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• 𝐇𝐚𝐥𝐥𝐨𝐰𝐞𝐞𝐧 𝐒𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥 •

PARTE TRÊS
SAUDAÇÕES 1996


   É bizarro. Absolutamente bizarro, mas é aquilo que sai da boca de Ayumi Nakamura.

— O quê? — Lyna questiona. Já estava achando que estava enlouquecendo, agora só está começando a ter certeza disso.

    Como posso voltar à 1996? Não faz o menor sentido!, Lyna pensa para si mesma, Assim como não faz sentido as palavras de um caderno se tornarem reais à partir do momento que forem lidas por alguém, mas foi. Magia de Halloween.

— Eu disse que você deve ir à 1996, você precisa voltar até lá e impedir o escritor de escrever esse caderno, antes que a primeira morte aconteça.

   Lyna sente toda a tensão se espalhar no ar, as batidas de seu coração ficam mais desreguladas, e tudo o que ela queria era que alguém aparecesse e lhe dissesse que era tudo uma pegadinha, que tudo havia sido filmado, e nada era verdade, Lyna estava bem e todos os outros também, ninguém morreu, ninguém desapareceu, tudo estava normal como sempre foi. Mas nada disso acontece, pelo contrário, a mulher japonesa continua ali, encarando Lyna à espera de uma resposta.

— Mas... isso não faz sentido, como eu poderia ir à 1996?

— Com uma máquina do tempo, é claro.

  
   Ayumi disse que tem uma máquina do tempo, um apetrecho que ela trabalhou durante anos, ao qual ela dedicou toda a sua vida, todo o seu conhecimento em ciências e física quântica focado inteiramente naquilo. Lyna deixa tudo para trás quando parte com a desconhecida em direção à sua casa, onde a iguaria estava, mesmo continuando a achar a situação devidamente bizarra.

   No fundo de sua mente, Lyna poderia estar preocupada por ter entrado no carro de uma estranha, mas com tantas preocupações maiores, aquilo era o mínimo de seus problemas.

   Não demora para Lyna se vê na garagem de uma casa, um espaço amplo que por mais que fosse uma garagem, não tinha nada que uma garagem tinha que ter, pelo contrário, estava lotada de computadores e apetrechos demasiado estranhos. Armários lotados de vidrarias, cartazes e quadros-negros com inúmeras equações que não tinham significado algum pra Lyna que nunca fora a melhor em nada de exatas.

   Seus olhos azuis tentaram captar cada detalhe, mas parece que a maioria das informações no quadro negro são de tentativas para a criação de uma máquina do tempo que funcione.

— Você... tenta há muito tempo?

— Mais tempo do que você tem de vida. — A mulher afirma — O tempo é relativo, e viagens no tempo podem ser perigosas, como tudo que se lida com o tempo.

   Lyna tenta adivinhar a idade da mulher, mas é difícil saber, mais velha do que ela e mais nova do que sua mãe provavelmente, é a única coisa que dá pra se saber.

   Ayumi caminha pela garagem, indo diretamente para um círculo de metal posto no canto, há dois pilares de cada lado, parecendo tecnológicos de mais para a cabeça fraca de Lyna.

— Você vai se sentir um pouco confusa no começo, por causa da transição temporal. — Conta Ayumi enquanto digita algo na máquina — Mas tudo bem, você só precisa se concentrar no que fazer, e não pode, de forma alguma, deixar que descubram que você é uma viajante do tempo, não é qualquer cabeça que pode lidar com algo assim.

   Lyna suspira fundo, o nervosismo tomando conta de seu corpo.

— Você tem certeza que isso é seguro?

   Ayumi levanta a cabeça e sorri.

— Sim. Eu mesma testei.

— Por que você iria querer viajar no tempo? E como sabe do caderno?

— Digamos que as respostas para as duas perguntas estão interligadas. Eu sei do caderno, viajar no tempo foi uma tentativa de destruí-lo, mas não posso interferir porque eu estava lá. Você pode, você não estava em 1996.

   Lyna, que sempre se sentiu como a mais medrosa de seus amigos, sente mais medo do que nunca. Não é como se de uma hora pra outra ela fosse ser a heroína de sua história.

— Pra onde você vai me mandar?

— 14 de outubro de 1996. — Ayumi informa, vai até uma estante e volta de lá segurando o que parece ser uma pulseira de prata, mas não qualquer pulseira. Lyna vê Ayumi mexer em pontos dela antes de a entregar para a Lyna — É a data que Theodore Nott foi morto. Você sabe o que aconteceu, agora você tem que impedir.

   Lyna observa quando a pulseira é colocada em seu braço e analisa a forma como o objeto lembra o cadeado de seu armário, mas ao invés do número ser girado para montar uma senha e o abrir, ele mostra claramente uma data. Seis números e duas barras dividindo-os em grupos de dois: 14/10/96.

   A loira suspira fundo mais uma vez.

— E se eu não conseguir?

— Você vai ser a próxima a sumir.

— Mas... mas... e como eu faço pra voltar?

— Você só precisa girar os números de volta: 31/10/23, vai voltar pra o momento exato que você saiu, compreende?

   Lyna solta um suspiro tentando conter o nervosismo.

— Sim. Ótimo. Para a máquina.

   A garota se sente sendo empurrado até o disco de metal, até que esteja em pé ali em cima, tremendo.

— Por que você tá me ajudando? — Questiona para ignorar o medo em seu íntimo do que pode acontecer caso falhe

— Talvez eu também não queira desaparecer. — Desabafa Ayumi, não dando tempo para Lyna raciocinar suas palavras quando volta a mexer nas telas dos pilares que cercam o disco — Boa viagem, Lyna.

   Lyna sente o momento tenso em que os dois pilares começam a piscar em cores neon, e a sensação seguinte é de que ela está em uma montanha russa, ou qualquer brinquedo no parque extremamente rápido. Lyna fecha os olhos para evitar o medo, uma forte vontade de gritar, até que inexplicavelmente tudo para.

   Seus olhos se abrem lentamente enquanto ela começa a ouvir vozes de conversa, risos, música... Olhando ao redor, a garota tenta imaginar onde pode estar, mas está tudo um breu, Lyna está considerando ligar a luz quando uma porta é aberta trazendo luz exterior para o ambiente.

— Oh, merda. — A voz sai quase cantarolada, mas carregada de decepção quando olhos azuis cintilantes caem sobre Lyna. Ela observa o rosto sardento, o cabelo muito ruivo caindo em ondas sobre os ombros, o traje típico que Lyna esperaria ver em uma patricinha dos anos 90

   A garota não está sozinha. Tem um garoto muito branco com ela, os cabelos loiros platinados permite Lyna o identificá-lo muito rapidamente, os trajes de badboy adolescente dos anos 90 também contribuem pra isso.

— Por que alguém entraria no armário da pegação sozinha, hein? — A versão adolescente do pai de Lyna a encara com desprezo — Tá planejando se suicidar no armário, garota?

— Talvez isso fizesse eles cancelarem as provas da próxima semana. — A versão jovem da mãe de Lyna começa a rir

   Lyna pisca levemente, tentando voltar aos eixos e focar no que tem que fazer.

— Vocês são Draco Malfoy e Rox Weasley, não é?

— Conhece casal mais icônico que já pisou em Hogwarts? — A ruiva gargalha — Óbvio que não, não precisa fingir que não sabe quem somos, todo mundo sabe, fingir indiferença não vai te fazer importante. Mas e você? Vai sair do armário ou não, queridinha?

   O loiro meramente ri, balançando a cabeça.

— Eu sou a Lyna. Lyna Mal- Lory. Lyna Mallory. — Acrescenta depressa com um sorriso nervoso — Aluna de intercâmbio da Irlanda.

— Legal. Se trancou no armário pra chorar depois do primeiro dia? — Draco questionou, com um tom que Lyna nunca tinha visto o pai usar, um tom cruel

— Garota — Rox voltou a chamar sua atenção —, você vai sair do armário hoje?  

   Lyna dá um salto imediato, sabe que tem que focar no que precisa fazer, e não é perder tempo com seus pais.

— Claro, claro. É... vocês sabem onde eu posso encontrar o Se- Nott, o Theodore Nott?

    Rox rola os olhos para o alto, uma feição entediada.

— Biblioteca. Agora tchau.

   Lyna sente-se sendo empurrada do local até o lado de fora, e antes que possa falar mais alguma coisa, a porta é batida em seu rosto, impedindo-a de reclamar.

— Ok. — A loira suspira. Talvez seus pais adolescentes realmente não eram nada legais

   A garota decide então o que precisa fazer. Ficar de olho em Theodore Nott. Se o livro estiver correto, o monstro irá atrás do garoto nessa mesma noite, na biblioteca, quando todos estiverem dormindo, e se Lyna quer descobrir quem é o escritor, com certeza, seguir o Sr. Nott vai ajudar nisso, pois evidentemente quem ela procura vai está de olho em sua vítima.

  Lyna logo segue pelo corredor, contente de não está sendo observada. Fora sorte Ayumi ter lembrado à Lyna de trocar de roupa antes de fazer a viagem no tempo, e até ter lhe emprestado roupas da época, pois Lyna não tem certeza se achariam normal alguém fantasiada de Medusa andando pelos corredores da Hogwarts dos anos 90.

  Ninguém repara muito em Lyna enquanto ela caminha pelos corredores tão bem conhecidos, mas que ao mesmo tempo se mostram tão diferentes, entretanto, Lyna repara em todos o quanto pode, tentando localizar o escritor ou só vê quantos podia reconhecer.

— Jaqueta bonita. — Alguém comenta de repente fazendo Lyna parar. A garota à sua frente tem um belo porte, cabelos escuros e lisos, jóias belíssimas casando perfeitamente com a roupa. Lyna sabe que não precisava nem notar os traços indianos para reconhecer claramente a versão adolescente de Parvati Patil, a estilista mais famosa de sua cidade, e uma das amigas mais próximas de sua mãe — Onde você comprou?

— Meu Deus, Pati. — Alguém dá uma risadinha ao lado e Lyna olha para a garota de pele escura, os cabelos crespos apertados em uma bonita trança caindo-lhe sobre o ombro direito, os formatos do brinco parecendo denunciar o seu nome: Sol. Sol Lestrange

— É... ah... — Lyna tenta desviar o olhar da prima de seu pai e observa a jaqueta jeans, personalizada com brilhinho em alguns pontos, que Ayumi a emprestou — foi presente da minha tia.

— Ah... — A garota parece triste — Mas você que personalizou?

— Não, não, foi ela também.

— Ela tem bom olho.

— Você é nova aqui, não é? — A pergunta vem de Sol, o olhar curioso e um sorriso. Lyna tenta não pensar na visão informada pelo caderno em que sua tia Sol é sufocada até a morte e depois jogada de costas na banheira do banheiro dos monitores na tentativa de que aquilo parecesse suicidio

— Sim, sim. — Lyna responde, tentando ignorar o fato de que a qualquer momento um professor poderia aparecer ali e a questionar — Lyna Mallory, intercambista da Irlanda.

— Legal. — Comenta Parvati — Gosto de lá. Bom, a gente se vê por aí, Irlanda. Vamos, Sol.

   Sol sorri e acena antes das duas voltarem a andar e saírem juntas, deixando Lyna para trás. A loira então foca no que precisa fazer, encontrar Theodore Nott, não pode ser tão difícil, né?

   A garota consegue encontrar a biblioteca sem dificuldade alguma, já que por sorte ficava no mesmo lugar. A porta range levemente quando Lyna a abre, um suspiro nervoso enquanto seus olhos passeiam pelo ambiente, procurando e procurando...

   Então Lyna o vê, e isso definitivamente a assusta. Theodore H. Nott era impossível de não ser reconhecido, considerando que Tiberius Nott claramente é a cópia exata do pai. Exata. Lyna olha para a versão adolescente de Theodore e tudo o que consegue ver é Tiberius, no canto da biblioteca, curiosamente entretido em um livro, lendo, com certeza por obrigação.

   Evidentemente, logo Lyna nota, que essa deve ser uma das únicas diferenças do Sr. Nott para Tiberius, já que o garoto nunca gostou muito de ler, e o pai provavelmente é um leitor nato, ele não teria fundado uma rede de livrarias se não fosse.

   Lyna suspira e começa a andar diretamente para a mesa em que Theodore está sentado, quase o alcança quando inexplicavelmente alguém passa na sua frente.

— Posso ajudar? — A garota tem quase sua altura, cabelos negros e curtos e uma franjinha cobrindo-lhe a testa, em nada parece alguém muito simpática

— Eu... só estava indo falar com o Theodore Nott.

— Eu notei. — Disse a garota — Fale comigo, o que quer com meu namorado. Eu não te conheço, conheço?

   Pansy Nott. Lyna não se lembra ou nem mesmo sabe qual o sobrenome de solteira dela, mas agora tem certeza que essa na sua frente é a mãe de Brutus e Tiberius, a verdadeira esposa de Theodore.

— Lyna Mallory. — A loira sorri e estende a mão — Intercambista da Irlanda.

  Pansy encara a mão estendida para ela e faz pouco caso.

— Eu não vou apertar sua mão como se eu tivesse sessenta anos. Se você veio de fora é bom ficar logo ciente de como as coisas funcionam aqui, Irlanda. O Theodore namora, então não olha para o meu namorado se não eu picoto seu cabelo, tá me ouvindo?

   Os olhos de Lyna piscam, incrédulos e até perdidos. Ai tia.

— Você não está entendendo. — Lyna tenta recuperar o ar — O seu namorado está em perigo.

— Claro que está. Com intercambistazinhas rondando ele, como não estaria?

— Pelo amor de Deus, você não está entendendo, ele não pode vir aqui à escola de noite. Vai... vai acontecer uma coisa e ele não pode vim.

   Pansy solta uma risada de desdém, com certeza sem acreditar em nada.

— Todos os Irlandeses são malucos ou é só você, hein? É cada uma viu.

   A morena vai até a mesa que Theodore estava e puxa uma cadeira, ficando de costas pra Lyna, evidentemente ela começa a falar algo, pois o menino desvia o olhar do livro e olha pra ela, segundos depois seus olhos vão pra Lyna, mas não por muito tempo, porque a namorada segura seu rosto com as duas mãos e o força a voltar a olhá-la.

— Todo mundo era surtado em 96? — Lyna questiona em pensamento se virando e tentando analisar a biblioteca a procura de alguém que poderia ser o possível suspeito

   As horas se arrastando trazem uma nova sensação de horror em Lyna que tenta pensar o que estaria acontecendo em 2023 naquele mesmo momento. Ela sumira, eles evidentemente já haviam notado que ela tinha sumido, mas estariam lhe procurando? Estariam achando que ela se escondeu com medo dos monstros da "noite do terror"? O que estariam fazendo?

— Você não é daqui. — Não é uma pergunta. É uma afirmação.

   Lyna, que estivera sentada no assento da janela, observando Theodore de longe e tentando não ser vista, é finalmente flagrada, e por um adulto.

— Professora. — A garota dá um salto imediatamente, capta com rapidez os cabelos ruivos e o rosto doce, sente que sabe bem quem é a pessoa na sua frente. O cordão no pescoço confirma suas teorias, informando o nome na carteirinha: "PROFESSSORA LILIAN POTTER", a mãe de Harry Potter e avó de Jaysix, Albus e Lilu — Eu... creio que deve ter ocorrido um problema com a documentação, mas sou Lyna Mallory, intercambista vinda da Irlanda.

— Hum, se você me acompanhar até a secretaria podemos resolver isso em um instante enquanto a documentação não chega, que tal?

   Lyna olha para o lado, tentando observar Theodore de longe, mas percebe que não há outra alternativa.

— Tudo bem. — Cede

   Surpreendentemente as coisas parecem fáceis em 96 já que em minutos tudo parece ter sido resolvido, a forma como o atraso dos documentos é engolido pela Profa. Potter que logo resolve a situação de Lyna, e lhe dar uma lista de horário, informando que ela assistiria aula com o sexto ano, a turma de sua mãe, o que a fazia ser convidada para estar em Hogwarts à noite, durante a "fogueira".

xxx

   Lyna já tinha participado de eventos assim em seu próprio tempo, sabia como funcionava, e tinha outras preocupações que não tinham nada a ver com jogos adolescentes ou se preocupar em descobrir quem daqueles garotinhos com carinha de inocente haviam levado álcool escondido na mochila, Lyna suspeitava fortemente que era Theo, mas Bonnie Pettigrew também era uma boa suspeita.

    Dez horas. Essa foi a hora estipulada para que todos estivessem na cama. Lyna ganhou um saco de dormir e o montou ao lado de duas garotas que usavam o emblema do clube das abelhas. Lyna pensou o que faria para sair da sala sem ser vista, se as meninas continuassem conversando ao invés de dormir seria difícil fazer alguma coisa.

    Alguns minutos se passaram, arrastando-se devagar e fazendo Lyna temer mais e mais, questionando-se o horário do ataque, não tinha isso no caderno, como Lyna poderia adivinhar e salvar Theodore? Como?

   A chuva fustigava a janela e o barulho começou a assustar Lyna. Ela não gostava muito de chuvas, desde criança, lhe lembra do temporal que aconteceu quando ela tinha sete anos, o temporal que evidentemente foi o culpado por impedir seu chinchila "Nuvem" de voltar pra casa em segurança, e também o culpado do seu animal de estimação ter morrido. Lyna dormiu com os pais durante um mês depois daquilo, e nunca mais conseguiu ter um animal de estimação, e nem se acostumar com chuvas.

   Naquele momento, Lyna procura pela versão adolescente de sua mãe, a garota continuava acordada, conversando aos cochichos com Pansy e rindo. Lyna suspeitou de que estivessem rindo de alguém que já estava dormindo, possivelmente tramando fazer alguma coisa.

   Tentando ignorar, Lyna se concentrou no que precisava fazer, sair dali. Esperou mais alguns minutinhos antes de se levantar apenas um pouco e sair de dentro do saco de dormir. Sua mãe e Pansy pareciam quietas, e as outras garotas estavam todas de olhos fechados, então Lyna prosseguiu, e logo estava agachada, quase engatinhando para fora da sala.

   O ar puro lhe deu alívio, sensação que o plano estava dando certo.

   Lyna tentou ser ainda mais discreta agora. Estava no terceiro andar, e sabia que a biblioteca ficava no segundo, mas precisava tomar cuidado, pois o monstro poderia estar em qualquer lugar, poderia estar a observando nesse exato momento.

   A ideia lhe assustou, mas Lyna continuou seguindo até a biblioteca. Havia um ponto no corredor em que ela poderia ficar escondida, lá teria uma boa visão da entrada da biblioteca e poderia ver o monstro, e impedi-lo.

   Como? Lyna ainda não sabia, já que só agora reparava que o cara tinha uma faca, e ela não tinha nada, além de um spray de pimenta no bolso. Teria que torcer para que ele o ajudasse na hora.

   O segundo andar estava silencioso, e a biblioteca aparentemente trancada e vazia, o que significava que Lyna teria que esperar.

   A garota se abrigou em um assento de janela, onde poderia ser escondida facilmente, e aguardou, os olhos fixos no corredor e na porta da biblioteca.

   Theo apareceu logo, uma cara de sono, mas ao mesmo tempo perturbação, o cabelo castanho um pouco bagunçado quando ele bocejou e abriu a maçaneta, Lyna esperou apenas um pouco, quando estava pronta para levantar e segui-lo algo a impediu.

— Eu não te mandei ficar longe do meu namorado, não? — Lá estava Pansy, e sua mãe estava com ela — Que você quer com o Theodore, garota?

   Lyna desviou o olhar para a biblioteca, uma nova tensão se espalhando por seu corpo.

— Você não está entendendo. Ele está em perigo.

— Ah, sim, com certeza está. — Rox deu uma risadinha

— Tem um assassino à solta, e esse assassino está visando o grupo de vocês! E ele quer matar o Theodore esta noite, vocês não estão entendendo?

— E por que um assassino tentaria matar a gente? — A voz da versão adolescente da Sra. Nott saiu carregada de desdém

   Um grito vindo da biblioteca trouxe resposta mais clara do que Lyna poderia dar. Os olhos de Pansy e Rox se arregalaram quando elas se entreolharam.

— Theo? — Pansy chamou com uma nota trêmula

   As três correram depressa, sem pensar duas vezes, e entraram à toda na biblioteca. Lyna logo sacando o spray de pimenta na mão. Os olhos fiscalizando de um lado para outro.

   Mas a biblioteca estava vazia.

— Theo? — Pansy chamou uma segunda vez, o nervosismo ainda maior — Theo?

— Mas que merda tá acontecendo!? — Rox esbravejou, estava irritada, e mais irritada por não estar segurando nada que pudesse usar para se defender

   Lyna pensou. E pensou.

— Ah, merda...

   As outras duas percorriam o caminho entre as estantes de livro, procurando em todo lugar, mas Lyna já tinha notado que era tarde demais.

— Ele não tá aqui. — Ela disse ao vento

— Mas eu ouvi ele gritando! — Pansy insistiu

   Lyna as olhou, antes de indicar a porta, e assim seguiu por ela em passos rápidos, tendo uma vaga ideia de onde ir. Seguiu mais um pouco, sentindo seu coração se agitar, e então parou, bem no topo da escadaria principal que levava ao saguão.

   Sua respiração ficou mais desregulada assim que ela olhou. Mas o grito de horror de verdade veio no segundo seguinte, assim que Pansy chegou onde Lyna estava e viu o corpo de seu namorado no piso ao fim da escada.

— Ele não caiu. — Rox dizia horrorizada — Ele não caiu. — E então olhou para Lyna parada ao seu lado e vendo Pansy descer desolada em direção ao corpo — Você sabia disso. Como você sabia disso?

   Mas Lyna não podia responder, e para piorar toda a situação, ela sentia os olhos do monstro a observando, como se soubesse o que ela está fazendo e estivesse rindo nela.

xxx

   A morte de Theodore Nott foi dada como acidente, nenhum protesto por parte de Lyna serviu de alguma coisa, ninguém achava que pudesse haver um assassino à solta em Hogwarts, e Pansy não estava em condições de ser ouvida, já que estava desolada, a mãe de Lyna também não fez questão de depor, parecia está enfrentando a morte de outro jeito.

   Lyna tentou observar todos os rostos dos que estavam na noite da fogueira, todos aqueles que podiam ser possíveis suspeitos. Um deles havia matado Theodore, mas quem?

— Hey. — Lyna sentiu o instante que alguém cruzou com ela e bateu em seu ombro — Olha por onde anda.

— Mas foi você que bateu em mim. — A garota revidou encarando o brutamontes que trombara com ela. O típico garoto rebelde de filmes americanos, parecia até um valentão em liberdade condicional, só que tendo quase o dobro do seu tamanho 

— Então você devia tomar mais cuidado. — Revidou e fez careta pra ela, a deixando totalmente perdida quando seguiu

   Lyna não estava acostumada a ser intimidada, ninguém nunca falou com ela desse jeito no seu tempo, então aquilo a deixou confusa.

— Não liga pra ele. — Uma voz mais calma invadiu seus pensamentos — Você está bem?

  O garoto que a olhava tinha cabelos escuros e medianos, um pouco ondulado, as bochechas eram rosadas e os olhos verde-claro, parecia um pouco acanhado e tímido usando roupas inteiramente pretas, o que incluía um moletom com um brasão de dois pares de asas se sobrepondo.

— Tô sim. Só não entendi porque ele bateu em mim do nada.

— Se você mexeu, olhou ou pensou em alguém do grupo deles, na verdade, não é nada surpreendente.

   Lyna franziu a testa e o olhou.

— Como assim?

— Esse é um dos capangas do Malfoy, seus guarda-costas, servos leais. Crabbe e Goyle, é difícil vê um sem o outro.

    Novamente Lyna se sentiu perdida. Conhecia todos os antigos amigos de seus pais, mas não conhecia aquele primeiro sobrenome, apenas o segundo, e nunca imaginou que o pai de David Goyle alguma vez havia sido amigo de seu pai, eles nunca comentaram isso, e Lyna nunca nem viu eles se dirigirem a palavra, o que fazia daquilo bem estranho.

— Você é nova, não é? — O garoto à sua frente perguntou e Lyna assentiu — Legal, já passei por isso ano passado, sei como é ser o aluno novo. Sou o Akira, aliás.

— Lyna.

— Bonito nome. — Akira elogiou com um sorriso simpático — É apelido de algo?

— Sim. — A loira riu, não era costume lhe perguntarem isso — Meu nome é Ethelyna.

— Uau. — O garoto pareceu surpreso — Significa algo a ver com serpente, não é?

— Hey, você! — Uma voz feminina forte chamou a atenção de Lyna, antes que ela tivesse a chance de responder. Mesmo com 1.53 de altura e tendo que se submeter a enormes saltos altos, de fato Rox Weasley parecia assustadora quando queria — Queremos falar com você, agora!

   Pela forma que Akira a olhava, parecia achar que Lyna estava seguindo direto para sua sentença de morte quando a garota se afastou e seguiu a versão adolescente da mãe sem contestar.

    Rox parou quando chegou até uma sala e empurrou a porta, fechando-a assim que Lyna passou. A garota logo notou que encontravam-se em uma sala quase vazia, só com a presença de Draco Malfoy de braços cruzados quase sentado em cima de uma mesa; uma garota de belas madeixas loiras onduladas com um forte delineado preto e brincos em formato de alien estava sentada em uma cadeira no canto da parede, uma outra garota loira estava sentada de lado no colo dela, de modo que suas costas se encostavam na parede, um colar com um pingente de "S" brilhando no pescoço dela e os olhos fixos em um estranho aparelho que à Lyna lembrava um console ou uma espécie de videogame portátil dos anos 90, isso explicava os dedos da garota martelando ágeis os pequenos botõezinhos. Ainda na sala estava Sol Lestrange, sentada ao lado de um garoto também de pele escura, que Lyna suspeitou que fosse Blaise Zabini.

   Curiosamente, Pansy não está presente.

— Essa é a garota? — A loira de delineado forte a encarou, sua mão direita apoiada nas coxas da garota em seu colo que usava um justo e curto vestido tubinho preto

— Sim. — Rox respondeu e então olhou para ela — Lyna Mallory, não é?

   Lyna confirmou.

— Então. — Draco pulou da mesa e a encarou — Você parece nos conhecer mais do que te conhecemos, então acho que nem precisamos nos apresentar, né?

— Por que, não? — A garota que martelava o joguinho dramatizou — Adoro o som do meu nome. Sophie Roper, não é lindo?

— Meu Deus, Soph. — A outra loira riu

   Lyna encarou Sophie, tão agitada adolescente quanto Lyna sabia que era na versão adulta, pareceu tenebroso lembrar a forma com que sua morte foi forjada para parecer acidental, sem ninguém nunca ter percebido que a garota havia sido envenenada e não tido uma overdose.

  Sol soltou um suspiro, então olhou pra Lyna.

— Indo ao que interessa, Rox disse que você sabia o que ia acontecer ontem. — Não era uma pergunta

— Sim, e eu estava tentando impedir. — Lyna responde

— Você disse que estão nos perseguindo! — Rox acusou, os braços cruzados e parecendo nitidamente tensa

— Disse, estão visando o grupo de vocês e por isso eu...

— Quem é você afinal? — A pergunta veio de Blaise, que estreitava os olhos a encarando

   Falar "oi, eu vim do futuro" não pareceu muito convincente.

— E-eu — Lyna fez a mente trabalhar muito rápido e então — sou uma médium.

— Quê? — A sobrancelha da sua mãe se ergueu

— É isso, eu posso ver coisas... coisas que ainda não aconteceram.

— Sabe o resultado do número da loteria de sábado? — Sophie esqueceu do videogame e a olhou, um sorrisinho no rosto

— Achei que vocês fossem ricos. — O comentário pareceu incomodar sua mãe

— Até quando você pode ver?— A ruiva perguntou com discrença

— Até... 2023. — Lyna conseguiu dizer um tanto receosa, mas implorando mentalmente que eles acreditassem

— Hum... eu me torno jogadora profissional? Me caso com o Draco? O Rony vai namorar com a Hermione, não vai? — Rox começa a jogar as perguntas pra cima de Lyna, uma agitação que acalmou a loira, pois evidentemente a mãe tinha acreditado

— A Daphne vai se assumir para os pais na festa de dezessete anos dela? — Sophie perguntou inclinando-se e rindo, Lyna logo percebeu que a outra garota loira que suspirou provavelmente era Daphne Greengrass, o que a deixava evidentemente perdida, pois nem em seus sonhos a garota já tinha imaginado que Sophie e Daphne já tinha tido alguma coisa

— É... — Lyna sorri sem jeito — Eu vejo coisas mais complexas...

— Como nossas mortes? — Draco a observa um pouco incrédulo

— É. — Rox observa — Percebe o quanto é estranho? Um dos nossos melhores amigos foi assassinado ontem à noite e todo mundo acredita que é acidente, mas você diz que alguém está nos perseguindo.

— Você estava lá. — Lyna insiste irritada — É o que aconteceu.

— E quem é o próximo? — A pergunta vem de Blaise

   Lyna suspira e então olha para as duas garotas loiras.

— Daphne Greengrass — Conta, percebendo a mencionada a olhar no mesmo momento —, no sábado.

xxx

    Lyna descobriu que Daphne morava na cobertura de um luxuoso apartamento no centro da cidade. Sendo a filha mais velha dos próprios donos do prédio, ela era a herdeira de tudo aquilo, e não tinha nada que ela gostasse mais do que dar festas em sua casa.

   Pelo que lhe contaram, o dia marcado para a morte de Daphne era o mesmo dia que a festa de dezessete anos da garota estava marcada, uma festa que seria realizada na cobertura de seu prédio e que as pessoas mais importantes da escola seriam convidadas. Enquanto ouvia, Lyna só conseguia lembrar do que estava escrito no caderno, a forma como o "monstro" a empurrou da cobertura do apartamento e fez parecer que a garota escorregou porque estava muito bêbada.

— Você precisa cancelar a festa! — Lyna exclama para Daphne — O amigo de vocês acabou de morrer, você não pode continuar com uma festa.

— É a ideia de "o Theodore iria gostar de que continuássemos nossa vida", ele adorava as festas na cobertura da Daphne, aliás, ele adorava todo tipo de festa. — Rox suspirou, parecendo realmente triste — Vou sentir falta dele.

— Todos vamos. — Concordou Draco

— E eu não vou cancelar a minha festa só porque você acha que um assassino aí fora está atrás de mim! — Daphne esbravejou com irritação — Qual a garantia que você está certa? O Theo caiu das escadas, uma calamidade, mas é como a Rox falou, ele ia gostar que seguíssemos nossa vida!

   Lyna tentou rebater, tentar implorar que Daphne cancelasse a festa, tentar a fazer abrir os olhos e enxergar o que realmente aconteceu, mas a garota loira parecia mesmo incomodada quando pediu que Sophie levantasse e se apressou a sair da sala, levando a garota Roper com ela.

   Os demais encararam Lyna, claramente desconfiados.

— Eu sei que é difícil acreditar em alguém que aparece do nada assim, mas eu só estou tentando ajudar. — Lyna contou, usando de todo o seu autocontrole pra não se ajoelhar e implorar que eles a ouvissem

— Tá todo mundo com a cabeça quente. — Suspira Sol se levantando e olhando para Lyna — Theodore acabou de morrer, só nos dê um tempo pra entender, não dá pra de uma hora pra outra engolir que alguém está tentando nos matar.

— Mas vocês precisam me falar — Lyna suspira e olha para cada um dos presentes — se tem alguém que poderia querer vocês mortos?

   A risadinha de leve vem justamente de Blaise.

— Só o Draco pelo menos metade da escola — O garoto começou a contar —, a Rox tem seus próprios inimigos, eu não me dou bem com muita gente, a Pansy tem uma lista enorme de ódios particulares, Daphne não é um poço de gentileza, e mais da metade da escola acha a Sophie insuportável, mas okay, acho que não sei te dizer quem tentaria matar a Sol.

— Só de andar com vocês acho que metade da escola. — A garota rebateu

   Okay, Lyna suspirou, de volta à estaca zero.

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   Graças a ajuda de Sol, Lyna conseguiu auxílio a respeito de um lugar onde poderia dormir por algumas noites. A garota não especificou, mas parecia ter achado estranho que o serviço de intercâmbio não tenha a garantido moradia, mas ao menos não questionou.

   Com um quarto só para si em um edifício perto da escola, Lyna se concentrou em raciocinar os acontecimentos das últimas vinte e quatro horas e pensar no que poderia fazer dali pra frente, falhara em impedir a morte de Theodore, mas agora precisava impedir a morte de Daphne, se conseguisse, talvez conseguisse pegar o "monstro" e queimar aquele maldito livro, isso com certeza resolveria as coisas e a permitiria voltar pra casa, para a sua realidade.

— Parece bizarro, não acha? — O comentário veio de Akira, dois dias depois da morte de Theodore, ocasião em que o garoto estava sentado ao lado de Lyna na mesa do almoço — O garoto morreu há dois dias e os amigos deles já parecem tão bem, não é? Já estão procurando um substituto para o posto dele no time, assim, tão rápido, antes mesmo do corpo esfriar.

   Lyna pensou no quanto aquilo realmente era bizarro, mas sua cabeça tinha mais preocupações.

— Gente rica é esquisita. — Foi o que respondeu, um comentário que a fez se lembrar de Andrey, pois era costume dele viver soltando essa piada com os amigos

   Akira a encarou.

— Você gosta de futebol?

— Bastante, é de família, meus pais adoram, eu adoro, meu irmão adora. — Lyna suspirou — Não só futebol, gostamos de todos os esportes praticamente, digamos que é uma família de atletas. E você? Gosta?

   Akira momentaneamente desviou o olhar, remexendo sua comida.

— É, eu gosto. — Admitiu — Sempre gostei de futebol, eu até jogava na minha antiga escola, a Kioko também, mas aqui na Inglaterra é tudo tão diferente.

   Lyna o olhou interessada, tentando pensar quem deveria ser Akira no futuro.

— De onde você veio, Akira?

— Japão. — O garoto respondeu sorrindo, parecia gostar de lá — Não que eu seja realmente japonês, meus pais são americanos, mas meu pai morreu quando eu era muito pequeno e minha mãe se casou com um japonês, moramos lá por quase toda a minha vida, a Kioko nasceu lá, ela realmente tem traços japoneses diferente de mim.

— Legal, sempre quis conhecer o Japão. — Lyna sorriu — Mas afinal, o que a Inglaterra tem de diferente no futebol pro Japão, Akira?

— No futebol nada, nas pessoas tudo. Acha que o capitão do clube das Serpentes tem algum interesse em admitir no time um japonês falsificado?

   Lyna olhou para a mesa que Akira encarava e encontrou a versão adolescente de seu pai, usando a jaqueta de capitão do time e conversando descontraído com Rox.

— O Malfoy? — Lyna olhou pra Akira e então deu um sorriso — Por que ele não gostaria de você no time? Você fala como se ele fosse xenofóbico ou preconceituoso. Akira, se você quer entrar no time, não precisa ter medo, você tem que confiar em você e fazer o teste, se for bom, não importa o que mais ninguém vai achar, você só precisa focar no jogo, se é disso que você gosta!

— Você acha? — O rosto de Akira se iluminou

— Claramente.

   Akira disse que faria os testes. Lyna ficou feliz por ele, embora sua cabeça continuasse com outras preocupações.

   O passar dos dias sem poder fazer nada a preocupava, as pessoas agitadas com a festa à fantasia de Daphne no fim de semana piorava tudo, como se Theodore houvesse sido esquecido tão rapidamente, como se realmente não achassem que havia um assassino à solta.

   E eles realmente não achavam.

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    Na quinta-feira Lyna sente que continua travada, tão sem ideias como quando chegou ali, simplesmente inútil. Mas tudo muda quando de boca em boca algo chega em seus ouvidos. Uma espécie de festa clandestina à noite na escola, Lyna não tinha interesse nisso, mas lhe pareceu uma oportunidade única pra encontrar o monstro, mas o que mais motivou a ir talvez fosse o comunicado dizendo que aquela festa tinha algo a ver com o fato de Akira Kobayashi ter entrado no time de futebol dos The Serpens.

   Tão intuitiva como sempre, Lyna não teve uma boa sensação sobre essa festa.

    Não foi difícil encontrá-los, talvez fosse o sexto sentido de Lyna, talvez estivesse muito na cara, mas ela não teve dificuldade de encontrar o time de futebol do clube das serpentes. Invadir a escola à noite era ilegal, mas quando adolescentes entre 15 e 17 anos se importaram com alguma coisa?

   A garota seguiu pelo pátio, passando pelo ginásio e em alguns minutos estava na área da piscina, alguns dos garotos do time estavam tirando a camisa para nadar, uma bóia com o cooler de bebida começou a planar sobre a água, estava escuro, mas a luz de lanternas e agitação estava presente. Além dos membros do time haviam algumas garotas também na agitação de invadir a piscina durante a noite.

   Entre eles, é claro, a elite.

— Vodka russa, minha bebida favorita. — A voz alegre vinha claramente da mãe de Lyna que já havia despido a blusa e estava só de biquíni e shorts, erguendo uma garrafa da bebida que Lyna bem sabia o quanto a mãe gostava, também era sua preferida exatamente por isso

— Rox. — Lyna falou ao se aproximar

— Lyna! — Ela saudou — Quer uma bebida?

   Lyna tentou observar ao redor, no meio de todos aqueles adolescentes irresponsáveis, mas não conseguia achar Akira.

— Não. Você viu o Akira?

— Uhh. — Rox deu um gole da bebida e gargalhou — O Kobayashi, ele entrou no time dos garotos do Clube das Serpentes, por isso estamos aqui.

— Eu sei. — Lyna rebateu — Onde ele está?

— Ele precisa passar pelo rito de passagem. — Foi Pansy que informou ao se aproximar, as feições duras e um humor estranho — É o Draco que é o capitão do time, então ele quem é o responsável pelo trote dos novatos. Ele prometeu algo lendário, por isso estamos aqui.

   Lyna sentiu uma sensação estranha, e percebeu que também não sabia onde o seu pai estava.

— AEEE DRACOO!! — O grito veio de repente. Um dos garotos do time, já dentro da piscina, olhava para algo no alto

   Lyna franziu a testa e tentou sair da sombra para ver, a área do ginásio de esportes ficava bem ali, parte do seu teto um pouco mais ampliado possibilitando uma área sombreada antes do espaço da piscina.

   Se afastando até o lado oposto, Lyna levantou o olhar para o que agora outras pessoas se amontoavam pra ver. Draco estava posicionado no teto, uns dez metros acima do chão, e Akira estava com ele.

— Ôu. — Rox apareceu do lado de Lyna, a mão segurando a garrafa de vodka russa e os olhos direcionados no namorado — Parece um trote lendário.

   Lyna não achou aquilo lendário, achou amedrontador, mesmo que tivesse atração por lugares altos e esportes radicais, Akira não parecia alguém propício para isso, ele parecia estar com medo.

— Ele não pode pular, é muito alto! — Gemeu a garota com aflição

— São doze metros. — Disse Pansy brotando ao lado de Lyna— Rox já pulou dali ano passado só de lingerie quando invadimos a piscina antes do natal, e ela está viva, não está? Claro que ela não sabe nadar, então o Draco teve que pegar ela quando ela pulou, mas ela está viva.

— Foi incrível! — Rox começou a rir e balançou os cabelos — Eu deveria me inscrever nas olimpíadas de saltos ornamentais... bom, mas eu só sei pular, o nado está em falta.

— Mas você é atlética! — Lyna esbravejou com irritação — O Akira não pode pular dali! Olhem a cara dele, ele parece ter medo de altura!

— Você parece conhecer bem ele, não Lyna? — Pansy a encarou acusatória, antes de soltar um risinho — Relaxa, é só brincadeira.

   Lyna viu o pai se aproximar por trás de Akira que lentamente ficava na ponta do teto levemente inclinado, os olhos como duas laranjas encarando amedrontados a piscina abaixo. Draco falou algumas coisas no ouvido de Akira, Lyna não tem ideia do quê, mas parecia estar o incitando a pular.

   Rindo, a versão adolescente do pai de Lyna, se afastou um pouco e ergueu as mãos regendo a plateia embaixo enquanto os motivava a gritar.

— Pula! Pula! Pula! — O coro começou entre os presentes, ninguém parecia temeroso, apenas gritavam mais e mais — Pula! Pula! Pula!

   Rox começou a gargalhar debilmente seguindo o coro, e Lyna soube que ela já estava bem bêbada.

   O coro continuou, Lyna não conseguiu desviar a completa atenção na tensão de Akira quando ele saltou, não era um trampolim, então não tinha como o garoto ter um certo impulso, a queda foi rápida, mas pareceu ser em câmera lenta com tantos olhos a observando até que... puff.

   Lyna viu as pernas de Akira se encontrarem com a água, mas seus olhos estavam fixos no resto do corpo do garoto, no modo como sua cabeça bateu na borda da piscina de forma esquisita, a curva do pescoço bem na divisa, até que o corpo escorregou completo para dentro da água.

   Todos ainda estavam tentando entender o que tinha acontecido. O coro cessou. Sangue começou a manchar a alva água da piscina trazendo enfim os gritos junto com a compreensão do que tinha acontecido.

   Lyna viu o tumulto se formando, sua respiração se tornar mais desregulada que antes, seus olhos não conseguindo desviar-se de Akira, e as pessoas correndo aos berros de "ele tá morto", "ele tá morto".

   A loira olhou para o alto, onde Draco parecia mais pálido do que nunca, olhando em choque para o que tinha acontecido, antes de se afastar da borda até sumir no caminho de volta para descer.

   No meio de toda aquela agitação, Lyna notou um vulto ao longe, uma capa negra se destacando entre adolescentes desesperados quase sem roupa. O Monstro, Lyna soube naquele exato momento.

    Seus olhos foram do corpo de Akira para o lugar em que a figura estava, se afastando o mais depressa que pôde quando percebeu que foi flagrado.

   Lyna não se conteve, e correu, desesperada para descobrir quem era a pessoa atrás da máscara, quem era o monstro.

   Suas pernas lhe traíram quando seu pé imprensou em algo jogado no chão e Lyna caiu de joelhos no piso, sentindo a ardência no local que ferira, além de suas mãos que também havia machucado na queda. 

    A garota gemeu e se virou para observar no que tropeçara, se tratava de uma mochila preta, bem no canto da piscina, Lyna reconheceu a mochila de Akira ali jogada antes de notar que o objeto estava aberto e um livro caíra para fora, um livro com capa de couro preta que ela reconheceu de imediato.

   Só para confirmar, Lyna puxou o livro pra fora e o abriu, encontrando exatamente o que já esperava.

— Caderno da Morte. — A garota leu o nome escrito na linha com tinta preta e soube naquele instante que tinha acabado de descobrir quem era o escritor misterioso que tanto odiava seu pai e os amigos dele



















você acaba de passar

para o último nível

preparados?

a quarta e última parte

estará disponível

em breve

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