⤷ capitulo XI
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|A Mesa de Pedra|
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Ao som da trompa, uma sombra sinistra surgiu entre as árvores, seguida pelos gritos de criaturas sombrias. Nina avistou de longe uma mulher alta e imponente, estava sentada em um trono de ferro, carregado por suas criaturas servis. Seu rosto pálido brilhava assim como seu manto branco, seus olhos gélidos varriam o acampamento com uma intensidade ameaçadora, era a feiticeira. Nina, Susana, Lúcia e Pedro, que nunca tinham visto a Feiticeira Branca antes, foram acometidos com uma sensação ruim por conta de sua presença.
Ao chegar em frente à tenda central, a mulher parou e escaneou os humanos com seu olhar frio. Os olhos percorreram cada rosto até que finalmente pousaram em Edmundo, ela sorriu de forma maligna. Um ar de determinação tomou conta de seu rosto e seus olhos se encontraram com o de Aslam, desafiando-o silenciosamente.
— Há um traidor aqui, Aslam! — declarou a feiticeira. Nina encarou o menino ao seu lado, sem pensar muito, ela segurou a mão do moreno, em sinal de apoio. Edmundo parecia tranquilo enquanto ignorava o olhar da feiticeira, o moreno olhava para Aslam. Contudo, ele apertou a mão da loira, tentando conter o nó que surgia em sua garganta.
— A ofensa dele não foi contra você — Disse o Leão enquanto a mulher parecia ficar vermelha de raiva.
— Vejo que se esqueceu sobre as leis as quais Nárnia foi construída!
— Não cite a Magia Profunda para mim, feiticeira! — Aslam ronou, um aviso singelo, — eu estava lá quando foi escrita.
— Portanto sabe que a lei é clara: todo traidor é minha presa, o sangue dele é minha propriedade. — declarou com a voz carregada de autoridade.
— Tente pegá-lo! — o grito furioso de Pedro ecoou pelo silencioso campo. O menino apontava sua espada ameaçadoramente, mas a feiticeira riu.
— Força bruta não me impedirá de reivindicar meus direitos, reizinho. Caso me impeça, Aslam sabe que Nárnia perecerá sobre fogo e água. — com uma pausa dramática, Jadis se virou na direção de Edmundo, apontando para ele. — Esse menino morrerá na mesa de pedra, como diz a tradição !
Murmúrios tomaram o campo.
Nina empalideceu, largando a mão do Edmundo, para, um segundo depois, acabar se apoiando em seu braço. Repentinamente sentindo-se muito tonta. O moreno forçou os pés no chão, quase sendo derrubado com o peso da loira. A verdade é que Edmundo estava apavorada, mas continuou olhando para o Rei dos Bosques. Já que Aslam permaneceu inabalável, seus olhos dourados brilhando.
— Afastem-se — ordenou o Leão, — quero falar a sós com a feiticeira.
Ela lançou um olhar desconfiado a Aslam, mas eventualmente assentiu. Juntos, eles adentraram a tenda, deixando para trás um clima de tensão.
E acreditem, foram momentos terríveis de longa espera. Nina, incapaz de suportar o silêncio de Edmundo, que, novamente, parecia quase tranquilo enquanto esperava o veredicto. A loira começou a caminhar de um lado para o outro, seus passos afundavam na relva macia. Ela observava as borboletas no céu, contando-as uma a uma na esperança de acalmar sua mente agitada.
Susana abraçava a si mesma, fazia uma prece silenciosa, cada respiração era pesada com a incerteza do destino de seu irmão caçula. Pedro permaneceu de pé, observando o horizonte com uma expressão séria, enquanto Lúcia murmurava entre lágrimas "Oh, Edmundo".
Os castores também mantinham-se próximos um do outro, suas patas entrelaçadas. Os centauros, inquietos, batiam seus cascos ritmadamente no chão. Finalmente, a voz de Aslam rompeu o silêncio, ecoando pelo acampamento enquanto ele e a feiticeira saíam da tenda. Nina prendeu sua respiração.
— Ela renunciou ao direito que tinha ao sangue. — anunciou o Leão, fazendo com que Nina suspirasse aliviada ouvindo os gritos de alegria que ecoaram pelo acampamento. Lúcia correu para abraçar o irmão, com Pedro e Susana logo atrás. Contudo, a menina se manteve parada, observando a expressão alegre no rosto da mulher enquanto ela caminhava de volta para seu trono de ferro.
A feiticeira, de repente, parou no meio do caminho, com uma expressão feroz de desconfiança:
— Quem me garante que a promessa será cumprida?
Promessa... que promessa? A mente de Nina estava a um turbilhão. Então eles haviam feito um acordo. Nesse momento, antes que ela pudesse pensar mais sobre o assunto, Aslam rugiu com uma intensidade avassaladora. Suas fauces escancaradas emitiram um rugido ensurdecedor que ecoou por Nárnia. A feiticeira, atônita, sentou-se em seu trono e saiu depressa com as suas criaturas, como se estivesse em perigo. O clima tornou-se novamente alegre, mas Nina não conseguiu parar de pensar no sorriso sombrio de Jadis.
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Nas horas seguintes houve uma agitação crescente no acampamento, como se algo de grande importância estivesse se aproximando. O dia que até então estava ensolarado ficou, de repente, cinzento. Enquanto foi buscar água para ela e para as meninas, Nina se deparou com Pedro, cujo semblante era sério.
— Por que estão todos tão agitados? — a pergunta da loira pareceu despertar o menino do devaneio.
Pedro sorriu, mas seus olhos transmitiram uma tensão contida.
— Não se preocupe, Nina. Estamos apenas repassando algumas estratégias, discutindo planos de Aslam.
A resposta não foi suficiente para dissipar a preocupação da garota.
— Tem certeza que está tudo bem? — insistiu ela, notando mapas nas mãos de Pedro.
Ele respirou fundo, uma mão reconfortante em seu ombro.
—Querendo ou não, Nina, Nárnia está em guerra. Mas não se preocupe, estamos cuidando de tudo — desviando o olhar para o balde cheio de água que a menina carregava o mais velho sorriu. — Precisa de ajuda para carregar a água até a tenda?
Nina sorriu nervosa para ele, mas recusou a oferta. Não estava satisfeita com a resposta, precisava encontrar Quíron. Após deixar a água na barraca, ela correu entre as tendas até avistar o centauro polindo seu escudo.
— Quíron... — chamou ela, buscando orientação.
O centauro abaixou seu olhar até ela, erguendo uma sobrancelha em curiosidade. Alguns faunos passarem correndo ao lado.
— Estão todos com tanta pressa hoje... — murmurou ela, enquanto o centauro continuava polindo o escudo.
— Infelizmente o tempo é curto, criança. —contou ele, com um suspiro. Quíron então apontou para o céu, onde as estrelas começavam a cintilar no crepúsculo. — As estrelas se alinharam. É hora de nos prepararmos para uma nova jornada.
O centauro voltou a polir o escudo, sem mais explicações. Nina suspirou, as palavras enigmática de Quíron apenas a deixaram mais frustrada. Seu amigo realmente não era um dos mais comunicativos.
Queria falar para ele que ela não entendia muito sobre as estrelas, mas não querendo o atrapalhar, a garota só assentiu sentindo a inquietação do acampamento aumentando.
Com um gesto de despedida, ela se afastou indo em direção a sua tenda. Enquanto caminhava, observou o sol se pondo no horizonte, um sentimento ruim estava em seu âmago. Abrindo o tecido sedoso da tenda, por um tempo ficou deitada na rede, sem conseguir dormir. Quando finalmente cedeu ao cansaço e adormeceu, a escuridão já tomava conta do acampamento. O silêncio reinava, acompanhado por uma brisa suave.
Entretanto, seu sono foi interrompido com o som inconfundível de um graveto se partindo ao meio... crack. Instintivamente, a menina acordou, mas antes que pudesse entender o que estava acontecendo, uma mão foi pressionada contra sua boca, silenciando qualquer grito de surpresa que pudesse escapar. Para seu alívio, era Susana, com os olhos arregalados em alerta. Nina piscou várias vezes tentando entender o que estava acontecendo. Com um gesto, Nina e Lúcia levantaram-se em silêncio, seguindo Susana para fora da tenda.
A noite estava calma, mas uma tensão elétrica pairava no ar, as três podiam sentir. Elas avançaram furtivamente pela escuridão, seus passos leves. O coração de Nina disparou em surpresa ao perceber quem seguiam: o imponente Leão caminhava solitário, cada vez mais para o fundo da floresta. Seu olhar triste contrastava com sua grandiosidade habitual, lançando uma sombra de melancolia sobre a paisagem.
Ao atravessarem uma clareira, onde não havia sombras nas quais pudessem se esconder, as meninas viram Aslam parar e olhar em volta. Não adiantava fugir, então foram ao seu encontro.
— Crianças, por que não estão dormindo? — perguntou Aslam, sua voz ressoando suavemente na noite.
— Não conseguimos dormir — explicou a mais nova.
— Por favor, podemos ir com você? — a voz de Susana saiu como um pedido desesperado, seu tom carregado de ansiedade. Nina deu um passo à frente:
— Queremos estar com você, Aslam. Não importa para onde esteja indo... — sua voz soou firme. Sentia no fundo de seu coração que era o certo a se fazer.
O Leão pareceu ponderar por um instante, antes de sorrir tristemente.
— Bem... — começou Aslam, — Vou apreciar a companhia de amigos esta noite. Podem vir... desde que me prometam parar quando eu pedir e me deixem continuar sozinho depois.
— Prometemos —respondeu Nina, suavemente. As irmãs assentiram também.
Elas marcharam ao lado do Leão, seus dedos entrelaçados em sua juba. Nina não conseguia compreender completamente a tristeza que o envolvia, mas estava decida em apoiá-lo. Quando chegaram à última árvore antes da clareira, Aslam parou e se dirigiu à elas com uma expressão séria. Nina, Susana e Lúcia trocaram olhares nervosos, sem compreender o que estava por vir.
— Agora devo continuar sozinho. Não importa o que aconteça, mantenham-se escondidas. Confiem em mim... eu agradeço pela companhia até aqui.
Nina sentiu as lágrimas escorrendo pela bochecha, não sabia exatamente por que estava chorando. Enquanto Aslam sumia entre as árvores as meninas foram se esconder nas últimas moitas, observando com o coração apertado enquanto uma multidão se reunia em uma mesa de pedra. Sob o clarão do luar, as tochas ardiam em chamas sinistras.
Uma variedade assustadora de criaturas estavam presentes: ogros de dentes afiados, minotauros gigantes, matilhas de lobo, anões armados, espíritos malignos e bruxas. Era como se todos os servos da feiticeira tivessem sido convocados.
Quando viram o Leão se aproximar, um coro de uivos e grunhidos ecoou. Nina, com o coração na boca, aguardava o ataque de Aslam, mas nada aconteceu. Ao invés disso, Aslam foi amarrado, aos chutes, cuspes e gritos.
Mesmo sob o ataque brutal, o Leão permaneceu quieto.
— Por que ele não reage!? — a loira soluçou, enquanto suas amigas observavam tudo igualmente confusas.
Eles o amordaçaram e arrastaram até o centro da grande mesa, por um segundo o silêncio reinou. A feiticeira sorriu mandando que cortassem sua juba.
— Covardes... covardes sujos! — dessa vez Susana sussurrou, segurando uma Lúcia chorona em seu colo.
Enquanto a feiticeira preparava o golpe final, o ar parecia pulsar com uma tensão insuportável, as meninas mal conseguiam respirar. Nina fechou os olhos, incapaz de olhar a cena, mas seu coração sentiu o instante que a vida saiu do Rei dos Bosques. Em contraste aos urros de comemoração na mesa de pedra, atrás das moitas, a cerca de trinta metros de distância, Susana, Nina e Lúcia soluçavam, abraçadas em luto, após presenciarem o ato mais desumano de suas vidas.
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Pareceu passar uma eternidade até que os monstros deixassem a Mesa de Pedra. Elas esperaram, pacientemente, enquanto eles saíram aos gritos, deixando para trás o corpo sem vida do Leão.
À medida que subiam a colina em direção à Aslam, a luz da lua iluminava o cenário sombrio. Ajoelharam-se diante ao corpo e beijaram seu rosto frio, acariciando o que restava de sua majestosa juba. Determinadas a honrar Aslam, elas limparam o sangue e removeram a mordaça que o aprisionava, seus dedos lutando contra os nós até conseguirem o libertar — notem que havia nós tão apertados que não podiam ser desfeitos. O alívio momentâneo de vê-lo sem o empecilho logo deu lugar a uma nova onde de tristeza.
O peito de Nina doía de tanto chorar, suas lágrimas se misturavam com as de Susana e Lúcia, que permaneciam agarradas ao corpo sem vida. Decidia a dar a difícil notícia, Nina se levantou, suas pernas tremiam sob o peso da dor.
— Nós precisamos... precisamos alertar os outros. — A voz de Nina estava trêmula, as meninas assentiam. Ainda era de madrugada, mas Nina sabia que coisas ruins se aproximavam. — Fiquem com ele, prometo voltar o quanto antes.
Nina saiu tropeçando, começou a correr o mais rápido que pode, as lágrimas embaçando sua visão enquanto ela se dirigia ao acampamento. Cada passo era uma luta contra a dor que apertava o seu peito. Chegando à tenda real, ela irrompeu, chamando os meninos em desespero.
— Pedro! Edmundo! — sua voz tremia, carregada de angústia e dor.
Foi necessário apenas algum segundos para que eles saíssem apressadamente da tenda, com as armas em mão, alarmados pelo desespero na voz da menina. O rosto da loira estava completamente vermelho quando se lançou sobre eles, abraçando-os com força enquanto lágrimas silenciosas continuavam a escorrer.
— O que aconteceu? — Pedro perguntou, seu coração batendo forte enquanto segurava a menina em seus braços. Era uma cena de partir o coração e alguns narnianos acordaram com a comoção.
O acampamento ficou em silêncio quando a voz rouca de Nina sussurrou, em meio a um soluço, enquanto tentava explicar o que testemunhara:
— Aslam está morto. — e então, todos sentiram sua dor.
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i. Quem mais chora toda vez que assiste/ lê essa cena? 💔.•*
ii. Não seja um leitor fantasma, apoie a história com algum comentário e um voto ⭐️.
Joy
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