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──── 𝗛𝗔𝗥𝗢𝗟𝗗 𝗝𝗘𝗡𝗞𝗜𝗡𝗦

̇⁺ CAPÍTULO ◌⃘ ̇ harold jenkins
﹙+ informações﹚. . . 🕥

𝐎 𝐒𝐎𝐋 𝐉𝐀́ 𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐒𝐔𝐁𝐈𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐏𝐋𝐄𝐓𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄, e o quarto de Alaska estava envolto em sombras suaves, com a luz dourada filtrando pela cortina, lançando padrões difusos na parede. Ela estava meio acordada, com o rosto afundado no travesseiro e o corpo enroscado nas cobertas, como se quisesse se esconder do mundo. A noite tinha sido longa, assombrada pelas palavras de Cinco sobre o apocalipse iminente que ele compartilhara antes de sumir.

O momento do desaparecimento de Cinco era claro em sua mente: um segundo ele estava lá, gesticulando com impaciência enquanto negociava com Cha-Cha e Hazel, e no instante seguinte, o espaço que ele ocupava estava vazio. Alaska tinha certeza de que ele se teletransportara, sem uma palavra, sem explicações — algo típico dele. Resolver problemas sozinho era parte da sua personalidade, e ela sabia que o apocalipse era o tipo de assunto que estava o consumindo.

Uma batida na porta a trouxe de volta ao presente, fazendo-a suspirar. Luther chamava por ela, a voz grave e insistente.

— Alaska, acorda. Precisamos conversar.

Ela puxou as cobertas com mais força, desejando se afundar ainda mais no calor da cama, mas a urgência na voz de Luther não deixava tempo pra desculpas.

— Agora não, Luther... — murmurou, a voz abafada pelo travesseiro.

A batida se repetiu, mais forte dessa vez.

— Agora. Cinco desapareceu, e precisamos entender o que vamos fazer sem ele.

O nome de Cinco a fez sentar-se abruptamente, os pensamentos girando. Ele tinha sumido no meio de uma negociação que era importante, e embora fosse normal ele sumir para resolver algo, dessa vez parecia diferente.

Com um suspiro, Alaska empurrou as cobertas para o lado e se levantou, passando uma mão pelo cabelo emaranhado. O quarto parecia pequeno, sufocante, então ela saiu e seguiu pelo corredor até a sala onde os outros esperavam.

Luther estava sentado em uma minibar, os ombros tensos e o olhar distante. Diego, sempre inquieto, afiava uma faca no sofá de madeira com movimentos precisos, o maxilar cerrado. Allison abraçava a si mesma, o olhar perdido em algum ponto do chão.

— Finalmente — Luther disse ao vê-la entrar.

Alaska entrou, mas antes de Luther poder continuar, ela perguntou:

— Cadê a Vanya?

Luther hesitou por um momento, trocando um olhar com Allison antes de responder.

— É... a gente não convidou ela, é melhor não envolver a Vanya.

Alaska suspirou, tentando manter a calma.

— Por quê? — perguntou, com uma leve irritação na voz. — Sabemos que ela merece estar aqui tanto quanto qualquer um de nós.

Luther desviou o olhar, desconfortável, e tentou redirecionar o foco da conversa.

— Precisamos nos concentrar no que realmente importa agora: o apocalipse. Temos três dias.

— Três dias? — Allison perguntou, o choque evidente na voz enquanto entregava uma xícara para Luther.

— Foi o que o Cinco disse — Luther afirmou, a seriedade pesando em cada palavra.

Klaus deixou um sorriso irônico aparecer enquanto relembrava:

— O velho sempre falava sobre o apocalipse. Ele só esqueceu de mencionar que ia ser tão cedo.

Alaska permaneceu quieta, mas seu semblante era visivelmente tenso. Allison quebrou o silêncio, franzindo a testa com ceticismo:

— Será que dá pra confiar nele? Não sei se notaram, mas o Cinco tá... — Ela assobiou baixinho, o gesto indicando que ele andava um pouco fora de si.

— Nosso maluquinho. — Klaus ri brevemente.

A jovem se mexeu, descruzando os braços e inclinando-se para frente.

— Bom... ele pode ser arrogante, irritante e completamente impossível de lidar, mas ele não mentiria sobre isso, Allison. — Seu tom era firme. — Se disse que o mundo vai acabar, então é melhor a gente acreditar. E por mais que eu odeie admitir, o Cinco sabe o que tá falando.

A sala mergulhou em um silêncio denso, cada um absorvendo o peso das palavras.

— É, ele foi bem convincente e, se não tivesse tentando evitar um apocalipse, aqueles dois não estariam perseguindo ele — Luther ponderou, lembrando da invasão de Cha-Cha e Hazel dias atrás.

— É por isso que estavam atrás dele? — Diego finalmente quebrou o silêncio, a dor evidente em sua voz enquanto pensava em Patch e no fim trágico e injusto que ela tivera.

— É.

— Peraí, o que foi que ele viu? — Allison perguntou, o peso da pergunta pairando no ar. Todos sabiam que Cinco tinha viajado ao futuro e voltado com histórias de destruição.

Luther hesitou, o desconforto estampado em seu rosto. Como contar que eles mesmos morreriam tentando impedir o que estava por vir?

Luther olhou para Alaska, que respirou fundo e se adiantou, sabendo que a verdade, por mais dolorosa que fosse, tinha que ser dita.

— A gente se juntou porque o mundo tava prestes a acabar, e não tínhamos escolha. — Ela deu um sorriso amargo, sem humor, tentando disfarçar a frustração. — Tentamos impedir o apocalipse, lutando contra seja lá quem foi o culpado disso.

Alaska terminou a frase e olhou para os outros, esperando que alguém perguntasse mais, que alguém pedisse detalhes, mas o silêncio se arrastou, pesado e desconfortável. Allison olhou para ela, os olhos curiosos, esperando uma explicação mais elaborada, algo que fizesse sentido. Mas Alaska sabia que não havia muito o que explicar. Não agora.

Foi Luther quem interrompeu o silêncio, levantando-se de repente, como se a conversa toda fosse algo que ele não queria mais continuar.

— Meu plano é o seguinte. — A voz dele soou firme, quase urgente. — Vamos olhar as pesquisas do papai.

— Quê? Não pera aí! — Allison exclamou, com a expressão completamente confusa.

— Um instantinho. Um instantinho. — Klaus cortou a fala deles, impaciente, como se não tivesse ouvido o suficiente de respostas.

Os dois irmãos, ambos com os olhos fixos em Luther, não pareciam convencidos. A tensão na sala estava ficando difícil de ignorar. Eles tinham mais dúvidas do que respostas, e ninguém parecia disposto a esclarecer nada. Alaska podia ver no rosto de cada um a frustração começando a crescer, o desconforto tomando conta da conversa.

— O que aconteceu de verdade nesse apocalipse? — Klaus perguntou, a voz cansada de ouvir explicações pela metade, a frustração clara em seu tom.

— É, tão escondendo o quê aí? — Diego se intrometeu, a expressão desconfiada. — Anda, grandão, desembucha.

Luther hesitou, olhando para o próprio copo com uma concentração forçada, como se estivesse tentando encontrar coragem para dizer o que precisava ser dito. O silêncio na sala ficou pesado, um peso difícil de ignorar.

E então, finalmente, ele falou, a voz quase um sussurro, como se não quisesse acreditar naquilo, mas soubesse que não podia mais esconder.

— É, morremos. — Ele disse rapidamente, a palavra saindo junto com um gole de café, como se aquilo fosse apenas um fato simples.

A sala ficou em silêncio absoluto por um momento, enquanto todos processavam o que ele tinha dito.

— Como é que é? — Allison se exaltou, a incredulidade tomando conta de sua voz.

Luther deu um gole no café, engasgando por um segundo, como se não tivesse certeza de como continuar. Mas ele não podia voltar atrás.

— Falei que morremos. — Ele repetiu, com uma calma inquietante, os olhos fixos no copo.

O silêncio na sala se esticou como um elástico prestes a quebrar. Todos os olhares estavam fixos em Luther, e as palavras dele ainda pairavam no ar, pesadas, como um peso que ninguém sabia como lidar. Allison, Klaus e Diego estavam paralisados, seus olhos arregalados de choque.

Luther e Alaska se entreolharam, sabendo que a reação dos irmãos poderia ser qualquer coisa, mas, no fundo, esperavam que fosse surtada. Como poderiam processar aquilo? Eles estavam ouvindo, em tempo real, que não havia escapatória para ninguém. Estavam fadados a morrer, e isso não era algo fácil de digerir.

Era o tipo de coisa que quebrava qualquer noção de realidade. E Luther sabia disso. Ele também sabia que nada que dissesse agora mudaria o fato de que eles estavam todos presos nesse final triste.

O silêncio se arrastava, pesado e espesso, até que um som repentino cortou o ar. Klaus, que estava parado na poltrona bateu no guarda-chuva sem querer, e ele caiu no chão com um baque surdo.

Todos olharam para ele. O homem esticou o braço rapidamente, tentando pegá-lo de volta, mas o vento repentino fez com que o guarda-chuva se abrisse de repente. O som do pano se esticando e do metal rangendo foi o suficiente para fazer Klaus dar um pulo para trás, seu coração disparando.


— Peraí, e só agora vocês dizem isso? — Diego falou, incrédulo, o olhar fixo em Luther.

Alaska respirou fundo, a frustração subindo pela garganta, mas ela não deixou transparecer. Ela já sabia que essa conversa estava longe de ser fácil, mas não podia deixar Diego surtar agora.

— Cinco tava tentando resolver isso sozinho, Diego. — Ela disse, a voz mais calma, mas firme. — Ele não queria a minha ajuda, não queria a ajuda do Luther, de ninguém. Achava que podia dar um jeito por conta própria.

— Então... — Klaus começou, a voz hesitante, os olhos nervosos. — Só nós vamos morrer, ou o mundo todo vai?

— Todo mundo aqui da casa? — Diego se intromete, o tom ansioso, tentando entender.

Alaska e Luther trocam um olhar rápido antes de responder. O peso das palavras parecia ainda mais pesado à medida que os segundos passavam.

— O planeta inteiro? — Allison perguntou, a voz baixa, como se não conseguisse acreditar no que estava ouvindo.

Luther suspirou, se endireitando e tentando dar a resposta mais direta possível, mesmo sabendo o quanto aquilo doía.

— Fora da casa. Todo mundo morreu. — Ele esclareceu, a gravidade de suas palavras batendo forte em cada um dos presentes.

— Oi — Vanya aparece, seus passos pequenos e cautelosos, como se não entendesse o que estava acontecendo. Ele estava acompanhado de um homem com uma aparência gentil, mas havia algo no olhar dele que fazia todos na sala ficarem em alerta. — O que houve?

Allison hesitou por um instante, as palavras pesando na boca. Ela não queria dizer o que estava acontecendo, mas também não queria afastar Vanya sem explicações.

— É assunto de família. — Ela respondeu, tentando soar o mais calma possível, mas havia um toque de desconforto em sua voz.

Alaska olhou para Allison com os olhos arregalados, a expressão de incredulidade clara em seu rosto. Como eles podiam tratar Vanya assim? Ele sempre fez parte da família, e agora estavam simplesmente ignorando isso?

— Você tá falando sério, Allison? — Alaska não pôde se conter, a frustração explodindo. — Ela é parte da família, não dá pra simplesmente excluir assim.

A tensão na sala aumentou, e Vanya observava a troca de olhares, mais confusa a cada segundo. O homem ao lado dele parecia querer intervir, mas se manteve em silêncio, como se estivesse aguardando o momento certo. Mas para Vanya, a exclusão já estava doendo mais do que qualquer palavra poderia.

Assunto de família. — Vanya repete, o tom dele carregado de ironia e mágoa. Ele dá um passo para frente, o olhar mais duro agora, como se a frase tivesse se instalado dentro dele, e a dor estivesse transbordando. — Então é claro que não pensaram em me incluir.

Aquelas palavras atingiram todos na sala como um golpe, e a tensão ficou ainda mais espessa. Vanya estava certo, claro. Ele sempre havia feito parte da família, e agora parecia ser deixado de fora, como se fosse um estranho.

Alaska sentiu a frustração crescer dentro dela. Era absurdo que estivessem tratando Vanya assim, como se ele não tivesse direito à verdade, como se ele não fosse igualmente envolvida no que estava acontecendo.

— Não é isso. — Alaska tentou explicar, mas a situação tornava as palavras difíceis de articular. — Não é que não quisemos te incluir, Vanya. Mas... — ela hesitou, sabendo que aquilo não ia soar bem — Isso é complicado.

Vanya olhou diretamente para ela, os olhos nublados pela dor, mas também pela raiva.

Por favor, não quero interromper. — Vanya disse, sua voz carregada de dor, antes de virar-se e começar a sair da sala.

— Vanya, espera. Eu te conto quando estivermos sozinhas. — Allison se moveu rapidamente, tentando alcançar Vanya, que já estava a caminho da porta.

— Não, por favor. Não se incomode. Eu também não vou. — Vanya respondeu, a voz mais fria agora, sem olhar para trás.

Alaska sentiu um nó no estômago ao ver o afastamento de Vanya, mas antes que pudesse dizer algo, Allison tentou contornar a situação.

— Vanya, não é justo. — Allison disse, sua voz tentando soar suave, mas sem muito sucesso. Ela estava visivelmente desconfortável, tentando dar sentido à confusão.

Vanya se virou, o olhar carregado de frustração e mágoa.

— Justo? — Ele riu, mas não era um riso de humor, e sim amargo, cortante. — Não tem nada de justo em ser irmã de vocês.

As palavras de Vanya ressoaram no ar, e um silêncio pesado se seguiu. Todos na sala sabiam que a dor dele era real. Não importava o quanto tentassem justificar, a exclusão estava ali, evidente, e Vanya não conseguia mais esconder a ferida.

— Vanya, eu sei que tudo isso é uma merda... — Alaska começou, tentando organizar as palavras em sua mente, mas não conseguiu terminar.

Vanya se virou abruptamente, a raiva visível em seu rosto.

— Não, você não sabe. — Vanya interrompeu, a voz áspera e cheia de frustração. — Sempre fui deixada de fora de tudo desde que me entendo por gente.

Alaska ficou sem palavras, mas Vanya não parou.

— Eu achava que era culpa do papai, mas agora ele tá morto. — Ele deu uma risada seca, amarga. — Então, vocês que são os imbecis.

Aquelas palavras cortaram o ar, e todos na sala se sentiram como se tivessem sido atingidos. Sem esperar por uma resposta, se virou e saiu com o homem que o acompanhava, seus passos rápidos e decididos, como se estivesse fugindo de algo que não queria mais enfrentar.

Alaska assistiu à cena, a frustração e o arrependimento a consumindo, mas sabia que não havia oque fazer. E agora seu irmão estava longe de novo.

— Eu vou explicar tudo pra Vanya. — Allison já estava se movendo na direção da porta, mas Luther a impediu com um gesto firme.

— Peraí, não dá tempo. — Ele disse, a urgência na voz. — A gente tem que descobrir o que causa o apocalipse. Olha, são muitas causas prováveis. Guerra nuclear, asteroides... Ele fez uma pausa, como se estivesse calculando as possibilidades. — Mas eu tô achando que tem a ver com a lua, tá? O papai deve ter me mandado lá por um motivo.

— Vamos lá, Luther. Você acha que ele te mandou pra lua por um motivo?  Vai ver ele só fez isso pra te fazer perder tempo. Ou, sei lá, pra te mandar pro espaço e resolver um problema de uma vez por todas. — Alaska diz cansada.

— Eu deixava o papai atualizado todos os dias sobre as condições. — Ele disse, a voz firme. — Mandava até amostras do solo, Alaska. Eu não ia lá só pra dar um passeio. Ele confiava em mim pra isso.

— A primeira coisa que temos que fazer é achar as pesquisas dele.

— Ô, segura o coco. — Klaus interrompeu, com um sorriso irônico no rosto. — Todo mundo morreu lutando contra essa coisa da outra vez, tá lembrado?

Diego, que até então estava quieto, concordou com um suspiro pesado, a frustração evidente em sua voz.

— Surpreendentemente ele tem razão. — Ele olhou para Luther, seus olhos escuros e pensativos. — Que vantagens temos agora? Ele deu de ombros, claramente incomodado.

— Olha, eu sei que tudo isso parece... impossível. — Ela começou, a voz um pouco mais baixa, mas firme. — Quando o Cinco viajou pro apocalipse, eu fui a única que sobreviveu. E nem ele sabe como isso aconteceu. Ela olhou para os irmãos, sentindo o peso das palavras. — Mas ele voltou... pra nos avisar. Então, se ele tá aqui, isso significa que tem um plano em mente. Ele não ia aparecer do nada sem motivo, certo?

Ela deu uma pausa, tentando reunir um pouco de confiança.

— Acho que a gente ainda tem uma chance. Não sei qual, mas temos o Cinco. E, por mais que ele tenha seus defeitos, não voltou sem saber totalmente o que fazer.

— A gente tava sem ele antes. — Luther disse, tentando reforçar sua própria confiança. — Não estávamos juntos, desta vez, vamos ter a força total da Umbrella Academy. É o que precisamos.

Ele olhou para os outros, como se buscasse aprovação, mas foi Allison quem questionou, com o olhar fixo no vazio.

— E onde tá o Cinco agora? — Ela indagou, claramente preocupada, notando a ausência do irmão que, até então, parecia ser a chave para tudo aquilo.

Luther deu um suspiro, tentando disfarçar a inquietação.

— Nós planejamos alterar a linha do tempo. Ele vai voltar logo. — A resposta parecia simples, mas todos sabiam que o tempo estava se esgotando, e o desaparecimento de Cinco só aumentava a tensão.

Diego, que até então estava quieto, se levantou com firmeza, interrompendo o silêncio que havia se instalado.

— Vou atrás do Hazel e Cha-Cha. — Ele disse, preparando-se para sair com uma determinação fria no olhar.

Luther o encarou, surpreso com a decisão de Diego.

— O quê? Agora? — Luther perguntou, ainda sem entender.

Diego se ajeitou e deu um passo firme em direção à porta.

— Isso aí. Faltam menos de três dias, tenho cada vez menos chances. — Ele não hesitou, e sua expressão era de quem acreditava que essa era a única maneira de mudar o rumo das coisas.

— Calma aí, Diego. Sei que quer vingar sua amiga, mas... — Luther tentou intervir, sua voz mais suave, tentando fazer Diego pensar melhor.

Diego não deu ouvidos, virando-se abruptamente para Luther, a raiva estampada em seu rosto.

— Ela não era só uma amiga! — Ele explodiu, o tom cortante de sua voz ecoando pela sala. — Já que vou morrer, preciso saber que matei aqueles desgraçados.

Alaska observou Diego com uma expressão silenciosa. Ela o conhecia bem, desde os tempos de infância. Sabia o quanto ele era teimoso, e como, quando colocava algo na cabeça, não havia quem o fizesse mudar de ideia. Isso a preocupava, sempre a preocupou.

Ela se lembrou das noites em que Diego treinava até tarde, arremessando facas, desafiando seus próprios limites. Ele se esforçava até se exaurir, como se a exaustão fosse a única maneira de provar algo a si mesmo — ou ao pai, talvez. Algo que Alaska sempre sentiu ser uma busca em vão. Ele fazia tudo para não decepcioná-lo, mesmo sabendo que isso não o faria mais amado.

Ela sabia que Diego estava determinado a seguir em frente, mesmo que isso significasse seguir um caminho de destruição de si mesmo. E ela não tinha a mínima ideia de como impedir isso.

— Diego, você sabe que não precisa fazer isso. — Alaska disse, sua voz mais suave, embora carregada de preocupação. — Se você for atrás deles agora, não vai mudar nada. Só vai... te colocar mais perto do que a gente já sabe que vai acontecer.

Ela olhou para ele com um olhar que misturava frustração e preocupação, tentando encontrar uma maneira de alcançá-lo. Mas sabia que não era algo fácil.

Diego virou-se lentamente, encarando Alaska com os olhos intensos, sua expressão fechada.

— Eu sei o que vai acontecer, Alaska. — Ele disse, a voz mais calma agora, mas ainda com aquele tom de desespero contido. — Mas se eu não fizer nada... Se eu simplesmente ficar aqui, esperando, não sei como vou viver com isso. Não sei como vou encarar a ideia de que eu... fui fraco.

Ele deu um passo em direção a ela, a tensão no ar quase palpável.

— Não posso... não posso deixar passar. A morte dela, não pode ser em vão. Se eu não fizer nada agora, nunca vou me perdoar.

A raiva e a dor estavam lá, mas agora havia também algo mais profundo, algo que ele ainda não sabia como lidar. Ele estava lutando contra o fato de que, talvez, a única maneira de realmente seguir em frente fosse enfrentar a vingança.

Alaska permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Diego, tentando encontrar algo dentro dele, algo que pudesse fazer sentido dessa luta sem fim. Ela sabia que ele estava em um ponto sem volta.

Diego fez uma pausa, o olhar em Alaska, mas sem realmente vê-la. A dor estava estampada em seu rosto, e ele sabia que as palavras dela não iriam mudar nada. Ele balançou a cabeça levemente, tentando se convencer de algo.

— Não tem haver com o papai, ou comigo. Tem haver com ela. — Ele disse, a voz mais suave, mas firme. A raiva estava ainda lá, mas agora havia um toque de algo mais profundo, algo que o impulsionava para frente, apesar de tudo.

Com um suspiro, ele se virou e caminhou em direção à porta. A hesitação era visível em seus passos, mas ele não olhou para trás. A decisão estava tomada, e nenhum argumento, nem mesmo as palavras de Alaska, seriam suficientes para fazê-lo mudar de direção. Ele sairia, e faria o que acreditava ser necessário.

Klaus se levantou devagar, os ombros caídos e o olhar distante. Ele olhou para os outros brevemente, como se estivesse pensando se deveria dizer algo ou não. Sua expressão estava inexpressiva, mas havia algo em seu comportamento que não passava despercebido. Ele se afastou da parede onde estava encostado, começando a caminhar em direção à porta.

Luther, confuso e um pouco irritado, chamou seu irmão.

— Klaus, Klaus! — Sua voz foi mais alta do que pretendia, forçando a atenção do outro.

Klaus virou-se, um sorriso cansado e meio desleixado nos lábios.

— É, desculpa. — Ele disse, como se já tivesse desculpas preparadas para tudo.

Alaska e Luther trocavam olhares preocupados, ambos tentando entender o que estava acontecendo.

— O que foi? Vai desistir do mundo também? — Luther perguntou, a incredulidade na voz.

Klaus deu de ombros, seu sorriso ficando um pouco mais triste.

— É, é por aí. É, uhum. — Ele murmurou, sem dar mais explicações, e se virou para a porta.

Alaska observou Klaus caminhar em direção à porta, e, por um momento, um silêncio desconfortável pairou no ar. Ela sentiu uma mistura de indignação e decepção crescer dentro de si, como se as palavras não ditas entre eles estivessem sufocando-a.

Ela se levantou rapidamente, indo em direção a ele antes que ele pudesse sair.

— Klaus, você tá falando sério? — Sua voz era dura, sem paciência. — Agora é assim que você vai agir? Vai se esconder, como se isso fosse resolver alguma coisa?

Klaus parou, mas não se virou de imediato. Ele sabia que ela viria. Conhecia bem a expressão dela quando estava prestes a explodir.

— É isso, Alaska. Eu não tenho mais forças. — Ele sussurrou, mais para si mesmo do que para ela. E sem mais palavras, saiu pela porta, deixando Alaska sozinha com seu sentimento de derrota.

— Então é assim, se depender de vocês, morremos em três dias. — Luther expressa sua indignação.

Ela ficou ali, parada, olhando para a porta, incapaz de processar completamente o que acabara de acontecer. Se sentia traída, mas, no fundo, sabia que ele estava sem esperanças, assim como todos. Só que, por um momento, a garota desejou que ele não tivesse desistido tão fácil.

Luther olhou para Alaska, sua expressão uma mistura de frustração e desespero.

— Eu não acredito. Só nós três.— Ele disse, a voz baixa, como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer.

Alaska, ainda com a tensão no corpo, olhou para ele com um semblante frio. Ela não queria mostrar mais frustração, mas não conseguia deixar de sentir que as coisas estavam desmoronando. Ela balançou a cabeça, sem saber o que responder, até que Allison se virou para os dois, sua voz calma, mas com uma firmeza que não passava despercebida.

— Ah, por favor. Você também? — Luther falou, a incredulidade na voz.

Allison respirou fundo, sua expressão agora mais séria.

— Eu tenho que pegar um voo para Los Angeles. — Ela disse, olhando para Luther e depois para Alaska. — Se isso acontecer, eu tenho que estar com a minha filha. Mesmo não tendo a guarda dela. Ela fez uma pausa, claramente conflitante, antes de completar. — E você mesmo disse, precisamos da força total da academia pra ter alguma chance.

Luther, sem palavras, apenas observou Allison enquanto ela começava a se afastar. Não era o que ele queria ouvir, mas sabia que não podia impedir. A culpa que ele sentia por não poder contar com todos os irmãos pesava mais a cada segundo.

— Me desculpem. — Foi tudo o que ela disse, antes de se virar e sair pela porta, deixando apenas Luther e Alaska na sala.

Alaska ficou quieta, seu olhar fixo no chão. Ela sentia o peso daquelas palavras, e o vazio crescente à sua volta. Mesmo com a situação se deteriorando a cada passo, ela não sabia se a insistência ainda valia a pena.

Ela olhou para Luther, ambos sem respostas, sem um plano, sem mais nada a perder.

— Agora, é só a gente. — Ela murmurou, mais para si mesma do que para ele, antes de virar as costas e sair da sala, deixando Luther sozinho, também imerso em seus próprios pensamentos.


Alaska subiu as escadas lentamente, o corrimão gelado sob sua mão. A casa parecia maior e mais vazia do que nunca. Cada degrau rangia como se estivesse reclamando da falta de movimento, como se soubesse que agora só restavam ela e Luther por ali. Quando chegou ao quarto, empurrou a porta com o ombro e se jogou na cama, encarando o teto.

Tentou se concentrar em qualquer coisa que não fosse o silêncio esmagador da mansão. Claro, não funcionou. Sua mente começou a se encher de memórias que ela não havia convidado, mas que insistiam em aparecer.

Lembrou-se de uma tarde quando todos ainda eram crianças — não... aprendizes de desastres profissionais, era uma descrição melhor. O pai deles havia saído para uma reunião importante (para variar), e, com ele longe, a mansão parecia menos sufocante, quase viva. Sem ninguém para vigiar, as regras pareciam sumir.

☂︎₊˚. 𝐅𝐋𝐀𝐒𝐇𝐁𝐀𝐂𝐊 𝐎𝐍

— Aposto que subo primeiro! — Diego gritou na biblioteca, desafiando Luther enquanto apontava para a estante de livros que parecia mais uma parede de escalada.

— Você vai cair e quebrar o nariz de novo — Alaska provocou, segurando o riso enquanto se encostava na porta.

Luther já estava pegando impulso, usando as prateleiras como degraus improvisados.

— Cala a boca, Diego. Eu sempre ganho de você.

Allison estava no chão, torcendo animadamente como se estivesse narrando um jogo de futebol:

— Vai, Luther! Só mais um passo! Não deixa o Diego ganhar dessa vez!

Enquanto isso, Klaus estava no canto, enrolado em um cobertor que ele chamava de "manto da vitória". Ele usava um abajur na cabeça como se fosse um capacete medieval.

— Vocês são tão previsíveis — disse ele, casualmente. — Quando você cair, Diego, vou usar o prêmio pra comprar chocolate. Só tô avisando.

E então aconteceu. Diego, que insistia que tinha reflexos perfeitos, colocou o pé errado. Os livros caíram primeiro, depois ele. O baque fez Alaska gargalhar tão alto que precisou se segurar na parede.

— Eu avisei — disse Klaus, ajustando o "capacete".

Diego, claro, levantou com o nariz vermelho e a dignidade ferida, mas ele continuava teimoso:

— Foi só um aquecimento. Na próxima, ninguém me segura.

☂︎₊˚. 𝐅𝐋𝐀𝐒𝐇𝐁𝐀𝐂𝐊 𝐎𝐅𝐅

De volta ao presente, Alaska sorriu para o teto, mesmo que fosse um sorriso meio amargo. Por que ela lembrava dessas coisas agora? Talvez porque, no fundo, sabia que era isso que estavam perdendo: o caos, o barulho, a família. O mundo podia estar acabando, mas esse tipo de memória era uma prova de que, pelo menos por um momento, eles tinham sido felizes juntos.

E talvez fosse isso que ela precisava lutar para proteger, mesmo que só restasse ela para lembrar.

Alaska desceu da cama, o peso no peito se tornando impossível de ignorar. Era uma daquelas sensações que ela detestava — quando a culpa e o orgulho travavam uma batalha tão intensa que era impossível saber qual lado estava ganhando. Antes que pudesse pensar duas vezes, ela abriu a porta e foi até o corredor.

No meio do caminho, viu Allison parada perto da janela, segurando o celular com uma expressão indecifrável. Alaska hesitou por um segundo, mas respirou fundo e caminhou até ela.

— Ei — começou, cruzando os braços. — Não sabia que você ainda tava aqui.

Allison levantou os olhos, surpresa, mas sua postura logo relaxou.

— Eu... fiquei pensando. Sobre tudo isso. Sobre o que acontece se eu não for, se eu ficar aqui com vocês. — Ela olhou pela janela. — Minha filha vai me odiar de qualquer jeito.

Alaska respondeu, se apoiando na parede. — Você tá tentando proteger ela, né? É o que importa.

Allison suspirou, desviando o olhar. O silêncio entre as duas ficou quase confortável, mas Alaska sabia que tinha mais a dizer.

— Olha, eu queria... sei lá, me desculpar — disse, a voz saindo hesitante. — Por ser tão... eu, eu acho. Principalmente nos últimos dias. Sei que a gente nunca foi muito próxima, nem quando éramos crianças.

Allison levantou uma sobrancelha, curiosa.

— Ah, sério? Isso é novidade pra mim. Você era tão boa em deixar isso óbvio — respondeu, com um sorriso fraco.

Alaska riu de leve, mesmo que a piada tivesse um pouco de verdade.

— Tá, ponto pra você. Mas é sério. Eu quero tentar mudar isso, Allison. Sempre quis, na verdade. Só nunca fui boa em... demonstrar, sabe?

Allison a encarou por um instante antes de guardar o celular no bolso.

— Eu também não ajudei muito — admitiu. — Quando éramos crianças, eu achava que você não gostava de mim. Sempre achei que preferisse os outros.

— Preferir quem? O Klaus? — Alaska revirou os olhos, mas o sorriso no rosto não mentia. — Mas você não tá totalmente errada.

Allison riu, e pela primeira vez em dias, a risada dela soou genuína.

— Eu acho que nunca parei pra pensar nisso, Alaska. Que você queria se aproximar.

— Então talvez agora seja um bom momento pra começar. — Alaska deu de ombros. — Quero dizer, se o mundo vai acabar e tudo mais, pelo menos podemos tentar sermos as melhores irmãs antes disso.

Allison a encarou por um momento, e então assentiu, a expressão suavizando.

— Acho que sim

As duas se entreolharam, e um entendimento silencioso se formou entre elas. Não era uma solução mágica, não apagava os anos de distância ou os erros do passado, mas era um começo. E, para a jovem, isso já era mais do que suficiente.


Alaska descia as escadas, pensando na conversa com Allison. As coisas não estavam bem, mas talvez tivessem dado um passo na direção certa. No entanto, ao chegar na sala, ela parou no meio do caminho ao ver Diego, parado como se tivesse visto um fantasma.

— O que foi? — ela perguntou, mas ele não respondeu.

A menina seguiu o olhar dele, e seu coração quase parou.

Lá estava Grace. A mãe que eles pensaram estar "morta". A robô estava de pé, limpando uma estátua como se nada tivesse acontecido, cada movimento tão delicado quanto ela costumava ser.

— Mãe? — Diego chamou, a voz fraca, como se não acreditasse no que estava vendo.

Alaska abriu a boca para falar, mas nada saiu. Simplesmente a voz dela tinha desaparecido completamente. Tudo o que conseguiu fazer foi ficar ali, parada, sentindo os olhos arderem. Por um momento, ela esqueceu que o mundo estava prestes a acabar.

Grace se virou, com aquele mesmo sorriso caloroso de sempre.

— Ah! Oi, queridos. — A voz dela era suave, calma, exatamente como a garota lembrava.

Diego deu um passo à frente, os ombros tensos, quase com medo de que ela sumisse. A morena não conseguiu se mexer, ainda tentando processar o que estava acontecendo.

— Como é que você... — Diego começou, mas parou, sem saber como terminar a pergunta. — Tá andando por aí? 

Alaska finalmente encontrou sua voz, mesmo que trêmula. 

— Você não... você não tinha... 

Grace inclinou a cabeça, confusa, ainda sem entender o motivo da reação deles. 

— Um pé na frente do outro. Por que? Como você faz? — Ela se aproximou com aquele mesmo sorriso caloroso de sempre e segurou as mãos dos dois. 

— Mãe, eu... qual é a última coisa que se lembra? — Diego perguntou, ainda com a voz dura, mas claramente abalado. 

Grace inclinou a cabeça, como se estivesse buscando a resposta em algum lugar bem distante. 

— Ah, vejamos... 21 de março. Pôr do sol às 7h33 da noite, a lua era crescente. O jantar foi galeto assado, arroz...

Ela ainda segurava a mão de Grace, mas não conseguiu evitar trocar um olhar preocupado com Diego. Algo estava muito errado.

— Isso foi há mais de uma semana. — Ele disse.

Diego apertou os lábios, a tensão clara em seu rosto.

— Mãe... — Alaska começou, hesitante. — Você sabe onde tava depois disso?

Os olhos dela se desviaram para trás, fixando-se em alguma coisa ou alguém. A jovem seguiu o olhar e viu Pogo parado na entrada da sala, os braços cruzados com uma expressão séria, quase... culpada?

O sorriso da robô sumiu igualmente a uma lâmpada queimada. A postura dela ficou rígida, quase mecânica. Diego se adiantou, franzindo a testa.

— Não — disse Grace, a voz baixa, sem emoção, ainda olhando para Pogo como se eles estivessem conversando em silêncio.

Mas a mulher nem olhou para eles. Parecia presa, com sua atenção grudada no pequeno chimpanzé, alheia a tudo mais.

— Isso é tão estranho. — Grace soltou uma risadinha repentina, a pergunta deles desaparecendo de sua mente. — Como será que está o tempo hoje?

Ela girou o corpo levemente, os olhos vagando pela sala. — Eu queria ir ao parque.

A declaração pairou no ar por um momento, tão inesperada quanto a presença dela ali.

— O papai nunca deixou você sair — disse o latino, a voz carregada de um peso que ele não parecia conseguir controlar. Ele cruzou os braços, desviando o olhar, aquilo o machucando mais do que queria admitir.

Grace, no entanto, não pareceu notar. Ela continuou a encarar o nada com aquele sorriso doce e vazio, uma lembrança de algo que Alaska não conseguia identificar, mas que a incomodava profundamente.

Ela engoliu em seco e, sem soltar a mão da mãe, tentou sorrir. — O que acha de sair com a gente, mãe?

A mulher voltou o olhar para a menina, como se estivesse despertando de um sonho distante. Seus dedos apertaram gentilmente os de Alaska, e o sorriso dela ficou um pouco mais genuíno, ainda que houvesse algo... diferente.

— Isso seria adorável, querida — respondeu Grace, com uma doçura que fazia a garganta da morena apertar. — Vamos ao parque.

A robô inclinou a cabeça, esperando uma resposta, enquanto Diego deu de ombros.

— Sabe de uma coisa? Por que não? — Ele disse, com um raro sorriso surgindo em seu rosto. — Levar ela ao parque... não soa tão mal.

Alaska o olhou surpresa. — Sério? Achei que você ia reclamar.

— Reclamar do quê? — Perguntou, olhando para Grace. — Se ela quer ir ao parque, a gente leva. Sei lá... talvez seja bom.

Grace apertou as mãos deles com entusiasmo, o sorriso dela tão genuíno que parecia iluminar a sala. — Isso seria maravilhoso, queridos.

A morena trocou um olhar com Diego, que parecia mais feliz. — Certo, então é isso. Vamos ao parque.

Ele balançou a cabeça, ainda meio cético, mas disposto. — Tá. Mas se algo der errado, quero registrado que isso foi ideia sua.

— E sua também. — Alaska rebateu, com um pequeno sorriso.

Grace riu suavemente, começando a caminhar em direção à porta. — Então, vamos? O dia está tão bonito lá fora.

Os dois seguiram atrás dela, ainda sem saber exatamente no que estavam se metendo, mas decididos a aproveitar o momento enquanto podiam.




☂︎



O parque estava quieto, as luzes dos postes lançando um brilho dourado no chão enquanto o verde das árvores reluzia sob a iluminação suave. O ar trazia o frescor da grama e das folhas úmidas, misturado ao som leve de passos e murmúrios que vinham de longe, acompanhados pelo farfalhar das folhas ao vento. Diego caminhava no centro, com Grace segurando seu braço direito e Alaska no esquerdo.

— O papai errou em te manter presa todos esses anos. — O garoto finalmente falou, a voz carregada de algo entre raiva contida e arrependimento.

Grace o observou com serenidade, sem dizer nada, mas o sorriso tranquilo em seu rosto parecia aliviá-lo, como quem entende sem julgar.

— Eu devia ter feito alguma coisa. Todos nós devíamos. — Ele continuou, os olhos fixos no caminho à frente, ignorando as sombras que dançavam ao redor por causa da brisa.

Alaska apertou levemente o braço dele, um gesto simples, mas carregado de significado, querendo dizer que ele não estava sozinho naquilo. A loira, no entanto, manteve sua expressão calma, com um olhar quase distante, as palavras dele não a atingiam da mesma forma.

— Vocês fizeram o que podiam na época, querido. — A voz de Grace flutuou no ar, tão delicada quanto o sussurrar das folhas. — E agora estamos aqui. Juntos. Isso é o que importa.

O latino respirou fundo, o som mais pesado do que ele gostaria, mas não respondeu. O som de risadas vindo de algum ponto distante chamou sua atenção, e o mesmo olhou para frente, praticamente buscando algo na escuridão. Talvez fosse mais fácil aceitar que o passado já não podia ser mudado.

Alaska olhou para Diego e depois para Grace, seu olhar suavizando enquanto a brisa balançava levemente seu cabelo. Ela ainda sentia o peso das palavras do irmão, mas decidiu não deixar o momento escapar.

— Sabe, talvez a gente não pudesse ter feito nada na época. — Sua voz saiu tranquila, mas havia um toque de hesitação. — Mas agora, a gente pode.

Diego virou o rosto para ela, curioso, mas sem comentar nada.

— Trazer você aqui, mãe. — Alaska olhou para Grace, o sorriso quase apagando qualquer mágoa em seus olhos. — Talvez seja a primeira coisa certa que a gente faz em muito tempo.

Grace apertou o braço dela levemente, o sorriso suave permanecendo no rosto da robô.

— Que doce, querida. — Grace respondeu. — Eu sempre soube que vocês eram bons filhos.

Diego soltou um suspiro baixo, quase uma risada seca.

— Bons, é? Não acho que essa palavra define muito bem a nossa família.

— Bom o suficiente pra isso. — Alaska rebateu, indicando com um gesto sutil a mãe, que caminhava ao lado deles com uma serenidade quase surreal. — E acho que já é um começo.

Diego hesitou, mas acabou assentindo, sem encontrar as palavras certas. Talvez ela estivesse certa. Talvez, pela primeira vez, eles estivessem fazendo algo que realmente importava.

Eles caminharam em silêncio por um tempo, o som de seus passos misturado ao murmúrio das árvores balançando ao vento. Era um silêncio confortável, quase reparador.

De repente, Grace parou, sua postura rígida, e sua voz rompeu o silêncio, mais séria do que de costume:

— Tem mais uma coisa que precisa ser dita, queridos.

Diego e Alaska pararam ao mesmo tempo, virando-se para encará-la. A tranquilidade que tinham sentido segundos antes foi substituída por uma tensão palpável.

A loira hesitou por um instante, como se pesasse cada palavra antes de deixá-las sair.

— Pogo e eu... mentimos. — Ela abaixou o olhar, mas sua voz não tremeu. — Mentimos pra todos vocês.

O silêncio que seguiu foi diferente do anterior. Não era tranquilo. Era denso, cheio de perguntas não verbalizadas, enquanto Diego e Alaska trocavam um olhar rápido, tentando entender o que aquilo significava.

Alaska foi a primeira a quebrar o silêncio, a voz baixa, mas firme, como se estivesse ainda a processar o que acabara de ouvir.

— O quê? — Ela quase sussurrou, sem querer acreditar, mas a incredulidade era evidente em seu tom. — O que você quer dizer com isso?

A robô olhou para os dois, o rosto sereno, mas os olhos carregados de uma tristeza que ela não havia demonstrado até agora.

Antes que Grace pudesse explicar mais alguma coisa, antes que as palavras fossem ditas, uma onda de energia os envolveu, e, de repente, estavam de volta nas 8h15 da manhã daquele dia, quando estavam todos reunidos. Era como se nada tivesse acontecido. O mesmo cenário, as mesmas expressões nos rostos, e as palavras que saíam das bocas dos irmãos eram as mesmas, sem que eles soubessem que estavam repetindo o dia. Não havia dúvida de que Cinco estava por trás disso, mais uma vez.

Tudo parecia estar acontecendo pela primeira vez, embora já sabemos exatamente o que acontecerá a seguir.

— Ô, segura o coco — Klaus interrompeu, com um sorriso irônico no rosto. Ele parecia cético. — Todo mundo morreu lutando contra essa coisa da outra vez, tá lembrado?

Diego, com os ombros tensos e a expressão fechada, suspirou pesadamente. O silêncio que se seguiu foi pesado, mas ele finalmente falou, a frustração contida em cada sílaba.

— Surpreendentemente ele tem razão. — Ele olhou para Luther, seus olhos escuros e pensativos. — Que vantagens temos agora? Deu de ombros, claramente irritado com a repetição da situação.

Antes que Alaska pudesse responder, um som estridente e elétrico cortou o silêncio, e todos os olhos se voltaram para Cinco. Ele apareceu de repente, caindo em cima de uma maleta que parecia estar mais pesada do que o normal. Cinco estava todo machucado, o corpo sujo e com aquele cheiro forte de queimado, uma visão tão repentina quanto horrível.

— Meu Deus! — Allison exclamou, se afastando instintivamente. Sua expressão era um misto de choque e preocupação, a visão de Cinco ali, naquela condição, sendo algo que ela não esperava nem um pouco.

Alaska olhou para os irmãos. Cinco ainda estava ali, imóvel, com o corpo se contorcendo levemente em alguns momentos, mas não o suficiente para dar a impressão de que estava realmente consciente.

Ele não disse uma palavra. Apenas permaneceu ali, com o corpo caído sobre a mesa, ofegante, como se mal tivesse forças para se manter acordado. Seus cabelos estavam bagunçados, e havia uma queimadura visível em seu pescoço, parecendo que tinha estado perto de uma explosão ou algum tipo de fogo que o atingira.

— Pessoal, ainda tô chapado, ou vocês tão vendo isso também? — Klaus perguntou, seus olhos arregalados enquanto olhava para Cinco, que estava ali, visivelmente machucado e exausto, mas ainda assim tentando se levantar.

— Talvez seja melhor a gente se aproximar, ver se ele não quebrou nada, ou algo assim. Porque, sinceramente, ele não tá bem... — Alaska disse, a voz baixa, mas carregada de tensão. Ela hesitou por um momento, os olhos fixos em Cinco. — Não tá se movendo direito.

Alaska foi a primeira a se aproximar, um passo hesitante, os olhos fixos nele, tentando entender o que estava acontecendo.

— Cinco? — Ela chamou, a voz baixa e hesitante, sua mão tocando em seu ombro, que estava quente. Não havia dúvida de que ele estava gravemente machucado.

Cinco abriu um olho lentamente, a expressão contorcida de dor. Por um momento, pareceu que ele não conseguiria falar. Mas, então, com um suspiro forçado, ele levantou a cabeça.

— Onde você tava? — Luther perguntou, a preocupação evidente em sua voz. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos em Cinco, tentando entender o que havia acontecido.

Cinco, com dificuldade, tentou se levantar completamente, mas tropeçou, suas pernas não respondendo da maneira que deveriam. Ele foi sustentado por Alaska, que o segurou com mais firmeza, evitando que ele caísse. O garoto parecia fraco, seu corpo vacilando com cada movimento se tornando um esforço doloroso.

— Irrelevante. — Cinco respondeu sem hesitar, sua voz abafada, falando mais para si mesmo do que para qualquer um dos outros. Ele pegou um copo de café que estava sobre a mesa, sem sequer olhar para os outros, e tomou o líquido de uma vez, de costas para os irmãos. O som do café sendo engolido era quase insuportável no silêncio da sala.

Todos ficaram em choque, a confusão aumentando a cada segundo. Como assim "irrelevante"? Eles estavam tentando entender o que tinha acontecido, o que ele tinha feito, mas Cinco parecia não ligar. Ele só estava ali, em pé, ainda segurando aquela maleta.

Alaska, que até então tinha tentado manter a calma, sentiu sua paciência se esgotar. O mundo estava à beira do fim, e Cinco estava agindo como se fosse apenas mais um dia qualquer. Ele não queria ajuda, não queria falar sobre o que estava acontecendo, e ela não sabia se ele sequer sabia o que estava fazendo.

A jovem olhou para o garoto, os olhos carregados de cansaço e uma pitada de frustração. Ela balançou a cabeça, cruzando os braços em um gesto de impaciência.

— Você é inacreditável, sabia? — ela resmungou, mas sem a mesma intensidade de antes. A voz dela não era de raiva, mais de um desapontamento que ela tentava disfarçar. — O mundo inteiro tá literalmente indo pro inferno e você age como se estivesse em uma terça-feira qualquer.

Cinco deu um suspiro pesado, passando a mão pelo rosto, claramente exasperado com a situação. Ele olhou para Alaska, com um olhar que misturava cansaço e impaciência,  já cansado de explicar qualquer coisa.

— Não temos tempo para esse tipo de conversa. O apocalipse não vai esperar a gente resolver nossos problemas de família. — Ele fez uma pausa, encarando os irmãos por um momento, antes de dar um pequeno sorriso de escárnio. — A única chance que temos é trabalhar juntos pra impedir que todo mundo morra, e talvez, só talvez, isso dê certo

Ele olhou novamente para Alaska, os olhos um pouco mais duros.

— Mas você tem razão, o mundo tá indo pro inferno e eu tô aqui, tentando fazer o que dá. Então, se quiser continuar brigando comigo, pode ficar à vontade, mas a situação não vai mudar.

Cinco respirou fundo, agora mais focado, como se a conversa sobre sentimentos fosse uma distração que ele não podia mais permitir.

— O apocalipse é em três dias. — Ele olhou para os irmãos, seus olhos penetrantes. — E a única chance que temos de salvar o mundo somos nós.

Luther soltou uma frase com a calma característica.

— A Umbrella Academy.

Cinco deu de ombros, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— É, claro. Mas, comigo, óbvio. E com a Alaska. — Ele fez uma pausa, os olhos se estreitando. — Porque, de alguma forma, ela foi a única que desapareceu no apocalipse.

A sala ficou em silêncio por um segundo, e todos se viraram para Alaska, a surpresa estampada nos rostos. Até Klaus ficou parado, os olhos fixos nela, como se tentasse entender o que acabara de ouvir.

Alaska cruzou os braços, e deu um meio sorriso, tentando aliviar a tensão no ar.

— Eu ia contar antes, mas, sabe, o Cinco teve que fazer uma entrada dramática com essa explosão toda. — Ela deu de ombros, tentando disfarçar a desconfortável atenção que se voltava sobre ela.

Cinco suspirou, sem paciência pra nada mais.

— Se não pararem com suas briguinhas de lado e começarem a focar na realidade, estamos todos ferrados. E quem se importa que o papai tenha perturbado o nosso juízo? Vamos deixar isso atrapalhar a gente? Não! — Ele desabafou, o tom de voz mais elevado do que o habitual.

— Para termos alguma chance de ver a próxima semana, eu voltei com uma pista. — Ele tirou um pedaço de papel do bolso. — Eu sei quem está por trás do apocalipse. — Ele entregou para Allison que desdobrou o papel enquanto todos se aproximaram, os olhos curiosos.

— Esse é o cara que temos que deter.

— Harold Jenkins? — Ela perguntou, a dúvida clara em seu tom.

— Quem é esse Harold Jenkins? — Diego perguntou, franzindo a testa, claramente tentando entender a conexão.

Cinco deu mais um gole no café, com o mundo praticamente prestes a acabar e ele apenas saboreando o último gole de sua bebida favorita.

( ☕ ) — quase 8k de palavras, socorro

( ☕ ) — O Cinco e a Alaska não sabem se brigam, ou se preocupam um com o outro, enfim complicados.

( ☕ ) — favoritem e comentem pra ajudar, bjos e até o próximo capítulo

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