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──── 𝗣𝗘𝗔𝗕𝗢𝗗𝗬

̇⁺ CAPÍTULO ◌⃘ ̇ peabody
﹙+ informações﹚. . . 🕥

𝐂𝐈𝐍𝐂𝐎 𝐓𝐄𝐑𝐌𝐈𝐍𝐎𝐔 𝐃𝐄 𝐓𝐎𝐌𝐀𝐑 𝐒𝐄𝐔 𝐂𝐀𝐅𝐄, deixando o copo vazio na mesa com um movimento rápido. Ele respirou fundo, olhando para os irmãos com aquele ar exasperado de quem sabe que está cercado de pessoas que nunca vão entender as coisas na mesma velocidade que ele.

— Não sei, ainda. — Sua voz era seca, mas carregava a certeza de que descobriria.

Os outros trocaram olhares confusos, mas antes que qualquer um pudesse falar, Cinco continuou.

— Mas sei que ele é o responsável pelo apocalipse, então a gente tem que achar ele, e tem que ser agora.

O silêncio que se seguiu foi pesado, interrompido apenas pelo som distante do relógio na sala. Diego franziu a testa ainda mais, enquanto Klaus levantou a mão, prestes a fazer uma piada, mas desistiu ao ver o olhar sério de Cinco.

— O que ele tem a ver com o que vai acontecer? — Luther perguntou, tentando soar prático, mas era óbvio que também estava completamente perdido.

— Não sei. — Cinco respondeu, apertando os lábios com irritação evidente. A ideia de não ter todas as respostas era praticamente um insulto pessoal.

— Peraí, só sabe o nome dele? Só isso? — Diego perguntou, a descrença pingando de cada palavra, enquanto cruzava os braços.

— É o suficiente. — o garoto disparou, a voz firme, como se qualquer outra dúvida fosse uma ofensa à sua inteligência.

— Deve ter dezenas de Harold Jenkins nessa cidade. — o latino rebateu, balançando a cabeça.

Cinco respirou fundo, claramente tentando reunir o pouco de paciência que ainda restava. Ele olhou direto para Diego.

— Então é melhor começar a procurar logo. — Respondeu.

O clima ficou tenso, com todos processando as palavras do jovem. O único som no ambiente era o gotejar das gotas do guarda-chuva, enquanto os irmãos trocavam olhares carregados de incerteza e exasperação.

— Certo, mas isso não ajuda muito, você não acha? — Alaska rebateu, o tom calmo, mas incisivo. Ela cruzou os braços novamente, inclinando ligeiramente a cabeça enquanto o observava. — Se o nome é tudo o que temos, precisamos de um plano. Alguma pista além disso, Cinco? Ou vamos sair batendo na porta de todos os Harold Jenkins da cidade?

— Como sabe tudo sobre esse tal de... como é mesmo o nome dele? — Allison interrompeu a garota, a voz tensa, claramente nervosa com o rumo da conversa.

— Harold Jenkins — Cinco respondeu de imediato, franzindo as sobrancelhas enquanto seus olhos inquietos pareciam procurar uma resposta no ar. Ele se virou para os irmãos, impaciente. — Sabe aqueles delinquentes mascarados que invadiram a casa?

A garota deu uma risadinha seca, seu olhar se estreitando enquanto ela cruzava os braços.

— Você quer dizer, aqueles caras que quase transformaram a gente em um queijo suíço enquanto você enchia a cara? — a jovem disparou, a voz carregada com aquele tom sarcástico que só ela conseguia usar tão bem.

Cinco a olhou, a frustração visível em seus olhos, mas ele sabia que ela tinha razão. Alaska sempre sabia como apontar as falhas dele, e de alguma forma, isso só tornava tudo mais complicado.

— Ah, agora que você falou, acho que lembro desse pessoal, sim. — Klaus coçou a nuca, franzindo a testa e tentando puxar a memória do fundo de uma gaveta bagunçada.

— Eu e a Alaska passamos bons minutos correndo feito loucos pela casa, tentando não levar uma enxurrada de balas.

Ele deu um passo à frente, apontando para Cinco com a mão que não estava enfaixada porque, claro, Diego sempre se metia em confusão

— Enquanto isso, você tava na biblioteca e bebendo com... como é mesmo o nome dela? — Ele ergueu a sobrancelha. — Dolores?

— Aposto que a conversa com a metade dela foi fascinante. — A morena completou.

— Tá bom, já entendi. Vocês correram, eu bebi, o manequim não ajudou. — Enfim, eles foram enviados pela Comissão pra impedir que eu voltasse e evitasse o fim da vida na Terra. — O moreno falou, com a calma exasperante de quem achava tudo muito óbvio.

— Por quem? — Allison perguntou, cruzando os braços, a expressão de quem queria entender mas também estava a um passo de perder a paciência.

— Meus antigos empregadores. — Cinco respondeu, como se estivesse explicando algo para um grupo de crianças particularmente burras. — Eles monitoram o tempo e o espaço pra garantir que o que tiver que acontecer, aconteça. — Eles acreditam que o apocalipse vai acontecer em três dias.

O silêncio na sala foi interrompido apenas pelo som de Klaus mexendo em algo na mesa.

— Eu fui pra sede da Comissão e interceptei uma mensagem pra aqueles deliquentes.

— Então foi por isso que você sumiu naquela negociação com o Hazel e a Cha-Cha? — Alaska perguntou, cruzando os braços e estreitando os olhos para Cinco.

Cinco ergueu as sobrancelhas, surpreso com a rapidez dela em ligar os pontos.

— Bingo. — Ele respondeu. — Enquanto vocês estavam ocupados tentando sobreviver aos dois lunáticos, eu estava... trabalhando.

— Trabalhando? — Diego bufou. — A gente quase virou churrasco e você estava, o quê, mandando cartas pra Comissão?

— Nessas "cartas" eu mandei eles protegerem Harold Jenkins. — O garoto continuou, com aquela expressão de quem realmente achava que tudo deveria fazer sentido para os outros tão rápido quanto fazia para ele. — Então ele deve ser o responsável pelo apocalipse.

O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Luther franziu a testa, tentando juntar as peças, enquanto Diego apenas bufava, parecendo achar aquilo tudo mais complicado do que deveria ser.

E como de costume, os irmãos começaram a falar todos ao mesmo tempo, vozes sobrepondo-se em um caos absoluto de opiniões contraditórias. Alaska, vendo que aquilo não ia levar a lugar algum, simplesmente se levantou e foi até Klaus, que já havia desistido de tentar entender. Ele estava largado no sofá, olhando para o teto com uma expressão vaga.

— Minha pele tá em chamas. — Klaus comentou, quase para si mesmo, mas alto o suficiente para Alaska ouvir.

Alaska olhou para Klaus com mais atenção, percebendo o desconforto evidente em seu rosto. Naquele momento, parecia impossível ignorar o estado dele.

— Klaus... — Ela disse, com uma suavidade em sua voz. — O que tá acontecendo?

Ele olhou para ela, seus olhos refletindo um cansaço que normalmente escondia sob piadas e sarcasmo. Deu-lhe um sorriso fraco, quase forçado, e a respondeu com a voz um pouco mais baixa, mas ainda tentando manter a fachada.

— Ah, nada demais Floquinho. Só uma leve abstinência. — Sabe, aquela sensação maravilhosa de estar sem a minha dose diária de descontrole.

A garota manteve os olhos fixos nele, sem perder a compostura, mas agora com uma expressão mais suavizada. Ela sabia que Klaus nunca gostava de admitir quando estava realmente mal, mas isso não ia passar despercebido por ela.

— Klaus, eu sei que você gosta de fazer piada com tudo, mas isso não é brincadeira. Você não tá bem.

Ele desviou o olhar por um momento, claramente desconfortável com a atenção que estava recebendo, mas a preocupação de Alaska parecia ter quebrado um pouco da sua resistência.

— Não estou... — ele murmurou, sua voz mais fraca agora. — Mas, quem diria que o apocalipse e a abstinência poderiam ser uma combinação tão... interessante, né?

A jovem respirou fundo, decidindo que, por mais que o tempo estivesse correndo contra eles, Klaus merecia um pouco de apoio. Ela se aproximou dele e colocou a mão em seu ombro, de forma suave, sem palavras para aliviar a situação. Só o gesto. Ele olhou para ela, surpreso, e ela apenas deu um leve sorriso.

— A gente vai sair dessa, Klaus. Mas vai precisar aguentar um pouco mais, ok?

Ele assentiu, um pouco mais calmo agora.

— Então vamos lá, já que a salvação do mundo depende de mim, de novo.

— Você tem noção de que nada disso faz sentido? — Allison falou, tentando se fazer ouvir acima das vozes.

Alaska olhou para os irmãos, ainda discutindo e gastando o que, na sua opinião, era o bem mais precioso naquele momento, o tempo. A morena sentiu a preocupação crescer no peito. Três dias não eram nada, e eles estavam desperdiçando minutos preciosos discutindo.

— Sabe o que realmente não faz sentido? — Cinco finalmente interveio, sua voz cortando o barulho como uma lâmina. Ele parecia exasperado, como se tivesse que explicar o óbvio para um grupo de acéfalos. — Eu e a Alaska termos a aparência de crianças. Klaus fala com os mortos. Luther acha que engana alguém com esse sobretudo ridículo. Nada na nossa vida faz sentido. Nunca fez.

— Ele tem razão. — Klaus murmurou, ainda olhando para o teto. Ele parecia levemente enjoado, mas isso não era exatamente uma novidade.

— A gente não escolheu essa vida. — Cinco continuou, agora mais sério. — Mas essa é a nossa realidade. Pelo menos pelos próximos três dias.

Alaska suspirou fundo, afastando uma mecha de cabelo do rosto enquanto olhava para Cinco.

— Olha, eu também acho que tudo isso é um grande absurdo. Eu nem sei por onde começar, mas é isso que temos. O apocalipse vai chegar, e só temos três dias. Então, ou a gente faz alguma coisa agora, ou senta e assiste tudo acabar. — Ela disse, levantando-se.

Klaus levantou uma mão preguiçosa do sofá.

— Acho que eu prefiro a segunda opção...

— Klaus. — Alaska cortou.

Ela voltou a encarar os outros, especialmente Diego e Luther, que ainda pareciam relutantes.

— Não é como se tivéssemos algo a perder. A diferença é que, se falharmos, pelo menos a gente tentou. — Ela apontou para Cinco. — Então, sim, eu concordo com o garoto viajante aqui. Tá na hora de todo mundo parar de reclamar e agir.

— Na última vez que tentamos impedir, todos morremos. Porque agora vai ser diferente? — Allison perguntou, sua voz carregada de frustração e medo. — Porque eu não deveria voltar pra minha filha?

Cinco respirou fundo, seu olhar focado. Ele sabia o quanto aquilo significava para ela.

— Porque tô aqui dessa vez. — Ele deu uma pausa, olhando para todos os irmãos, como se estivesse tentando garantir que eles entendessem a gravidade do momento. — Nós temos o nome do homem responsável, e vocês teriam a chance de salvar bilhões de vidas.

A cacheada estreitou os olhos, a tensão aumentando.

— Incluindo a Claire. — O garoto falou, olhando diretamente nos olhos dela.

A menção de Claire fez a expressão de Allison mudar, o peso das palavras fazendo-a hesitar por um momento. Ela se sentiu vulnerável, mas sabia que era a verdade.

— Sabe o nome dela? — ela perguntou, a voz mais baixa, quase em choque.

O menino assentiu.

— Sei. E gostaria de viver o suficiente para conhecê-la.

Era a primeira vez que ele dizia algo tão pessoal, tão real, e isso pareceu tocar Allison de uma maneira que ela não esperava. Ela respirou fundo, processando tudo aquilo, e então, com um movimento resoluto, falou.

— Beleza. Bora pegar esse imbecil.

Cinco assentiu com um pequeno sorriso.

— Como o Cinco disse, temos uma chance. Vamos fazer valer. — Alaska disse, já se aproximando.

— Me convenceu no Gerald Jenkins. — Diego falou, errando o nome com a mesma confiança de sempre.

— Harold Jenkins. — Cinco corrigiu com um suspiro, já exausto de repetir as coisas.

— Tanto faz. Já perdemos duas pessoas, não vou perder mais ninguém.

O garoto olhou para o outro irmão, o semblante esperançoso.

— Luther?

Luther olhou para eles, a expressão indefinida por um segundo, antes de ele falar:

— É, vocês podem ir. Eu vou ficar e procurar os arquivos do papai. Isso tem algo a ver com ele me mandar pra Lua.

O latino riu sem humor.

— Sério? Vai dizer que o fim do mundo é por causa de você e do papai?

O loiro deu de ombros, não parecendo convencido, mas também não demonstrando muita surpresa.

— Não. "Atenção às ameaças" foi o que ele disse pra mim. Acha que é uma coincidência? Tudo deve estar conectado de algum jeito.

Allison, que estava quieta até agora, deu um passo à frente e colocou a mão no braço dele, com a expressão tensa.

— Não, nós temos que ficar juntos.

— Não temos tempo para isso. — Cinco cortou o momento, parecendo já cansado de toda a discussão.

— Vamos nessa, eu sei como podemos achar esse imbecil. Klaus, vem comigo. — Diego disse.

Klaus, no entanto, parecia bem menos entusiasmado.

— É, assim... eu acho melhor não. Eu vou... eu vou ter que dispensar, sei lá, tô com uma ziquizira aqui... — Ele falou, fazendo uma careta enquanto andava para fora da sala, colocando a mão na barriga como se estivesse realmente se sentindo mal.

Cinco suspirou fundo, claramente irritado com a situação, e fez um gesto impaciente para Diego, sinalizando que ele os levasse até o carro.

A garota seguiu Cinco, ela notou, no entanto, que ele mancou ligeiramente, o que a fez lançar um olhar rápido para o garoto.

Enquanto caminhavam para o carro, o silêncio entre eles era pesado, quebrado apenas pelo som das botas de Alaska ecoando no chão. Ela não estava completamente convencida de que estavam prontos para o que poderia acontecer, mas já tinha se acostumado a confiar no que Cinco dizia. Mesmo que ele parecesse estar no limite.

Allison, ainda conversando com Luther, ficou para trás, deixando o trio seguir à frente.

— Ei, você tá bem? — Perguntou.

Cinco olhou rapidamente para ela, tentando esconder o desconforto, mas não conseguiu evitar um leve suspiro.

— Tô bem, não é nada. — Ele tentou desviar, com um olhar que sugeria que não queria falar sobre isso, mas o cansaço em sua voz entregava o contrário.

Alaska não comprou a resposta. Ela sabia quando ele estava tentando se fazer de durão. Mas não insistiu. A missão vinha primeiro.

— Você sabe que a gente precisa de você vivo, né? Pelo menos pra garantir que o mundo não acabe. Ela disse, virando a cabeça para a frente novamente. — Só não me faça ter que te carregar.

Cinco deu um pequeno sorriso, mais pela ironia do que qualquer outra coisa, e simplesmente balançou a cabeça.

— Não se preocupa, não vou morrer tão fácil. Vamos logo.





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Allison apareceu alguns minutos depois, distraída como se sua mente ainda estivesse a quilômetros dali. Sem outra opção, os quatro entraram no carro, com Diego no volante e um plano que já parecia um desastre antes de começar: conseguir informações na delegacia onde ele não trabalhava mais.

Quer dizer, ótimo plano. Nada como pedir favores num lugar onde você foi demitido.

Diego estacionou o carro alguns quarteirões da delegacia, desligando o motor com um movimento rápido. Ele tirou a chave do contato, se virou para o grupo e, com um sorriso convencido, declarou:

— Esse Jenkins com certeza tem ficha criminal. Só preciso entrar e pegar o arquivo.

Allison arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— E qual é o seu plano? Vai entrar numa boa e pedir pra eles?

Diego bufou, já ajustando a faca no cinto.

— Eu conheço aquela delegacia como a palma da minha mão. Passei um bom tempo ali dentro.

— Você tava preso, Diego. — Alaska rebateu. — Não é exatamente a mesma coisa.

— Tanto faz. Esse é o plano. — Diego fez menção de começar a detalhar sua brilhante estratégia, mas foi interrompido antes mesmo de completar uma frase.

— Plano? — Cinco arqueou as sobrancelhas, parecendo genuinamente confuso. — Eu consigo o arquivo num piscar de olhos.

O latino virou-se abruptamente para ele, já com a postura defensiva.

— Não, não é... você não conhece os detalhes desse lugar, tá legal?

— Ontem, eu fiz isso literalmente. — O garoto respondeu pausadamente, como se estivesse explicando algo óbvio.

— O quê?

— Aliás... o meu ontem, não o seu ontem. — Cinco acrescentou, completamente sério, embora o tom casual deixasse o resto do grupo ainda mais confuso.

— Claro, porque isso faz tudo ficar mais fácil de entender. — Alaska resmungou, cruzando os braços e lançando um olhar para Allison, que apenas balançou a cabeça, sem saber como responder.

— Vou precisar de dois segundos. — Cinco anunciou, já calculando mentalmente como pegar o arquivo sem sequer ser notado.

— Escuta aqui, você não vai entrar lá. — Diego cortou, se endireitando como se quisesse reforçar sua autoridade. — Fiz uma ligação, é isso que um líder faz, lidera. — O jovem zomba dando uma risada curta.

O silêncio dentro do carro era quase palpável depois que Diego saiu, batendo a porta com mais força do que o necessário. Alaska olhava pela janela, tamborilando os dedos no joelho, claramente impaciente. Allison mexia no celular, mas não parecia estar realmente prestando atenção na tela. Cinco, sentado no banco da frente, apenas observava o movimento ao redor, já calculando o tempo que Diego levaria para cometer algum erro.

Alaska olhou para os dois e se virou para eles com um sorriso meio torto.

— Então, sobre o que fazer depois de salvar o mundo... — ela começou, tentando quebrar o clima pesado. — Já pensaram no que fazer com a vida de vocês?

Cinco, sem desviar os olhos da delegacia à frente, deu de ombros, parecendo não se importar muito com a conversa.

— Não sei. — Ele respondeu sem emoção. — Talvez sobreviver já seja o suficiente.

Alaska riu, mas a brincadeira não durou muito. Ela ficou séria e olhou para ele com uma expressão desconfiada.

— Você não tem nenhum plano, além de correr do apocalipse? Nada que você queira fazer depois disso tudo? Como... sei lá, viver?

O jovem pensou por um momento, ainda com a atenção dividida entre a conversa e o que estava acontecendo ao redor.

— Não, não tenho. Planos são superestimados, se me perguntar. Tudo o que posso fazer é garantir que daqui a três dias não seja o fim do mundo. Depois, aí a gente vê.

Alaska revirou os olhos, mas não se incomodou tanto assim.

— Tá, mas e se você conseguir salvar o mundo e, sei lá, continuar vivo? O que vai fazer? Vai abrir uma fazenda de cabras? Virar fazendeiro e morar em uma colina?

O garoto fez uma careta, sem entender o porquê de tudo isso.

— Eu duvido que o mundo precise de mais cabras. E não, não vou virar fazendeiro. Pode deixar. — Ele deu um sorriso irônico.

A menina deu de ombros, como se estivesse pensando na possibilidade.

— Eu, por outro lado, vou querer sair por aí. Ver o mundo. Não como uma aventureira de filme, mas descobrir se ainda há algo decente pra se fazer, sem ter um apocalipse batendo na porta.

O moreno a olhou de canto, com um sorriso menos sarcástico.

— Então, você vai continuar sendo você mesma. Só que agora sem o apocalipse no encalço. Que surpresa.

Alaska deu uma risada, com um toque de ironia.

— Nunca foi meu objetivo morrer tentando salvar o mundo, mas também não sou muito fã de morrer sem tentar.

Cinco olhou para ela, o sorriso se suavizando, mais genuíno do que qualquer coisa que ele já tivesse dito.

— Só espero que a gente tenha o mínimo de sorte, então.

O silêncio voltou, pesado. Até que Allison suspirou e largou o celular, claramente incomodada com algo.

— Preciso falar com a Vanya. — Ela disse, a voz mais calma do que o normal. — Depois do que aconteceu mais cedo... Eu preciso resolver isso.

Sem mais palavras, ela abriu a porta do carro e saiu, com a expressão fechada. Os dois restantes se olharam por um momento e, sem dizer nada, seguiram atrás dela. Quando chegaram perto do telefone público, se encostaram na parede, observando Allison enquanto ela discava o número.

Allison colocou o telefone no ouvido, mas logo foi direto para a caixa postal. Ela respirou fundo, sentindo a tensão aumentar, antes de finalmente começar a gravar a mensagem.

— Oi, Vanya, sou eu. Eu só queria... as coisas ficaram tão complicadas... eu, eu só queria ser uma boa irmã pra você, só que não me sai muito bem nisso. Por favor, me liga tá? Te amo, irmã. — Ela suspirou e desligou o telefone, como se tivesse se livrado de um peso, mas o vazio ainda estava ali.

Quando a cacheada se virou, Diego já estava chegando, com aquele sorriso de "missão cumprida" estampado no rosto. Ele se virou pra Cinco.

— E aí? — o garoto perguntou, sem conseguir esconder a curiosidade.

O latino levantou o arquivo como se fosse um prêmio.

— De nada.

Antes que ele pudesse entregar, Allison já havia pegado o arquivo das mãos dele. Ela começou a folhear as páginas, seus olhos ficando cada vez mais sérios, até que, ao parar em uma página, seu rosto mudou completamente. Ela congelou. A cor saiu do seu rosto.

— Mas que merda! — Exclamou, sua voz carregada de incredulidade.

Cinco e Alaska se inclinaram, tentando ver o que estava acontecendo.

— O que foi? — Diego perguntou, achando que ela estava exagerando.

Allison olhou para ele, e sua voz estava tão baixa e tensa que parecia uma ameaça.

— Harold Jenkins... é o Leonard Peabody.

Ela estendeu a foto pra eles, e todos ficaram em silêncio, tentando processar a informação.




                                         
                                         ☂︎






Diego parou em frente à casa de Leonard, a porta do carro já batendo atrás dele. A casa parecia normal, mas para eles, a normalidade estava se tornando um luxo difícil de encontrar. Allison, sempre a mais cautelosa, andava ao lado dele, com o olhar atento.

— Toma cuidado, tá? A gente não sabe o que o Peabody pode fazer. — Disse, com um tom de advertência.

Diego deu de ombros, como se aquilo fosse mais uma preocupação sem fundamento.

— Não me pareceu perigoso da última vez que vi ele.

Alaska, que estava mais atrás, deu um passo à frente e fez uma cara de quem não comprava essa história.

— Mesmo assim, Diego, não custa nada ter um pouco de cautela. A gente não sabe exatamente em que tipo de encrenca se meteu. Só... não subestima o cara.

— Parece meio franzino. — Ele murmurou, tentando se convencer de que Peabody não era grande ameaça.

Allison olhou de relance para ele.

— Igualzinho a maioria dos psicopatas e assassinos da série. Tipo... nosso irmãozinho. — Ela fez um gesto para Cinco, que estava ao lado, já esperando o comentário.

Cinco arqueou as sobrancelhas, sem se incomodar muito, mas não deixou de sorrir, ainda que de forma contida.

— Obrigado. — Ele disse, com a voz levemente sarcástica.

Alaska deu uma olhada rápida em Cinco, com um sorriso travesso.

— Tipo, aquele vilão que parece fofinho à primeira vista, mas depois começa a matar todo mundo. Um psicopata disfarçado de ovelha.

Cinco levantou uma sobrancelha, curioso.

— Ah é? Então você acha que eu sou fofo?

Alaska olhou para Cinco com um sorriso de canto.

— Fofo? Não, mas você definitivamente tem cara de quem iria fazer todo mundo confiar em você, só pra depois dar uma facada nas costas.

— Tem razão, o que esse cara quer com a Vanya? — Diego pergunta, franzindo a testa.

— Não sei, porque a gente não pergunta depois de matar ele? — Cinco responde, pensando nas possibilidades, enquanto começa a se mover em direção à porta da casa.

— Acho que depois de morto, não tem como ele responder. — A jovem cruzou os braços, provocando Cinco que revira os olhos em resposta.

— Ô, ô, ô, peraí. Eu vou derrubar. — Diego interrompe, a voz um tanto exasperada.

Cinco e Alaska nem ligam, imersos em seus próprios pensamentos. Cinco analisa os arredores, procurando o melhor jeito de invadir o lugar. Alaska, por sua vez, observa distraidamente uma borboleta que pousa na janela, como se o apocalipse não estivesse prestes a acontecer.

O latino, incomodado pela falta de atenção, solta um resmungo.

— Quer saber? Seria legal se as pessoas seguissem o...

Mas antes que ele terminasse a frase, Cinco desaparece em um piscar de olhos, já se teletransportando para dentro da casa.

Diego dá um longo suspiro, a frustração evidente.

— O plano. — Ele completa, se virando e balançando a cabeça.

Com um olhar impaciente, começa a recuar, se preparando para arrombar a porta.

— Você sabe que eu consigo abrir a...

Mas antes que Alaska pudesse terminar, Diego já quebra o vidro com um golpe rápido, causando um estalo alto que ecoa pelo ambiente.

— A porta... — a garota, com os olhos apertados ao ver o irmão caído no chão, coberto de cacos de vidro, não perde tempo. Com um rápido movimento, ela passa pelo espaço onde o vidro estava e entra pela abertura da porta. Em segundos, ela já está dentro, enquanto Cinco e Allison aparecem logo em seguida.

Allison não perde a chance de soltar uma provocação.

— Sútil. — Ela debocha, olhando para Diego, que se levanta do chão, irritado e com vidro espalhado por toda parte.

— Sabia que a porta tava destrancada? — Cinco diz com uma leveza no tom, enquanto gira a maçaneta e a porta se abre facilmente, como se nada tivesse acontecido.

O moreno, com a expressão de quem ainda sente a dor nos cacos de vidro, encara o irmão.

— Eu prefiro fazer do meu jeito. — Ele responde com esforço, um pouco irritado, mas tentando manter a postura. — Vai por mim.

Cinco faz uma careta, observando Diego com um olhar que mistura desdém e diversão.

— Gritem se estiverem com problemas. — O latino suspira, mancando um pouco para a sala, aparentemente já acostumado com a situação.

— Isso que é liderança. — O garoto diz, com um sorriso irônico, enquanto lança um olhar para Diego.

Allison, que está observando a cena com certa diversão, não perde a chance de comentar.

— É o que temos.

Allison e Alaska subiram as escadas juntas, com a certeza de que duas pessoas seriam mais rápidas do que uma. Enquanto Allison se direcionava para o quarto no final do corredor, a jovem olhou para cima e percebeu uma entrada discreta no teto. Seus olhos se fixaram no sótão e, sem hesitar, ela puxou a cordinha que estava pendurada no alçapão. A escada desceu com um rangido suave, revelando uma passagem até o andar de cima.

Alaska observou a escada por um momento, surpresa por não tê-la notado antes. Enquanto isso, a cacheada, que já estava prestes a entrar no quarto, se virou ao ouvir o som da escada caindo. Sem dizer uma palavra, ela se aproximou da irmã e olhou para o sótão. Sem hesitar, gritou para os irmãos no andar de baixo:

— Gente, vocês tem que ver isso.

Em poucos segundos, o som dos passos apressados ecoou pela casa. Cinco e Diego apareceram no topo da escada, olhando curiosos para a abertura do sótão. Alaska acenou com a cabeça, indicando que era o lugar para onde deveriam ir.

Allison já estava à frente, subindo com facilidade, e Alaska seguiu logo atrás, aguardando que os outros subissem.

Os olhos de todos estavam fixos nos posters envelhecidos que cobriam as paredes do sótão. Era um retrato de um tempo antigo, quando os Hargreeves eram uma equipe de super-heróis, cheios de conquistas. Mas algo estava errado. As imagens dos irmãos, agora empoeiradas e desbotadas, estavam marcadas de uma maneira estranha. Os rostos de cada um estava coberto por rabiscos escuros, queimados, como se alguém quisesse apagar qualquer vestígio de suas identidades.

Allison encarou os posters, ainda tentando processar o que via.

— Nossos rostos estão queimados. — Ela disse, incrédula, a voz baixa, como se não conseguisse acreditar no que estava diante dela.

Cinco estava calado, olhando cada detalhe, tentando juntar as peças. Diego soltou um suspiro, já esperando o pior.

— Isso não me surpreende. Esse cara tem problemas sérios. — Ele disse, suas palavras simples, mas carregadas de um desdém evidente.

Alaska, que ainda observava os cartazes com atenção, não pôde deixar de comentar:

— Isso é mais do que bizarrice. Esse maluco é obcecado pela gente... e não de uma maneira saudável.

Diego caminhava pela sala, os olhos fixos nas prateleiras cheias de bonecos e outros itens de coleção dos Hargreeves, todos empoeirados e fora de lugar, como se o tempo tivesse parado ali. Ele passou a mão por um boneco de ação do Diego Hargreeves, o número 2, olhando para ele com uma mistura de incredulidade e repulsa.

— Que isso? — Diego perguntou, quase sem acreditar no que estava vendo.

Allison deu um passo à frente, absorvendo a cena, os pensamentos rapidamente se organizando. Ela olhou para os itens e então, com um suspiro, pareceu finalmente entender.

— Nunca teve nada a ver com a Vanya... — Ela falou baixinho, mais para si mesma do que para os outros, e uma expressão de compreensão se formou em seu rosto.

Cinco fez um ruído baixo, um grunhido que parecia saído de dor, e Alaska imediatamente se virou, sentindo a mudança na atmosfera. Ela notou que Cinco estava pálido, o suor se formando em sua testa. Algo estava errado.

— Era com a gente. — Allison terminou, os olhos ainda fixos na coleção, sem perceber o que estava acontecendo com Cinco. Ela e Diego estavam totalmente alheios ao que se passava com o irmão, absorvendo as informações, mas sem perceber que a situação estava se tornando mais grave do que imaginavam.

O garoto tentou se manter de pé, mas seu corpo parecia não responder, as pernas tremendo e o suor escorrendo pela sua testa. Ele fraquejou, e Alaska foi rápida o suficiente para segurá-lo, impedindo que ele caísse no chão.

— Cinco! — Allison exclamou, seu rosto se contorcendo em preocupação ao ver o estado do irmão.

O garoto soltou um gemido de dor, tentando se recompor, mas mal conseguia manter os olhos abertos. O ar parecia mais denso, como se a pressão em seu peito fosse mais forte a cada respiração.

— Ai! — Ele deixou escapar, a dor sendo mais do que podia suportar.

A jovem, com as mãos firmemente pressionadas em seu ombro para ajudá-lo a ficar ereto, sentiu algo estranho. Seus dedos estavam sujos de sangue. Ela franziu a testa e olhou para as mãos, depois seguiu o caminho do sangue até os ferimentos em Cinco. Quando viu o sangue manchando a camisa dele, a expressão de Alaska se transformou de preocupação para um misto de raiva e choque.

— Espera, você levou um tiro? — Disse, incrédula, os olhos fixos no sangue agora evidente.

Alaska, com os olhos arregalados de nervosismo, levantou rapidamente a camisa dele. O sangue escorria pelas laterais de seu torso, e o olhar dela se endureceu de preocupação e frustração.

— Caramba, Cinco. Por que não disse nada? — Diego gritou, claramente irritado com a situação.

O garoto, tentando não demonstrar mais fraqueza do que já estava, fez um esforço para conseguir falar.

— Temos que continuar. — Ele murmurou com dificuldade, tentando manter a voz firme, mas a dor era óbvia em cada palavra.

A garota o encarou, quase sem acreditar no que estava ouvindo. Ela bufou, irritada e preocupada ao mesmo tempo, os olhos se estreitando enquanto ele tentava se manter acordado.

— Não vamos conseguir continuar se você estiver a sete palmos do chão, Cinco! — Ela disse, o tom misturando nervosismo com  frustração.

Alaska ficou imóvel por um momento, o coração batendo rápido. Ela se aproximou dele, o rosto pálido e sem vida, e a pressão da situação a fez perder a paciência com o comportamento do mesmo.

— Ele já tava mal quando chegamos aqui, mas achou que dava conta. — Ela balançou a cabeça, frustrada. — Como alguém consegue ser tão teimoso? 

— Tô tão perto... — O moreno murmurou em um tom quase inaudível antes de perder as forças de vez.

— Cinco! — Allison se ajoelhou ao lado dele, os olhos arregalados enquanto tocava o rosto do irmão.

Allison estava desesperada, mas Alaska sabia que não podiam demorar de levar ele até a mansão. Ela puxou Cinco para mais perto de si, tentando tirá-lo de qualquer jeito daquela posição, focando no fato de que, sem ele, todos iriam morrer, mas ela tentou manter a calma enquanto olhava para Diego, que estava logo atrás deles.

— Diego, leva ele pro carro. Agora! — Ela disse com firmeza, sem espaço para discussão.

Diego hesitou por uma fração de segundo, surpreso com o tom dela, mas logo avançou para pegar Cinco dos braços de Alaska. Ele o colocou sobre os ombros, e o garoto parecia ainda menor e mais frágil do que o normal.

— Anda logo! — Alaska insistiu, já se levantando para acompanhar. O sangue dele começava a escorrer, deixando um rastro no chão. Alaska respirou fundo enquanto seguia Diego.





                                          ☂︎





Diego e Allison carregaram Cinco o mais rápido que podiam enquanto Alaska abria a porta com pressa, os dedos tremendo contra a maçaneta. Eles andaram até a sala com dificuldade, a gravidade parecendo conspirar contra eles a cada passo. 

— A gente devia levar ele pro hospital. — Allison disse, ofegante, com o olhar fixo no rosto pálido de Cinco. 

— Um garoto com ferimento de estilhaços levantaria suspeitas. — Diego rebateu, tentando ignorar o suor que escorria pela testa. 

— É, mas não tem nada mais suspeito que o sótão do Harold Jenkins. — A cacheada respondeu com um tom ácido, a memória dos cartazes queimados e bonecos grotescos ainda viva na sua mente. 

— Da pra vocês prestarem atenção no garoto baleado aqui? — Alaska cortou, a voz subindo uma oitava. Tentando manter a calma enquanto observava o sangue escorrer. 

Eles a ignoraram dessa vez, colocando Cinco com cuidado no sofá. O silêncio no cômodo parecia gritar enquanto o sangue continuava manchando o tecido velho. A jovem se ajoelhou ao lado do garoto, pressionando o ferimento com as mãos e sentindo a quentura do sangue empapando os dedos. 

— Ele tá perdendo muito sangue. — Número 3 murmurou, o olhar fixo na ferida enquanto a pressão nas mãos da sua irmã aumentava. — O que vamos fazer?

Diego ficou parado, o olhar fixo em algo que apenas ele podia ver. 

— Temos que tirar os estilhaços. — Ele murmurou, como se estivesse tentando voltar à realidade. 

Allison rapidamente tirou a jaqueta e a pressionou contra o ferimento no lugar de Alaska, cujas mãos já estavam ensopadas de sangue. 

— Diego, vai pegar alguma coisa pra ajudar! — Alaska começou a dizer, mas sua voz morreu ao perceber para onde ele estava olhando. 

Grace. A robô. De pé na entrada da sala, tão real quanto na última vez que a tinham visto... no dia em que ela foi desligada. 

— Mãe. — A palavra escapou dos lábios de Diego, o choque estampado no rosto. Sem esperar, ele largou tudo e começou a caminhar até ela. 

— Diego! Aonde você vai? — A cacheada o chamou, a voz carregada de frustração e medo. 

Número 0 observou a cena por um momento, dividida. Ela queria correr até Grace, abraçá-la e se convencer de que aquilo não era uma alucinação. Mas o garoto sangrando no sofá era mais urgente. Com um aperto no peito, ela ficou onde estava. 

— Tá legal, não sou médica, mas se a gente não tirar esses estilhaços agora, vai piorar. Depois higienizamos e... sei lá, improvisamos alguma coisa pra que não infeccione. — A voz dela saiu mais firme do que se sentia, mas o olhar preocupado enquanto segurava Cinco dizia o contrário.

Grace se moveu pela sala com a mesma graça serena de sempre, como se não tivesse passado dias desde que qualquer um deles a vira. Ela se aproximou calmamente do sofá onde Cinco estava desmaiado, o rosto pálido, suor escorrendo pelas têmporas.

— Ele precisa de atenção imediata. — A voz dela era suave, mas autoritária.

Alaska não conseguiu responder. Ela apenas saiu do caminho, incapaz de fazer qualquer coisa além de observar enquanto Grace analisava o ferimento de Cinco com uma precisão quase clínica.

— Diego, me ajude a levá-lo para o quarto. — Grace pediu, já deslizando os braços sob o garoto com facilidade surpreendente.

Diego hesitou, ainda preso entre o choque de vê-la e a urgência da situação. Finalmente, ele obedeceu, ajudando a mãe-robô a carregar Cinco escada acima. Allison os seguiu logo atrás, mas Número 0 ficou para trás por um momento, seus pés congelados no lugar.

Isso está realmente acontecendo?

Ela forçou-se a se mexer, subindo os degraus com passos lentos, quase trêmulos. Quando chegou ao quarto de Cinco, viu Grace trabalhando como se estivesse em um hospital. Uma bandeja de utensílios médicos que ninguém sabia de onde veio estava ao lado da cama, enquanto ela limpava e examinava os estilhaços no corpo do garoto.

— Ele vai ficar bem? — Allison perguntou, os braços cruzados como se estivesse tentando se proteger do peso da situação.

— Ele ficará estável em breve. Preciso que alguém ferva água para esterilizar os instrumentos. — Grace respondeu, sem tirar os olhos do ferimento.

Diego imediatamente saiu para cuidar disso, enquanto Allison foi buscar toalhas limpas. Restou Alaska, parada perto da porta, os olhos fixos em Grace.

— Você pode sentar, querida. Está pálida. — Grace disse, a voz tão maternal que quase quebrou a garota por completo.

Sem responder, ela se afundou na poltrona ao lado da cama, os joelhos dobrados contra o peito. Seu olhar oscilava entre Cinco, ainda inconsciente, e Grace, que trabalhava como se nada tivesse mudado desde a última vez que a viram.

Ela está aqui. O pensamento parecia irreal. Grace, sua mãe, a figura que a criou, que sempre esteve lá quando o mundo parecia desmoronar, estava ali, viva e cuidando de Cinco. Mas o que Alaska deveria sentir? Alívio? Alegria?

Ela não sentia nada além de um vazio esmagador.

As lembranças de tudo o que acabara de acontecer começaram a se acumular. O sangue de Cinco escorrendo pelos dedos dela, o desespero de segurá-lo enquanto ele murmurava coisas sem sentido, a impotência de não saber o que fazer.

E agora isso. Grace. Viva.

Ela tentou engolir o nó na garganta, mas ele não cedia. Com as mãos trêmulas, passou os dedos pelos cabelos, tentando desesperadamente organizar seus pensamentos.

— Mãe... — A palavra saiu antes que pudesse contê-la. Foi baixa, quase um sussurro, mas Grace ouviu.

A robô levantou os olhos por um instante e sorriu.

— Estou aqui, querida. Sempre estarei.

Alaska balançou a cabeça, apertando os braços ao redor do corpo. Aquilo não fazia sentido. Nada fazia. Mas, naquele momento, enquanto observava Grace trabalhando para salvar Cinco, ela deixou o peso da situação tomar conta. Sem mais palavras, apenas deixou as lágrimas escorrerem, silenciosas e discretas, enquanto sua mãe estava ali, cuidando deles como sempre fazia.

Diego e Allison retornaram ao quarto rapidamente, Diego com a panela de água fervendo e Allison carregando toalhas limpas. Ambos entregaram os itens a Grace, que aceitou com um aceno gentil, mas logo perceberam algo errado ao olhar para Alaska. 

Ela estava sentada na poltrona ao lado da cama, com os braços cruzados e os olhos baixos, como se estivesse tentando se esconder dentro de si mesma. Não parecia a garota falante e cheia de respostas rápidas que estavam acostumados a ver. 

— Você não tá bem. — A cacheada falou com delicadeza, agachando-se na frente dela. 

— Eu tô bem. — A garota respondeu automaticamente, mas sua voz era fraca, sem convicção. 

Diego bufou, cruzando os braços. 

— Olha, você pode dizer o que quiser, mas tá na cara que não está em condições de continuar. Fica aqui, cuida do Cinco. A gente dá conta. 

Ela hesitou, querendo protestar, mas simplesmente não tinha forças para argumentar. Deu um leve aceno, sem levantar os olhos. 

— Vamos. — Diego chamou Allison, e os dois saíram do quarto.

O silêncio caiu como um peso sufocante. Alaska continuou na poltrona, olhando para Cinco, que agora parecia um pouco melhor. Grace terminava de limpar os ferimentos dele, com movimentos precisos e meticulosos. 

— Ele ficará bem. Só precisa descansar. — A robô disse suavemente, como se soubesse que Alaska precisava ouvir isso. 

Alaska não respondeu, apenas observou enquanto Grace ajeitava um cobertor sobre o garoto, garantindo que ele estivesse confortável. 

— Você também deveria descansar, querida. — A loira disse ao sair do quarto, fechando a porta com cuidado atrás de si. 

A jovem ficou sozinha, o silêncio preenchido apenas pela respiração pesada e irregular de Cinco. Ela não conseguia afastar os pensamentos que rodopiavam em sua cabeça: o sangue, e depois, o choque de ver Grace viva. 

O silêncio no quarto era tão denso que parecia engolir qualquer pensamento de Alaska. Seus olhos estavam fixos em Cinco, observando o leve movimento de seu peito enquanto ele respirava. Grace havia deixado o quarto minutos atrás, mas as palavras dela ainda ecoavam: "Ele ficará bem. Só precisa descansar."

Ela queria acreditar. Mas a mancha vermelha que ainda cobria suas mãos não deixava.

A garota olhou para si mesma. Suas palmas estavam ensopadas de sangue seco, o tecido da blusa enrijecido onde havia absorvido o líquido. Havia respingos no jeans, e seus tênis — os favoritos — pareciam ter sido retirados de uma cena de crime. Quando tentou afastar uma mecha de cabelo do rosto, percebeu que até aquilo estava tingido.

Respirando fundo, ela se levantou da poltrona, os joelhos tremendo levemente. Seus movimentos eram mecânicos enquanto saía do quarto e caminhava até o banheiro no final do corredor. Ao chegar, acendeu a luz e encarou o espelho.

Por um instante, tudo parecia congelado. Alaska sentiu as lágrimas se acumulando, mas respirou fundo, empurrando o choro para dentro. Não agora, pensou. Mas, ao se olhar, viu a sua imagem denunciando que ela não estava tão bem quanto queria parecer. 

A imagem refletida era desconcertante. Os olhos dela estavam fundos, escurecidos pelo cansaço. As manchas de sangue em sua pele clara pareciam pertencer a outra pessoa. O rosto que a encarava não parecia o dela. Era como se estivesse vendo uma estranha que carregava todo o peso dos últimos dias.

E foi ali, diante do espelho, que a represa que ela segurava se rompeu. 

A jovem começou a chorar. Primeiro em silêncio, com lágrimas escorrendo lentamente. Depois, os soluços vieram, rasgando sua garganta, e ela não conseguiu mais conter nada.

Não só pelo que tinha acabado de acontecer, mas por tudo. Pela sua mãe, pela confusão de vê-la viva, pela sensação sufocante de que tudo estava fugindo ao controle.

Ela chorou por Cinco, que quase morreu nos braços dela. Pela ideia de que qualquer um deles poderia morrer a qualquer momento. Chorou por seus irmãos, pelo peso de um objetivo impossível que os esmagava. Eles já haviam falhado antes — já tinham perdido tudo uma vez. O que garantia que dessa vez seria diferente? E se o apocalipse os matasse de novo? 

O medo de morrer, de ver seus irmãos morrerem, era algo que ela carregava calada. Mas ali, sozinha, Alaska se permitiu sentir. Ela lembrou de Ben, da ausência que ele deixava em todos. A culpa veio como uma lâmina afiada, cortando profundamente. 

Ela foi quem insistiu que ele fosse naquela última missão. Disse que ele era o único capaz, que ninguém mais conseguiria fazer o que ele fazia. E Ben, sempre tão disposto a ajudar, concordou. Ele confiava nela, e essa confiança o levou à morte. 

Se eu não tivesse dito nada... Ele ainda estaria aqui. Ele ajudaria a impedir o apocalipse. Ele manteria todos unidos, pensou, enquanto apertava os joelhos contra o peito. 

Com as lágrimas ainda escorrendo, ligou o chuveiro e entrou na banheira. A água quente caía sobre ela, misturando-se ao sangue que escorria de seu corpo, tingindo o chão de um vermelho diluído. A garota abraçou os joelhos, encolhida contra o azulejo frio.

O mundo parecia tão grande, tão implacável. E ela, tão pequena.

A água lavava o sangue e as lágrimas, mas não as preocupações. No entanto, a sensação de se permitir sentir tudo — toda a dor, o medo, o luto — trouxe um alívio que ela nem sabia que precisava.

A água começou a esfriar, mas ela permaneceu ali por mais alguns minutos, deixando que a torrente e o sabão lavassem as manchas de sangue de sua pele e cabelo. Quando finalmente se levantou, desligou o chuveiro e se vestiu com roupas limpas, embora seus olhos ainda estivessem avermelhados do choro. 

Voltando ao quarto de Cinco, Alaska parou por um momento na porta. Ele ainda estava desacordado, mas agora parecia respirar de forma mais tranquila. Grace realmente havia cuidado bem dele. 

A morena entrou e olhou para a poltrona onde estava antes. Estava manchada de sangue. Sem querer voltar para aquele lugar, ela se sentou na outra poltrona, limpa e macia. Sua mente ainda estava pesada, cheia de pensamentos e medos, mas seu corpo não conseguia mais acompanhar. 

Ela fechou os olhos por um momento, tentando se recompor, mas o peso da exaustão era demais. Sem perceber, sua cabeça caiu para o lado, e ela adormeceu na poltrona, os braços ainda cruzados como se estivesse se protegendo do mundo.

O som de um leve resmungo trouxe Alaska de volta ao mundo. Seus olhos se abriram devagar, encontrando a luz fraca do abajur ao lado da cama. Ela piscou algumas vezes, tentando processar onde estava, até perceber que o som vinha de Cinco.

Ele estava se mexendo na cama, os olhos semicerrados enquanto olhava ao redor, confuso.

— Onde... onde eu tô? — Sua voz saiu rouca, quase um sussurro.

Alaska suspirou, espreguiçando-se levemente antes de inclinar-se para frente na poltrona.

— Bem, tecnicamente, você está no seu quarto. Mas, considerando o estado em que chegou aqui, diria que deveria estar em um necrotério. — Ela falou com um tom irônico, mas havia um toque de alívio em sua voz.

Cinco franziu o cenho, levando a mão ao lado do corpo, onde os estilhaços haviam sido removidos. Ele fechou os olhos por um momento, soltando um suspiro de frustração.

— Não precisava exagerar.

— Exagerar? — Alaska ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços. — Você foi imprudente, levou um tiro e ainda tentou esconder isso de todo mundo. Não sei o que é mais impressionante: sua capacidade de pensar rápido ou sua habilidade de tomar as piores decisões possíveis.

Cinco abriu um pequeno sorriso, mas logo o escondeu, fingindo ignorar o comentário dela. Ficaram em silêncio por alguns instantes, a respiração dele ainda um pouco pesada, mas regular.

A garota observou enquanto Cinco tentava se ajeitar na cama, claramente desconfortável com os pontos e a dor que ainda persistia. Ela se inclinou na poltrona, o rosto parcialmente escondido pelo cabelo, mas os olhos fixos nele.

— Então, como você tá se sentindo? — perguntou, tentando soar casual, mas o tom de preocupação escapou.

— Como alguém que levou um tiro e teve que ser costurado no próprio quarto. — Ele respondeu, seco, mas sem a usual mordacidade.

Alaska bufou, recostando-se.

— É, da próxima vez vou deixar você sangrar até virar decoração do tapete.

— Considerando o quão cafona aquele tapete é, talvez eu estivesse fazendo um favor.

Ela sorriu de canto, sacudindo a cabeça. Por mais que fosse irritante, era reconfortante vê-lo voltando ao normal.

— Sabe, você devia ser mais cuidadoso. — A jovem continuou, cruzando os braços. — Não é como se a gente tivesse médicos robôs por perto toda hora. E, sinceramente, eu não tô a fim de brincar de enfermeira de novo.

— Eu sei. — Ele suspirou, a expressão séria por um momento. — Mas a gente não tem tempo pra ser cuidadoso, Alaska. Não com o que tá em jogo.

— Tá, mas se você morrer no meio disso tudo, o que adianta? — Ela rebateu, inclinando-se pra frente. — Você não é indestrutível, Cinco. Por mais que goste de fingir que é.

Ele ficou em silêncio, o olhar fixo no teto. Por um momento, parecia que ia rebater, mas ao invés disso, murmurou:

— Não é sobre mim. Nunca foi.

Alaska o encarou, as palavras pegando-a desprevenida.

— Como assim?

— Tudo isso... voltar no tempo, tentar salvar o mundo. Não é pra mim. É pra vocês. — Ele virou a cabeça para encará-la, os olhos cansados, mas sinceros. — Eu já vivi o suficiente pra saber como é perder tudo. Não quero que vocês passem por isso.

Ela engoliu em seco, a frustração suavizando um pouco.

— A gente não precisa de um herói que se sacrifica, Cinco. Precisa de você vivo, inteiro.

Ele deu um sorriso pequeno, quase imperceptível.

— Vou tentar lembrar disso.

— Melhor lembrar mesmo. — A morena murmurou, olhando para as mãos como se tentasse esconder o próprio nervosismo.

O garoto fechou os olhos por um momento, mas continuou falando, a voz um pouco mais baixa.

— Obrigado, sabe? Por salvar minha vida... ou tentar, pelo menos.

— Não foi nada. — Ela respondeu rapidamente, mas depois riu de leve. — Quer dizer, foi sim. Foi um inferno, mas... não me importei. Você teve sorte que eu sou boa em improvisar. Da próxima vez, que tal não testar a teoria da imortalidade do Klaus?

Cinco revirou os olhos, mas havia um brilho leve neles, algo que Alaska não via com frequência.

— Vou pensar no caso. — Ele murmurou antes de fechar os olhos novamente, visivelmente exausto, mas vivo.

O jovem ficou em silêncio por alguns segundos, pensando no que a garota havia dito.

— Então, isso é o mais próximo de um "eu me importo com você" que já ouvi. — Ele provocou, abrindo os olhos só para encará-la.

— Cala a boca antes que eu me arrependa. — Alaska retrucou, mas o tom tinha um toque de humor.

Cinco sorriu de leve, deixando a cabeça afundar mais no travesseiro.

— Boa noite, Alaska.

— Boa noite, Cinco. — Ela respondeu, observando enquanto ele finalmente relaxava e caía no sono outra vez.

Ela ficou em silêncio, observando-o adormecer outra vez. Por mais que a situação tivesse sido estressante, ela sentiu um alívio genuíno. Talvez, só talvez, eles ainda tivessem uma chance de viver.

( ☕ ) — e essa migalha dos dois no final, amo. Cinco todo bobinho com ela, nem parece um gato arisco

( ☕ ) — a Alaska precisou desse momento sozinha, ela tava suportando muita coisa calada 🥺❤️

( ☕ ) — favoritem e comentem pra ajudar, bjos e até o próximo capítulo!

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