
Mas ele se tornou o meu pesadelo.
Já estava de noite e eu estava dormindo quando meu celular vibrou no meu colo, "JJ Maybank" brilhando no visor. Encarei a tela do meu celular, meu estômago borbulhando em ansiedade conforme meu dedo deslizava para recusar a ligação.
Nunca mais.
Foi a última coisa que eu pensei antes do carro capotar no meio da estrada.
• Primeiro capítulo publicado com SUCESSO espiritual. Espero que vocês gostem.
Não esqueçam de VOTAR e COMENTAR.
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