⤷ capitulo IX
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Nárnia, anos 1000
|O Início da Primavera|
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Nina Grace Kirke caminhava ao lado dos irmãos Pevensie, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros, ainda absorta nas palavras de Noel. O ar estava impregnado com uma mistura de expectativa e apreensão enquanto eles continuavam sua jornada em direção ao acampamento de Aslam. Por um momento, a menina permitiu que seus pensamentos voassem até Edmundo, esperava que ele estivesse bem. Contudo deixou suas preocupações de lado quando, após tanto tempo, sentiu uma brisa quente beijar seu rosto.
A menina observava maravilhada enquanto Nárnia começava a se transformar diante de seus olhos. A terra congelada começava a derreter sob os raios do sol, uma paisagem deslumbrante. A neve escondia um chão coberto de musgo e pedras de cascalho. O canto dos pássaros enchia o ar, acompanhado pelo murmúrio suave do vento nos galhos das árvores. Era como se toda a natureza estivesse celebrando.
— Parece que chegamos um pouco tarde... — comentou o Sr. Castor um pouco mais à frente do grupo. Todos se aproximaram. — Esse é o rio congelado, o qual precisamos atravessar.
Nina sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber a delicada situação em que se encontravam. O rio, que outrora servia como uma rota segura, agora se transformava em uma ameaça iminente, suas águas revoltas refletindo o brilho do sol primaveril. Era como se Nárnia estivesse despertando do longo sono do inverno.
— Não parece muito seguro — pontuou Susana, — Não há outra maneira de atravessar ?
Enquanto observavam o rio, a loira podia sentir a tensão crescendo entre eles. O Sr. Castor, com sua expressão seria, confirmou o que todos temiam: não havia outra opção senão atravessar aquele rio perigoso.
— Não temos muito tempo, me sigam... — O castor, com sua experiência, foi o primeiro a se adiantar, afofando o gelo com suas patas para testar a firmeza do gelo. Seu olhar determinado transmitia uma confiança ilusória, mas reconfortante. Sra. Castor segurava as mãos de Lúcia.
Com um gesto de aprovação do Sr. Castor, os outros seguiram, avançando com passos cauteloso sobre o gelo fino. A Sra. Castor foi por último, garantido estabilidade no final do grupo. Cada passo era acompanhado pelo ranger do gelo sob seus pés, uma sinfonia inquietante. Nina sentiu seu coração pulsar, os olhos fixos na margem oposta.
Mas antes que o grupo pudesse alcançar a margem, uivos ecoaram, fazendo o coração da menina disparar. Os lobos estavam se aproximando. Ela olhou ao redor, vendo a preocupação no rosto de seus amigos enquanto tentavam caminhar mais rápido. O gelo era muito instável e nadar pelo rio descongelado era suicídio, a correnteza os afogaria.
— Rápido, temos que nos apressar! — exclamou Pedro, sua voz carregada de urgência.
Nina sentiu a ansiedade crescer, enquanto acelerava o passo. Cada respiração era uma luta contra o medo que ameaçava a consumir. O som dos uivos ficaram mais altos, enchendo o ar com uma sensação de perigo. De repente, um rosnado ecoou de cima, fazendo com que todos se encolhessem. Maugrim e sua matilha de lobos emergiram das sombras, seus olhos brilhando em malícia enquanto avançavam até o grupo. Estavam em cima da cachoeira.
Grace sentiu um arrepio percorrer sua espinha, precisavam atravessar mais rápido, já estavam tão perto. O som suave da água corrente se misturava com o ranger distante do gelo se partindo. A menina ajustou a alça de sua bolsa, sentindo o peso da flauta mágica.
— Ah, vejam só o que temos aqui... — ronronou Maugrim, sua voz carregada de sarcasmo. — Os filhos de Adão e de Eva.
Nina praguejou quando o lobo pulou, caindo diretamente em frente ao grupo. O Sr. Castor tentou contê-lo, mas um lobo raivoso se lançou contra ele com fúria, derrubando-o com um golpe. A Sra. Castor gritou preocupada com o marido.
Pedro ergueu a cabeça com determinação, sua espada reluzindo. Lúcia, a mais jovem, segurou firme a mão de Nina, buscando por apoio.
— Não se preocupe.— sussurrou a loira, tentando manter a calma em meio à tensão crescente.
Enquanto Maugrim avançava, os amigos se preparavam para o combate. Pedro deu um passo a frente, empunhando a espada.
— Entregue sua espada ! — rosnou o lobo, sua voz ameaçadora, — Vocês não tem chance contra nós.
Susana olhou para o líder dos lobos, que se aproximava com uma expressão maliciosa. Nina começou a pensar em mil soluções para o perigo iminente.
— Pedro... — murmurou Susana, — Será que não deveríamos... não é hora de bancar o herói !
Nina observou Susana, boquiaberta. Não era possível que a menina acreditava que os lobos os deixariam sair ilesos. Maugrim interrompeu com uma voz suave.
— Por que arriscar suas vidas quando podem se render pacificamente? — Nina não confiava no animal. — A Rainha Jadis é misericordiosa, só quer que saiam de seu reino. Vamos poupá-los, escute a sua irmã!
— Não o escute, Pedro! — o Sr. Castor gemeu de dor, ao ser jogado mais uma vez. — Ela vai matá-los, use a espada!
Antes que a matilha se aproximasse mais, Grace levou a flauta aos lábios, sentindo a madeira sob seus dedos. Ela fechou os olhos por um momento, concentrando-se na música que fluía através dela. A melodia era suave, se espalhava pelo ar como uma brisa. Enquanto tocava, a melodia parecia ganhar vida própria, envolvendo os lobos. Seus olhares ferozes começaram a amolecer, seus passos hesitantes enquanto a música mágica preenchia o ar. No entanto, a tranquilidade momentânea foi interrompida por um estrondo ensurdecedor.
A cachoeira congelada começou a rachar, enviando ondas de choque através da superfície gelada. Os olhos de Nina se arregalaram em pânico quando ela percebeu que iria se afogar. Antes que pudesse reagir, Pedro saltou para a ação, agarrando-a pela cintura e puxando-a para perto de si.
— Aproximem-se de mim! — gritou ele. Susana, Lúcia e Nina agarram-se ao mais velho. O coração do loiro batia freneticamente, procurava uma maneira de proteger sua família, seus amigos.
Com determinação, Pedro cravou sua espada no chão, usando-a como uma âncora.
— Segurem-se! — a voz de Pedro ecoou pela ravina enquanto a queda d'água descongelava completamente, explodindo em uma cascata de água que engoliu os lobos.
Logo depois o impacto os atingiu com força total. A água era congelante, Nina fechou os olhos, a força da água ameaçando arrastá-los. Mas enquanto se agarravam uns aos outros, eles se mantiveram firme. E quando finalmente emergiram do tumulto das águas, eles se encontraram em terra firme, tremendo e ofegantes, mas vivos.
O ar fresco da primavera encheu seus pulmões, trazendo um alívio bem-vindo após o caos. Nina, ainda recuperando o fôlego, tirou o casaco enquanto se deitava na grama verde, sentindo a textura macia sob seu corpo. Os raios de sol esquentavam seu corpo, dolorido por conta do frio. A menina ainda segurava a flauta entre seus dedos. Um sorriso radiante iluminava seu rosto.
Susana se aproximou dela, agarrou o rosto da amiga como se inspecionasse por ferimentos e, quando não encontrou, a abraçou com força, as duas riram alegremente. Estavam vivas. Os castores ao lado sacudiam os pelos, sorrindo também.
A mais velha dos Pevensie se levantou e correu para abraçar o irmão, o calor do abraço transmitindo conforto. Nina foi a próxima a abraçá-lo. Mas a alegria logo se transformou em preocupação quando ela olhou ao redor e percebeu a ausência de Lúcia.
— Cadê a Lúcia? — perguntou Susana antes, com a voz trêmula. Pedro arregalou os olhos ao perceber que o casaco de Lúcia estava em suas mãos, mas sua irmãzinha não.
Um silêncio tenso pairou sobre o grupo enquanto eles procuravam freneticamente pela mais nova. E então uma voz surgiu entre eles:
— Alguém viu o meu casaco ? — perguntou Lu, aparecendo de trás de uma moita e se chacoalhando, um sorriso travesso em seu rosto.
Com um suspiro de alívio, Pedro olhou para Lúcia.
— Você quer nos matar de susto? — brincou ele, embora seus olhos revelassem o quão preocupado ele tinha estado.
Susana coreu até eles. Esfregou os braços de sua irmã, tentando a aquecer e deu um beijo em sua bochecha. Nina observou a cena com um sorriso, sentindo o carinho entre os irmãos.
— Você tem um curioso hábito de sumir, Lú! — disse a loira, em um tom suave. Lúcia sorriu, sentindo-se confortada quando Pedro lhe entregou seu casaco.
— Bom, não acho que vão precisar mais de casacos — afirmou a Sra. Castor e, realmente, ela parecia estar certa. O sol os banhava em uma luz dourada e calorosa. As árvores suspiravam suavemente ao vento, as folhas dançando em uma melodia invisível. Os seis se entreolharam, sorrindo.
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Após tiraram seus casacos, todos se sentiam mais leve à medida que caminhavam pela floresta. A paisagem era de uma beleza incomparável, flores desabrochavam por toda a parte, suas cores vibrantes pintando o cenário e seu aroma perfumando o ar. Nina e Lúcia, as mais novas, se entreolharam maravilhadas, envoltas na atmosfera mágica que as cercava. Lúcia correu até Nina, tocando lhe o braço.
— Duvido você me alcançar! — a menor saiu correndo, com um sorriso maroto no rosto. Nina saiu correndo atrás dela. Suas risadas ecoando pela floresta enquanto as árvores dançantes riam de suas brincadeiras. Cada passo que davam era acompanhado pelo som suave da natureza se regenerando ao seu redor. Lúcia parou admirada, observando o que parecia uma fada de pétalas cor de rosas.
— Te peguei ! — exclamou Nina, rindo. Mas as duas ficarem paradas, observando de olhos arregalados a vista. Eram montanhas de pradarias verdes, Nina pode avistar algumas tendas coloridas e ao longe, bem ao longe, podia se avistar o reino congelado da feiticeira. Em concordância voltaram para perto do grupo.
Ao passo que se aproximavam do acampamento, a magia de Nárnia os envolveu, transformando o cenário ao seu redor em um espetáculo de cores e luzes. Tendas de seda brilhante, rubras e douradas, se erguiam entre as árvores iluminadas por lanternas cintilantes. O campo estava repleto de atividades, enquanto seres mágicos se moviam habilmente entre as tendas, afinando suas espadas e polindo seus escudos de guerra. Nina tentou arrumar seu cabelo, ainda úmido, ao se deparar com tantos seres. De repente, se sentiu muito vulnerável com os olhos curiosos em sua direção.
O exército de Aslam era grande e diverso. Centauros gigantes com expressões sérias enquanto discutiam estratégias de batalha. Ao lado, figuras majestosas como o unicórnio branco que conversava com uma onça pintada. Havia diversos faunos, grifos, esquilos, de tudo um pouco. Todos, sem exceção, pararam suas atividades para os observar.
Murmúrios de surpresa se espalharam pelo acampamento. Os olhares curiosos e emocionados se voltaram para o grupo, enquanto se aproximavam da grande tenda ao centro do acampamento.
— Por que estão nos encarando? — perguntou Lúcia, com uma expressão confusa.
Nina lançou um olhar tranquilizador para a mais nova antes de responder.
— Talvez porque achem nossos rostos engraçados... — sugeriu ela, tentando aliviar a tensão. No entanto, estava tão vermelha quanto Lúcia diante do olhar penetrante do exército. A Sra. Castor, parecia igualmente envergonhada.
Nina resolveu então observar as criaturas ao seu redor, sua atenção se desviou para a floresta de onde um grupo de cervos emergiu, suas galhadas adornadas. A loira sorriu surpresa quando eles se curvaram graciosamente diante dela, como se dessem boas vindas. A menina continuou caminhando junto a Lúcia, Susana e Pedro, até que pararam em frente a tenda central. Nina observou quando um centauro assoprou sua trompa, como se anunciasse os recém chegados. Sem esperar, Pedro deu alguns passos à frente.
— Viemos ver Aslam! — anunciou o menino.
E então, como se em resposta ao pedido, a entrada da tenda se abriu e um majestoso Leão emergiu. Ele era gigante, o centauro pareceu quase pequeno ao seu lado. Nina prendeu a respiração quando seus olhos encontraram os dele, dourados e radiantes com sabedoria e compaixão. Uma sensação de admiração a envolveu quando a figura imponente de Aslam se aproximou.
A presença dele tinha uma energia indiscritível, como se estivessem envolvidos por uma aura poderosa. O coração de Nina batia rapidamente ao testemunhar a magnitude da presença de Aslam.
Todos presentes se ajoelharam. Nina fechou os olhos, sentindo a emoção do momento.
— Levante-se e seja bem-vindo, Pedro, Filho de Adão.
A voz de Aslam saiu firme e Nina sentiu quando Pedro levantou-se, ao seu lado.
— Levantem-se e sejam bem-vindas, Susana, Lúcia e Nina Grace, Filhas de Eva. Bem vindos, Sr e Sra Castor — cumprimentou Aslam, sua voz profunda ecoou pelo campo.
Nina abriu os olhos e levantou lentamente. Ela observava o Leão a sua frente, apesar de suas preocupações, ela sabia que estavam no lugar certo.
— Mas por onde anda o quinto humano? — perguntou Aslam, sua voz refletindo preocupação.
— Quis traí-los e aderiu à Feiticeira Branca! — respondeu o Sr. Castor, com pesar. Nina encarou o Leão preocupada, se perguntava se ele ainda os ajudaria depois de saber da verdade.
Num impulso, Pedro disse:
— Em parte, foi culpa minha, Aslam. Fiquei zangado com ele, fui muito duro...
Um silêncio pesado pairou sobre o grupo enquanto absorviam a notícia sombria. Os nárnianos pareciam revoltados.
— Basta! — rugiu o Leão, o acampamento se silenciou novamente.
— Por favor, Aslam, ele é nosso irmão! — implorou Lúcia, com os olhos brilhando de esperança.
— Ele não tem culpa, senhor — exclamou Nina, a loira se sentiu pequena diante do olhar firme de Aslam, porém prosseguiu, — Edmundo não sabia no que estava se metendo.
O Leão ficou em silêncio por um instante, sua expressão era de tristeza.
— Faremos o que for preciso. Mas pode ser mais difícil do que imaginam. — respondeu Aslam. Isso foi suficiente para que os Pevensie e Nina sorrissem aliviados.
Aslam sorriu para os presente, espantando o clima tenso que havia acometido o campo.
— Mas antes, vamos festejar a tão aguardada chegada dos filhos de Adão e de Eva! — O exército de Aslam gritou em alegria, uma energia vibrante que fez com que Nina sorrisse. — Acomodem as filhas de Eva na barraca real, filho de Adão eu gostaria de falar a sós com você.
Nina sorriu encorajando seu amigo, antes de sair correndo atrás de Lúcia. Susana as acompanhou sorrindo. Estavam finalmente no acampamento de Aslam!
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i. Animados para os próximos capítulos, caros leitores? .•*
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Joy
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