──── 𝗜𝗖𝗘 𝗖𝗥𝗘𝗔𝗠 𝗧𝗥𝗨𝗖𝗞
̇⁺ CAPÍTULO ◌⃘ ̇ caminhão de sorvete ◞ ࣪
﹙+ informações﹚. . . 🕥
𝐂𝐈𝐍𝐂𝐎 𝐀𝐂𝐀𝐁𝐀𝐑𝐀 𝐃𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐀𝐑 𝐒𝐎𝐁𝐑𝐄 𝐎 𝐀𝐏𝐎𝐂𝐀𝐋𝐈𝐏𝐒𝐄, O silêncio na sala era pesado, carregado de um misto de choque e incredulidade. Cinco permanecia sentado na borda da cama, os olhos fixos no chão, como se ainda estivesse organizando os próprios pensamentos sobre o que acabara de anunciar. Alaska encostou-se na parede, os braços cruzados em defesa, o rosto levemente inclinado enquanto processava o que ouvira. Luther, ao seu lado, franzia a testa, a mandíbula apertada como se lutasse para não explodir com as notícias que acabavam de receber.
— Quando vai acontecer? Esse... apocalipse — perguntou Luther, rompendo o silêncio com a voz baixa, mas carregada de tensão.
Cinco ergueu o olhar para o irmão, o rosto inexpressivo, mas os olhos duros. — Não sei dizer a hora exata — respondeu, quase em tom de desdém. — Mas pelas minhas contas, faltam quatro dias.
Alaska estreitou os olhos, recusando-se a aceitar a resposta com tanta facilidade. — Mas tem solução, né? Não é possível que não consiga ser evitado — insistiu, tentando sondar algum ponto de esperança nas palavras do irmão.
O garoto soltou um suspiro e cruzou os braços, lançando um olhar frio para ela. — Faltam quatro dias — repetiu secamente. — E se tivesse uma solução fácil, você acha que eu estaria aqui, sentado com vocês, discutindo? — Ele balançou a cabeça, frustrado. — Estou tentando encontrar um jeito, mas isso não é um filme. Não tem garantia de final feliz.
O sarcasmo dela era um escudo, um recurso que ela usava quase sem pensar, como se fosse capaz de controlar melhor a situação ao tratar tudo com desdém. — Então a gente só senta e espera o fim? — provocou, a voz carregada de ironia. — Ou você tem um plano genial que só tá esperando a hora certa de contar?
Cinco revirou os olhos, mas percebeu a tensão sob a máscara que ela usava. Alaska desviou o olhar, fixando-o em um ponto qualquer da parede, evitando encará-los diretamente. A ideia de um apocalipse não era apenas assustadora; era devastadora demais para admitir. A última coisa que desejava era perder o que acabara de reencontrar: sua família. Por mais complicada e disfuncional que fosse a dinâmica entre eles, eram tudo o que tinha. Havia sempre uma solução, A jovem acreditava nisso. Ela não permitiria que o fim do mundo os levasse.
Luther, impaciente, passou uma mão pelo rosto, como se pudesse esfregar a frustração para longe. — Por que não falou sobre isso antes? — questionou, a voz subindo de tom, o olhar fixo em Cinco.
— Não ia adiantar nada — respondeu o jovem, secamente, desviando o olhar.
O loiro bufou. — Claro que ia! Poderíamos ter nos juntado e ajudado a impedir essa coisa.
Cinco deu um sorriso amargo. — O problema é que vocês já tentaram.
Alaska franziu as sobrancelhas, confusa. — O quê?
Luther o encarava, perplexo. — Como assim?
— Eu achei todos vocês — Respondeu, baixando a voz. — Seus corpos.
O silêncio foi cortante. Alaska e Luther ficaram em choque, as expressões de horror e descrença congeladas em seus rostos. O que Cinco acabara de contar não era apenas o anúncio do fim do mundo, mas uma sentença de morte pessoal, um futuro em que todos eles estariam mortos.
— Morremos? — sussurrou Luther, como se a palavra fosse pesada demais para ser dita em voz alta.
Assentiu, a voz firme, mas o rosto sombrio. — De uma maneira horrível. Vocês estavam juntos, tentando deter quem acabou com o mundo.
O loiro recuou um passo, abalado. — Como sabe disso?
Encolheu os ombros e apontou para o irmão. — Isso tava na sua mão quando te encontrei morto.
Alaska olhou para a prótese com uma nova compreensão, lembrando-se da importância que Cinco dera a ela. Ela sentiu o peso daquela descoberta e, por um momento, suas mãos tremeram.
— Deve ter arrancado da cabeça dele, um pouco antes de morrer.
— Cabeça de quem?
— Já disse que não sei quem é — Cinco respondeu, irritado, como se repetir aquilo fosse exasperante.
Mas Luther insistiu, tentando desesperadamente encontrar alguma pista. — Tem um número de série atrás. Dá pra rastrear.
Alaska e Cinco trocaram um olhar. Eles sabiam que o olho ainda não fora fabricado, uma revelação que tirava qualquer esperança de pista.
— Não dá em nada — Murmurou, desanimado. — É só mais um pedaço de vidro.
De repente, a porta se abriu com um estrondo. Diego entrou, os olhos furiosos, a respiração acelerada enquanto se aproximava de Cinco, o rosto contorcido em raiva.
— Seu merdinha! Tem ideia do que acabou de fazer? — Gritou, avançando em direção ao irmão, mas Luther o segurou antes que chegasse perto.
— Me solta! Tira essas suas mãos de macaco de cima de mim! — protestou Diego, tentando se livrar do aperto.
Luther, ainda segurando o irmão, respondeu firme. — Posso segurar o tempo que for, até você se acalmar.
Vendo que não tinha escolha, respirou fundo e parou de lutar. — Tá. — O loiro finalmente o soltou.
Alaska, a expressão confusa, olhou para Diego. — O que aconteceu pra você chegar e querer a cabeça do Cinco como troféu? E cadê o Klaus?
Soltou um suspiro frustrado. — Eu fui até lá e não encontrei o Klaus, só tudo revirado.
Sentiu o coração apertar. A notícia do apocalipse já era aterrorizante, mas agora seu irmão também estava desaparecido.
— Nosso irmão andou muito ocupado desde que voltou — disse Diego, apontando para Cinco com uma expressão acusadora. — Ele tava naquele tiroteio do Griddy's e na loja de departamento. Depois, os caras de máscara atacaram a academia tentando achá-lo!
— E nada disso é problema seu — Retrucou, cruzando os braços.
O latino cerrou os punhos, a dor e a raiva visíveis em seu rosto. — Agora é. Eles mataram a minha amiga.
Alaska piscou, em choque, sentindo o peso das palavras de Diego. Não conhecia Patch, mas pelo tom de voz do irmão, podia sentir o carinho que ele tinha por ela.
Luther, ainda tentando juntar as peças, perguntou em tom de urgência. — Quem são eles, Cinco?
— Trabalham pra minha antiga empregadora — Cinco explicou, o olhar sombrio. — Essa mulher é chamada de A Gestora. Ela mandou eles para me deter. Quando a amiga do Diego se meteu no assunto... — Ele fez uma pausa, como se revivesse o momento. — Presa fácil.
Diego declarou com uma firmeza assustadora: — Agora, eles são minhas presas, e vou fazer eles pagarem.
Cinco suspirou, cansado. — Tá cometendo um erro, Diego. Eles mataram gente bem mais perigosa que você.
— É o que vamos ver — Retrucou antes de sair e bater a porta atrás de si.
Quando a porta se fechou, Alaska murmurou, cheia de preocupação. — Ele vai acabar se matando.
— É a escolha dele — Respondeu, com um tom frio. — Mesmo que seja uma escolha idiota, se ele acha que vai consertar algo tentando se vingar, que vá em frente.
O silêncio voltou a pairar na sala, mais pesado que nunca. Ela não sabia se conseguiria suportar tudo isso... mas sabia que, de uma forma ou de outra, não estava disposta a deixar tudo acabar assim.
Cinco ficou em silêncio, os olhos fixos em algum ponto distante, como se ainda estivesse preso nas memórias do apocalipse. Parecia cansado, muito mais velho do que a aparência sugeria. Luther o encarava com um misto de horror e curiosidade, tentando entender o que o irmão tinha vivido. Alaska, de braços cruzados e expressão fechada, ainda parecia lutar para processar tudo aquilo.
Luther finalmente quebrou o silêncio, hesitante. — Você era assassino?
Soltou um suspiro curto. — Era.
O loiro parecia querer encontrar algum alívio, algo que tornasse isso mais aceitável. — Mas... tinha regras, né? Não matava qualquer um.
Balançou a cabeça devagar, sem nenhum sinal de desculpa. — Não tinha regras. A gente eliminava qualquer um que alterasse a linha do tempo.
Alaska, que até então ficara quieta, finalmente falou, a voz carregada de uma mágoa que ela nem tentava esconder. — E pessoas inocentes?
Cinco evitou os olhos dela. — Era o único jeito de voltar pra cá.
Luther ficou indignado, sua voz ganhando intensidade. — Isso é crime, Cinco!
O garoto olhou para o irmão com um olhar que misturava cansaço e irritação. — Caramba, Luther, vê se cresce. A gente não é mais criança. Não existe essa coisa de mocinhos e vilões, só... pessoas. Vivendo suas vidas, vidas que não vão valer de nada quando o mundo acabar. Todo mundo vai morrer, incluindo nossa família.
Ela o encarava com um misto de revolta e tristeza. — Olha, eu entendo que você precisava fazer o que achava necessário, mas não tenta me convencer que isso não foi totalmente... doentio. Você matou pessoas que nem sabiam o que tava acontecendo, que só... existiam. E tudo isso por causa de uma "linha do tempo"?
Ela tentava manter a postura, mas o choque era óbvio. Havia uma tempestade de emoções dentro dela, mas talvez o medo maior fosse outro. A possibilidade de não haver esperança, de que o apocalipse fosse realmente inevitável.
— E você acha que, de alguma forma, vai salvar nossa família depois de tudo isso? — A garota lançou um olhar desafiador a ele, já sem esperar muito. — É... faz sentido.
Cinco revirou os olhos, exasperado. — Olha, Alaska, eu realmente não tenho tempo para discussões morais. Fiz o que era necessário. Se você não consegue ver isso, não sei mais o que dizer.
Ela deu um sorriso cínico, mas os olhos denunciavam a tristeza. Ela balançou a cabeça devagar. A ideia de que ele realmente pensava que poderia salvar a família soava como uma piada.
— Luther, o tempo muda tudo. — Ele hesitou por um segundo, a expressão de repente carregada com algo mais profundo. — Uma coisa me deixou intrigado. Quando achei nossos irmãos... mortos, todos eles... você não estava lá, Alaska. Procurei em cada canto, mas era como se você tivesse desaparecido antes de tudo. Nunca encontrei seu corpo. Nunca soube o que aconteceu com você.
Alaska ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Eu não tava lá? Se todos os outros morreram, por que logo eu não estaria? Não faz sentido.
Cinco a encarou, como se buscasse algum sinal. — Exatamente isso. Isso não faz sentido. Como você conseguiu sobreviver? O fato de você não estar lá... é uma variável que eu nunca consegui entender. — Ele hesitou, a voz baixa, quase pensativa. — Talvez o que aconteceu com você no apocalipse... talvez isso possa ajudar a impedir o fim. Mas sem saber o que foi, é o mesmo que nada.
Ela respirou fundo, tentando absorver a ideia. — Então... você acha que o que aconteceu comigo pode mudar alguma coisa? — A dúvida e a surpresa eram claras em seu tom.
Assentiu. — Sua sobrevivência é uma anomalia. Algo que não se encaixa. Não é normal. Se você escapou, pode ser que tenha algo a ver.
Ela deu um riso curto, cético. — Então vai ficar me observando, como se eu fosse um rato de laboratório, esperando que eu revele alguma coisa?
Cinco revirou os olhos. — Não estou te observando, Alaska. Estou tentando salvar o mundo.
A garota soltou um suspiro profundo, misturando frustração e cansaço. — Salvar o mundo. Você mal consegue lidar com a sua própria família.
Cinco cruzou os braços. — Não preciso lidar com vocês se o mundo acabar.
Ela o olhou, mantendo o tom desafiador, mas seu cansaço era quase palpável. — E só para deixar claro, isso não significa que vamos ser amigos.
Ele deu de ombros, quase sorrindo. — Concordo. Só uma trégua.
— Trégua. — Alaska cruzou os braços, assentindo com a cabeça.
O silêncio caiu entre eles, carregado e incômodo. Cada um deles parecia preso em pensamentos próprios, até que um som metálico reverberou pelo quarto. Alaska, Luther e Cinco se viraram na direção do barulho, congelados por um instante. O som abafado e estranho ecoou no ambiente, fazendo com que trocassem olhares rápidos e tensos.
☂︎
Alaska havia retornado à mansão com um peso no peito, sentindo a esperança misturada com uma sensação de urgência. Ela estava aflita, procurando por Klaus em cada canto, imaginando que ele poderia ter simplesmente reaparecido sem aviso, algo improvável, mas uma esperança que se recusava a abandonar. Percorreu os cômodos do andar de baixo, os olhos vasculhando cada sombra, cada canto onde ele poderia estar. Decidiu, então, ir ao quarto dele, pensando que se não o encontrasse ali, talvez ele realmente não estivesse na mansão.
Ao se aproximar, avistou uma cena que a deixou intrigada e um pouco aliviada. Klaus estava ali, conversando com Cinco. Mas, ao dar mais alguns passos, percebeu algo perturbador. No corredor, pequenas pegadas de sangue se estendiam em direção ao banheiro. Alaska seguiu as manchas com o olhar, cada uma delas aumentava a inquietação em seu peito, na banheira, manchas secas de sangue. Sentiu o coração acelerar, um medo latente do que poderia ter acontecido.
Ela entrou no quarto devagar, tentando manter a voz firme, mas não conseguindo esconder a apreensão. — Klaus, você está bem? Eu... eu 'tava te procurando.
Klaus se virou para ela, forçando um sorriso que parecia superficial, tentando tranquilizá-la, mas Alaska sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Algo em seu olhar parecia vazio, algo que ele tentava disfarçar, mas que a verdade insistia em mostrar.
Ele deu um passo em direção a ela, os olhos fixos nos dela, enquanto tentava disfarçar o que realmente sentia. — Eu estou bem, Alaska. Só me perdi em alguns... caminhos alternativos — disse ele, a voz tentando soar leve, mas sem esconder completamente o cansaço. — Mas não se preocupa, já tô de volta.
Ela olhou para as manchas de sangue no chão e na banheira, o pânico se transformando em uma preocupação cada vez mais profunda. — Por que você fez isso? — Ela murmurou, o olhar alternando entre Klaus e os rastros de sangue, como se buscasse alguma explicação. Ele entendeu de imediato a pergunta, percebendo que ela já tinha ligado os pontos.
Klaus deu um suspiro e esfregou a nuca, como se procurasse alguma resposta plausível. — Ah, foi uma noite longa. Eu tentei... dar um jeito em tudo isso, mas, adivinha? Até nisso eu sou péssimo.
Ele soltou uma risada fraca e vazia, e, por um momento, Alaska teve a impressão de que ele estava prestes a desmoronar. Cinco observava a cena, cruzando os braços, lutando para não se impacientar, mas frustração era evidente.
— Pelo visto, foi mais do que uma noite — Cinco comentou, a voz carregada de sarcasmo, enquanto seu olhar deslizava para Klaus. — Não lembrava dessas chapas de identificação.
Klaus hesitou antes de responder, seus olhos se escurecendo, como se uma lembrança amarga tivesse passado pela sua mente. — Eram de um amigo meu.
O jovem notou uma tatuagem nova no braço de Klaus e franziu o cenho, o tom da voz saindo mais impessoal, como se quisesse apenas obter respostas. — E essa tatuagem, é nova?
Klaus soltou um suspiro resignado, parecendo exausto. — Olha só, nem lembro de quando pedi pra fazer. Como eu disse, foi uma noite longa, entendeu?
Cinco balançou a cabeça, o rosto tenso. — Eu sei o que você fez, Klaus.
Ela olhou para os dois, os olhos alternando entre eles, sentindo-se cada vez mais perdida. — Do que você tá falando, Cinco?
O garoto lançou um olhar sério para Klaus, que desviou o olhar. — Reconheço os sintomas.
Ele pareceu desconcertado, a voz saindo vacilante. — Sintomas de quê?
Cinco deu um passo à frente, observando Klaus atentamente, como se o estivesse analisando. — Atordoamento, coceira, dor de cabeça, como se tivessem enfiado uma caixa de algodão no seu cérebro... você voltou no tempo, não foi?
Alaska, que até então estivera em silêncio, se ajoelhou perto de Klaus, o encarando com um misto de preocupação e tristeza. Sua voz saiu baixa, quase hesitante, como se temesse ouvir a resposta. — Por onde você esteve? Klaus, você sumiu... por dias. O que aconteceu com você?
Ele evitou o olhar dela, os ombros caindo sob o peso de memórias que ele parecia relutar em reviver. Um suspiro escapou de seus lábios, enquanto lembrava-se do momento em que fora sequestrado por Hazel e Cha Cha, e o impulso impensado de roubar a maleta deles.
Ergueu a cabeça, encarando a garota com um olhar triste e amargo. — Sabe seus "amigos"? Eles invadiram a casa e, como não acharam você, me levaram como refém.
Cinco deixou escapar uma risada irônica, os braços ainda cruzados. — E, como vingança, você roubou a maleta deles?
Klaus deu de ombros, a expressão desamparada. — Achei que tivesse dinheiro lá dentro, algo que eu pudesse penhorar... então eu abri.
Ergueu uma sobrancelha, seu tom impaciente. — E quando você percebeu, você estava onde? Ou melhor, quando?
Desviou o olhar, sua voz saiu baixa, quase desamparada. — Que diferença faz?
Cinco lançou-lhe um olhar indignado, a paciência claramente se esgotando. — Que diferença... tá, quanto tempo você passou por lá?
Klaus hesitou antes de responder, o rosto endurecendo, como se as palavras custassem a sair. — Quase um ano.
Alaska arregalou os olhos, surpresa e aflita. — Um ano?
Ele assentiu, a voz tão baixa que parecia falar para si mesmo, como se tentasse entender o que ele mesmo havia passado. — Foi... complicado. Um pouco de tortura aqui, um pouco de viagem no tempo ali... e de repente, puff, sou soldado em uma guerra de que eu nem sabia quem eram os lados.
A risada que escapou de seus lábios foi amarga e vazia, um som que reverberou na mente de Alaska enquanto ela tentava absorver a situação. Cinco o encarava.
Klaus continuou, quase murmurando, como se estivesse perdido nas lembranças. — Lutei. Ganhei essas chapas... perdi um amigo. Um cara incrível. Alguém que... bem, alguém que importava. E aí, do nada, ele se foi e eu... estava de volta aqui.
A morena se aproximou um pouco mais, com a voz baixa e cheia de tristeza. — Klaus... você perdeu alguém?
Ele forçou um sorriso, mas seus olhos estavam distantes, o olhar perdido em memórias que o machucavam. — É... perder pessoas é meio que o que eu faço, não é? Sou praticamente um especialista nisso.
Cinco balançou a cabeça, os braços ainda cruzados, e o tom agora soava mais grave. — Sabe o que isso significa?
Klaus ergueu as sobrancelhas, tentando soar indiferente. — Que estou dez meses mais velho agora?
— Não é uma piada, Klaus — O garoto retrucou, a voz entrecortada pela frustração. — Hazel e Cha Cha vão fazer de tudo para recuperar a maleta. Onde ela está agora?
Hesitou por um instante, depois deu um sorriso vazio. — Já era. Destruí. Puf! — Ele fez um gesto exagerado de explosão com as mãos.
Cinco ficou paralisado, e sua expressão de fúria contida era palpável. — Onde é que você tava com a cabeça?
Alaska franziu o cenho, olhando para Cinco com firmeza. — O que tem de tão importante nessa maleta?
O moreno lançou um olhar exasperado a ela, tentando explicar sem perder a paciência. — Precisávamos dessa maleta para recomeçar no tempo. Hazel e Cha Cha a usavam para viajar entre eras, e esse... esse imbecil — ele apontou para Klaus — destruiu ela!
Alaska cruzou os braços, repreendendo-o com o olhar. — Cinco, a gente também precisa ter um pouco de perspectiva aqui. Klaus foi sequestrado, sofreu, e fez o que pôde pra sobreviver. Acha mesmo que ficar explodindo agora vai resolver alguma coisa?
Cinco respirou fundo, observando-a com os lábios comprimidos, claramente tentando conter a frustração. — Eu entendo, Alaska, sério. Mas isso vai além de perspectiva. Essa maleta era nossa saída de recomeçar e impedir o apocalipse.
Klaus, que até então os ouvira em silêncio, deu um suspiro profundo, o olhar amargurado. — Poxa, foi mal, Cinco. Não tava exatamente pensando com clareza enquanto era sequestrado e jogado numa guerra. — Ele levantou-se devagar, os ombros caídos. — Me deixa, tá?
O jovem abriu a boca para responder, mas Alaska colocou uma mão no ombro dele, num gesto silencioso que pedia paciência. Ela olhou para Klaus com um olhar suave e cheio de compreensão, mas ele se virou, parando na porta com os ombros tensos.
— Klaus só queremos ajudar... — Ela diz suavemente, tentando aliviar a situação.
A voz dele soou distante, carregada de amargura e cansaço. — Ajudar? Vocês não podem me ajudar. Nem eu posso. Só... me deixem em paz, tá?
Ele saiu sem olhar para trás, e a tensão no quarto pareceu crescer ainda mais pesada após sua partida. Cinco respirou fundo, tentando manter a calma, mas seu rosto mostrava a frustração e a urgência. Ele se virou para as coisas do irmão, remexendo-as com rapidez e precisão, claramente tentando manter a mente ocupada.
Alaska o observou, exausta, com um misto de tristeza e indignação. — O que você vai fazer agora?
Cinco não desviou o olhar de suas coisas, a voz saindo firme e cheia de concentração. — Você vai ver.
Alaska suspirou, sentindo o cansaço da situação se acumular, e observou-o em silêncio, perguntando-se o que ele estaria planejando agora.
Cinco estava há mais de uma hora diante da parede do quarto, rabiscando fórmulas, datas e teorias como se estivesse desenhando um mapa para salvar o mundo — porque, de certa forma, era exatamente isso que ele tentava fazer. A superfície, que antes era apenas uma parede, agora parecia um quadro negro abarrotado de cálculos complexos e linhas que se cruzavam em direções impossíveis de se seguir. Alaska, que estava encostada na porta, cruzou os braços, observando-o com uma mistura de curiosidade e exasperação.
— E por que, exatamente, você tá rabiscando tudo aí? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. — E, sério, precisava mesmo trazer sua namorada de plástico junto? — Ela lançou um olhar enviesado para Dolores, que estava em pé ao lado da mesa, inexpressiva e silenciosa como sempre.
Cinco parou por um segundo, os olhos ainda focados nos números, e bufou sem tirar a atenção da parede. — Primeiro, Dolores não é minha namorada. Segundo, isso — ele apontou para a parede repleta de cálculos — é a única forma de tentar resolver o fim do mundo. Se eu descobrir quem causou, talvez a gente tenha uma chance de impedir o apocalipse.
Alaska olhou para ele, um leve tom de ironia em sua expressão. — E você acha mesmo que rabiscar a parede com a... a sua amiga de plástico do lado vai ajudar?
Cinco revirou os olhos, sem paciência. — Vai ajudar mais do que ficar te ouvindo. — Ele rebateu de forma cortante. — Se não quer contribuir, pelo menos tenta não atrapalhar.
Alaska suspirou, lançando um olhar para Dolores com um ar cético. — Tá, então boa sorte com isso. Talvez ela te ajude com os cálculos. — resmungou, sem esconder o sarcasmo.
Cinco fez uma pausa, analisando uma sequência de números como se estivesse em meio a uma revelação. Seus olhos brilharam com uma determinação súbita. — Acho que consegui! — murmurou para si mesmo, a voz baixa, mas carregada de um entusiasmo raro.
Alaska ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços enquanto o encarava. — E agora tá falando sozinho. Isso aí é um bom sinal ou eu perdi de vez o pouco de sanidade que você ainda tinha?
— Não tô falando sozinho. — Cinco respondeu, revirando os olhos, mas a impaciência cedia lugar a um sorriso contido. — Consegui reduzir a quatro pessoas que podem ter causado o apocalipse. Se encontrarmos quem é o responsável... bem, talvez a gente tenha uma chance.
Foi quando Luther entrou no quarto, o olhar confuso ao observar o caos de números e linhas que cobria a parede.
— Que que é isso? — perguntou ele, franzindo o cenho.
Cinco deu de ombros, sem desviar os olhos dos cálculos. — É um mapa de probabilidade.
Luther olhou para ele, claramente sem entender. — Probabilidade de quê?
Antes que Cinco pudesse responder, Alaska interveio com um suspiro. — É um mapa de mortes, Luther. Pessoas que, se der um jeito de lidar, podem ser impedidas de causar o apocalipse.
Cinco assentiu, satisfeito, e bateu com o dedo três vezes na parede, onde havia uma lista de nomes. — Consegui reduzir a quatro pessoas.
Luther o encarou, confuso. — Tá dizendo que uma dessas quatro pessoas causa o apocalipse?
Cinco suspirou, a paciência se esgotando. — Não, mas uma dessas mortes pode impedir que o apocalipse aconteça.
Alaska bufou, cruzando os braços. — Foi quase o que eu falei.
Luther balançou a cabeça, a expressão cada vez mais perdida. — Não tô entendendo.
Cinco respirou fundo, como se estivesse tentando explicar algo óbvio. — O tempo é instável, Luther. A menor alteração nos eventos pode levar a resultados drasticamente diferentes na linha do tempo. — Ele fez um gesto com as mãos, enfatizando o conceito. — O efeito borboleta. Então, o que eu preciso fazer é achar as pessoas com as maiores probabilidades de impactarem a linha do tempo e... eliminá-las.
Alaska estreitou os olhos, o tom de voz cheio de ironia. — Ou seja, assassinato.
Luther franziu o cenho, visivelmente incomodado. — Matar essas pessoas? Tem certeza de que isso vai funcionar?
— Não tenho — Cinco respondeu, o olhar fixo na parede. — Mas a alternativa é o apocalipse, então não temos muita escolha. A linha do tempo tá distorcida demais. Pequenos detalhes mudam tudo.
Alaska balançou a cabeça, cética. — Então, a solução é sair por aí matando gente e esperar que dê certo?
— Basicamente. — Cinco murmurou, distraído, já começando a organizar seus pertences, preparando-se para sair.
Luther se aproximou, lendo os nomes escritos na parede. — Milton Greene... quem é esse? Um terrorista, por acaso?
Cinco revirou os olhos, anotando as informações em seu caderninho. — Acho que é um jardineiro.
Luther parecia incrédulo. — Não tá falando sério.
Alaska lançou um olhar cansado a Luther. — Infelizmente, ele tá falando muito sério.
Luther franziu o rosto, incrédulo. — Isso é loucura, Cinco. Você... — Seus olhos se arregalaram ao ver Cinco tirar uma arma. — De onde tirou isso?
Cinco ergueu a arma, como se fosse um objeto qualquer, examinando-a com familiaridade. — Quarto do papai. Acho que ele usou pra atirar num rinoceronte. É bem parecida com o modelo que eu usava no trabalho. Encaixe bom nos ombros, leve, firme.
Alaska o olhava com uma mistura de descrença e indignação. — Esse "jardineiro" pode ter uma família, uma vida... Você não vai nem pensar duas vezes antes de puxar o gatilho?
Cinco suspirou, a expressão endurecida. — Se isso significa parar o apocalipse, então é o que eu tenho que fazer. A vida não é feita somente de boas intenções.
Luther parecia cada vez mais incomodado. — Não pode matar esse cara, Cinco. Milton é só um homem inocente.
Cinco ergueu uma sobrancelha, impaciente. — É matemática básica, Luther. A morte dele pode salvar a vida de bilhões de pessoas. Se eu não fizer nada, ele vai morrer em quatro dias mesmo. O apocalipse não vai poupar ninguém.
Luther cruzou os braços, determinado. — Nós não fazemos essas coisas. Não importa quantas vidas vão ser salvas.
Cinco o encarou, desafiador. — "Nós" não vamos fazer nada. Eu é que vou.
Luther respirou fundo, firme. — Não vou te deixar sair pra matar um inocente. Não importa quantas vidas vai salvar.
Cinco o encarou, os olhos gelados. — Tenta me impedir.
Alaska observava a cena, os braços cruzados, um sorriso sarcástico no rosto. — Isso vai ser interessante.
Luther lançou um olhar para Dolores, que estava parada ao lado de Cinco, e, num movimento rápido, a pegou, erguendo-a como se fosse jogá-la pela janela. Cinco, num reflexo imediato, levantou a arma, apontando para Luther, o rosto transtornado.
— Põe... ela... onde estava. — murmurou, cada palavra carregada de ameaça.
Alaska balançou a cabeça, rindo baixinho. — Se isso não é a coisa mais estranha que já vi, não sei o que é.
Luther encarou Cinco, a voz calma, mas firme. — Abaixe a arma, Cinco. Não vai matar ninguém hoje. Sei que ela é importante, mas não me obriga a fazer isso. — Ele deu um passo para trás, ainda segurando Dolores. — É ela ou a arma. Escolhe.
Por um instante, o silêncio pesou no ar. Cinco hesitou, a mão firme na arma, mas, antes que pudesse reagir, Luther soltou Dolores. Cinco se teletransportou para segurá-la antes que caísse, abraçando-a com cuidado, quase aliviado.
Luther observou-o, um sorriso pequeno no rosto. — Eu poderia fazer isso o dia todo. — Ele respirou fundo, suavizando o tom. — Sei que você ainda é uma boa pessoa. Se não fosse, não teria arriscado tudo pra voltar e salvar todo mundo. Mas você não tá mais sozinho.
Cinco olhou para ele, ainda sem largar Dolores, mas havia uma faísca de entendimento em seu olhar. Ele suspirou, finalmente baixando a arma.
— Talvez... tenha outro jeito — murmurou, quase como se estivesse falando consigo mesmo.
Alaska ergueu as sobrancelhas. — Deixa eu adivinhar, é mais difícil que sair matando todo mundo?
Cinco lançou-lhe um olhar carregado de ironia. — Praticamente impossível.
Luther sorriu, dando um tapinha em seu ombro. — Mais impossível do que trazer você de volta?
Cinco soltou um suspiro longo, como se soubesse que tinha muito trabalho pela frente. O fim do mundo podia esperar, ao menos por mais um dia.
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Alaska observava o horizonte empoeirado enquanto o carro estacionava no meio do campo desértico. A ausência de vida ao redor contrastava com a agitação dentro dela. — Nada como um passeio em família para melhorar o dia, né? — disse, a ironia escorrendo das palavras.
— É, porque nada diz "diversão em família" melhor que uma missão pra evitar o fim do mundo — respondeu Cinco, seus olhos percorrendo a paisagem árida. Ele suspirou, o peso da responsabilidade sobre seus ombros era quase palpável. — Eu não gostava disso.
— De quê? — perguntou Luther, o olhar intrigado.
— De matar — respondeu Cinco, o tom de sua voz vazio. A confissão estava carregada de uma carga emocional que ele mal conseguia processar.
— Você pode ser o cara mais insuportável do mundo, mas com certeza não é um monstro — disse Alaska, sua voz um pouco mais suave, como se tentasse acalmar uma tempestade dentro deles.
Ele soltou uma risada nervosa. — Às vezes, é difícil encontrar a linha entre o que queremos fazer e o que não queremos. Mas eu não sou um monstro, pelo menos não um psicopata. Eu era bom no meu trabalho e tinha orgulho, mas nunca me deu prazer. — A sinceridade em suas palavras era uma fissura em sua armadura, uma vulnerabilidade que ele raramente mostrava.
— Passei muito tempo sozinho, e a solidão mexe com a cabeça da gente — acrescentou, seu olhar distante, perdido em lembranças que pareciam pesadas demais para carregar.
Alaska hesitou, suas palavras cuidadosamente escolhidas. — Olha, eu não sou sua maior fã... mas eu entendo como é se sentir presa em um lugar escuro, mesmo que seja na própria cabeça. — O silêncio entre eles se estendeu, ambos refletindo sobre suas lutas internas. — Ninguém deveria passar por isso sozinho.
Luther interveio, sua voz grave e reflexiva. — É, você ficou lá por um tempão. Eu só fiquei quatro anos na lua, foi mais do que suficiente; ficar sozinha acaba com a gente. — A seriedade de sua declaração trouxe à tona o peso de suas experiências.
— Será que vai funcionar?
— Só vamos saber se tentarmos — Alaska incentivou, a determinação em sua voz criando um confiança entre os três.
Cinco assentiu, a tensão de sua decisão pairando no ar. — Olha, só sei que estão desesperados, é como se um policial perdesse a arma. Se a Comissão descobrir, eles vão ficar na merda. E, sem falar que eles vão ficar presos aqui até recuperarem ela.
— É melhor ficar com a gente — Luther disse, um toque de proteção em seu tom.
— Hum? — Cinco olhou para Luther, um leve franzir de sobrancelhas.
— Caso queiram atacar você.
— Tá bom, mas se cuidem — Cinco respondeu, uma sombra de preocupação se espalhando pelo seu rosto. — Eu vivi uma vida longa, mas vocês ainda são jovens. Têm uma vida pela frente. Não desperdicem.
— Ah, para com esse drama todo, velho. Não é como se fôssemos acabar igual a você — Alaska disse, cruzando os braços, tentando desviar a conversa para um território mais leve. O meio sorriso que surgiu em seu rosto era um esforço para aliviar a tensão.
Cinco estava prestes a protestar, mas ela o interrompeu. — Se precisar, é só usar a sua "superinteligência" pra fugir deles.
— E só pra deixar claro, a menos que vocês queiram viajar pro futuro, é impossível acabar como eu — Cinco brincou, mas a piada não chegou a alcançar os olhos dele.
— Se cuida, Cinco — Alaska disse, mesmo com suas divergências, a preocupação por ele era genuína. Havia uma conexão ali, mesmo que tensa e complicada.
— Eu vou — ele respondeu, mudando o foco para a estrada. O carro se aproximava, provavelmente trazendo Hazel e Cha Cha. Ele sabia que a situação estava prestes a ficar tensa.
Os três saíram do carro, enquanto Cinco se afastou para conversar com os agentes da Comissão. Alaska e Luther ficaram ao lado do veículo, os nervos à flor da pele.
— Se tudo der errado, pede desculpas a Dolores por mim — disse Cinco, sua voz soando distante.
Alaska cruzou os braços, observando-o ir. — O que você acha que a Dolores faria se soubesse que estamos em apuros?
Luther levantou uma sobrancelha. — Tipo, "se vira, cara"?
Ela riu. — Aposto que ela não ia se preocupar muito. Só ficaria lá, imóvel.
— É, ela não é do tipo que entra em pânico — Luther comentou, o loiro sorrindo ao imaginar a boneca inexpressiva em meio ao caos.
— E enquanto isso, a gente aqui se preocupando se vamos sair vivos — Alaska disse, soltando uma leve risada. — Não sei se fico mais aliviada ou preocupada por depender da sabedoria de um pedaço de plástico.
A cena à frente se tornava cada vez mais inquietante. A tensão aumentou quando Cha Cha puxou a arma e apontou para Cinco. O coração de Alaska disparou.
— Ele realmente não deveria estar fazendo isso sozinho — Luther murmurou, a preocupação transparecendo em seu olhar.
— E se aquela arma não for só para intimidar? — Alaska acrescentou, o rosto tenso. A dúvida se estabeleceu como um peso em seu peito, lembrando que a situação poderia sair do controle a qualquer momento.
— Se ele precisar de nós, não podemos simplesmente ficar aqui — Luther disse, a determinação brotando em sua voz.
— E se a gente também acabar levando um tiro? — Alaska questionou, o medo crescendo.
— É arriscado, mas se não der certo, a gente tem que intervir — ele respondeu, a mente correndo com as possibilidades.
Cinco se afastou após fazer um acordo e voltou até o carro, o semblante pesado.
— O que a gente faz agora? — Luther perguntou, buscando orientação.
— Vamos esperar — Cinco respondeu, a voz firme, mas com um toque de cansaço.
De longe, o som de uma música de caminhão de sorvete ecoou, levando Alaska de volta a um tempo mais simples. Lembrou-se de quando tomou o seu primeiro sorvete, um momento que lhe trouxe alegria, um doce alívio das preocupações da vida. O contraste entre aquela lembrança inocente e a realidade tensa da situação atual a fez sentir um nó na garganta.
A vida era cheia de ironias, e enquanto o carro passava pelo caminho deserto, o peso das decisões pairava no ar, mas, por um momento, a melodia do sorvete trouxe uma centelha de nostalgia, uma lembrança de que a esperança ainda existia, mesmo nas circunstâncias mais inesperadas.
O som familiar da melodia de caminhão de sorvete cortou o silêncio do campo desolado, uma dissonância tão absurda que os Hargreeves levaram alguns instantes para entender o que estavam vendo. Um caminhão se aproximava pela estrada, e dentro dele, Klaus estava acenando como se tivesse acabado de chegar numa festa. Ao seu lado, Diego parecia se esforçar para manter a expressão séria, mas havia uma leve irritação em seus olhos — ele estava cego de raiva, ao ver a presença daqueles que assasinaram sua amiga.
Cinco, parado ao lado do carro, observou incrédulo. A cada segundo que o caminhão se aproximava, ele sentia seu plano escapando por entre os dedos.
— O que eles estão fazendo aqui? — Cinco murmurou, com um tom misto de irritação e frustração. Ele sabia, com uma certeza amarga, que a chegada dos irmãos traria apenas caos e imprevisibilidade. Seu olhar se estreitou; a presença dos seus irmãos poderia arruinar todo o plano.
De repente, Hazel e Cha-Cha sacaram as armas, e os tiros começaram a voar. Num impulso, Luther se colocou entre Cinco e Alaska, transformando-se em um escudo humano, seu corpo rígido e preparado para proteger. Os dois ficaram atrás dele, mas antes que qualquer um pudesse reagir, tudo ao redor deles parou. Literalmente. O tempo congelou.
Cinco saiu de trás de Luther, seus passos ecoando no silêncio sobrenatural. Ele olhou ao redor, tentando compreender o que acontecia, até que uma voz familiar cortou o ar.
— Belo truque, não é? — A Gestora apareceu, sua expressão carregada de um sarcasmo frio e preciso. Ela retirou os óculos de sol, revelando um olhar que transbordava controle e ironia.
Cinco manteve a compostura, mas por dentro, sua mente já começava a maquinar uma saída. Ele sabia quem ela era, o tipo de ameaça que representava, e principalmente, o poder que ela exercia sobre o tempo e espaço. Ele respirou fundo, preparando-se para o que quer que estivesse por vir.
— Olá, Cinco — disse ela, com um sorriso calculado. — Você está... bem, apesar de tudo. — A Gestora examinou-o, o olhar detido por um segundo mais longo do que o necessário, e Cinco entendeu: aquela era uma mistura de admiração com desprezo, algo comum na relação que tinham.
Cinco esboçou um sorriso irônico. — É bom ver você de novo.
Ela ignorou o sarcasmo. — Parece que foi ontem que nos conhecemos. E, claro, você era... diferente. Mais velho. E parabéns por esse truque de rejuvenescimento. Enganou a todos nós.
Ele suspirou, mantendo o tom casual. — Queria poder levar o crédito. Eu só calculei mal as projeções de dilatação do tempo. — Ele abriu os braços, como quem diz: "Aí está, o erro da minha vida."
Ela sorriu, mas era um sorriso de predadora. — Sabe que tudo o que está fazendo é inútil, não sabe? Por que não me conta o que realmente quer?
Cinco a encarou com intensidade, mas sem ceder à sua provocação. Ele sabia que precisaria daquela interação — só que por motivos que ela nem imaginava.
— Eu quero que você impeça o apocalipse — respondeu ele, jogando o pedido de forma direta, mesmo sabendo da reação que viria.
A Gestora balançou a cabeça, com uma risada quase piedosa. — Cinco, você não entende... Isso é impossível. O que tiver que acontecer, vai acontecer. Essa é a razão da nossa existência.
Cinco respirou fundo, controlando a irritação crescente. O desdém dela era um lembrete de como ele odiava a Comissão e todos os seus discursos deterministas. Mesmo assim, manteve-se calmo. Ele sabia que o jogo precisava ser jogado até o fim, ao menos até que ele obtivesse o que queria.
Sem hesitar, ele tirou uma pistola do bolso e apontou para ela, o olhar firme. — É? E que tal sobrevivência como razão? — perguntou, com uma determinação fria.
Ela não vacilou. — Eu serei substituída, Cinco. Eu sou só uma peça, uma engrenagem numa máquina. E essa ideia de impedir o apocalipse com sua família? É apenas... fantasia. Você sabe disso.
Cinco engoliu o impulso de rebater. Aquilo tudo fazia parte de um jogo maior. E ele estava disposto a seguir até o fim.
A Gestora mudou de tom, o rosto suavizando-se com um toque de persuasão. — Mas sua determinação é impressionante. Por isso, a Comissão quer oferecer uma nova posição para você. Supervisor.
Cinco deu uma risada seca. — É sério? Vocês me querem de volta?
Ela assentiu. — No escritório central. Nada de divisão de correções. Com plano de saúde, aposentadoria... e o fim das viagens incessantes.
Ela observou-o com atenção, seus olhos escuros cheios de astúcia. — Nós temos a tecnologia para reverter o processo. Você pode voltar a ser... quem era.
Cinco fingiu uma hesitação. Esse era o momento. Ele sabia que precisava dar à Gestora uma razão para acreditar que ele estava considerando a proposta.
— E meus irmãos? — ele perguntou, finalmente, fingindo um interesse que ele sabia que a impressionaria.
A Gestora suspirou, seus olhos se movendo brevemente para o grupo congelado ao redor deles. — Todos eles?
Cinco assentiu. — Eles são minha família.
Ela hesitou. — Vou ver o que posso fazer. Aceita a oferta?
— Um instante. — Ele se virou e foi em direção ao caminhão de sorvete, pegando uma das armas que havia caído no chão. Com precisão calculada, ele retirou as balas e jogou-as longe, garantindo que Hazel e Cha-Cha estivessem desarmados quando o tempo voltasse ao normal.
Por um instante, ele olhou para Luther e Alaska, congelados em meio ao caos, e desviou a trajetória de uma das balas que iria na direção deles. Ele não podia permitir que nada acontecesse.
Ele voltou até a Gestora, apertando a mão dela com um sorriso quase cordial. Aceitar? Sim, ele aceitaria — mas não por lealdade. Ele tinha outros planos para a Comissão.
Em um instante, o tempo voltou a correr. A cacofonia de tiros e pneus chiando os envolveu, e o caminhão de sorvete, agora desgovernado, colidiu violentamente com o carro vazio de Hazel e Cha-Cha. Luther e Alaska se viraram, confusos, à procura de Cinco, mas ele já não estava mais ali.
— Vem pegar! — Luther gritou para Cha-Cha, lançando a maleta para longe enquanto ela tentava se recompor. Então, sem perder tempo, ele puxou Alaska, e os dois correram em direção ao caminhão onde Klaus e Diego tentavam sair.
— Alguém viu o Cinco? — Diego perguntou, enquanto era levado pelos irmãos até o carro, o rosto tenso.
— Rápido! — gritou Luther, acenando para que se apressassem. Ele olhava freneticamente para trás, vendo Hazel pegar uma arma vazia.
O carro disparou em alta velocidade, todos eles sem entender completamente o que havia acontecido, mas cientes de que, pelo menos por ora, estavam fora de perigo.
Mas enquanto o motor rugia e a poeira subia atrás deles, uma questão permanecia pendente: onde estava Cinco?
( ☕ ) — quase 7k de palavras 😨 gostaram?
( ☕ ) — favoritem e comentem pra ajudar, bjos e até o próximo capítulo!
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