║🎃 - Parte III
— HALLOWEEN SPECIAL —
SCREAM: Sombras do Passado
III. CAMINHOS SOMBRIOS
Millie e Ernie não voltaram de imediato à Tower Hamlets. Fora de Ernie a ideia de um simples café enquanto os dois reorganizam as ideias, algo que Millie prontamente aceita, tentando não parecer interesseira e numa tentativa de colocar sua mente de volta ao eixo depois do que descobriram em Mercury.
Millie agradece mentalmente que o Beto's esteja tranquilo naquele horário, se sentindo bem mais relaxada sem olhares reprovadores, ou as maníacas da faculdade olhando e bajulando o incrível Ernest Macmillan, um claro julgamento que aconteceria se o vissem na companhia de justamente a filha de assassinos sentenciados.
Ernest puxa a mochila que havia levado consigo e retira de lá o seu notebook, logo o colocando sobre a mesa.
— Você acha mesmo que tem possibilidade de encontrar a Savannah na internet? — Millie pergunta observando o garoto ligar o aparelho
— É o que espero. — O garoto suspirou, os olhos fixos na tela que carregava — Ela estava na faculdade na época que o seu irmão foi assassinado, pode ter trocado de faculdade porque precisava de espaço, mas não deve ter sumido totalmente depois disso.
O mecanismo de pesquisa do Windows aparece na tela do notebook, Millie vê Ernest começar a digitar "Savannah Fontainelles" e soltar, o que disponibiliza várias guias.
Ernie suspira.
— Dificulta se ela não quiser ser achada. — Millie solta o ar
— Mas a gente não vai desistir. — O garoto afirma começando a descer a tela e ler as guias
Uma atendente do estabelecimento aparece e deixa dois cafés sobre a mesa, o que Millie agradece, observando o garoto trabalhar, mas puxando o próprio café pra si.
Ernest entra em várias guias, mas todas pareciam a levar a pessoas diferentes que não tinham nada a ver com a Savannah que procuravam.
Ele puxa seu copo de café e leva o canudo à boca.
— É. Parece que ela sumiu. — Millie comenta, os olhos também descendo pelas linhas da tela do notebook
— Ninguém pode desaparecer sem deixar sinal. — Ateima Ernie — Alguma coisa ela tem que ter deixado pra trás.
Millie desvia o olhar do notebook e encosta a cabeça na mão tentando pensar, qualquer coisa que pudesse a levar até Savannah. Mas Millie nem sabia que ela e o irmão voltaram quando ele saiu do abrigo, não a via desde o acontecimento que mudou suas vidas. Que sinal poderia estar esperando? O que Millie se lembrava de Savannah?
— Gaspard! — Millie grita de repente, o que assusta Ernie — Gaspard Fontainelles, o irmão mais novo dela. Ela e os irmãos mais velhos podem não estar mais em Hogwarts, mas Gaspard era da turma do Noah, ele ainda está no último ano.
Ernie pisca os olhos, um brilho aparecendo enquanto ele sorri.
— Acho que vamos voltar para Hogwarts então.
Ponto negativo nº 1: Domingo. A escola não estava aberta naquele dia, só abriria no dia seguinte, o que implicava que Millie e Ernie tinham que esperar quase um dia completo se quisessem interrogar Gaspard.
Ponto negativo nº 2: Pelo que Millie se recorda, Gaspard é melhor amigo de Noah, Noah Yaxley, o primo de Millie. Ela e Mark não haviam ficado totalmente sem família quando foram mandados para o abrigo de menores, havia o irmão de seu pai e a esposa, com os dois filhos de quase a idade de Mark e Millie, mas eles os negaram no exato momento em que os pais dos garotos foram presos. Stephen e Megan não queriam problema, deixaram claro que Mark e Millie estavam por conta própria, então, claramente, a perspectiva de ver Noah de novo, não agradava muito Millie.
Millie e Ernie terminaram seus respectivos cafés enquanto o loiro ainda insistia na busca por Savannah em outros guias on-line, mas sem sucesso.
— Você quer comer alguma coisa? — Ernie pergunta direcionando seus olhos azuis intensos para ela
Millie pensa que deveria voltar para casa, Draco com certeza está procurando por ela, mas ela não quer se afastar de Eenie.
Entretanto, antes mesmo que Millie tenha chance de responder, os garotos escutam o toque de telefone do restaurante soar, o que eles não dão a menor atenção, até surgir uma pergunta.
— Tem alguma Milenna aqui?
Millie parece confusa quando direciona o olhar para a garçonete do estabelecimento. Uma jovem ruiva de vestidinho listrado rosa e avental, num estilo totalmente anos 50, até no chapeuzinho branco na cabeça. Ela está de patins e segura o telefone fora do gancho, os olhos passeando pelos clientes.
— Eu. — Millie levanta a mão, um pouco confusa
— Estão dizendo que querem falar com você. — A mulher diz
Millie olha para Ernie, que devolve o mesmo olhar confuso pra ela, apenas a encorajando a ir. A garota se levanta, mas nada daquilo faz o menor sentido. Por que alguém ligaria ao Beto's e pediria pra falar com ela, como saberiam que ela está ali?
A jovem ruiva entrega o telefone à Millie que logo o leva até a orelha.
— Alô. — Cumprimenta sem jeito — Quem é?
— Sua vadia desprezível. — Vocifera uma voz do outro lado da linha que faz cada pelo do corpo de Millie se arrepiar. Não parece uma voz humana, parece alterada, nitidamente alterada
— Quem tá falando? — Millie repete, tentando manter a voz baixa e colocando uma mão na frente da boca
— Seu maior pesadelo.
— Se você não disser quem é, eu vou desligar. — A garota insiste, tentando não demonstrar tanto medo quanto claramente estava sentindo, evitando olhar pra Ernie que parece curioso, em busca de uma reação dela
— Escuta aqui você, sua piranha. — Há uma pausa do outro lado da linha, um suspiro — Se você não parar de investigar a morte do imprestável do seu irmão, pessoas que você ama vão morrer, está me ouvindo!?
Millie sente sua mão começar a suar enquanto aperta o telefone.
— Quem tá falando? — Ela pergunta de novo, a bile subindo em sua garganta, a respiração começando a ficar ofegante
— Eu já disse, Milenna. — E solta uma risadinha de escárnio — O seu maior pesadelo. Gosta de filmes de terror, Millie? Porque você acaba de entrar em um.
— O quê?
Mas a ligação é dramaticamente cortada.
Millie escuta o barulho repetitivo do Bip Bip Bip do telefone, mas não consegue se acalmar. Ela se vira e Ernie já está em sua frente, o olhar nitidamente preocupado.
— O que foi?
Millie balança a cabeça, ainda confusa com o que acabara de acontecer. Ernie pega o telefone de sua mão, mas percebe que está fora de linha, então suspira e o coloca de volta no lugar.
— Quem te ligou? — Ele tenta de novo
— Eu não sei. — Admite ela, o olhar sem foco
O garoto assentiu.
— Vem, vamos pro carro, me conta no caminho.
Millie só concordou, vendo o garoto colocar uma nota de 10 libras sobre a mesa, apanhar o notebook, a mochila e sair, abrindo a porta para que ela andasse na sua frente.
— Então a ligação não tem nada a ver com os bilhetes, não é? — Ernest pergunta minutos mais tarde, as mãos no volante. Millie nem tem certeza de onde estão indo, mas o fato de estar ao lado dele no carro parece muito mais reconfortante do que estar tão exposta no restaurante, onde começa a ter certeza que estava sendo observada
— Como teria? — Questiona ela — Os bilhetes me mandaram investigar...
— E a ligação mandou parar... — Ernest suspira
Millie começa a bater os dedos na coxa, nervosa.
— É só uma pessoa idiota tentando te assustar.
— Mas o Mark tá morto! — Millie encara Ernest — O assassino do meu irmão me ligou, e se ele está solto por aí, ele pode... ele pode fazer de novo. Precisamos parar ele... antes que ele nos pare.
— A gente vai. — Diz Ernie — Eu prometo.
O olhar dos dois se encontram, mas logo se desviam quando a garota fica muito corada e o menino precisa voltar a encarar a estrada. Millie tenta urgentemente retomar a linha de pensamento.
— O Gaspard é o único ponto de partida que temos pra encontrar Savannah, o que pode nos ajudar a pegar o assassino. — Comenta ela, também alinhando seus pensamentos — Mas hoje é domingo, não sabemos onde encontrar ele fora de Hogwarts.
— Na verdade... — Pondera Ernie — acho que sei um lugar.
xxx
Ele, com certeza, deveria ter dormido de mais. Era essa a sensação que Draco tinha quando se espreguiçou na cama com uma desgraçada dor de cabeça. Era domingo, isso ele se lembrava bem, então como ainda podia estar dormindo sem sua prima o ter derrubado da cama, era uma dúvida e tanto.
— Millie? — Draco chamou, sem se mexer — Millie?
O loiro se pendurou na beliche e olhou para a cama de baixo, ela estava perfeitamente arrumada, o que indicava que Millie já estava de pé. Ela teria saído? Por que sairia sem avisá-lo?
Draco deu um pulo da cama de cima e voltou a se esticar. Arrumou a cama de qualquer jeito e seguiu para a cozinha, os pés cobertos por meias, uma simples calça solta de xadrez vermelha e uma camisa preta qualquer.
Millie não estava na sala, nem em nenhum cômodo da casa.
O garoto meteu a mão no bolso da calça e apanhou uma caixa de cigarro e um isqueiro, seus companheiros tradicionais.
Aproveitando que a prima tinha saído, Draco foi até a segunda porta da sala e saiu pra sacada do prédio, se apoiando nas grades enquanto observava a visão que não era nada agradável. Não era bonito, mas às vezes Draco gostava de olhar, como se estivesse apenas se auto-punindo por toda a merda em que está vivendo, mesmo que nem ele e nem a prima tivessem culpa.
Draco segura o cigarro já aceso entre os dedos e o leva à boca.
Tem um casal passeando na rua. Eles parecem felizes. O cara com certeza tem dinheiro para pagar um sorvete para ela, ele com certeza a merece.
Não é como Draco. Não é como ele nunca vai voltar a ser capaz de sequer desejar Jessie Finch-Fletchley, uma princesinha rica e perfeita, com a vida tão diferente dele.
Houve um barulho atrás dele.
Draco se virou de imediato, confuso.
Estava sozinho em casa, mas ele conseguiu ver um objeto no chão da sala, o que ocasionou aquele barulho. Deveria ter sido o vento, claro.
O loiro se aproxima e se abaixa, mas já sabe o que caiu. Um quadro com uma fotografia. O favorito de Millie.
Na margem da fotografia há uma data e uma descrição. Disney, 1993. Na foto... três rostos sorridentes, fazendo pose em frente a um grande e luxuoso castelo. A Millie de treze anos usa franja e tem o cabelo curto, com uma tiara preta com as orelhas do Mickey; Draco sorri deliberadamente, enquanto Mark, aos quinze anos, está bem atrás dos dois primos, fazendo o símbolo de paz e amor com os dois dedos na cabeça dos dois.
Foi exatamente um ano antes do inferno começar.
Draco suspirou, pensando como Millie vai se irritar se encontrar o porta-retrato favorito dela quebrado. O loiro coloca o cigarro na boca e pega pelo menos a foto, que, felizmente, ainda estava intacta.
Ele balança os cacos de vidro da foto, ignorando os poucos que se cravaram em sua mão no processo. Draco coloca a foto sobre o sofá e olha para a própria mão muito pálida que destaca facilmente o sangue.
— Ótimo. — Ele murmura
Draco escuta outro barulho, o que o deixa outra vez em alerta. O garoto se levantou e se virou depressa para a cozinha.
Ele tirou o cigarro da boca e soprou o ar enquanto se mexia na direção do som.
Há um clima de tensão no ambiente, o barulho dos carros passando na rua lá embaixo, o som de pássaros do lado de fora, mas, ainda assim, tudo parece tão solitário.
Seu coração começa a bater mais rápido, a respiração ofegante, a sensação de que estava sendo observado.
Draco rodou o olhar pela cozinha, calmamente, até que ouviu..
Meow.
O gato ruivo praticamente pulou na mesa, o fazendo saltar para trás, mas rir de sua própria idiotice.
— Rubi! — Draco resmungou observando o gato da síndica do prédio — Espero que não tenha vindo atrás de comida, estou tão miserável quanto você.
Draco passou pelo gato e foi diretamente até a pia, colocando o cigarro no cinzeiro enquanto começava a tirar os pequenos cacos de vidro da mão.
— Se sentindo sozinho também? — Ele perguntou enquanto lavava — É, eu entendo bem você.
O garoto levanta levemente a cabeça, o olhar no pequeno espelho em frente à pia, é nesse instante que seus olhos arregalaram ao notar o vulto bem atrás dele.
Draco grita e salta para o lado, o que fez a faca que estava apontada para ele acertar diretamente a parede.
Capa preta. Máscara branca.
Draco capta tudo rápido demais. Mas por que diabos o vilão de um filme de terror invadiu sua casa? Isso, Draco não sabe.
— Olha, eu não tenho dinheiro. — Ele ergue as mãos, assustado, o corpo tremendo enquanto vê o assassino se recuperar rápido demais do erro
Mas o Ghostface não se importa com o que Draco diz, ele avança para investir novamente.
O loiro não foi burro e correu, desesperado que estava para se livrar do pânico que começava a subir por seu corpo.
Suas mãos alcançaram a porta principal e giraram com desespero a maçaneta, mas a porta estava trancada. Ghostface investiu novamente com a faca que passou de raspão por Draco, seu corte atingiu o vento quando o loiro se abaixou.
O golpe vem novamente, mas Draco o acerta com as mãos, tentando evitar a todo custo o brilho da lâmina afiada que mira fixamente o seu corpo.
Draco recebe uma cotovelada nas costas e o peso do Ghostface sobre si que parece tentar de todas as formas mantê-lo no chão. O loiro mexe suas pernas e o chuta fazendo-o cair também, tenta se levantar, mas o assassino se levanta muito rápido e parte pra cima dele.
Sua bile começa a subir pela garganta, o momento de tensão aumentando junto com as batidas do seu coração ao receber todo o peso do Ghostface em cima de si.
Draco fica trêmulo, ofegante, algumas lágrimas querendo sair de seus olhos, mas se mantém firme, afastando a todo custo aquelas mãos cobertas por luvas de acertá-lo com a lâmina.
O loiro se sente quase imobilizado, sente a ardência no ombro quando a lâmina o atinge e grita, implorando por socorro.
Seu pedido parece ser atendido quando um vulto ruivo pula na frente dos olhos de Draco e atinge a mão com a luva, o que desequilibra o assassino.
Draco aproveita o momento de distração causado quando Rubi ataca o Ghostface com toda fúria e se mexe, correndo de volta para a cozinha.
Ele tenta não tremer, a mão direita apertando o ombro que sangra e dói, dói de forma absurda.
Mas ele não tem tempo.
Draco puxa a gaveta do armário deplorável e implora mentalmente, mas não há facas ali... nenhuma faca tão grande quanto a que o assassino usa.
Lágrimas caem do rosto de Draco, seu pavor aumenta. Ele ouve um miado de desespero do gato e um baque.
Rubi não iria distraí-lo por muito tempo.
Draco correu os olhos pela cozinha, todo o seu corpo tremendo horrorizado.
Uma arma, ele implorou mentalmente, uma arma, por favor.
Algo parecia arranhar a parede, o som da lâmina brincando com ele, apenas para o aterrorizar.
Draco sentiu as lágrimas escorrendo e olhou para o espelho em uma última e esperançosa tentativa.
Um soco e o objeto se espatifou em vários pedaços, o garoto apanhou o pedaço maior de vidro, apertando no punho e ignorando a dor e o sangue, apenas segurando a ponta afiada e encarando a porta.
Esperando...
Esperando...
Passos de bota se aproximavam... o arranhar da porta parecia rasgar sua pele, arrepiar seu corpo.
— Eu não tenho medo de você. — Draco gritou — Aparece!
Nada.
Draco se mexeu, os passos devagar, a mão direita apertando o caco de vidro apontado para frente.
Ele andou calmamente até a entrada da cozinha, seus olhos passando pela sala, confuso.
O Ghostface não estava em nenhum lugar.
A respiração de Draco ficou ainda mais ofegante.
Ele deu mais um passo, devagar, silencioso.
Boom.
Ele só sentiu quando a lâmina o atingiu no flanco direito, Draco gritou o mais alto que podia, as lágrimas mais desesperadas, a dor insuportável.
Draco virou para o assassino e tentou o atingir com o vidro, mas o Ghostface apertou a lâmina no flanco de Draco, a girando, como se só estivesse brincando.
O sangue escorreu pela boca de Draco, sua cabeça começou a perder os sentidos.
Ele viu um vislumbre de Rubi, o gato, antes ágil e cheio de vida, agora inerte em uma poça de sangue no chão.
— P-por favor... — Draco conseguiu implorar, o terror o consumindo por completo quando caiu de joelhos sobre o chão
— Morra — A voz por trás da máscara falou, mas não parecia uma voz não humana, parecia normal, comum, embora sem senso de emoção algum —, seu montinho de merda!
Draco gritou ainda mais alto quando sentiu o ataque da faca ainda mais brutal, caindo de vez no chão.
O Ghostface puxou a lâmina, observando os olhos acinzentados de Draco, com lágrimas, ainda encarando-o.
Então a faca desceu de novo sobre seu corpo, traçando o seu peito, ceifando de vez sua vida e acabando com qualquer esperança de sobreviver que ele ainda pudesse ter.
xxx
Luzes que brilhavam mesmo durante o dia. Ambiente agitado. O letreiro "GameZone" tinha luzes neon que ficavam bem mais vívidas durante à noite, mas o local ficava aberto quase o dia inteiro. Das 10h da manhã até às 00h, mais especificamente.
O relógio do carro de Ernie indicava 14h quando Ernie estacionou o carro em uma parada à frente da Casa de Jogos, de onde já se sentia um pouco da vibração e da animação do ambiente.
— Acha que ele está aqui? — Millie pergunta novamente
— Todo estudante de Hogwarts frequenta o GameZone. — Garante Ernie, desligando o carro e pegando a chave — Principalmente quando se está no último ano. E é domingo, só temos que torcer pra ter acertado o horário dele aqui.
Millie abre a porta do seu lado do carro e sai para fora, os olhos fitando aquele espaço que ela não entra há tantos anos.
— Tudo bem? — Ernie pergunta ao notar a expressão dela
— Tá, claro, vamos. — Ela força um sorriso e se adianta
O ruído de eletrônicos e as luzes cegantes os receberam ainda na entrada, além do barulho de adolescentes martelando seus respectivos jogos.
Millie e Ernie andaram por um corredor extremamente barulhento com máquinas de arcade dos dois lados, cheio de jovens batendo em teclas e gritando "morra!" ou "eu vou acabar com você!".
Cada máquina tinha uma luz brilhante e atraente, um contraste com as paredes com pôsteres de jogos ou filmes e até quadrinhos.
— Fica atento. — Sussurrou Millie, sabendo que precisavam achar algum sinal de Gaspard
Os garotos passaram pela máquina de dança onde duas garotas faziam seu show disputando o primeiro lugar enquanto pulavam no tapete eletrônico. Millie não demorou a notar que eram as duas amigas da locadora, as que alugaram dois filmes de terror e dois de romance no outro dia.
Saindo da área de fliperamas, os garotos passaram pelo "SnackBar" de onde, logo descobriu Millie, vinha um delicioso cheiro de pipoca.
A lanchonete era pequena, com duas atendentes que usavam patins, assim como no Beto's, mas também havia duas máquinas de salgadinho, além de uma de refrigerante, nas quais o cliente só precisava colocar uma moeda para pegar o que queria.
O som de música eletrônica preenchia o novo espaço quando Millie e Ernie seguiram o corredor para a última ala do GameZone, onde, mentalmente, imploravam para encontrar Gaspard.
A pista de boliche.
A área era ampla e afastada, com dez pistas bem iluminadas com acabamento em madeira. As bolas estavam dispostas em suportes de metal que destacavam as suas cores variadas que pareciam quase reluzir.
A parede oposta das pistas era um imenso espelho e havia dois pequenos sofás de couro vermelho-vivo em cada área de pista, onde, felizmente, Millie não demorou a avistar uma cabeleira castanha encaracolada.
— Gaspard. — Ernie disse antes que Millie pudesse dizer
A garota sorriu.
O jovem de dezessete anos estava praticamente jogado em um dos sofás de frente para a entrada. Havia pegado a pista dois, o que também facilitou que fosse encontrado. Ele sorria, os olhos direcionados na pista, mas penteando seus cabelos encaracolados com as mãos.
Millie e Ernie se aproximaram, ignorando que Gaspard não estivesse sozinho, e ignorando mais ainda que Noah evidentemente estivesse junto.
— Patético. — O moreno gargalhava. Era fato que fazia anos que Millie não o via, mas foi incrível como o reconheceu facilmente, os pequenos e intensos olhos verdes que se fechavam quando ele sorria, os rebeldes cabelos castanhos escuros, todo aquele ar travesso de sempre. Noah podia ter dezessete anos agora, mas, para Millie, parecia igual ao garotinho de treze anos que ela se lembra
Noah tem acabado de se levantar e rir justamente da bonita e alta garota loira que está com eles, Millie também se lembra dela, Heather Rowle. Era incrível como o trio inseparável continuava inseparável.
— Patético é você. — Resmunga a garota cruzando os braços. Um bonito colar de prata com um "H" tilintando em seu pescoço quando ela se afasta da pista, permitindo que Noah se aproxime para jogar
Ela vai até Gaspard, ainda de cara emburrada, o menino sorri com um olhar doce pra ela e afasta os braços, o que a menina aceita quando se senta de lado no sofá, mas bem no colo dele, colocando uma mão atrás de seu pescoço.
Okay, esse ponto Millie perdeu nos últimos quatro anos.
— Hey, Gaspard. — É Ernie quem cumprimenta quando eles se aproximam o suficiente, atraindo a atenção do trio
— Macmillan. — Murmura Gaspard, a mão esquerda pousada na coxa de Heather por cima da saia vermelha xadrez que ela usa, a mão direita segurando uma lata de coca-cola e a levando a boca
— Será que a gente pode conversar? — Millie se adianta, o olhar e o tom gentil. Ela lembrava bem que aqueles três não eram conhecidos por simpatia, mas tinha que funcionar
Gaspard franze a testa, a latinha de coca ainda na boca. Heather os observa com interesse, sua mão direita se esticando para pegar a taça de milk-shake de morango que estava sobre a mesinha no centro dos dois sofás.
— Sobre? — O garoto questiona
— Milenna? — Noah a encara, finalmente parecendo a reconhecer, uma risadinha de escárnio transparente no rosto — Meu Deus, é você, né?
Millie sentiu um desconforto preencher seu corpo. Estava apresentável, é claro, mas não tinha nada de marca nas peças que ela vestia, nada elegante e caro, ou uma joia valiosa como o que sempre foram acostumados. Não, Millie usava uma mísera camisa branca de botões por baixo de um vestido preto sem mangas. Nos pés um simples sapato surrado com uma curta meia branca. Clássica.
— Oi, Noah. — Ela se forçou a lhe oferecer um sorriso
Heather riu.
— É a sua prima? Meu Deus, o casal voltou. Que fofo.
— Yaxley. — Resmunga Gaspard — Olha só, e a outra retorna.
Millie suspira fundo.
— Gaspard, eu preciso falar com sua irmã.
— E eu não entendo o que eu tenho a ver com isso. — Ele murmura com um risinho se inclinando e colocando a lata de refrigerante na mesa — A Nani não tá aqui.
— Nós sabemos que ela não tá aqui. — Ernie cruza os braços, o porte sério é levemente impaciente
— Eu preciso do telefone dela. — Insiste Millie — Ou... ou pelo menos saber onde ela está.
— Bem longe daqui. — O garoto faz pouco caso — E por que eu deveria entregar a vocês o número da minha irmã? Se vocês não tem, é porque certamente não deveriam ter.
— Sua irmã namorou o meu irmão. — Millie tenta outra vez
— É, às vezes a miopia da Nani ficava fora de controle.
Heather solta uma risadinha, o canudo do milkshake na boca, se ajustando no mesmo lugar.
— Eu só preciso saber... preciso saber de algo sobre o meu irmão, eu preciso conversar com a Savannah, por favor. — Millie insiste, tentando se forçar a não perder seu orgulho diante de três adolescentes ricos e mimados como aqueles — É realmente sério.
— O telefone da minha irmã. — Pondera Gaspard se inclinando um pouco, mas sem tirar a mão da garota loira
Os olhos de Millie brilham com expectativa, ele estava mesmo considerando.
Noah solta uma risadinha, mesmo afastado, enquanto lança as bolas coloridas contra os pinos de boliche.
— E o que a gente ganha com isso? — Gaspard finalmente pergunta
Ótimo. De volta à estaca zero. Estavam mesmo diante de um carniceiro de novo? Mas Gaspard é rico, ele, Noah e Heather não tem do que se queixar, então o que três adolescentes ricos poderiam querer?
— O que vocês querem!? — Ernie pergunta, o tom sério como se repreendesse uma criança de dez anos
Heather se inclina e fala algo no ouvido de Gaspard, que apenas sorri e assente.
— Que tal um passe? — Começa Gaspard, um olhar interessado e ambicioso
Millie fica confusa, mas ela percebe o suspiro de Ernest perto dela, o modo como ele muda o peso da perna e desvia o olhar.
— Uhh. — Noah assobiou voltando até a mesa para apanhar batatas fritas e acompanhar melhor a conversa ao se largar no sofá — Três passes.
— Claro que são três passes. — Corrige Gaspard
— E então? — Heather incentiva com um sorriso ansioso
— De que diabos de passe vocês estão falando? — Millie pergunta confusa
Ernest leva a mão aos cabelos como se estivesse pensando, ele olha para Millie, o que implica que ele entende muito bem o assunto.
— Seu namorado sabe. — Gaspard responde. Seu olhar demonstrando o quanto ele se diverte com a situação, ele se inclina e quase sussurra quando acrescenta: — Estamos falando do Clube do Dragão Negro.
— Você tá maluco? — Ernie exclama enquanto olha para os lados, mas não há ninguém por perto, então ele suspira — Vocês sabem que não é qualquer pessoa que pode participar.
— E por isso a gente quer. — Heather sorriu ainda mais — Não somos qualquer pessoa, caro Macmillan.
— Não é um lugar pra crianças!
— Temos dezessete, cara. — Noah gargalhou — Ninguém te contou ainda não?
— Três passes. — Repetiu Gaspard — É pegar ou largar.
Ernest olhou para Millie que continuava confusa.
— Do que eles está falando? — Perguntou baixo
O loiro suspirou e desviou o olhar.
— É um grupo secreto... ou deveria ser. Jogos, festas, apostas... ehr plantas especiais... — E ele abaixou o tom — Tipo um evento clandestino para os ex-alunos de Hogwarts que ingressam na faculdade.
— Isso explica eu não saber. — Millie suspira
— Não são só ex-alunos! — Resmunga Heather, parecendo uma garotinha mimada e irritante — Membros especiais recebem o passe no último ano.
— E vocês sabem porque não receberam! — Ernest os encara com o tom sério
Noah solta uma risada, sentado do lado do amigo no sofá, ainda inclinado enquanto pega uma e outra batata frita. Millie não sabe o que aconteceu, mas consegue ter uma vaga ideia.
— Esquece o passado, Macmillan. — Pede o garoto — Coisas podem ser esquecidas.
— E você é um membro titular! — Gaspard revida — Só precisa falar bem de nós e... magicamente teremos três passes.
— Não parece difícil, parece, fofucho? — Heather acrescentou com uma voz tão fina e irritante que quase doeu nos nervos de Millie
Ernest suspira fundo, parece irritado.
— Okay. Três passes.
Gaspard, Noah e Heather sorriem satisfeitos, a garota soltando um gritinho de empolgação.
— O telefone. — Lembra Millie
— Heddy. — Gaspard olha para a garota e bate levemente na perna dela, o que a garota entende quando se levanta, dando espaço para o garoto enfiar a mão no bolso da calça larga e tirar um certo objeto dali
Millie realmente se surpreende. Um telefone móvel? Mas óbvio, não qualquer telefone móvel. Como alguém ligada em notícias, mesmo que sem um pingo de dinheiro, Millie conhecia aquele modelo. Nokia 5120. Fora lançado naquele mesmo ano. O sonho de consumo de qualquer jovem.
Mas, óbvio, um telefone móvel era um luxo. Millie e Draco não poderiam manter nem um fixo. Ligações era caras. Como poderiam ter um daquele?
Gaspard começou a teclar no celular, mas fez sinal para Heather sentar de novo, o que a menina prontamente fez.
— Quer que eu anote? — O garoto volta a levanta o olhar
Ernest puxou a mochila depressa e tirou de lá um caderninho e uma caneta, logo entregando para Gaspard, que rapidamente escreveu enquanto observava o celular.
— Três passes. — Lembrou ele quando ergueu de novo o caderninho e a caneta para que Ernie recebesse
— Pode ter certeza que eu não vou esquecer. — O loiro garantiu com o rosto sério, mas seu tom estava mais doce quando olhou pra Millie — Vamos?
✨ LEVEL UP ✨
você acaba de passar de nível
a parte quatro
será liberada
em breve
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