004.
DAYLIGHT
004. | Los Angeles
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AO AVISTAR A OFICINA DE DOMINIC TORETTO a uma distância razoável, Candice mordeu levemente os lábios inferiores e olhou para Brian que dirigia tranquilamente em direção ao local. Diferente dele, ela se sentia cada vez mais nervosa ao pensar na investigação, tendo que vê-lo se esforçar para se aproximar de um cara que tinha a ficha tão suja quanto a rua em que costumavam pisar.
No fundo, estava apenas com medo. Medo do Toretto descobrir tudo e tentar algo ruim contra Brian para se vingar. Ela não o conhecia, mas temia que ele não fosse uma pessoa que perdoaria uma traição ou deixaria passar em branco, visto que sabia a história sobre o cara que Dominic havia machucado com uma chave inglesa.
A simples ideia de Brian ser descoberto ou machucado fazia com que seu coração batesse mais rápido e seus ossos tremessem de medo. Ela não queria nem cogitar que poderia perdê-lo caso tudo desse errado.
— Tem certeza que você tem que investigar assim? Não acha que seria melhor se não precisasse se aproximar tanto dele? — a loira indagou pela trigésima vez, deixando claro para o namorado que estava com receio.
— Vai dar tudo certo, loirinha. Confia em mim. — ele olhou para ela e deu uma piscadela seguida de um sorriso ladino.
— Você também disse algo parecido mais cedo, e quando eu menos esperei, estavam apontando uma arma para você. — ela revirou os olhos e cruzou os braços.
Brian se calou, sabendo que qualquer argumento provavelmente iria desencadear uma discussão, e isso era a última coisa que desejava. Tudo o que estava tentando fazer era passar um dia perto das únicas pessoas que o faziam se sentir bem. Obviamente, algumas coisas sairiam do seu controle, mas nada se comparava à felicidade que sentia por tê-las perto dele na maior parte do dia.
Quando o pequeno caminhão guincho que carregava o suposto carro de dez segundos de Dominic foi estacionado em frente à oficina, Candice apoiou a alça da bolsa de Lizzie no ombro e colocou a mão na alça de transporte do bebê conforto para levá-la, mas foi interrompida por Brian, que preferiu pegar a filha no colo ao invés de deixá-la deitada na mesma posição por mais tempo.
— Você está linda nesse vestido rosa, sabia? — ele disse assim que saiu do carro com Lizzie em seus braços, recebendo o olhar dela. — É, você está linda sim. — balançou a cabeça positivamente e sorriu. — Hoje você vai conhecer algumas pessoas... talvez os novos amigos do papai. Acho que você vai gostar deles.
Candice acompanhou o namorado com uma expressão séria, dando a volta no veículo para estar ao lado dele. Ela cruzou os braços e observou o namorado trocar a filha de lado em seu colo, deixando-a perto dela.
A voz masculina que se fez presente na entrada da oficina chamou a atenção do casal juntamente com a bebê, fazendo os três olharem para o homem careca que usava uma regata branca e segurava uma lata de Red Bull nas mãos. Dominic Toretto.
— Escuta, o que é isso aí? O que 'cê trouxe pra cá? — o corredor de racha apoiou uma mão na parede.
Foram questões de segundos para que os outros aparecessem na entrada da oficina, a fim de ver do que se tratavam as perguntas feitas por Dominic e aquele carro em cima do pequeno caminhão guincho. Todos os olhares foram primeiramente para Candice e Lizzie, e cada um avaliava as duas novas figuras femininas, que nunca haviam visto antes, com um olhar de curiosidade.
Letty e Mia se entreolharam e abriram um pequeno sorriso uma para a outra. A Toretto mais nova já sabia que Brian tinha uma namorada, pois ele havia mencionado anteriormente quando apareceu na lanchonete, e aproveitou para contar à cunhada o que descobrira, já que estava um pouco desconfiada por nunca tê-lo visto acompanhado por alguma garota.
— Este é o seu carro. — o loiro estendeu o braço livre na direção do veículo com um sorriso nos lábios.
— Meu carro? — Dom apontou para si. — Eu disse um carro de dez segundos, não uma lata velha. — debochou.
Candice não hesitou em acompanhar com o olhar um rapaz que se aproximava do carro e dava uma batida leve com a mão fechada, provavelmente para testar se valia a pena o que trouxeram. Por um momento, ela se perguntou mentalmente se aquele era o tal de Vince, mas descartou a ideia ao observá-lo de cima a baixo, notando o quanto ele era magro e tinha uma aparência frágil demais em comparação a Dominic. Seria impossível que um indivíduo daqueles batesse de frente justamente com o seu namorado.
— Você pode empurrar até a linha de chegada ou... rebocar. — o mesmo rapaz se pronunciou, arrancando risadas das duas garotas que ainda estavam dentro da oficina.
— Nem rebocando isso cruza a linha de chegada. — Dom comentou de maneira debochada.
— Ah, qual é. Não se julga o livro pela capa. — a voz da loira surgiu pela primeira vez no diálogo, chamando a atenção de todos. — Acredite no que ele está dizendo. — apontou com a cabeça para o namorado e sorriu levemente.
— Eu acredito nele, mas isso aqui não é ferro velho, é uma oficina. — o Toretto gesticulava com a latinha na mão para dentro do local.
— Quando você ver o que tem aí dentro, vai se arrepender de ter dito isso. — ela retrucou e arqueou uma sobrancelha, acompanhada de um sorriso convencido.
— Abre o capô, vai. — Brian apontou para o carro enquanto olhava para o rapaz ao lado do pequeno caminhão-guincho.
Candice observava com atenção o namorado entregar Lizzie para ela, a fim de poder entrar no pequeno caminhão guincho para descarregar o carro dentro da oficina do Toretto. Ela se afastou um pouco, dando alguns passos para trás até se ver quase dentro do local, enquanto seus olhos azuis se mantinham fixos em Brian, que manobrava o veículo.
Estava tão focada na cena que se desenrolava bem à sua frente que mal notou a presença de Letty ao seu lado, juntamente com Mia. Entretanto, Lizzie com seus olhos grandes e curiosos, desviou a atenção do pequeno caminhão guincho para as duas garotas ao lado de sua mãe e esticou suas mãozinhas em direção à ferramenta que a Ortiz segurava.
— Você quer isso aqui? — Letty indagou para a bebê com um pequeno sorriso ao aproximar a ferramenta das pequenas mãozinhas da mini O'Conner.
— Ei, tudo bem? Ela tem quantos meses? — Mia direcionou as perguntas para Candice ao se aproximar e ter seu dedo indicador agarrado pela mãozinha de Lizzie, que rapidamente desistiu de querer a ferramenta.
A loira desviou o olhar do pequeno caminhão guincho, onde se encontrava seu namorado, para encarar a Toretto mais nova ao seu lado, que brincava e sorria para a bebê. Seus olhos azuis expressavam um misto de surpresa e receio ao vê-la tão perto de Lizzie, tanto que a primeira reação que teve foi puxar delicadamente a mão da filha para si — conseguindo com facilidade fazê-la soltar o dedo indicador de Mia — e dar um passo para o lado, a fim de se afastar um pouco da morena.
— Ah, bem... — ela parou por um momento, notando Letty ao lado da irmã mais nova de Dom. — Ela tem quatro meses...
— Ela é muito linda! — Mia elogiou com um sorriso largo ao ver que Candice soltou a mãozinha de Lizzie, permitindo que a bebê pudesse pegar seus dedos novamente para brincar.
— E é a cara do pai, mas continua sendo uma fofura. — Letty soltou uma risadinha, balançando a ferramenta na frente de Lizzie e observando-a soltar os dedos de Mia para tentar pegar a ferramenta.
A troca de palavras entre as três garotas chegou ao fim quando ouviram o capô do suposto carro de dez segundos sendo aberto por Dominic. Elas se aproximaram do veículo, e Candice se prontificou a ficar ao lado de Brian, que estava com os braços cruzados e os olhos fixos no Toretto.
— Motor 2JZ... Eu não acredito nisso! — Jesse comentou surpreso enquanto tocava no motor, impressionado.
— Eu retiro o que disse antes. — Dom murmurou e desviou o olhar do motor para Brian e Candice. — É, parece que vocês estavam certos.
— Sim, nós avisamos, mas você não acreditou. — ela deu de ombros, sorrindo de forma convencida.
Brian levantou os olhos para encarar a namorada assim que ela respondeu às palavras de Dominic em seu lugar; entretanto, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios ao notar que provavelmente Candice havia perdido aquele medo do Toretto.
— Escuta aqui, isso aqui vence qualquer carro, se gastar uns quinze mil nele ou um pouco mais se recebermos as peças que vêm do Japão. — Jesse falava com as duas mãos agarradas em uma ferramenta.
— Vai tratando logo disso, Jesse. — Dom pediu.
— Falou! — o rapaz de touca respondeu em um tom animado antes de se retirar.
— Eu tenho que fazer você correr pra gente ganhar um dinheiro. — o Toretto soltou para o O'Conner, tocando com o pé de cabra nos braços cruzados do loiro. — Tem um desafio no deserto chamado corrida de guerra, você vai participar.
Candice estava atenta em Dominic, mas seu olhar se desviou dele quando um suspiro pesado escapou dos lábios de Mia, acompanhado por um balançar de cabeça em negação.
Aquela simples reação da morena desencadeou uma série de dúvidas em sua mente, fazendo-a se questionar se aquela corrida em que Dominic queria colocar Brian era uma boa ideia. A princípio, ela não viu problema quando ele comentou, mas a reação de Mia foi o suficiente para alertá-la de que algo estava errado.
O Toretto passou por Brian com o pé de cabra na mão, dando a entender que sairia da oficina, mas se virou apenas para deixar um aviso, tanto para o loiro quanto para a namorada dele.
— Quando você não trabalha para o Harry, você trabalha aqui. — Dom disse e parou por um instante, olhando para Candice e apontando levemente a ferramenta na direção dela. — E você também, garota. Se não puderem achar a ferramenta certa nessa garagem, não cheguem perto de um carro. — gesticulou com o pé de cabra na mão.
Dominic apenas deu mais um sorriso mínimo para o casal e se afastou sendo acompanhado por Mia, que deixou os dois sozinhos perto do carro, junto com a filha. Ela olhou para Candice por um momento e assentiu devagar com um sorriso pequeno nos lábios, quase como um aviso de que deixaria os dois a sós para conversarem. Aquilo deixou a loira um pouco tensa e preocupada com a proposta de Dominic de levar Brian para uma corrida.
Candice observou Brian apoiar as mãos no carro com o capô aberto e passear o olhar pelo motor, como se estivesse pensando em algo, mas não demorou muito para que ele fixasse os olhos azuis nela. Ela tentava se convencer de que talvez a reação de Mia não significasse nada e que a proposta de Dominic pudesse ser boa, mas os pensamentos de Brian se machucando ou algo pior acontecer fazia sua preocupação crescer cada vez mais.
— O que foi? Deu tudo certo, não deu? — ele perguntou baixo, abrindo um sorriso discreto, quase imperceptível para quem não o conhecesse tão bem.
A loira apenas assentiu de forma automática. Sua mente martelava na reação de Mia, como se algo estivesse realmente errado com o convite de Dominic. A ideia do namorado de investigá-lo de perto, forçar uma aproximação, conhecer os amigos e a oficina... droga, tudo aquilo a deixava preocupada com ele.
No entanto, seus pensamentos se dispersaram quando Brian suspirou profundamente, afastou-se do capô e posicionou-se à sua frente.
— Se a sua preocupação é com você e Lizzie, saiba que eu jamais vou deixar o Dom ou qualquer outra pessoa tocar em vocês. — murmurou baixo, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, seguido de uma carícia em sua mandíbula com o polegar. — Eu não vou colocar vocês em algo que possa ser perigoso.
— Eu sei... — ela respondeu com uma voz mais baixa do que imaginou. — Mas neste momento, não estou preocupada comigo e com a Lizzie. Estou preocupada com você. Essas pessoas... você está rodeado da família desse cara. Já imaginou a merda que poderia dar se algum deles descobrisse tudo? — seu tom era baixo, a fim de não fazer aquela conversa sair dali.
— Não precisa se preocupar comigo. Eu sei me virar. Ninguém vai descobrir nada. — ele negou com a cabeça. — E de qualquer forma, você já sabe, se algo sair do planejado...
— Nem ouse terminar o que está dizendo. — ela o interrompeu, apontando para ele com a mão livre.
Brian franziu a testa e levantou as mãos em rendição com um pequeno sorriso, embora soubesse que Candice estava falando sério.
Após entrar para a polícia de Los Angeles com o objetivo de limpar seu nome e receber a ordem de investigar Dominic Toretto, Brian não teve poucas conversas com sua namorada sobre o que ela deveria fazer caso algo desse completamente errado.
Se viesse a partir deste mundo através dessa investigação, queria ao menos ter a certeza de que Candice e Lizzie estariam seguras e bem. Era a forma que ele encontrou de amenizar suas preocupações e garantir a proteção delas, mesmo que ele não estivesse mais por perto para cumprir com seu dever.
— Eu só quero garantir que você não se preocupe com nada, amor.
Brian comentou com visível sinceridade enquanto pegava Lizzie com cuidado do colo de Candice. Sua expressão se suavizou quando a bebê se aconchegou em seus braços, e ele sentiu ainda mais o peso da responsabilidade cair sobre seus ombros. Aquele era seu bem mais precioso. Cada decisão e sacrifício que viesse a fazer seria para que Lizzie tivesse uma vida tranquila e feliz, como qualquer criança deveria ter.
— Eu sei o que fazer, Brian. — ela garantiu com a voz trêmula. — Só... me prometa que não vai se colocar em risco desnecessário, nem ultrapassar os limites de tudo isso. Eu não quero te perder.
Quando a última palavra saiu de sua boca, ela nem percebeu que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Sua mente insistia em imaginar como seria viver sem Brian. Claro, teria que continuar por Lizzie, mas... como faria isso? Brian foi seu refúgio quando mais precisou depois de praticamente ser expulsa da casa de seus pais. Ele foi quem a ajudou a enfrentar todos os problemas quando o que mais queria era desistir.
Como viveria em um mundo no qual ele não existisse mais?
Assim que a mão livre de Brian pousou em sua cintura, tentando puxá-la para mais perto, Candice simplesmente atendeu ao pedido silencioso e afundou o rosto no pescoço dele, enquanto suas mãos envolviam o corpo do namorado.
— Eu prometo.
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Assim que chegaram em casa, Brian e Candice se revezaram para cuidar de Lizzie com o único objetivo de distraí-la para o outro poder tomar banho. Quando ambos estavam limpos e revigorados, Candice foi ao banheiro para dar banho na bebê, enquanto Brian seguia para a cozinha, decidido a preparar algo rápido para não irem dormir de barriga vazia.
Candice fechou o adesivo da fralda de Lizzie que segurava um pequeno ursinho de pelúcia e insistia em mordê-lo. As perninhas da bebê balançavam sem parar, e alguns murmúrios de choro escapavam de vez em quando, enquanto Candice a vestia com um pijama laranja. A pequena parecia mais agitada do que o habitual, algo que não passou despercebido pela mãe desde que chegaram em casa.
Candice acreditava que sempre tentar variar as atividades do dia era importante para Lizzie, mas estava quase certa de que passar a tarde inteira na oficina de Dominic, cercada por rostos desconhecidos, havia deixado a pequena O'Conner inquieta. Talvez fosse isso, ou quem sabe Lizzie apenas quisesse mais atenção, já que seus pais passaram boa parte do dia focados em ajudar com o carro de dez segundos.
Depois de terminar de vestir a filha, Candice a pegou no colo com cuidado e caminhou até a cozinha. Lá estava Brian, concentrado no fogão, com um pano de prato pendurado no ombro. O aroma irresistível do molho que ele preparava preencheu o ar, e o ronco baixo no estômago de Candice a fez perceber o quanto estava faminta. Um sorriso espontâneo surgiu em seus lábios ao observar o namorado tão focado em sua tarefa.
— Quer ajuda, amor? — perguntou ela, aproximando-se com Lizzie nos braços.
Brian desviou o olhar da panela apenas por um instante, lançando-lhe um daqueles sorrisos que a faziam se apaixonar mais a cada dia.
— Não, eu dou conta, loirinha. — respondeu ele, voltando a mexer o molho com a colher. — Senta aí com a Lizzie. O jantar já vai ficar pronto.
Era exatamente a resposta que Candice esperava. Ela sabia que sua habilidade na cozinha era limitada e que só pisava naquele cômodo para preparar algo que fosse muito simples. A última vez que tentou cozinhar de verdade foi durante a gravidez, quando ainda moravam no trailer de Brian. Na ocasião, quase causou um incêndio, se não fosse ele ter chegado a tempo de evitar o desastre.
— Tá bom, já que você insiste... — brincou ela, soltando uma risada abafada enquanto puxava uma cadeira para se sentar. — Aquela mulher que cuidou da Lizzie é irmã do Dominic?
— Sim, a Mia. — confirmou Brian, lançando-lhe outro olhar breve antes de voltar sua atenção ao molho. — Por quê?
— Ah, nada... só achei que ela fosse igual ao Dominic, mas parece ser muito mais simpática do que ele. — respondeu Candice, ajeitando Lizzie no colo. — E aquela outra mulher que estava lá?
— A Letty? É namorada dele. Também é gente boa. — comentou Brian de forma casual, abaixando o fogo para pegar dois pratos no armário.
— É, talvez... — Candice deu de ombros. — Não conversei muito com ela, mas quem sabe ela seja mesmo uma boa pessoa, como você diz. Só espero estar errada sobre o que penso deles.
Ela terminou com um suspiro, seus olhos vagando pela cozinha enquanto sua mente revisitava o dia que tiveram. Nunca imaginou que passaria tantas horas na companhia do homem que Brian investigava, mas, no fim, não foi tão ruim quanto esperava. Durante aquele tempo na oficina, conseguiu enxergar um lado diferente de Dominic e de sua família. Talvez houvesse mais neles do que parecia à primeira vista.
Brian se aproximou da mesa onde estavam Candice e Lizzie, colocando os dois pratos com cuidado sobre o móvel. Ele apoiou uma mão no encosto da cadeira e usou a outra para levantar o queixo de Candice, fazendo com que ela o olhasse nos olhos.
— Você confia em mim, não confia? — perguntou e Candice apenas assentiu. — Então confie quando eu digo que tudo vai dar certo, hum?
Brian deixou um beijo leve nos lábios dela antes de voltar ao fogão para terminar de preparar o molho. O som da campainha quebrou o silêncio confortável da cozinha, chamando a atenção dos dois. Eles se entreolharam, enquanto Lizzie continuava alheia, entretida em tentar morder o ursinho de pelúcia que segurava.
— Vou lá atender. — disse Brian, abaixando o fogo do molho e jogando o pano de prato sobre a bancada.
— Não, deixa que eu atendo. — Candice pediu, levantando-se com Lizzie no colo. — Deve ser os filhos dos vizinhos aprontando de novo.
Ela sequer esperou uma resposta do namorado e caminhou até a porta de entrada. Enquanto andava, seus olhos recaíram sobre Lizzie, que parecia tão confortável em seu colo, com a cabeça apoiada em seu peito, que Candice não conseguiu evitar um sorriso. Mas o sorriso desapareceu quando ela abriu a porta e viu quem estava do outro lado.
— Mãe...
O sussurro escapou de seus lábios quase sem força. Candice arregalou os olhos, surpresa ao se deparar com Elizabeth ali, na porta de sua casa. Nunca imaginou que sua mãe teria coragem de aparecer depois de tudo o que havia acontecido. Desde o dia em que foi expulsa de casa, ela nunca mais tinha visto seus pais. Brian a proibiu de ir atrás deles, dizendo que era melhor deixá-los de lado para seguir em frente.
— Como você está diferente... — murmurou Elizabeth, a voz carregada de surpresa e emoção. Ela colocou a mão na boca enquanto observava a filha de cima a baixo. — Eu sei que deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui, mas senti que precisava vir. Precisamos conversar.
Candice permaneceu paralisada, sem saber como reagir. Queria falar, mas as palavras simplesmente não vinham. Uma parte dela desejava ouvir o que Elizabeth tinha a dizer; outra relembrava com dor tudo o que aconteceu quando sua gravidez foi descoberta.
— Eu não sei se é uma boa ideia... — começou Candice, mas foi interrompida.
— Me dê uma chance, filha. Eu tenho certeza de que você vai querer ouvir o que tenho a dizer. — implorou Elizabeth, a voz gentil, quase manipuladora.
Antes que Candice pudesse responder, ouviu a voz de Brian, alta e firme, vindo da cozinha.
— Amor, tá tudo bem?
A pergunta trouxe Candice de volta à realidade. Ela piscou algumas vezes e respirou fundo antes de responder, mantendo os olhos fixos na mãe.
— Sim, está tudo bem! — gritou de volta para que ele pudesse ouvir. Depois, murmurou para Elizabeth: — Eu já volto.
Ela fechou a porta parcialmente, consciente de que sua mãe e Brian não se suportavam. Evitar um confronto direto era a melhor opção.
Voltando lentamente para a cozinha, Candice tentava pensar em uma desculpa convincente para sair de casa e conversar com Elizabeth. Ela odiava mentir, mas tinha certeza de que Brian seria contra qualquer tentativa de diálogo com sua mãe.
— E aí? Eram as crianças? — perguntou Brian, enquanto servia o macarrão com molho no prato dela.
A mesa já estava posta, simples, mas convidativa, e isso fez Candice hesitar por um momento. Deixar aquele momento em família para falar com sua mãe doía mais do que imaginava, mas sabia que não poderia evitar.
— Ah, é, sim... aqueles moleques insuportáveis. — respondeu ela, bufando e jogando a cabeça para trás em uma falsa indignação. — Eles nunca param! Vou ter que resolver isso com os pais deles.
Candice evitou olhar diretamente para Brian enquanto falava, temendo que ele percebesse a mentira. Mas, para sua sorte, ele apenas riu e se aproximou, colocando as mãos na cintura dela.
— Não esquenta com isso, loirinha. Já tá' tarde. São só crianças sendo crianças. — disse ele, abaixando a cabeça na tentativa de encontrar o olhar dela.
— Crianças sendo crianças ou pestinhas que não dão paz pra ninguém? — rebateu Candice, tentando manter o tom indignado. — Vou resolver isso agora, e nem tente me impedir, Brian O’Conner.
Antes que ele pudesse protestar, ela colocou Lizzie nos braços dele. Brian, pego de surpresa, segurou a bebê de maneira desajeitada, mas logo começou a brincar com ela quando a bebê soltou um gritinho animado e balançou as perninhas, desviando completamente sua atenção.
Aproveitando a distração, Candice saiu da cozinha, sem saber exatamente o que esperar daquela conversa com Elizabeth. Algo dentro de si insistia que esse momento precisava acontecer, embora uma parte ainda desejasse fugir. Ao abrir a porta de entrada com hesitação, cogitou por um breve instante que sua mãe poderia ter desistido e ido embora.
Mas estava enganada.
Seus olhos azuis se fixaram na figura da mais velha, que se encontrava próxima ao carro em que veio, olhando distraidamente para a rua pouco iluminada pelas luzes suaves dos postes. Elizabeth tinha os braços cruzados e uma expressão séria, que só mudou quando percebeu a presença da filha.
Candice parou a uma distância razoável enquanto passou as mãos pelos próprios braços quando a brisa fria arrepiou sua pele.
— Bem, aqui estou eu. — comentou com um sorriso fraco. — O que a senhora quer conversar?
Elizabeth desviou o olhar para trás de Candice por um momento, como se estivesse avaliando algo ou esperando que alguma coisa pudesse acontecer.
— Brian não sabe que você está aqui. Achei melhor não contar nada para ele. — a mais nova avisou.
A mãe de Candice apenas assentiu em agradecimento, esboçando um pequeno sorriso antes de soltar um suspiro profundo. Parecia estar reunindo coragem para iniciar o que claramente seria uma conversa difícil. Seus olhos percorriam cada detalhe da filha, desde a postura tensa até as mudanças em sua aparência e expressão em apenas um ano.
— Candice, antes de mais nada, quero que saiba que não foi fácil vir aqui. — a voz de Elizabeth soou mais suave, quase hesitante. — Eu errei com você. Nós erramos. Mas estou aqui porque acredito que ainda podemos consertar as coisas.
— Consertar as coisas? Do que a senhora está falando? — perguntou Candice, com uma ponta de esperança surgindo em sua voz.
— Sei que pode ser difícil acreditar em mim, mas preciso que você ouça o que tenho a dizer primeiro. — Elizabeth deu um passo à frente, os olhos fixos na filha. — Eu vim porque pensei muito em como você deve estar vivendo uma vida completamente diferente da que tinha em casa. E... me sentiria culpada se não tentasse mudar tudo isso.
— Mudar? — Candice arqueou uma sobrancelha e inclinou levemente a cabeça, confusa.
— Filha, você merece uma chance de viver o futuro que sempre sonhou antes de engravidar daquele moleque. — Elizabeth enfatizou, referindo-se a Brian, fazendo Candice dar um passo para trás, os olhos levemente arregalados. Ela começava a entender que a conversa não seria de bom tom. — Veja bem, você é jovem, tem um futuro brilhante pela frente, mas está presa nessa vida conturbada que esse infeliz te deu. Aquela bebê e esse garoto... eles são um peso que você não deveria carregar.
As palavras atingiram Candice como um soco no estômago.
— O quê?! — sua voz se elevou, indignada. — Está me dizendo para...
— Candice, minha filha, entenda que estou aqui somente para o seu bem. — Elizabeth uniu as mãos em frente ao queixo, em um gesto quase suplicante. — Sua irmã mais velha, Olivia... Veja a diferença, ela é casada com um major, formada na profissão dos sonhos... E você? Vivendo debaixo de um teto com um moleque que, provavelmente, nem trabalha.
— Não fala assim do Brian! Você não sabe nada sobre ele! — Candice avançou um passo, apontando o dedo para a mãe. — E, além disso, você fala como se soubesse quem é esse homem com quem a Olivia supostamente é casada. A gente nunca viu o rosto dele, assim como nunca mais vimos a Olivia desde que ela foi embora.
— Olivia jamais seria capaz de me enganar, Candice. — rebateu Elizabeth com a voz tranquila, irritando ainda mais a filha. — Sua irmã sempre foi firme em seus sonhos e nunca se deixou levar por garotos insignificantes que apareciam na loja de peças do seu pai.
— Vai embora daqui.
As palavras saíram dos lábios de Candice com firmeza. Pela primeira vez, ela falava dessa forma com a mãe. Não queria mais ouvir o que Elizabeth tinha a dizer. Sentia-se tola por acreditar, mesmo que por um momento, que sua mãe estivesse arrependida.
Brian tinha razão. Ela não iria mudar.
— Mas... — Elizabeth tentou, mas foi interrompida.
— Eu disse pra você ir embora!
Candice praticamente gritou, sem se importar que as luzes das casas vizinhas começavam a se acender. Elizabeth, porém, não discutiu. Apenas assentiu, mostrando que compreendia a ordem, e começou a caminhar em direção ao carro.
No entanto, antes de entrar, Elizabeth virou-se novamente.
— Estou disposta a te oferecer tudo: a faculdade dos seus sonhos, um lugar para morar, segurança financeira... Tudo o que você sempre quis. Mas, para isso, você precisa deixar essa vida para trás.
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Notas!!
Oi, pessoas! Tudo bem com vocês? Porque, por aqui, finalmente está tudo ótimo.
Bem, como todo mundo já sabe (ou está cansado de saber), eu sumi de novo. Mais uma vez venho aqui pedir mil desculpas por ter desaparecido dessa forma — embora eu tenha deixado um aviso nas notas do meu perfil, então acredito que algumas pessoas já saibam o que aconteceu durante esse tempo.
Estive (e ainda estou) fazendo um curso e precisei focar bastante nas provas finais. Como não queria vacilar na reta final, decidi deixar a fanfic um pouco de lado para me dedicar de verdade aos estudos, revisando meu caderno e me esforçando para tirar boas notas e aprender os conteúdos. Felizmente, consegui passar em todas as provas, e no ano que vem vou começar um estágio — que, felizmente, será apenas uma vez por semana.
Sei que havia dito que tentaria ser mais ativa e postar com mais frequência, mas, no estado em que eu me encontrava anteriormente, isso seria impossível. Por isso, peço novamente desculpas por sumir e por não ter cumprido o que prometi a vocês.
Sinceramente, quero muito continuar escrevendo essa fanfic e levá-la até o sétimo filme de Velozes e Furiosos, porque é um universo que eu amo demais. Me apeguei tanto à "mini família" que criei aqui que, muitas vezes, escrevo mais para mim mesma do que para os outros — talvez como uma forma de presentear a minha versão mais jovem, que passava horas lendo fanfics de Velozes e Furiosos e desejava algo nesse formato.
A partir desse capítulo, sintam-se à vontade para continuar lendo — o que vai me deixar imensamente feliz e grata — ou para parar, caso prefiram. Vou entender perfeitamente, porque sei o quanto é frustrante esperar por atualizações de uma autora que não consegue manter uma frequência.
Espero que vocês tenham gostado desse capítulo! Perdoem qualquer erro de ortografia que possa ter passado despercebido. Muito obrigada pelos comentários carinhosos que venho recebendo nos capítulos anteriores!
<3.
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