⤷ capitulo II
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Londres, 1943
|Os Bombardeios em Londres|
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Desde o início da guerra há quatro anos, a vida de Nina transformou-se, assim como a de todos. Seu pai, mergulhado em preocupações e responsabilidades, passava longas horas isolados em seu escritório, mal saindo para as refeições. Já Dona Marta, ela tornara-se mais rígida e era nas aulas onde a encontrava usualmente. A atmosfera de tensão pairava sobre a casa, intensificada pelos noticiários carregados de tragédias. Sentindo um peso sobre suas pernas Nina, agora com doze anos, observou seu gatinho, Sra. Carlota, que pulou sobre seu colo se acomodando.
Apesar de tudo, luz de esperança brilhava em sua vida, além de sua gata, havia seu amigo Max. Semanalmente eles trocavam cartas, compartilhando suas preocupações, medos e, às vezes, momentos de alegria. E era exatamente o que fazia naquela manhã, com delicadeza, a menina mergulhou a pena no tinteiro e começou a escrever uma carta para seu amigo.
7 de Setembro, 1940.
Querido Max,
Espero que essa carta o encontre bem e em segurança. Tenho ouvido relatos assustadores sobre os ataques aéreos em Londres e não consigo deixar de pensar em você. Por favor, prometa-me que está se cuidando.
Aqui em casa, as coisas estão prestes a mudar. Recentemente, papai decidiu acolher os filhos de primos distantes que foram evacuados da cidade. São quatro irmãos, os irmãos Pevensie. Confesso que estou um tanto ansiosa com a chegada deles, espero que sejam legais.
Às vezes, imagino como seria se você estivesse conosco. Mas, por enquanto, suas cartas são meu refúgio e isso me basta. Espero que essa carta traga um pouco de alegria ao seu dia, assim como suas palavras sempre trazem ao meu.
Com muito amor,
da sua melhor amiga
Nina Grace Kirke
Com um sorriso satisfeito, Nina observou a carta cuidadosamente escrita. Levantando-se com calma, ela saiu em busca do envelope e, ao encontrá-lo, começou a embrulhar a carta, finalizando com um selo de cera que ostentava o brasão dos Kirke. Antes que pudesse ponderar sobre como passaria o restante da tarde, um claro e longo chamado ecoou pela casa: NINA DESÇA AQUI JÁ.
Meio nervosa, a garota arrumou seu cabelo, uma mania que havia adquirido recentemente, e desceu lentamente as intermináveis escadas de sua casa, escolhendo caminhos mais longos propositalmente. Quando finalmente chegou à sala, viu Dona Marta com ambas as mãos na cintura, encarando-a com um olhar irritado.
— Quanta demora ! — Dona Marta parecia prestes a brigar com a menina, mas acabou apenas suspirando cansada — Preciso que vá buscar alguns mantimentos para o almoço. Então preste atenção, vá até a cidade e busque esses itens que anotei aqui.
Nina pegou o papel e observou os itens que precisava comprar. Sem perder tempo, ela se dirigiu à porta, mas antes que pudesse sair, Dona Marta a interrompeu:
— E não se esqueça de dar um pouco de leite para a Carlota. Não vai matar sua gata de fome, menina!
Nina riu, mas assentiu enquanto saia em direção a cidade.
✿
Do outro lado de Londres, em meio a muitas despedidas e abraços, os irmãos Pevensie se acomodavam no pequeno, porém confortável, trem. Estavam se preparando para uma jornada cheia de incertezas, rumo à casa do velho Professor Kirke. Enquanto se despediam de sua mãe, podiam ouvir o som distante de bombardeios e sirenes, que os impulsionava ainda mais a buscar refúgio longe da cidade. Lúcia, a mais nova, segurava firmemente o braço de seu irmão mais velho, Pedro, em busca de conforto. Ele, por sua vez, tentava manter a compostura, mas seu olhar era carregado de incertezas. Susana, alguns anos mais nova que Pedro, tentava distrair-se com um livro, enquanto Edmundo fitava a paisagem pela janela, imerso em seus próprios pensamentos.
À medida que as horas se arrastavam, os irmãos Pevensie passavam o tempo entre cochilos rápidos, breves caminhadas pelo trem para aliviar a rigidez nas pernas e retomar o sono. Com cada parada, Lúcia sentia uma pontada de ansiedade crescer em seu peito. A viagem parecia se estender infinitamente, e ela começava a se perguntar se a casa do professor realmente ficava na Inglaterra. Talvez fosse em algum país distante. A sensação de solidão no vagão era esmagadora, mesmo em meio aos irmãos, e Lúcia ansiava desesperadamente por uma conversa para quebrar o silêncio.
— Lu? Você, uh, poderia não chutar minhas pernas? — a pergunta de Pedro surgiu de repente, arrancando um sorriso divertido dos outros irmãos. Lúcia percebeu imediatamente que estava balançando suas pernas de forma inquieta, acertando a canela de seu irmão mais velho. Com um olhar envergonhando, desculpou-se, segurando firmemente seu coelhinho de pelúcia.
— Desculpa — murmurou a pequena Pevensie, seus grandes olhos arregalados. Notando que seus irmãos iriam voltar ao silêncio, a menina exclamou uma pergunta, — mamãe me contou que o professor tem uma filha adotiva, sabiam?
— Uma filha adotiva ? — repetiu Susana, surpresa. — Não sabia disso, pois eu acho maravilhoso, Lú, significa que não estaremos em uma casa só com gente mais velha.
Edmundo revirou os olhos, dando de ombros.
— Uma filha adotiva? Aposto que ela é tão sem graça quanto o velho professor. — ele murmurou, olhando para fora da janela.
— Você nem os conhece, não seja tão rude. — Pedro repreendeu o irmão.
— Largue de ser assim, Ed. Parece que nasceu com um talento natural para reclamar de tudo. — Susana continuou com o sermão.
— Ora, vocês que começaram tagarelando como velhas fofoqueiras. — rebateu Edmundo — Eu só estava sendo realista. Não me importo de ter mais uma pessoa por perto, contanto que ela não seja chata como vocês.
Pedro revirou os olhos, diante da insensibilidade do irmão. Susana suspirou, cansada da atitude, mas não alimentou a discussão. Com medo de ficarem em silêncio novamente, Lúcia interrompeu com mais uma pergunta:
— Quando é que vamos chegar?
Um suspiro coletivo encheu o vagão. Não era a primeira vez que Lúcia fazia essa pergunta, e certamente não seria a última.
— Não tem como saber Lúcia, não somos adivinhas! — respondeu Edmundo, com uma ponta de irritação na voz. Seus irmãos mais velhos mal deram atenção à sua falta de delicadeza; estavam todos muito cansados.
Enquanto isso, Susana deixou seu livro de lado e observou a paisagem que passava pela janela. Com olhos atentos, notou que já deviam estar no interior.
— Não se preocupe Lúcia, não deve faltar muito — tranquilizou-a — Vejam, a casa do professor Kirke fica no interior, por isso é um pouco longe da grande cidade, mas já estamos perto, eu tenho certeza.
E Susana não estava errada. Foram apenas mais duas paradas até serem chamados para desembarcar. Mal sabiam que teriam que esperar por uma longa hora pela rabugenta Dona Marta.
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i. Para não ter confusão sobre a idade da Nina: no prólogo ela é um bebê, no primeiro capítulo uma criança de oito anos e agora ela tem 12 anos, ao longo desse livro não terá mais alterações na idade dela. Era só pra esclarecer isso mesmo gente.•*
ii. Não seja um leitor fantasma, apoie a história com algum comentário e um voto ⭐️.
iii. Sobre o Max, ele e a Nina mantiveram contato e ficaram super amigos, ele mora em Londres e ela no interior e na maior parte do tempo a amizade deles é a distância, com cartas.•*
Joy
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