3- Esperança Morta.
O verão era Infernal naquele lugar, as roupas me incomodavam demais, e eu estava prestes a ter mais um motivo pra incomodar meus pais sobre sairmos de Londres.
— Verena, meu amor, pode vir até aqui? — Magnus pediu a ela, atrapalhado com os afazeres.
— Sim querido, claro. — Ela saiu do sofá, onde bordava algo sob uma tela redonda e passou por mim e Safira.
— Não terá perdão. — Ela proferiu atrás de mim.
Continuei observando a paisagem pela janela.
— Ursel não irá te perdoar tão cedo. — Safira completou, se referindo ao que eu havia feito na noite anterior.
— Tinha que fazer aquilo. — Disse de modo frívolo, ainda concentrado na janela empoeirada e extensa.
— Você nunca amou ninguém? Como pode ser tão indiferente a tal sentimento Austin? — Ela parecia lutar contra sua própria mente, buscando uma resposta que fizesse sentido. Incrédula, abismada.
Ergui a cabeça e virei a ela.
— Não...Nunca amei ninguém, com exceção de vocês. — Respondi sem muito interesse.
Os olhos azuis dela estavam curiosos, mas também confusos.
— Como se sente em relação às mulheres? Não sente desejo de ter alguém para chamar de seu? — Safira gostava de saber dos meus interesses e sonhos, o que eu pensava, sobre o que queria futuramente, os medos.
— Isto nunca acontecerá, por que ficar afogando em um mar de esperanças, quando você pode sair, por saber nada? É estupidez. — Cruzei os braços, incomodado, mas também sentindo que aquilo doía, mais do que eu queria sentir.
— Não vamos viver sempre na solidão Austin, ninguém vive assim pro resto da vida. — Safira tentava fazer minha mente do contrário.
— Não posso proibir ou julgar a ti, por sonhar, mas eu não farei o mesmo, afundei na realidade verdadeira a muito tempo. — Sai andando, passando por ela e a deixando perplexa, reflexiva. E até um tanto decepcionada.
17:50 da tarde.
Elevei a ¹mosquete para frente dos olhos, mirando o pássaro distante, mas ainda sim ao meu alcance.
Atirei, e errei. Maldição.
O sol ainda ardia, mas não tanto quanto antes, já iria se pôr.
— Filho, entre, está ficando tarde e logo colocaremos o jantar. — A voz doce e baixinha de minha mãe invadiram meus ouvidos.
— Sim mãe, só deixe-me tentar mais uma vez. — Mexi na arma de novo, prestes a atirar mais uma vez.
Verena morria de medo de armas, dizia que só causavam males e violência.
— Austin, obedeça sua mãe. — Ordenou autoritária, com um leve tom de brincadeira presente na voz.
Sorri gentilmente, já sabendo que ela estaria vendo minha expressão na sua mente. Era um de seus poderes.
Ver a expressão que qualquer um, só de imaginá-lo (a), nem precisava ver de frente quem quer que fosse.
— Está bem mãe. — Cedi educadamente, mesmo querendo continuar.
No jantar.
Quanto mais eu pensava, mais me encontrava no mesmo lugar, era como uma manivela, sempre parava no mesmo ponto.
Por que ainda não havia saído nos jornais a notícia da morte da marquesa? E o fato curioso bizarro dos dois furos no pescoço, misteriosamente morta num quarto vazio.
Será que alguém nos viu saindo daqueles corredores? Será que viram Ursel entrar no local com Prissy? Estava está criatura com medo de nós? Seria outra jovem solteira e frágil? Que se amedontrou ao me ver saindo feito um ceifeiro confiante de si, e não preocupado ou arrependido do que fez.
— Querido, mal tocou na sua comida. — Disse minha mãe, limpando os lábios finos com o guardanapo. Logo em seguida colocando alguns fios de seu cabelo escuro de mechas loiras discretas levemente cacheado para trás.
Ursel olhava para mim com tanto ódio, desprezo e ressentimento. Mal piscava.
— Não estou querendo continuar mantendo a farsa, queira me perdoar mãe. — Pedi a ela, sem tirar os olhos que acabará de fixar no meu irmão.
Ele parecia querer que eu o provocasse, para que liberasse sua fera interior.
Meus pais se manteriam silenciosos por uma fração de segundos que mais pareceu um milênio.
— Por que está estranho desde ontem? Vocês dois aliás. — Safira quis saber, tirando o garfo de dentro da boca devagar e nos olhando.
Virei para ela, tirando os olhos dele e focando nela.
— Pergunte ao Ursel, ele saberá suprir seu questionamento. — Feito um raio, ele saltou acima da mesa e me atingiu, agarrando a gola de minha roupa e fazendo nos dois cairmos no chão, ele por cima de mim.
Seus olhos pura ira, quase flamejavam.
Sua mão se fechou e ele a posicionou, indicando que iria acertar meu rosto a qualquer segundo.
— URSEL! — Gritou meu pai, assustado com tal atitude. Minha mãe estava tão chocada que mal se mexia.
Safira igual.
— Conte a eles Ursel, diga o porquê de querer descontar tua ira em mim. — Continuei firme, sem querer deixá-lo a mercê do silêncio.
Ele rosnou, apertando mais minha gola contra o pescoço.
— Solte seu irmão Ursel! — Magnus o pegou pela cintura, e o tirou de cima de mim, mesmo resistindo.
Senti alguns cacos de vidro perfurarem minhas costas e o pescoço, dolorido, levantei em meio aquela bagunça e bati na roupa afim de tirar os farelos de pão.
— Não abra sua boca novamente! Não repita mais este assunto! Senão eu juro, juro que darei um jeito de te fazer parar! — Ursel gritou apontando o dedo para mim, revoltado, enquanto meu pai o segurava com dificuldade.
Minha mãe estava chateada, mas precisava falar algo com firmeza.
— Estou cansada, isto é absurdo Austin. — Disse séria, com o tom se elevando. Quase nunca isto ocorria, o seu tom se elevar. Verena era calma, compreensiva e evitava usar da exaltação pra resolver qualquer conflito.
Safira saiu de seu lugar do outro lado da mesa apressada, e me encarou cheia de fúria, meu pai levou Ursel para longe.
— Seu... Seu... ¹Vil! — Disparou como se eu fosse o próprio demônio em sua frente.
Verena dirigiu o olhar a mim, sem entender aquela situação.
— O que você fez filho? Do que ela está falando? — Questionou sem entender, me olhando esperançosa, mas ainda sim já sentindo que iria se decepcionar, outra vez.
Odiava decepciona-lá, era minha mãe e depositava sentimentos bons em mim, confiava demais, e eu sempre estava lá, destruindo seu coração bom.
— Eu matei a marquesa, Prissy Hokins. — Admiti não orgulhos da atitude.
Safira desferiu um tapa no meu rosto, cheia de ódio e indignação.
— Se você quer ser vazio e frívolo, está criatura sem nenhum sentimento bom, seja sozinho! Não destrua a nós dois também! Não nos afunde na sua lama!!! — Ela praticamente cuspia as palavras em mim, e minha mãe se manteve quieta, chateada por estarmos discutindo.
— Deveria ir para seu quarto. — Disse calmo, mas com frieza, sem ligar para suas palavras agressivas.
Safira soltou um chiado incrédula.
— Você NÃO diz o que eu devo ou não fazer! — Ela soltou com raiva os cabelos brancos, presos num coque bem feito e saiu da sala, pegando o vestido pesado e erguendo um pouco para não tropeçar.
A expressão de decepção no rosto da minha mãe estava me cortando feito lâminas afiadas.
— Perdão mãe. — Disse sentindo vontade de atirar-me num barril de pólvora e tacar fogo logo em seguida.
Ela se aproximou vagarosamente.
— Ajude-me a juntar estas coisas, afinal foram vocês que o fizeram. — Se referiu aos pratos, talheres e alimentos espalhados pelo chão de madeira oca.
Apenas acatei a ordem e agachei pra começar a limpar a bagunça.
Éramos tudo para ela, e doía muito ver-nos discutindo e até mesmo se agredindo, não escolheria um lado jamais, todos estavam sob sua defesa, não haveria um a mercê da proteção e outro a mercê do julgamento. Não teria diferença e nem preferência no tratamento entre nós três.
📌📌📌
Casa na mídia.
Só imaginem sem a sujeira.
¹ Arma parecida com a espingarda nos tempos antigos.
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