𝟶𝟷
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Peguei a ferramenta em cima da mesa perto de mim e fui para baixo do meu x-wing, mexendo em algumas peças com a intenção de me deixar mais relaxada. Minha mão apertava a ferramenta mais do que necessário, e meus dentes encontravam-se cerrados.
— Você sabe que o x-wing está em perfeito estado, né? — inclinei a cabeça e vi Drina se sentar em cima da mesa.
A mulher de pele marrom clara e cachos castanhos volumosos me encarou em zombaria, os olhos escuros brilhando em audácia. Esse era o mesmo olhar que ela costumava exibir enquanto pilotava, Drina Temman era extremamente talentosa em combate e amante da adrenalina.
— Eu sei — bufei, voltando a mexer na máquina.
— De nada adianta o seu nervosismo — escutei uma voz doce dizer.
Maire entrou no meu campo de visão e parou ao lado da namorada. Os cabelos loiros estavam presos no topo da sua cabeça, os olhos castanhos fixos em mim contrastavam com sua pele branca rosada.
— Por que você está com esse humor mesmo? — a morena perguntou para mim e colocou a loira entre as suas pernas, a abraçando por trás.
— Dameron — Maire soltou uma risadinha, acariciando o braço de Drina.
Saí de baixo do x-wing quase que na velocidade da luz e apontei para a Hubbard.
— Não é nada disso que você está pensando — falei e passei a mão na testa. Suspirei. — Dameron foi para Jakku em busca do mapa com a localização para Luke Skywalker.
— Onde fica isso? — Maire questionou.
— Em algum lugar remoto das Extensões Ocidentais — respondi, dando de ombros. —, mas isso não importa. A questão é: eu queria ter ido, mas a general achou melhor que ele fosse.
— Você sempre compreende as decisões da general — disse a loira. —, ou pelo menos tenta. Por que dessa vez foi diferente?
— E não foi — uma voz grave falou atrás de mim e, pelo tom, pude ter certeza de que o homem estava sorrindo. — Ela respeitou a decisão de Leia, como sempre, mas Poe aproveitou a oportunidade para tirar uma com a nossa amiga, não é mesmo, Kytie?
Revirei os olhos e amaldiçoei o homem mentalmente.
Derian Temman passou o braço pelos meus ombros, me abraçando de lado em zombaria. Ele era igualzinho a sua irmã, mesmos olhos e mesmo tom de pele, mas o homem escolheu deixar o cabelo bem curto. Eu não era considerada uma mulher pequena, mas Derian era muito alto.
Tirei o braço do homem de mim com certa brutalidade e voltei para baixo do meu caça para continuar o que eu estava fazendo, minha válvula de escape contra a ansiedade. Derian foi rindo até a mesa, simplesmente empurrou a irmã – que, graças a namorada, não caiu no chão – e se sentou.
Derian era um ano mais velho que Drina, o que não era nem um pouco relevante para ela.
— Bruto — resmungou a Temman mais nova.
Depois de alguns minutos, dei duas batidinhas no x-wing, terminando de vez de mexer nele, e meu droide saiu de trás dele. Ele era uma unidade R2 branca com detalhes em roxo, pertenceu a minha mãe, e foi dada a mim um pouco antes de ela morrer. Ele se chamava R2-K3. K3 serviu minha mãe muito bem quando os rebeldes derrotaram o Império, e agora me servia para que pudéssemos derrotar a Primeira Ordem.
— Você precisa de uma namorada, Derian — Drina comentou. — Precisamos de mais uma pessoa para te aguentar, a gente não está dando conta.
— Primeiro, a única opinião que eu levo em consideração sobre a minha chatice é a da Ascella, e ela nunca disse nada. Segundo, eu até que queria uma namorada, mas você chegou primeiro — ele pontuou, resmungando de brincadeira a última parte.
As bochechas de Maire ficaram mais vermelhas, mas ela riu ainda assim. Drina deu um sorriso vitorioso, abraçou a loira com mais força e beijou sua nuca descoberta.
Os irmãos Temman se apaixonaram pela Hubbard no minuto que colocaram os olhos sobre ela, com o seu jeito doce e único de ver as pessoas e a galáxia, seu talento para pilotar – embora ela não gostasse muito da parte do combate, mesmo tendo de fazê-lo. No entanto, Derian nunca teve uma chance real com a loira. Maire se apaixonou pelo jeito de Drina quase instantaneamente depois que conversou com ela pela primeira vez, pela sua força e determinação.
— Primeiro, Ella é um dos seres mais puros dessa galáxia, tem que ser alguém muito ruim para ela não gostar e aturar — disse Drina, copiando o jeito de falar do irmão. — Segundo, eu sou bem mais legal e bonita que você. — se gabou.
Dei um sorriso para os meus amigos, balançando a cabeça em negação. Às vezes eu me pegava pensando em como seria ter um irmão ou irmã, como seria ter a mesma relação que os irmãos Temman tinham. Entretanto, quando esses pensamentos vinham, eu os substituía pelos pensamentos da família que eu escolhi para mim. Uma família construída pela amizade, e não sangue, mas tão unida e amorosa quanto qualquer outra.
Guardei as ferramentas em uma caixa ao lado da mesa e bati as mãos na minha calça.
— Embora eu ame vocês, preciso de um pouco de paz agora, então até mais tarde.
— Nem vem com essa — sorriu Drina. — Você adora ficar com a gente.
— Não seria nada sem nós — assentiu Derian.
Maire encarou os dois de uma forma engraçada e fingiu sussurrar para mim, colocando a mão do lado esquerdo da boca:
— Vá, antes que não haja mais tempo. Eu te dou cobertura.
Sorri para eles.
— Vamos, K3.
Acenei para os meus amigos e caminhei com o droide a meu encalço até o quarto que eu dividia com as meninas. Quando entrei no quarto, corri para o banheiro para tomar um banho. Eu precisava relaxar, ficar mais tranquila, mas parecia impossível.
O mapa que Poe Dameron foi atrás era muito necessário para a Resistência, nossa pequena chance para vencer, enfim derrotar a Primeira Ordem – que não podia tocar no mapa de jeito nenhum.
Fechei os olhos e me enfiei embaixo do chuveiro, a água caía no meu rosto e escorria pelo meu corpo. Senti meus músculos relaxarem, mas os meus pensamentos continuavam vindo a toda velocidade. A Resistência estava lutando há anos, tivemos muitas perdas, inclusive a dos meus pais. Precisávamos vencer, e o mapa até Skywalker era a nossa melhor chance, era a nossa esperança.
Quando terminei de me lavar, desliguei o chuveiro e envolvi meu corpo com uma toalha. Andei até o quarto, indo até o canto dele, onde ficava a minha cama, e peguei uma muda de roupas que eu havia deixado em cima dela. Troquei-me rapidamente, vestindo uma calça simples, blusa preta, botas e uma jaqueta marrom.
Ergui a cabeça e olhei para o travesseiro, a pulseira que um dia pertencera a minha mãe repousava sobre ele. Ela era feita com um cordão preto e tinha um pingente dourado com o símbolo da Aliança Rebelde. Mamãe a entregou para mim no dia que decidi seguir os passos dos meus pais e me juntar a Resistência.
K3, que estava parado ao lado da minha cama, soltou alguns bips tristes.
— Eu sei, meu amigo — senti um nó na garganta. — Também sinto muita falta deles.
Coloquei a pulseira no meu pulso e contornei o pingente com o dedo.
Mamãe, papai... Suspirei, vocês fazem falta todos os dias.
Escutei batidas na porta e ergui a cabeça, espantando a vontade de chorar que estava prestes a me tomar.
— Pode entrar!
Ascella Dixie entrou no quarto com um sorriso no rosto, o cabelo castanho ondulado solto, a pele branca pálida como sempre, olhos escuros brilhando. Ella, como preferia ser chamada, já que detestava o seu nome, era a mais nova no nosso grupo de amigos. Ela não era uma pilota, como o resto de nós, mas mecânica e curandeira. E era muito boa no que fazia.
— Esse é o seu quarto também, por que bateu? — perguntei, divertida.
— Não sei, eu sempre bato antes de entrar em qualquer lugar — Ella soltou um riso e deu de ombros. — A general está chamando por você.
— Ela te disse sobre o que é?
Ella balançou a cabeça.
— Não, apenas disse que precisava ser você e que queria que você a encontrasse o mais rápido possível.
Levantei-me com pressa, não deixaria Leia esperando. Nós duas saímos do quarto com K3 atrás, seguimos juntas por metade do caminho, então Ella foi para a ala médica. Andei até a sala onde ficava os computadores, lugar onde a general Organa costumava ficar a maior parte do seu tempo. Assim que cheguei, me deparei com a mesma olhando um dos monitores.
— General? — chamei. — Ascella disse que a senhora mandou me chamar.
Leia se virou para mim e deu um leve sorriso, mas ele não chegou aos seus olhos. O assunto era sério. Muito sério.
— Sim, Kytzia. Pedi que a chamasse.
— O que houve? — indaguei.
A general me encarou seriamente e, sem prolongar o silêncio, falou:
— Perdemos o contato com Poe.
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