9-Novo Lar
Estados Unidos. 1943
Havíamos nos acomodado bem na cidade, já fazia uns dois anos que estávamos nos adaptando ao novo lar —, antes de ir para a parte urbana da cidade, estávamos numa pequena casa de campo no lado rural e afastado da cidade o suficiente para ter somente nós ali. Ficamos por mais de dez anos ali sem ninguém nos perturbar.
Aquele garoto havia se dissipado de nossas vidas havia um bom tempo, foi adotado por um casal rico e bem generoso.
— Aonde vai? — Perguntei a Ursel, o seguindo sem estar exatamente o seguindo.
Seus passos eram apressados e seu humor não parecia bom.
— Para que quer saber? Vai me seguir? Seria bem típico este comportamento vindo de você... — Ursel levou o olhar ao chão, talvez recordando algo.
— Acha que sou tão medíocre a ponto de fazer uma coisa assim? O que ganharia com isto? — Ursel apenas lançou um olhar desinteressado a mim e me deu as costas.
— Não me dê as costas! — Quase gritei com ele, puxando a barra da farda para baixo a ajeitando no corpo.
— Eu deveria ter te dado as costas há muito tempo atrás Austin! — Gritou se virando, parecendo um tornado de tão irritado.
Apenas engoli suas palavras em silêncio.
Ele me olhava como se eu fosse o ser mais desprezível e indigno de receber qualquer sentimento.
— Não me siga! Não vou ter ¹condolência e ver você estragar minha oportunidade de tentar ser feliz de novo... Meu erro foi não ter te dado as costas quando deveria. — Ele parecia se odiar por isto... Vi o ódio e rancor engolirem seus olhos escuros.
Estufei o peito, mantendo o orgulho.
— Faça isto. — Foi a única coisa que passou pela minha mente naquele momento.
Ursel bufou abafada e saio dando me as costas de novo, sem olhar para trás.
Estava na linha de frente, um soldado americano. Esperando por ordens para um novo ataque e alerta, não podia-se baixar a guarda, os japoneses sempre estariam ali a espreita como cães prestes a atacar.
Imprevisíveis.
Abrir fogo contra as ilhas Midway que eram pequenas ilhas localizadas a 4 mil quilômetros do Japão. (Em 1942)
Nossos ataques tinham como objetivo interromper as rotas de suprimento dos aliados na Austrália.
Afundamos quatro de seus porta aviões, Kaga, Soryu, Akagi e Hiryu, eles perderam muito de sua marinha.
A inferioridade marítima afetou o abastecimento do Japão, por ser uma ilha bem escassa de recursos.
Agora aguardava ordens do tenente coronel, e ele do tenente capitão.
E eu, um soldado que tinha muita confiança dos tenentes.
O general de exército destinava a mim, pequenas observações nos soldados e checagem dos armamentos, entre outras coisas.
Ursel não queria ir para guerra, então justificou dizendo que era incapacitado, coxo. Assim que veio a intimação a prestar serviço a favor do país.
Meu pai já era considerado "velho", Safira se "candidatou", como enfermeira nas bases em prontidão pra socorro quando começam os ataques e soldados entre outros se feriam.
Conheceu um major e óbvio... Se apaixonou, os generais confiavam nele de olhos fechados e era sempre elogiado, prestigiado, foi o suficiente para impressiona-lá.
Não o apresentou a Magnus ou Verena, mas sabiam que ela estava se relacionando com o maior cheio ar de superioridade e peito estufado.
Ridículo.
Todos estavam arriscando nossas vidas nestes combates e ataques, é só ele se sentia a mercê do mal que nos rondava.
— Bom dia soldado, como passou a noite? — O major cheio de graça, entrou na tenda do comando militar.
Revirei os olhos só de ouvir sua voz.
Mais a frente ficava a tenda da enfermeira, onde Safira e mulheres de 20 a 30 anos estavam a disposição.
— Bem. — Foi apenas o que disse, sem nenhum interesse em ouvi-lo continuar tagarelando.
O tenente-capitães patenteava o mapa dos territórios ao redor do território, onde os japoneses poderiam atacar a qualquer momento e toneladas de cimentos voarem, revidando o que fizemos com eles.
— Alguma suposição sobre os ataques general? — Disse olhando o mapa sob a mesa de ferro, como se fosse um próprio superior no pelotão.
Exalava arrogância.
— Não se esqueça que você é major, não se intrometa onde não lhe cabe. — Proferiu o tenente lançando um olhar cortante ao major.
Oliver o encarou e quase puder ouvir seus pensamentos xingando o tenente agressivamente por ter cortado sua arrogância.
— A cavalaria necessita alimentação capitão. — Indagou Oliver com seu olhar feral ao tenente capitão.
— Austin, pode ir até o taifeiro? — Resmunguei um sim.
Antes que saísse rumo a tenda da alimentação, Safira entrou como um raio pela tenda esverdeada e quase me fez rodopiar com um impacto dos seus ombros batendo nos meus.
— Não pode entrar aqui senhorita Follen, se retire por favor. — O tenente Rambeau lhe disse, olhando-a, visivelmente furiosa.
Os cabelos brancos até se desprenderam do coque que fizera.
— Você não me dá ordens tenente, não sou um de seus homens! — Disparou mate do os olhos fixos a sua frente. O tenente permaneceu calado.
— Venha até aqui agora! — Oliver ficou paralisado por alguns segundos e sua pele tomou um tom mais pálido, ele se encolheu pouco, intimidado.
— Por que está tão furiosa Safira? — Questiono com a voz embargada, tremida pelo nervosismo.
Parecia ter culpa em algo, por isto estava se sentindo tão nervoso.
Safira desferiu dois tapas no seu peito o fazendo recuar para trás e logo sua palma acertou a face do major.
Todos em volta olhavam a cena, o arrogante major sendo estapeado por Safira, com medo dela.
Oliver não reagiu aos tapas.
A curiosidade despertou em meu peito.
O que Oliver tinha feito para deixar minha irmã tão irada, revoltada a ponto de ignorar até a postura educada? O tenente não era grande coisa, não para ela que peitava qualquer homem que a incomodasse ou lhe disse-se algo que não gostava.
— Seu canalha! Achou que não descobriria que engravidou a Holkien? — Berrou contra ele, como nunca a vi gritar com nenhum outro homem.
O major arregalou os olhos e se manteve encolhido, a informação deixou todos os outros soldados na tenda boquiabertos.
Logo o major que falava tanto sobre honra, se gabava sempre que podia.
Ele havia traído Safira, e isto mexeu comigo.
— Safira... Não é o que está pensando. — Safira com a palma da mão avermelhada e os fios do cabelo espalhados sob a testa, lhe desferiu outro tapa tão forte que se ouviu o estalo pela tenda toda e fez Oliver desequilibrar para trás.
Nem foi por sua força vampírica.
Vê-la tão magoado, ferida por entregar tanto de si sentimentalmente e acabar tão decepcionada. Eu já havia lhe aconselhado a não fazer isto, mas não podia culpá-la, não quando não tínhamos nada a nos agarrar... E quando encontrava alguém para chamar de seu, esquecia de tudo ao redor — literalmente.
— Nunca mais chegue perto de mim seu, salafrário! — Vociferou ofegante, o rosto avermelhado tirando o tom pálido da sua pele, os fios brancos escorrendo sob o rosto e atrapalhando sua visão.
Oliver manteve a cabeça abaixada, parecia ter finalmente visto o quanto isto a afetou, a cilada que havia metido seu caráter e jogou no lixo o sentimento da minha irmã.
Seja quem fosse a amante dele (que eu não conhecia), subiu uma onda calorosa de ódio puro em mim e me contive... Mais tarde lhe daria uma lição bem dada.
Se eu fosse considerado insano pelos meus irmãos, que fosse por um motivo bom.
🗺️
Andando pelos arredores das tendas da nossa base, senti a presença de alguém.
Ouvi seus passos se aproximando de longe com minha audição Sobrenatural.
Encarei o soldado desconhecido a minha frente assim que virei.
Sentia que o conhecia de outras bandas, mas não conseguia recordar suas feições esqueléticas — busquei no fundo da mente e não encontrei nenhum vestígio.
O jovem extremamente magro de aparência abatida, moreno dos cabelos cacheados escuros e olhos azuis feito a noite, me encarava com um sorriso estranho, como se esperava que disse-se algo.
— Não se lembra de mim senhor Follen? — Sua voz baixa perguntou.
Sua expressão era esperançosa e até alegre por me ver ao que parecia.
Não era possível.
O jovem se aproximou e puder ver minha expressão de choque ao contempla-lo.
Júlio César, eu não o reconhecerá, estava muito diferente.
Nem poderia estar vivo aquela altura... A não ser que fosse... Vampiro?
A nostalgia invadiu minha alma.
O abracei forte, como um filho.
O corpo quase anoréxica dele ficou pequeno diante de mim.
— Está vivo... Como? — Perguntei quase não conseguindo emitir som.
Júlio sorriu e mexeu os ombros.
— Fui transformado, assim como vocês são... Vampiro. — Explicou Júlio.
Ainda não acreditava no quanto havia mudado, mesmo segurando seus braços e olhando nos seus olhos.
Carne e osso... A última vez que o vi ele tinha pouco mais que 7 anos.
— Quem? — Me referi a sua transformação.
Os olhos dele pareciam brilhar em encontro de felicidade, satisfação e nostalgia, e amor fraternal.
O soltei, analisando suas roupas, era um soldado como eu.
Estava incrédulo, o mundo girava diante dos meus olhos escuros.
— Um homem chamado Garret Fildegard. — Fildegard... Aqueles infelizes que não faziam nada sem ter algo em troca ou um interesse debaixo do tapete.
Por que o transformariam? O que um simples jovem pobre como Júlio podia oferecer a eles?
— Por que fizeram isto? Onde esteve este tempo todo? — Franzi as sobrancelhas.
— Estive na costa ocidental, México. — Respondeu a primeira pergunta, bem específico — propositalmente ignorando primeira pergunta.
Me pus ao seu lado e o braço em volta do seu pescoço, começamos a caminhar, outros soldados apareceram
Um amigo. Eu poderia finalmente ter a oportunidade de ter uma amizade verdadeira. Um calor saltitante surgiu no meu peito com esperança.
Esperança.
— Por que está aqui? Deveria ter ficado lá, arriscar sua vida por estes tiranos...
Julio sorriu, parecendo achar graça na frase.
— Eu não tinha muito o que fazer lá, nem sequer tinha um companheiro. — Estreitei a expressão.
Uma leve malícia surgiu na última palavra quando ele a pronunciou.
— Então significa que é...
— Sim, Austin, sou homossexual. — Um sorrisinho seguido de uma olhada profunda para mim me fez ficar pensativo.
Não fiquei surpreso, apesar daquilo poder ser considerado um escândalo, eu tinha pensamentos a frente e não julgadores como os 99% dos outros seres humanos.
Continua...
¹ Condolência:
Pena, piedade.
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