﹙⠀𝐕II. ﹚ shut up and dance.
A UNICA COISA QUE me fazia sentir melhor, mesmo quando essas lembranças me atormentavam, era a arte. Após o banho, vesti um moletom preto, um short confortável e um par de ténis.
Eu não precisava de música, apenas de alma. Percorri toda a casa, procurando um lugar pacífico: havia um quarto, um quarto vazio. Eu havia explorado cada canto daquela casa sempre que podia e, finalmente, encontrei o local perfeito.
O espaço era amplo, com piso de mármore castanho. As paredes antigas estavam pintadas de um azul pálido.
Meus pés deslizavam pelo chão, indo e voltando em movimentos suaves, como se uma música repetitiva, como um disco riscado, estivesse tocando. Minhas mãos se erguiam em harmonia, e meu corpo cansado finalmente começou a se entregar à alegria.
Não há nada que o meu amor pela arte não possa curar.
Enquanto dançava, senti a tensão nos meus ombros desaparecer lentamente. Cada movimento parecia desenhar uma linha de paz sobre a tempestade que se formava na minha mente. Aquele quarto vazio tornou-se um refúgio, um lugar onde eu podia deixar as lembranças para trás, mesmo que por alguns momentos.
A dança era minha confissão silenciosa. A cada giro, eu exorcizava os fantasmas do passado, a cada passo, eu criava distância das dores que me perseguiam. A leveza nos meus pés era a única certeza que eu precisava.
Quando finalmente parei, respirei fundo, sentindo o coração bater em um ritmo constante, como se tivesse encontrado seu compasso. O silêncio do quarto era reconfortante, quase sagrado. Sentei-me no chão frio de mármore e deixei meu corpo relaxar por completo.
Era nesse silêncio que eu me reconectava comigo mesma, como se a arte me trouxesse de volta ao centro, ao meu próprio eu. Por mais caótica que minha mente pudesse ser, aqui, eu estava em paz.
Respirei fundo, apoiando meu corpo sobre os joelhos. Permiti-me sentar ali, recuperando o fôlego. Fechei os olhos, sentindo a harmonia que permeava o ambiente.
Sentada no chão frio de mármore, com os olhos ainda fechados, percebi o peso das minhas próprias respirações. O silêncio era acolhedor, quase como um abraço. No entanto, algo no ar mudou. Era como se o ambiente tivesse ficado mais denso, carregado por uma presença invisível.
De repente, um arrepio percorreu minha espinha, e a sensação de estar sendo observada tornou-se inegável. Abri os olhos lentamente, hesitante, e foi então que o vi.
Dag estava parado à porta, seu olhar sombrio e intenso fixo em mim. Por um instante, meu corpo ficou paralisado. Aqueles olhos, que tantas vezes me haviam causado medo, agora me observavam com algo mais... algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu coração acelerar descontroladamente.
Ele não disse nada, apenas ficou ali, no limiar do quarto, como se fosse parte da própria escuridão. Sua presença dominava o espaço.
— Eu sempre soube que a dança era uma das poucas coisas que acalmavam a sua alma - ele finalmente disse, com uma voz baixa e rouca, carregada de uma familiaridade que me fez sentir um nó na garganta. — E, acredite ou não, a dança também me cura.
Soltei uma risada ao ouvir aquilo. Dag Torrance? Dançando? Era uma piada. Ele odiava dança. Nunca dançou comigo e muito menos se aproximava de uma pista de dança.
— Engraçado, Dag. Se eu não te conhecesse, até diria que você está sendo muito cavalheiro — zombei. — O que está fazendo aqui?
— Ah, vejamos... talvez eu esteja na minha casa, que divido com minha lindíssima esposa e...
Antes que ele pudesse terminar aquela frase repugnante, eu o interrompi.
— Sua lindíssima e obrigada esposa. Não use termos como "sua."
Dag inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso divertido se formando em seus lábios. Ele parecia se divertir com a minha resistência, como se cada vez que eu o desafiava, isso apenas o estimulasse mais.
— Obrigada ou não, isso não muda o fato de que você é minha, e nós dois sabemos disso — ele disse, aproximando-se lentamente. — E eu querendo afrouxar as regrinhas entre nós.
Seu tom era suave, quase sedutor, mas havia uma ameaça velada nas suas palavras, algo que sempre me deixava alerta. Por mais que eu tentasse resistir, a verdade era que Dag sabia como me desestabilizar.
— Afrouxar as regras? — perguntei, tentando manter minha voz firme. - Você nunca foi de afrouxar nada, Dag. Controle sempre foi sua prioridade.
Ele riu baixinho, parando a poucos passos de mim. A maneira como ele se movia, com aquela confiança quase predatória, fazia meu estômago revirar.
— Talvez eu esteja aprendendo com você — ele disse, sua voz quase um sussurro. — Ou talvez eu só queira ver até onde você vai com essa nova força que encontrou.
Eu o encarei, tentando decifrar suas intenções. Mas com Dag, as camadas eram profundas e enganosas. Ele era mestre em esconder o que realmente sentia ou pensava, e, naquele momento, eu sabia que estava prestes a ser puxada para um jogo perigoso, onde as regras eram dele e eu era apenas uma peça.
— Não vou brincar dos seus jogos, Dag - avisei, levantando-me do chão, tentando colocar distância entre nós. — Encontre outra forma de se divertir.
Ele deu mais um passo na minha direção, sua presença quase me engolindo.
— Estou disposto a permitir que você saia de casa sem precisar falar comigo antes... Mas não pense que estou alheio às suas escapadas, pois, para seu azar, eu sei de tudo. — Sim, já estava ciente disso, seu insensato. — No entanto, só o farei com uma condição: sua segurança. E, para sua sorte, você poderá escolher o guarda-costas que preferir. Amanhã, trarei alguns candidatos para que faça a sua escolha.
A tensão entre nós parecia aumentar com cada palavra. Dag era como uma tempestade que ameaçava se desatar a qualquer momento, e eu sabia que, se não fosse cuidadosa, seria arrastada por ela.
Eu no passado, amaria isso.
— Guarda-costas? — Perguntei, minha voz embargada entre surpresa e desdém. — E eu imaginando que sua ideia de segurança seria me trancar em algum lugar.
Dag sorriu, seus olhos brilhando de excitação.
— Eu poderia, mas seria entediante - ele respondeu, cruzando os braços sobre o peito. — Prefiro que tenha um pouco de liberdade, para ver até onde vai com ela. Claro, dentro dos limites que eu colocarei.
— E o que você espera ganhar com isso? — Retruquei.
— Confiança — ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Quero que confie em mim, que entenda que, apesar da arma, estou aqui para proteger você.
Soltei uma risada amarga, incapaz de conter o sarcasmo.
— Me proteger de quê, Dag? Do mundo ou de você mesmo?
Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos, agora fixos nos meus, carregavam um misto de desafio e algo mais profundo, algo que eu não conseguia decifrar.
— Talvez de ambos - ele murmurou, quase para si mesmo, antes de dar as costas e caminhar até a porta.
Observei-o partir, minha mente girando com perguntas que eu não sabia se queria responder. A dança, que minutos antes havia me trazido paz, parecia agora um eco distante. A presença de Dag havia transformado aquele refúgio em um campo de batalha silencioso.
Quando ele alcançou a porta, virou-se uma última vez, o rosto sério e a voz sem qualquer vestígio de brincadeira.
— Amanhã, escolha alguém. A sua segurança é uma prioridade para mim, mesmo que você não acredite nisso. - Ele abriu a boca para dizer algo, mas sua expressão mudou rapidamente de ideia. — Você me pediu um casamento verdadeiro, e eu vou te dar.
Quando a porta se fechou atrás dele, fiquei sozinha novamente no quarto vazio, mas a paz que havia encontrado antes parecia ter se dissipado completamente.
Dag era uma tempestade que se aproximava, e eu estava no olho do furacão.
Levei as mãos ao rosto, tentando conter a maré de emoções que ameaçava me afogar.
Por que ele tinha que ser assim? Por que cada interação entre nós se transformava em uma luta pelo controle, um jogo de poder onde eu sempre parecia estar em desvantagem?
Eu não podia negar que havia uma parte de mim, uma parte que odiava admitir, que ainda se sentia atraída por ele, pela intensidade que ele trazia à minha vida. Mas essa atração era perigosa, como uma mariposa sendo atraída para a chama, sabendo que se chegasse perto demais, seria queimada.
A manhã seguinte chegou com uma clareza cruel. A luz do sol se filtrava pelas cortinas, lançando sombras no chão do quarto. Levantei-me lentamente, sentindo o corpo ainda tenso após uma noite mal dormida. A ansiedade pulsava em cada fibra do meu ser, mas eu precisava mantê-la sob controle.
Depois de me preparar rapidamente, vesti-me com cuidado: tênis cinza, blusa vinho de mangas curtas e uma calça jeans. Se Dag queria que eu escolhesse quem me vigiar, eu faria isso utilizando todos os artifícios que ele tanto subestimava.
Desci as escadas devagar, cada degrau ecoando pelos corredores silenciosos da mansão. Ao chegar ao térreo, um dos empregados me informou que Dag estava à minha espera no salão principal. Agradeci com um aceno de cabeça e segui em frente, tentando manter uma expressão neutra. Mas, por dentro, meu coração batia forte, antecipando o que estava por vir.
Ao entrar no salão, encontrei Dag ao lado da lareira, sua postura casual, mas os olhos, como sempre, atentos. Ao lado dele, três homens que eu nunca havia visto antes. Eles se levantaram ao me ver, cada um me observando com uma curiosidade velada.
— Bom dia, Astrella - disse Dag, com um sorriso que não chegava aos olhos. - Estes são os candidatos que selecionei para você. Tome seu tempo. Escolha com sabedoria.
Havia uma confiança arrogante em sua voz, como se ele já soubesse qual seria minha escolha. Isso me irritou, mas mantive o rosto impassível enquanto caminhava até o centro do salão, onde os três homens agora se alinhavam, esperando minha avaliação.
O primeiro era alto e magro, com olhos frios. Suas mãos estavam cruzadas à frente do corpo, e sua postura sugeria disciplina, como a de um soldado obediente. Esse tipo de pessoa não hesitaria em seguir qualquer ordem, por mais cruel que fosse.
Eu definitivamente não escolheria um Dag 2.0.
O segundo homem tinha uma expressão dura, quase carrancuda, e seus olhos avaliavam tudo ao redor com desconfiança. Ele era robusto, com braços musculosos e cicatrizes visíveis nos pulsos e mãos. Um lutador, provavelmente alguém que já enfrentara perigos de todos os tipos. Ele seria difícil de manipular; sua lealdade não seria facilmente conquistada.
Um Michael Crist 2.0 ou talvez um Kai Mori.
O terceiro era mais jovem que os outros dois, com uma aparência mais suave e um olhar que poderia quase ser considerado amigável. Ele tinha um ar despreocupado, como se estivesse ali mais por capricho do que por dever. Mas havia algo em seus olhos que me fez parar.
Um Wil Grayson 2.0.
Parei na frente dele, observando-o mais de perto. Ele manteve o olhar fixo em mim, sem piscar, e por um momento, pensei ter visto um leve indício de desafio. Isso poderia ser útil. Alguém que Dag talvez subestimasse, alguém que poderia ser mais do que aparentava. Exatamente como Will Grayson.
— Qual é o seu nome? — perguntei, com a voz calma, mas firme, inclinando-me ligeiramente para ficar mais próxima dele.
— Ethan - respondeu ele, fazendo uma leve inclinação de cabeça. — Ethan Lytton, senhorita Torr...
— Vaughn! - interrompi rapidamente. - Me chame de senhorita Vaughn. — Senti o olhar de Dag queimando sobre mim, e sabia que os outros também me observavam. — Gostei de você.
Ethan trazia no rosto a alquimia perfeita de traços suaves, como se cada linha tivesse sido esculpida por um artista renascentista, dedicado a capturar a essência da juventude eterna. Seus cabelos, um emaranhado de cachos dourados, caíam desordenadamente sobre a testa, cada fio brilhando sob a luz suave como filamentos de um velho tesouro. Seus olhos, duas gemas de âmbar líquido, guardavam a profundidade do oceano em calma, e o sorriso que ocasionalmente dançava em seus lábios era uma promessa de travessuras por vir, uma brincadeira entre o sagaz e o inocente. A pele tinha a suavidade do mármore pálido, contrastando de maneira dramática com a escuridão de sua camiseta simples, mas cada gesto que fazia parecia derramar poesia no ar. O colar com asas de morcego ao redor do pescoço era sua única concessão à extravagância, um símbolo que sugeria uma alma talvez tocada pela noite, um espírito livre destinado a voar.
Olhei para Dag, que observava a cena com um sorriso enigmático.
Caminhei de volta para o meu lugar, absorvendo tudo o que tinha visto e sentido. A escolha que eu faria ali não se tratava apenas de segurança física, mas também de como eu lidaria com o controle que Dag tanto ansiava ter sobre mim. Precisava de alguém que não fosse completamente leal a ele, mas que também não representasse uma ameaça para mim.
Respirei fundo, pronta para tomar a decisão.
— Escolho o terceiro - disse, minha voz calma, mas firme. — Ethan Lytton.
Os olhos de Dag brilharam por um segundo, uma mistura de surpresa e aprovação. Ele deu um passo à frente, parando a poucos centímetros de mim, e sussurrou:
— Muito bem, Astrella.
Os outros dois candidatos se afastaram, deixando Ethan ao meu lado. Ele não disse nada, mas havia um entendimento silencioso entre nós.
Dag deu um passo para trás, observando-me com um olhar intenso que fez meu coração bater mais rápido.
— Cuide bem da minha esposa — disse ele ao guarda-costas, sua voz carregada com um tom de posse que me fez revirar o estômago.
۫ㅤ݂ 〔 🫀 〕Olá, leitores! Primeiramente, quero agradecer a todos vocês que têm acompanhado a história até aqui. Sua presença e apoio significam o mundo para mim, e é por isso que quero compartilhar uma pequena mudança no formato dos capítulos. E também queria pedir para me seguirem no TikTok, @/itselfella
۫ㅤ݂ 〔 🫀 〕 A partir de agora, os capítulos serão um pouco mais longos. Senti que, para que os planos e os desdobramentos da trama se desenvolvam da maneira que eu imagino, é necessário um espaço maior para explorar cada detalhe e emoção. Não se preocupem, isso é apenas para garantir que a história seja contada da melhor forma possível, com a profundidade que vocês merecem.
۫ㅤ݂ 〔 🫀 〕Espero que vocês gostem desse novo ritmo e continuem a aproveitar a jornada junto comigo. Estou sempre aberta para ouvir suas opiniões e sentimentos sobre o que está por vir. A escrita é a minha forma de compartilhar um pedacinho do meu mundo com vocês, e saber que estão curtindo torna tudo ainda mais especial.
Xoxo,
Ella.
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