❦ 𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐒𝐞𝐭𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐔𝐦 ❦
Continuo de mãos dadas com Victor que já tinha entendido a situação. Quem diria que depois de vinte e cinco anos da minha vida, eu ia acabar reencontrando a minha mãe.
- O cigarro acabou?. - Perguntei pra ela.
Na mesma hora Lucas estava bebendo uma coca e cuspiu dando risada, eu sabia que aquela criatura ia rir no meio desse clima desagradável. Gabriel deu um tapa no coitado do rapaz e ao mesmo tempo segurava a risada, essa dupla era horrível.
A mulher ficou um pouco sem graça, mas eu não ligava pra nada que ela sentia.
- A gente pode conversar? De mulher pra mulher. - Eu sentia um pouco de receio na sua fala.
Victor continuava me olhando, ele queria saber se eu realmente estava pronta praquela conversa. Não tinha a onde correr, uma hora eu ia acabar tendo essa conversa.
- Amor, se você não quiser, tá tudo bem. - Victor fala sorrindo pra mim. - Vai no seu tempo.
Dou uma respirada funda.
- Relaxa meu bem, já tá na hora de enfrentar o passado com dois pé no peito. - Dou um selinho no rapaz e me levanto.
Cristina me olhava sem saber o que fazer, apenas direcionem uma direção com a minha cabeça. Naquela noite eu ia falar tudo que estava entalado na minha garganta durante esses anos.
A gente se aproxima das plantações da minha avó, cada mudinha tem uma história e eu como uma neta atenta, escutava mesmo sabendo que a história já foi contada várias vezes.
Me encosto em uma parede de tijolos e espero a moça começar a falar. Sinto o seu nervosismo de longe, qual foi isso tudo? Será que é tão difícil falar com alguém que precisou de você e você apenas a abandona?.
- Seja rápida e objetiva mamãe. - Dou um sorriso forçado.
- Eu tenho tanta coisa pra te falar minha filha. - Sinto ela ficar um pouco trêmula. - Você é uma parte de mim muito importante.
- Imagina se não fosse. - Falei rindo.
- Não precisa ser irônica Mavi, eu sei que não fui a mãe que você tanto queria. - Ela limpa uma lágrima solitária. - Principalmente porque te deixei pra viver um grande amor.
- Uma mãe que eu tanto queria. - Dou um sorriso sofrido. - Você não sabe realmente o que eu passei por esses anos.
Ela ficava em silêncio.
- É sério que você foi embora com outro cara e me deixou com o meu pai que não tinha nenhuma experiência. - Faço uma pausa. - Não vem com esse papo de que a mãe que eu queria, você não sabe de nada e nunca vai entender, sabe por que? Porque você me abandonou!.
Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo. Cristina me olhava sem saber o que falar, eu já esperava isso vindo dela.
- Eu só quero um motivo simples. - Falei levantando um dos meus dedos. - Por que você me abandonou?.
Ela já chorava e eu junto, às lágrimas de sofrimento, de tantas vezes que eu perguntava pro meu pai, o porque que a mamãe não chegava em casa, será que eu era um filha ruim? Eu não tinha respostas para aquelas questões.
- Eu nunca amei o seu pai. - Cristina começou a falar. - A gente era grandes amigos, seu pai era um homem maravilhoso, sempre foi atencioso comigo, até que um dia meu pai se agradou do rapaz e queria que eu casasse com ele de todas as formas possíveis.
Dessa vez eu ficava quieta escutando tudo.
- Eu não queria me casar, mas meu pai me obrigou naquela época. - Ela falava entre as lágrimas. - Achei que poderia me apaixonar por ele naquele período, achei que poderia acontecer de tudo, até quando você nasceu.
Sequei um pouco das minhas lágrimas.
- Eu acabei me apaixonando por um rapaz, ele foi a pessoa que mais amei durante a minha vida, ele era um palhaço bobo de um circo e eu fiquei mais besta do que antes. - Ela sorri com a lembrança. - No último dia que ele ia ficar na cidade, eu decidi ir embora, mas confiava que Rodrigo ia ser o pai que você merece.
Cristina se aproxima de mim aos poucos.
- Por isso, vim até aqui te pedi perdão filha, você não merece nada de ruim, apenas coisas boas. - Ela seca outra lágrima. - Eu só queria que você me pudesse me perdoar.
- Não força dona Cristina, você sabe mais do que ninguém que esse negócio de perdão comigo não rola. - Dei uma risada irônica. - Acha que vai ser fácil passar um pano nisso tudo? Você acha que eu vou super apertar o reset da minha vida e te incluir nela como se nada tivesse acontecido? Desculpa mamãe, mas as coisas não funcionam desta maneira.
- Não tô falando desse jeito Vitória, por favor tenta me entender.
- E desde quando você me entende?. - Cruzo meus braços. - Dona Cristina, você já passou por uma situação chata a onde você é a única da turma que não pode dar uma flor pra mãe, porque ela não é presente? Aquele momento que seus amigos e os pais te olham com pena, você já passou?.
- Me desculpa... Me desculpa...
- Não vem querer ser boa moça comigo mãe,
estou a anos guardando isso pra mim, o que você queria ein? Que você aparecesse e eu fosse te abraçar e dizer que te amo?. - Dou uma risada. - Como vou falar que amo você, se eu não tenho nenhum sentimento ou respeito.
Cristina continuava me olhando e chorando ao mesmo tempo, eu estava destinada a falar tudo que senti durante esses anos.
- Sabe meu pai? Ele sim foi um guerreiro, entrava tudo que é buraco pra me tirar de algum problema. - Seco uma lágrima minha. - Todas as apresentações que eu tinha do dia das mães, ele sempre estava lá e quem recebia as flores? Era o meu pai.
Faço uma pausa.
- Vou confessar pra ti, eu apenas queria ser irmã de sangue do Gabriel e a Beatriz, a Michele sempre cuidou de mim com muito amor e carinho... Pelo menos os de fora se tornaram a minha família, diferente de você. - Respiro fundo. - Cadê você quando eu tive a minha primeira menstruação? Eu achei que estava morrendo... Cadê você quando eu beijei pela primeira vez... Meu pai fez o seu papel muito bem, ele sim me ensinou tudo.
Cristina continuava quieta e ao mesmo tempo chorava, eu não conseguia sentir uma empatia por ela. Ainda tinha uma barreira que me impedia de fazer isso.
- Eu sei que errei Maria, mas estou aqui pra tentar fazer o certo. - Ela me olha. - Eu sou sua mãe.
- Tu já ouviu aquela frase? Mãe é quem cria?. - Cruzei meus braços. - A minha mãe foi a vó, a tia Rê e a Michele, elas sim foram as minhas mães... O meu pai também foi tudo que eu tinha.
A gente não ia chegar em um ponto final naquilo, nem eu queria que chegasse, a única coisa que eu esperava, era que essa conversa acabasse o mais rápido possível.
- Você tem um irmão, pequeno aliás. - Cristina se pronuncia. - O nome dele é Miguel e ele é todo apaixonado pela loud.
- Como é?.
- Eu tive um filho com o cara que fugi. - Ela limpa as lágrimas com as costas da mãe. - Ele tem oito anos e gosta demais de um time, que por coincidência você era uma das jogadores.
Dessa vez fiquei quieta tentando raciocinar, como assim eu tinha um irmão caçula? Então aquela criança que tinha chegado no carro com eles, era meu irmão.
- Espero que você não o rejeite... Mesmo que, sabe?. - Sinto que ela ficou sem palavras.
- Relaxa mamãe, o meu irmão não tem culpa das merdas que aconteceu. - Falei olhando para a criança que estava conversando animadamente com Bak. - Quero fazer parte da vida dele, mesmo que precisa conviver com você.
- Obrigada filha. - Ela tentou se aproximar.
- Só não força o contato. - Falei andando na frente. - Não sei quando irei te perdoar, mas por enquanto deixa agir naturalmente.
Sai daquele lugar e fui na direção da garagem, consigo perceber o menino todo feliz dizendo que a loud era incrível, que geral passava mal quando enfrentava a gente.
- Nossa fico muito lisonjeada em escutar isso. - Falei dando um susto no menino.
- Mentira. - Ele põe a mão na boca. - Loud Mavi? Você é demais.
- Obrigada Miguel, você também é demais. - Passei a mão em sua cabeça.
- Ela sabe meu nome. - Ele falou rindo todo animado. - Vocês são incríveis, eu acompanho cada live.
- Po, bacana em saber disso. - Bak fala.
- A sua mãe te contou quem sou eu?. - Perguntei pra criança.
- Não, mas eu te conheço desde que você apareceu. - Ele falava todo empolgado, pelo menos Miguel é animado.
- Aí para que eu fico toda metida. - Falei sorrindo. - Miguel, você é meu irmão.
O menino que estava pulante parou e abriu a boca, não sei porque mais comecei a rir da sua reação. Victor tinha chegado, creio que escutou a frase que tinha dito.
- Você tá falando sério? Mavi mentir pra criança é pecado. - Miguel começou a falar rápido.
- Não tô mentindo, pode perguntar pra sua mãe. - Dei risada. - Eu sou sua irmã mais velha.
- Caraca! Eu tô muito feliz. - Ele correu pra me abraçar. - Esse é o MELHOR NATAL DA MINHA VIDA.
- Então eu tenho um cunhado? Achei que não ia passar por essa fase. - Victor diz se aproximando.
- Fala pra ele Miguel, pra namorar com a minha irmã, você precisa beijar os meus pés. - Lzinn falou.
- Cara que loucura. - O menino falava rindo. - Eu acabei de saber que a Mavi é minha irmã, o Coringa meu cunhado e o Bak e Lzinn são meus amigos? Como eu vou contar isso pra galera da escola?.
- Calma, calma. - Falei segurando aquele corpinho pequeno. - Tu não pode contar que eu namoro com o Victor, ainda não.
- Digamos que você foi o primeiro a saber. - Coringa piscou.
Dou risada com aquela situação toda, pelo menos depois daquela conversa, eu tive um momento de alegria. Não ia jamais negar um irmão, ele não tinha culpa da situação, além de que ia ser bom pro crescimento de Miguel.
O garoto foi pra mãe novamente, porque ele precisava conhecer o restante da família. Victor me abraçou apertado, eu já estava sentindo saudades daquilo, principalmente da calmaria que ele me passava.
- Eu tô tão orgulhoso de você Mavi. - Victor sussura. - Você a cada dia que passa, se torna mais forte.
- Falei tudo que estava entalado na minha garganta. - Me apertei mais nele. - Ela queria meu perdão, mas não tô pronta.
- É tudo no seu tempo amor. - Victor se separa de mim e me beija. - Só de você ter dado um passo, já é tudo.
- Aí garoto, eu amo você. - O puxo para um beijo rápido.
Naquele momento, a única coisa que passava na minha cabeça era se realmente um dia eu ia conseguir perdoar a minha mãe, mas por enquanto eu queria aproveitar essa oportunidade em ser uma irmã mais velha.
Espero ser o exemplo que Miguel merece.
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(2/?)
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