Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

025 -- The End.

O choque e a fraqueza da exaustão finalmente se abateram sobre Harper. Enquanto a figura deformada do Peter do seu universo se aproximava, ela simplesmente... desistiu.

O peso da dor, da culpa e do medo era insuportável e ela sentiu como se toda a sua energia tivesse se esvaído, deixando-a completamente vulnerável. Sem forças para levantar qualquer barreira ou se defender, Harper apenas ficou ali, permitindo que o Peter deformado se aproximasse, como se estivesse pronta para aceitar o que viesse.

Ele atacou, jogando-a ao chão com violência. O impacto foi brutal, tirando-lhe o fôlego e fazendo sua visão turvar. Por um momento, ela se sentiu como uma marionete com os fios cortados, sendo jogada de um lado para o outro, incapaz de mover um músculo para se proteger. Tudo ao seu redor parecia distante, como se estivesse submersa em uma névoa densa.

De repente, o Peter daquele universo, o namorado dela, entrou em cena, colocando-se entre ela e o monstro que usava o rosto de alguém que ela havia amado. Eles lutaram ferozmente, cada golpe ecoando pelo ar, mas Harper estava muito longe, presa em sua própria mente, incapaz de processar o que estava acontecendo.

Enquanto os dois Homem-Aranhas se enfrentavam, Strange apareceu ao lado dela. Ele agiu rápido, criando um escudo mágico ao redor deles, protegendo Harper e dando a ela um momento de respiro. Ele se ajoelhou ao lado dela, sacudindo seu rosto com firmeza, tentando trazê-la de volta à realidade.

— Harper! — a voz dele era urgente, firme, tentando alcançá-la através do nevoeiro que envolvia sua mente. — Você precisa me ouvir! Olha para mim! Não desmaie agora, HARPER.

Ela piscou lentamente, sua visão desfocada encontrando a expressão determinada de Strange. As palavras dele começaram a penetrar através da névoa que havia tomado conta de sua mente, puxando-a de volta, pouco a pouco.

Sua respiração ainda estava pesada, e seu corpo doía como se estivesse sendo esmagado por uma tonelada de pedras mas algo na voz dele a fez querer lutar, mesmo que apenas para não afundar de vez na escuridão.

— Isso, Harper, fique comigo! — Strange insistiu, vendo que ela começava a responder. Ele continuou segurando seu rosto, mantendo-a focada nele, mantendo-a ancorada na realidade. — Você tem que prestar atenção em mim!

Mas era difícil. A visão dos dois Homens-Aranha lutando diante dela, misturada com os guerreiros de Kamar-Taj enfrentando os mortos-vivos que continuavam a surgir ao redor, tornava impossível se concentrar.

A batalha era caótica e interminável e Harper sentia o peso da realidade se despedaçando ao seu redor.

— Harper, me escute! — Strange chamou novamente, com a voz carregada de urgência. — São muitos! Não vamos conseguir lidar com todos. O tecido da realidade está se rasgando, e mais monstros, mais mortos-vivos, continuarão a aparecer. Pessoas que conhecemos, desse universo, do seu e sabe lá mais de quantos. Não temos outra escolha. Eu... eu preciso te mandar de volta para o seu universo.

Ela entrou em choque, as palavras dele perfurando sua mente como uma lâmina afiada. O pânico tomou conta de Harper, seu corpo tremendo enquanto ela tentava processar o que ele acabara de dizer.

— Não... — Harper balbuciou, sua voz fraca e incrédula. — Não pode ser o único jeito...

— Eu não queria, Harper, mas é o único jeito. — A voz de Strange era firme mas havia uma nota de pesar em suas palavras. — Se você continuar aqui, mais mortos-vivos, mais monstros continuarão surgindo. E as ameaças vão se tornar cada vez mais pessoais, cada vez mais insuportáveis. O tecido da realidade vai se rasgar ainda mais e então não haverá como reparar o dano.

Os olhos de Harper se encheram de lágrimas, a dor de ser forçada a deixar tudo para trás, de ser arrancada desse universo e de Peter, esmagando seu coração. Ela queria lutar, queria permanecer mas a realidade era cruel.

— Por favor... — A voz dela era um sussurro quebrado, implorando por uma alternativa, qualquer coisa que não fosse essa.

— Eu sinto muito, Harper. — Strange respondeu, sua expressão endurecida pela necessidade de tomar a decisão. — Mas precisamos fazer isso agora, antes que seja tarde demais.

A voz dele soou como um eco distante, mas as palavras carregavam um peso esmagador. O coração de Harper parecia se partir em mil pedaços, cada um se fragmentando com o medo e a tristeza que cresciam dentro dela.

— Se você continuar aqui, a Joia da Realidade vai ficar fora de controle... — Strange continuou, a voz entrecortada pela gravidade da situação. — Ela vai continuar distorcendo essa realidade, atraindo essas... coisas. Se você se esforçar mais, Harper, você vai morrer. É o único jeito de deixar as coisas seguras para todos.

A ideia de voltar para um mundo onde não houvesse Peter, Strange, Lilian, ou qualquer das coisas que ela passou a amar, era insuportável. Era esmagadora.

A imagem do terraço do prédio deles, o frango frito da Tia May, assistir assistir filmes com Peter e todas as pequenas alegrias que Harper havia encontrado nessa realidade passaram por sua mente como flashes dolorosos.

Ela sabia que lá, no lugar de onde veio, só a aguardava dor e solidão. O único brilho de luz em sua vida havia sido Peter, e ele morreu por causa dela.

Agora, a ideia de que esse Peter, desse universo, pudesse morrer também, por sua causa, era demais para suportar. Harper sabia o que tinha que fazer, mesmo que a decisão a dilacerasse por dentro.

Com os olhos cheios de lágrimas, ela deu um passo à frente e abraçou Strange com força. Ele retribuiu o gesto, seus braços envolvendo-a de maneira protetora, enquanto ele enterrava o rosto nos cabelos dela, sentindo o cheiro e a textura suaves.

Era um ato desesperado mas cheio de ternura, uma tentativa de acalmar a tempestade que ela carregava dentro de si.

— Dói tanto, Harper... — Strange murmurou, sua voz quebrada pela emoção. — Dói ter que te mandar para um lugar onde você não quer estar... E dói saber que eu não vou poder te ver mais. — Ele respirou fundo, tentando conter o próprio choro. — Você é uma filha para mim. Não da forma mais simples, mas a versão da filha que eu nunca conheci... E eu fui muito feliz por conhecer você.

Harper sentiu o peito apertar com essas palavras, um nó se formando em sua garganta, tornando difícil falar. Quando ela finalmente conseguiu, a voz era baixa, mas carregada de dor.

— Eu teria amado ser sua filha... — sussurrou, as lágrimas escorrendo pelo rosto sujo e machucado.

Strange assentiu, os olhos fechados enquanto ele limpava delicadamente os machucados no rosto dela, removendo o sangue e as lágrimas que não paravam de cair.

— E eu teria amado ser o seu pai... — ele respondeu, a voz cheia de um carinho profundo, que ela sentiu como um último consolo. — Me perdoa por não ter feito mais, Harper.

Ela balançou a cabeça, os soluços silenciosos sacudindo seu corpo frágil. Não havia mais palavras a serem ditas, apenas o som de dois corações partidos tentando se despedir de uma maneira que fizesse a dor parecer um pouco menos insuportável.

Strange apertou Harper em seus braços uma última vez, segurando-a com todo o amor que ele sentia, desejando que pudesse protegê-la de tudo.

Ela sabia que tinha que aceitar seu destino, mas o peso da separação era algo que ela nunca imaginou ser tão devastador. E ao mesmo tempo, ela sabia que estava fazendo o que precisava ser feito.

Stephen olhou para Harper com uma mistura de tristeza e orgulho, sabendo que o momento de separação estava prestes a acontecer. Ele a segurou pelos ombros, inclinando-se para beijar suavemente sua testa. Era um gesto paternal, cheio de uma ternura que ele raramente demonstrava mas que agora parecia a única forma adequada de transmitir o que sentia.

— Eu tenho muito orgulho de tudo o que você fez e aguentou. — ele disse, a voz carregada de emoção. — Você é uma das pessoas mais corajosas e fortes que eu conheço. Ninguém deveria passar por tanta coisa assim, mas você... Você suportou tudo.

Ele limpou as lágrimas que continuavam a escorrer pelo rosto de Harper, o coração apertado com a dor que via nela. Para Strange, não era apenas o adeus a uma aliada: era como perder uma filha.

Desde o momento em que ele a viu, sentiu uma conexão estranha, literalmente interuniversal. Ele se lembrava da tristeza que sentiu ao saber toda a história dela e o desejo quase instintivo de protegê-la desde então. Harper o deu preocupações e dores de cabeça como uma adolescente faria a um pai e isso tudo em um curto espaço de tempo.

Ele percebeu o quanto ela significava para ele. Ela não era apenas uma variante da filha que não ele nunca conheceu. Ela era alguém que ele passou a se importar profundamente, alguém por quem ele se sentiu responsável. E agora, mandá-la de volta, deixá-la ir, era um dos momentos mais difíceis que já enfrentou.

— Vai se despedir dos seus amigos, Harper. — Strange disse, sua voz baixa e quase quebrada.

Era o último gesto de carinho que ele podia oferecer a ela. Harper assentiu, ainda tentando controlar as lágrimas.

Com passos pesados, ela começou a se afastar, sentindo o olhar de Strange sobre ela, um olhar que carregava um misto de dor e amor.

Harper puxou Lilian para perto, envolvendo-a em um abraço apertado. Lilian, sempre tão sorridente e alegre, ficou surpresa com o gesto repentino mas logo retribuiu o abraço, sentindo a intensidade do momento.

— Obrigada... — murmurou Harper, com a voz trêmula de emoção.

— Pelo quê? — Lilian perguntou, confusa.

— Por tudo. — respondeu Harper, seus olhos brilhando com lágrimas contidas. — Pela festa do pijama, por falar comigo na escola, por ter sido a primeira amiga de verdade que eu tive.

Lilian logo entendeu, sua expressão se suavizando enquanto compreendia a profundidade das palavras de Harper.

— Agora é a hora que você vai fazer uma coisa triste e altruísta, não é? — Lilian disse, com um pequeno sorriso, tentando manter o tom leve, embora a tristeza estivesse visível em seus olhos.

Harper assentiu, segurando as lágrimas que ameaçavam cair.

— Você vai ser uma maga incrível, Lilian. — disse Harper, com firmeza, apertando mais uma vez a amiga antes de soltá-la.

Lilian tentou sorrir de volta, mas não conseguiu esconder a tristeza que sentia.

— Eu nunca vou esquecer você, Harper. — Lilian respondeu, com um nó na garganta.

Harper corria de costas, afastando-se de Lilian enquanto se preparava para encarar a despedida mais difícil de todas. Seus olhos estavam nublados pelas lágrimas, e o coração batia pesado no peito.

— Eu também nunca vou esquecer você! — ela gritou para Lilian, com a voz embargada.

Antes que pudesse ir mais longe, Peter surgiu de repente, pendurando-se numa teia para parar na frente dela. Ele tirou a máscara do Homem-Aranha, revelando o rosto machucado, os olhos cheios de preocupação e dor. O coração de Harper apertou ao vê-lo daquele jeito.

— O que foi? — Peter perguntou, a voz carregada de uma preocupação intensa.

Harper engoliu em seco, tentando controlar o turbilhão de emoções que a dominava.

— Eu... eu vou voltar para o meu universo, Peter.

— Não! — Ele deu um passo à frente, a dor evidente em cada palavra. — Você não pode me deixar, Harper. Não pode deixar a gente assim.

Ela fechou os olhos por um segundo, sentindo as lágrimas rolarem.

— Talvez... talvez nós só não tenhamos sido feitos para ficar juntos, em nenhum universo.

Peter se aproximou ainda mais, colando a testa à dela. O suor, as lágrimas e o sangue de ambos se misturavam, criando uma conexão dolorosa e profunda.

— Não fala assim... — ele sussurrou, a voz cheia de desespero. — Fica... por favor, fica.

Harper mordeu o lábio, tentando conter o soluço que ameaçava escapar.

— Se eu ficar, todos todos vão morrer, Peter... — Harper respondeu, a voz embargada pelo choro que ela tentava segurar. — Eu sei que você faria o mesmo no meu lugar.

Peter, com a voz cheia de dor e ódio pela ideia de perdê-la, perguntou quase desesperado:

— Como você sabe?

Ela deu um sorriso fraco, em meio à tristeza que quase a sufocava.

— Porque é assim que você é.

A resposta dela atingiu Peter em cheio, quebrando as últimas barreiras de resistência que ele tinha.

Incapaz de suportar a ideia de deixá-la ir, ele a puxou para perto, colando os lábios nos dela em um beijo intenso, desesperado e longo. Ele sabia, com o coração partido, que esse seria o último.

A dor de perder Harper era esmagadora, mas ele tentou colocar todo o amor e desespero naquele beijo, desejando que o momento durasse para sempre, mesmo sabendo que o fim estava tão próximo.

Quando Peter finalmente se afastou, seus olhos se prenderam ao rosto de Harper. Mesmo machucada, pálida e exausta, ela era tudo o que ele conseguia ver, como se o caos ao redor simplesmente desaparecesse. Ele a olhou com uma intensidade quase dolorosa e sussurrou:

— Você está linda...

O coração de Harper afundou, uma onda de dor a atravessando como uma lâmina. Essas foram as últimas palavras que o Peter do seu universo lhe disse antes de morrer. As lágrimas escorriam pelo rosto dela enquanto ela olhava para ele, sentindo o peso esmagador de tudo o que estava acontecendo.

— Eu te amo. — ela murmurou com a voz quebrando de tanto sofrimento.

Peter a encarou, com seus próprios olhos marejados e respondeu com a voz suave, carregada de emoção:

— Eu sei. Eu também te amo. Eu te amo em todos os universos.

Essas palavras atingiram Harper como um golpe, uma lembrança amarga e doce ao mesmo tempo, pois eram exatamente as palavras que o primeiro Peter havia dito. Ela sentia-se esmagada por dentro, a dor se entrelaçando com o amor que ela sabia ser real, em qualquer realidade, em qualquer tempo. E com um nó na garganta, ela apenas respondeu.

— Eu sei...

Naquele momento, ela sentiu o verdadeiro peso daquilo. Ele a havia amado em cada universo, e agora ela precisava deixá-lo para salvar todos que importavam. O amor deles era tão grande e verdadeiro mas o destino parecia determinado a separá-los em qualquer realidade.

A compreensão disso quase a destruiu mas ela sabia que não tinha outra escolha.

Com lágrimas rolando livremente pelo rosto, Harper olhou para Stephen Strange, a dor e a determinação refletidas em seus olhos. Com um simples gesto de cabeça, ela deu seu consentimento, sabendo que não havia outra escolha, por mais que partisse seu coração.

Peter, devastado, mal conseguia respirar enquanto assistia a cena. O olhar dele estava fixo em Harper, gravando cada detalhe, cada traço do rosto dela, como se isso pudesse de alguma forma mantê-la ao seu lado.

— Harper... — ele murmurou, a voz embargada pela dor.

Mas não havia mais tempo. Strange, com um pesar visível em seu olhar, começou a murmurar as palavras do feitiço, sua voz ecoando no caos ao redor. A magia envolveu Harper, começando a envolvê-la como uma névoa brilhante. Seus contornos começaram a desaparecer, como se estivesse se dissolvendo na própria realidade.

Peter deu um passo à frente, como se quisesse segurá-la, impedir que ela se fosse, mas ele sabia que não podia. O desespero estampado no rosto dele, as lágrimas escorrendo, enquanto a figura de Harper se desvanecia lentamente. Ela o olhou uma última vez, os olhos dela transbordando de tristeza e amor, antes de desaparecer por completo.

E então, ela se foi.

Apenas o vazio permaneceu onde Harper estivera e Peter ficou ali, sozinho, sentindo-se como se todo o seu mundo tivesse sido arrancado de suas mãos.

Peter olhou ao redor, tentando processar o que acabara de acontecer. A batalha ainda rugia ao seu redor, com os feiticeiros de Kamar-Taj e os outros heróis lutando ferozmente contra os zumbis e monstros que restavam. No entanto, algo havia mudado. Nenhum novo inimigo surgia.

Era como se o fluxo interminável de criaturas tivesse finalmente cessado e com isso, veio a certeza de que estavam conseguindo, que iriam vencer aquela batalha.

Mas para Peter, a vitória tinha um gosto amargo. Harper havia sido arrancada dele, levada de volta ao universo dela, e a sensação de perda esmagava seu peito. Mesmo que o caos ao seu redor estivesse sendo contido, nada poderia preencher o vazio que ela deixou. 

Ele sabia, com uma certeza dolorosa, que a amaria em todos os universos, em todas as realidades possíveis e que nenhuma vitória ou derrota mudaria isso.

A dor era quase insuportável, mas ele engoliu em seco, forçando-se a voltar à luta e a continuar, porque era o que Harper teria feito. Mas dentro dele, o buraco que ela deixou parecia um abismo sem fim.

Um Ano Depois

Harper caminhava pelas ruas frias e cinzentas de Nova York, o vento gelado chicoteando seu rosto enquanto ela se encolhia no casaco fino que conseguira comprar com o salário da lanchonete. O céu estava nublado, como se o sol tivesse esquecido de brilhar naquele dia e o mundo parecia envolto em uma melancolia silenciosa. Era difícil acreditar que já havia passado um ano desde que ela voltou para o seu universo, no exato momento em que tudo havia desmoronado: O lugar do acidente de Peter.

Durante aquele ano, Harper havia aprendido a se virar sozinha, como sempre fizera. Ela terminou a escola com notas decentes, mas não conseguiu ser aceita em nenhuma faculdade.  De alguma forma o fato do padrasto ter matado a mãe dela estava na ficha dela, assim como a dificuldade de adaptação, os orfanatos e a falta de  atividades extracurriculares. Ela se acomodou em um apartamento minúsculo, de um único cômodo, onde tudo estava sempre à vista e a solidão era uma constante.

Trabalhava em uma lanchonete local, um emprego que pagava mal e a deixava exausta, mas que, ao menos, lhe dava uma rotina. Os dias se tornaram uma sequência monótona de horas de trabalho, seguidas por noites solitárias. 

Era como se o brilho e a cor tivessem sido drenados de sua vida. As lembranças de outra realidade, outra vida, pareciam tão distantes agora que, às vezes, ela se perguntava se tudo aquilo havia sido real ou se não passava de um sonho.

Havia momentos, enquanto limpava mesas ou preparava pedidos, em que Harper se via perdida em pensamentos, relembrando rostos e vozes que pareciam mais distantes a cada dia. Será que tudo aquilo realmente aconteceu? Será que foi o destino lhe dando uma breve chance de ser feliz, apenas para depois arrancar tudo sem piedade? Ou talvez tenha sido apenas um cruel devaneio, uma miragem no deserto de sua existência?

Ela voltou para trás do balcão, forçando um sorriso e tentando manter a simpatia enquanto atendia os pedidos. Cada cliente era uma distração, uma forma de afastar as lembranças que assombravam sua mente. O som do sino da porta soou e por reflexo, ela virou-se para ver quem entrava. Foi quando seu mundo parou.

Ali, parado na entrada da lanchonete, estava Peter Parker. Não o Peter que ela viu morrer, mas o Peter que ela foi obrigada a deixar em outro universo. Seu coração disparou e uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, enquanto as possibilidades varriam sua mente.

E se não for ele? E se ele não lembrar dela? Como ele poderia estar ali? A confusão misturada com a esperança e o medo quase a paralisava. Harper sentiu as mãos tremerem enquanto olhava para ele, tentando decifrar a realidade diante dela. Seria possível que de alguma forma, ele estivesse aqui, nesse universo, no lugar onde ela menos esperava?

A incerteza era esmagadora e ela não sabia se teria forças para lidar com o que quer que viesse a seguir. Mas naquele instante, tudo que ela conseguia fazer era olhar para ele, na esperança de que de alguma forma a resposta estivesse ali em seus olhos.

Ele entrou na lanchonete, nervoso e ansioso como se estivesse à beira de um precipício. Cada passo parecia pesado mas seus olhos fixos em Harper denunciavam uma determinação que ela quase não conseguia acreditar. Ele se aproximou do balcão, as mãos tremendo levemente enquanto seus olhos não a deixavam por um segundo.

— Harper? — a voz dele era hesitante, como se temesse que tudo fosse apenas um sonho.

Ela congelou ainda mais, sentindo o coração martelar no peito, quase dolorosamente.

— Peter? — Sua voz saiu num sussurro, cheia de incredulidade e esperança.

Ele suspirou, aliviado, como se um peso imenso tivesse sido tirado de seus ombros. As linhas de tensão em seu rosto suavizaram e ele sorriu, um sorriso cheio de emoções contidas. Harper sentiu uma onda de sentimentos conflitantes — alegria, medo, alívio — todos se misturando de uma vez.

Peter estava ali, diante dela e de alguma forma, ele se lembrava.

Harper tremia, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto tentava processar o que estava acontecendo.

— Como é possível você estar aqui? Como é possível ter atravessado outro universo? — a voz dela saiu em um soluço, carregada de confusão e emoção.

Antes que pudesse continuar, Peter a interrompeu, se inclinando por cima do balcão e a puxando para um abraço apertado. Objetos caíram e se espalharam pelo chão, os clientes na lanchonete olharam curiosos, mas nenhum dos dois se importou.

Eles ficaram ali, entrelaçados, sentindo o calor e a familiaridade do outro, como se o tempo tivesse parado. Harper chorava no ombro dele, incapaz de acreditar que ele estava realmente ali, enquanto Peter a segurava como se nunca mais fosse soltar.

Quando Peter finalmente a soltou, Harper ainda estava tremendo, as lágrimas secando lentamente em seu rosto. Hanna, uma mulher mais velha que também trabalhava na lanchonete, se aproximou, preocupada com a cena que acabara de testemunhar.

— Está tudo bem? — Hanna perguntou, olhando de Harper para Peter, e de volta para Harper.

Harper, ainda sem conseguir encontrar palavras, apenas balançou a cabeça afirmativamente, seus olhos fixos em Peter, como se estivesse vendo um fantasma.

— Precisa de um minuto? — Hanna insistiu, com a voz suave.

Harper fez que sim com a cabeça novamente, sem desviar o olhar de Peter.

— Eu cuido de tudo aqui — disse Hanna, dando um leve aceno para Peter, que a guiou para fora do estabelecimento, tão nervoso quanto ela.

Do lado de fora, o ar fresco pareceu ajudar Harper a recuperar um pouco do controle mas a sensação de irrealidade ainda a envolvia, como se estivesse presa em um sonho.

Já era noite do lado de fora, a luz fraca dos postes iluminava a rua com um brilho suave. Peter, sem dizer uma palavra, inclinou-se e deu um selinho demorado em Harper, um toque que parecia quase irreal depois de um ano separados. O beijo carregava todas as emoções acumuladas, todo o tempo perdido, toda a dor e a saudade que ambos sentiram. Harper não conseguia parar de chorar, e o toque sempre carinhoso de Peter secava as lágrimas que deslizavam pelo rosto dela.

Ela estava com muito medo de estar sonhando, de acordar e perceber que ele não estava realmente ali, que tudo aquilo era apenas uma cruel ilusão.

— Como é possível você estar aqui? — perguntou Harper, a voz dela quebrando em meio às lágrimas.

Peter respirou fundo, ainda acariciando o rosto dela, como se precisasse se certificar de que ela era real.

— É uma longa história... — ele começou, com um sorriso nervoso.

Harper, apesar das lágrimas que ainda caíam, sorriu de volta, o coração batendo forte no peito.

— Eu tenho todo o tempo do mundo — ela disse, mesmo sabendo que deveria estar trabalhando. Mas, honestamente, nada mais importava naquele momento.

Peter a puxou para mais perto, envolvendo-a em seus braços com força, como se quisesse garantir que ela não iria desaparecer novamente.

— Vou resumir a história — ele começou, com um suspiro, ainda sem acreditar que estava realmente ali com ela. — Basicamente... um vilão me enganou. Mysterio. Ele fingiu ser um herói, mas no final, ele era tudo menos isso. E antes de morrer, ele conseguiu o que queria: revelou minha identidade para o mundo inteiro. De repente, todos achavam que eu era o vilão, que eu tinha matado Mysterio e que ele era o verdadeiro herói.

Peter fez uma pausa, os olhos cheios de tristeza ao relembrar tudo o que tinha acontecido.

— Todo mundo começou a me odiar, Harper. Começou a prejudicar as pessoas ao meu redor. Ned, a Tia May... Acusações vinham de todos os lados e não importava o que eu fizesse, eu não conseguia provar que eu era inocente. Meus amigos e eu fomos recusados na faculdade por causa disso.

Harper, ouvindo cada palavra, sentiu o coração se apertar ainda mais. Lágrimas novas surgiram em seus olhos, desta vez não apenas por vê-lo novamente mas pela dor que ele tinha enfrentado. Ela segurou o rosto dele com as mãos, os olhos marejados e cheios de empatia.

— Sinto muito, Peter. — disse ela, a voz embargada. Ela estava super triste ao perceber que a vida dele tinha se tornado tão ruim quanto a dela, se não pior, desde o incidente de um ano atrás.

Eles se olharam em silêncio por um momento, compartilhando a dor e o consolo mútuo em um abraço que parecia ser a única coisa certa em meio a tanta confusão e sofrimento.

Peter respirou fundo, passando uma mão pelos cabelos desalinhados, tentando organizar os pensamentos antes de continuar.

— Então, eu pedi ajuda ao Doutor Estranho. O plano era que ele fizesse todo mundo esquecer que eu era o Homem-Aranha e assim restaurar a normalidade. Mas o plano deu errado. Em vez de resolver as coisas, acabou atraindo vilões de outros universos que sabiam que eu era o Homem-Aranha. Eles vieram atrás de mim e a situação ficou ainda pior.

Harper olhou para ele, confusa. Mesmo depois de toda a sua experiência com o multiverso, a complexidade da situação ainda a assombrava.

— Então... o que você fez? — ela perguntou, a voz tremendo. Ela sabia o quanto o Peter dela havia sofrido, mas ouvir a história de forma tão detalhada fazia seu coração doer ainda mais.

Peter hesitou, o peso das suas palavras visível em seus olhos. Ele hesitou por um momento, depois continuou:

— Eu... Eu tentei consertar as coisas sozinho. Lutei contra esses vilões, tentando protegê-los e a mim mesmo. Mas, no fim das contas, eu não consegui lidar com tudo sozinho. As coisas continuaram a piorar. Foi um caos total e eu não consegui encontrar uma solução. Então, eu... eu percebi que precisava encontrar uma maneira de me redimir e de corrigir o que tinha dado errado.

Harper sentiu um nó na garganta. Ela sabia que Peter era um herói mas ouvir como ele havia lutado sozinho, enfrentado vilões e perdido quase tudo fazia com que seu próprio sofrimento parecesse insignificante em comparação. Ela olhou para ele, sua expressão uma mistura de tristeza e admiração.

— Não foi sua culpa. — ela disse, a voz embargada, mas cheia de firmeza. Ela queria que ele soubesse que ela não o julgava, que ela estava ali para ele, não importa o que houvesse acontecido.

Peter a olhou com uma tristeza profunda. 

— Eu tentei ajudar os vilões. Fui atrás de uma maneira de salvar todo mundo mas no final, não consegui. Não dava para salvar todos. E a única saída que restou foi fazer com que o universo inteiro esquecesse quem eu era.

Harper ficou chocada com a revelação, o choque estampado em seu rosto. 

— Você... fez o universo inteiro esquecer quem você é?

Peter acenou lentamente, a dor em seus olhos visível. 

— Sim. Eu pedi ao Doutor Estranho para fazer o feitiço. E antes de fazer isso, ele me enviou para este universo. A esperança dele era que eu pudesse encontrar você aqui e que não precisasse viver em um mundo onde ninguém lembrasse da minha existência.

Harper o abraçou novamente, sentindo um turbilhão de emoções. Ela estava emocionada, não apenas pelo gesto generoso de Strange, que havia dado a eles essa segunda chance, mas também pela ousadia do plano, pela esperança de Peter em encontrá-la. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, misturadas com um sentimento profundo de gratidão e alívio.

— E você... você não tinha como saber que acharia eu. Mas, de alguma forma, você veio para o universo certo.

Peter a envolveu nos braços, sentindo o calor e o conforto dela. 

— Qualquer chance que eu tivesse de ver você novamente, eu usaria. Especialmente quando eu não tinha mais nada ou ninguém que me lembrasse do que havia deixado para trás. Era a única coisa que me dava esperança.

Harper olhou para ele, seu coração apertado com a dor e a esperança que compartilhavam. Ela sorriu através das lágrimas, um sorriso cheio de ternura e alívio.

— Eu sei — ela disse suavemente. — E agora, mesmo que tudo tenha sido tão difícil, nós temos essa chance. Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas eu estou tão feliz que você está aqui agora.

Os dois ficaram ali, sob o céu noturno, abraçados, permitindo-se um momento de paz e consolo. A luta que haviam enfrentado parecia distante agora, ofuscada pela presença um do outro. Eles se permitiram saborear o presente, sabendo que, apesar das dificuldades e da dor, havia algo real e precioso entre eles.

Enquanto a noite avançava, a certeza de que haviam encontrado um ao outro novamente trouxe uma nova luz à escuridão que haviam vivido e a promessa de um novo começo começou a se formar diante deles.

Peter puxou Harper para um beijo intenso, desta vez mais profundo e cheio de emoção. Seus lábios se encontraram com uma paixão que transbordava de todo o sofrimento e esperança acumulados ao longo do último ano. O beijo, que começou com uma ternura delicada, logo se transformou em algo mais ardente, com a língua se entrelaçando, explorando e confirmando a realidade de que ambos estavam ali, vivos e reais, depois de tanto tempo.

Harper se entregou ao beijo, sentindo a conexão profunda entre eles e a confirmação de que ele estava realmente ali. As lágrimas continuaram a escorrer pelo seu rosto, misturando-se com o beijo, mas eram lágrimas de alívio e de uma felicidade contida. Ela se sentia inteira novamente, como se todas as peças que haviam se espalhado ao longo do último ano finalmente estivessem se reunindo.

Quando finalmente se separaram, ambos ofegantes e com os rostos corados, Peter olhou para ela com uma expressão de dor e vulnerabilidade. Ele ainda tinha tanto para lhe dizer, tantas histórias e confissões para compartilhar. As palavras sobre a perda da Tia May, sobre como seus amigos não se lembravam mais dela, tudo isso estava prestes a sair.

A noite estava calma, o céu salpicado de estrelas parecia ser um manto de promessas e segredos. Peter e Harper estavam ali, embaixo desse vasto tapete cósmico, envolvidos na troca de olhares que carregava o peso de um ano de separação e sofrimento. As palavras não eram necessárias; o que importava era o toque suave das mãos, a proximidade dos corpos, o calor da respiração.

Era como se o caos que os havia separado, as distorções de universos e as inevitáveis reviravoltas do destino, fossem apenas peças de um intricado quebra-cabeça, cada uma contribuindo para que aquele momento fosse possível.

Harper, com o sobrenome Butterfly, sentia como se cada batida de suas asas, por menor que fosse, tivesse contribuído para essa encruzilhada cósmica. Como na teoria do caos, Harper, parecia a própria metáfora de uma borboleta, com seu leve bater de asas criando ondas de mudança no tecido do destino. 

Talvez o caos e o acaso não fossem apenas forças aleatórias mas caminhos traçados por algo maior, algo que os havia guiado de volta um ao outro, mesmo quando a realidade parecia fragmentada e frágil.

Talvez, pensaram, tudo aquilo fosse o resultado de uma série infinita de coincidências e escolhas, um balé de eventos que apesar da desordem e do sofrimento, os havia conduzido a esse exato ponto no tempo e no espaço. 

A ideia de que todo o caos e a complexidade do multiverso poderiam ter sido, de alguma forma, orquestrados para levá-los a essa troca de olhares sob as estrelas era, de alguma forma, reconfortante. Talvez dessa vez, eles pudessem finalmente encontrar a felicidade e evitar quebrar a realidade novamente.

Peter, com a voz suave e cheia de emoção, olhou para Harper e disse: 

— Eu amo você, Harper.

— Em todos os universos?

 — Em cada um deles.






𝙵𝙸𝙼

Notas:

Queridos amores...
Primeiramente, peço desculpas pelo capítulo gigante que vocês acabaram de ler. (5.3k de palavras, do nada?)

Esta história começou a ser escrita em 25 de dezembro de 2021 e ao longo do tempo passou por várias transformações – foi retirada, reescrita, repostada e agora, finalmente, está concluída.

Essa jornada foi uma verdadeira loucura. Houve momentos em que até eu me perdi no meio da narrativa e nas reviravoltas do enredo mas de alguma forma, acredito que tudo parece ter se encaixado no final. Foi um processo desafiador e emocionante e eu estou satisfeita com o resultado.

Espero que tenham gostado dessa aventura tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Caso sim, vou adorar ver vocês em outras fanfics que tenho no meu perfil. Estou sempre aberta a feedbacks e ansiosa para ouvir o que vocês acharam.

Muito, muito obrigada por acompanharem essa história até o final. Agradeço de coração por todo o apoio e carinho. Até logo e espero encontrar vocês novamente em outras histórias!

Com amor e gratidão,
Ivy!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro