019
Harper sentiu um alívio imediato ao ouvir isso. Saber que ele não estava com raiva a confortava mais do que ela esperava. Enquanto caminhavam até o carro, ela lançou um olhar para Peter e May, que acenaram de volta com expressões de apoio e compreensão.
Durante a viagem de volta, o silêncio foi interrompido por Strange, que olhou de relance para Harper antes de falar.
— Ele machucou você? — perguntou Stephen, sua voz cheia de preocupação.
Harper balançou a cabeça, olhando para as mãos no colo.
— Não, ele não me machucou. Mas eu acho que ele me reconheceu.
— Sim, ele provavelmente reconheceu. — Strange assentiu, mantendo os olhos na estrada.
Harper suspirou, sentindo um peso no peito. Ela hesitou por um momento antes de falar, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu sonhei com ele na noite passada — começou ela, a voz baixa. — E quando acordei, senti um sentimento muito escuro de vingança dentro de mim. Foi... assustador. Você acha que isso pode ser um sinal da joia ou algo do tipo?
Stephen considerou a pergunta por um momento, os lábios se comprimindo em uma linha fina.
— A joia da Realidade tem o poder de influenciar emoções e pensamentos, especialmente se você estiver em um estado emocional vulnerável — explicou ele. — Pode ser que a joia esteja intensificando sentimentos que você já tem. Mas é importante lembrar que, no fim, seus pensamentos e ações ainda são seus. A joia pode influenciar, mas não controla.
Harper assentiu, tentando processar as palavras dele. O peso da responsabilidade da joia parecia cada dia maior e não era algo que ela tinha escolhido.
— Então, como eu lido com isso? O que eu deveria fazer? — perguntou ela, olhando para Stephen com olhos cheios de preocupação.
— Vamos descobrir. — respondeu Strange, com um tom firme e decidido. — Mas, acima de tudo, precisamos garantir que você não deixe esses sentimentos escuros tomarem conta. Vamos trabalhar nisso juntos.
Harper respirou fundo, tentando organizar os pensamentos antes de continuar. Ela olhou para Stephen, seus olhos refletindo a confusão e a dor que sentia.
— Eu quero que ele sofra — admitiu Harper, sua voz tremendo levemente. — Mas sei que prender ele não seria possível. E, de qualquer forma, não tenho como provar nada. Nem sei se a carta da Harper desse universo ainda existe. — ela faz uma pausa. — Se ele está aqui e não no Nebraska, significa pelo menos que ele não está mais com minha mãe... Eu nem sei se ela está bem.
Stephen ouviu em silêncio, suas mãos segurando firmemente o volante enquanto processava as palavras de Harper. Ele sabia que a situação era extremamente delicada e que qualquer passo em falso poderia agravar ainda mais o sofrimento dela.
— Harper, eu entendo a sua dor e a sua raiva — disse ele, escolhendo as palavras com cuidado. — Mas você precisa ser cautelosa. O desejo de vingança pode consumir você e levar a decisões impulsivas que podem ter consequências graves.
Harper assentiu, sabendo que ele tinha razão, mas a raiva dentro dela ainda fervilhava.
— Eu sei, mas é tão difícil... — murmurou ela, olhando para fora da janela.
Stephen respirou fundo, procurando uma maneira de ajudar Harper a lidar com esses sentimentos.
— Harper, alguém mais sabe sobre isso? — perguntou Stephen, olhando para ela de soslaio.
— Contei para Peter — ela admitiu. — Contei tudo.
Stephen assentiu, compreendendo a necessidade de Harper de ter alguém em quem confiar, embora soubesse dos perigos de compartilhar segredos multiversais.
— Entendo — disse ele, um pouco preocupado. — Embora eu não ache que falar sobre segredos multiversais seja seguro.
— Eu sei — respondeu Harper, sua voz baixa. — Mas eu precisava contar a alguém. Ele é importante para mim.
Stephen olhou para Harper, notando a hesitação em seus olhos.
— Sim, eu sei... E você e Peter... estão namorando? — perguntou ele, tentando entender melhor a relação deles. Harper suspirou, balançando a cabeça.
— Não tenho certeza — confessou. — Estamos próximos, mas é complicado... Tenho medo de que ele ache que estou tentando substituir o Peter do meu universo.
Stephen assentiu novamente, entendendo o dilema de Harper. Para aliviar o clima, ele decidiu brincar um pouco.
— Bem, pelo menos parece que vocês dois estão se divertindo, se beijando na sala de aula e tudo — disse ele, um sorriso brincando em seus lábios.
Harper corou, uma risada nervosa escapando.
— Foi meio impulsivo, eu admito — disse ela, relaxando um pouco com a brincadeira.
Stephen riu junto com ela, sentindo a tensão diminuir.
— Só tome cuidado, Harper — aconselhou ele, sua voz voltando ao tom sério. — Você tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e é importante manter a cabeça no lugar.
Harper assentiu, apreciando a preocupação e o apoio de Stephen.
— Eu sei. Obrigada por estar aqui para mim, Stephen.
Stephen e Harper passaram o dia juntos, como se estivessem tentando remendar os fragmentos de suas vidas, pedaços de dois universos diferentes se unindo em um mosaico complexo. Quando chegaram ao Sanctum Sanctorum, Stephen fez um chá, o aroma suave das ervas enchendo o ar, trazendo um conforto sutil e reconfortante. Harper observou enquanto ele preparava tudo com precisão, os movimentos dele eram quase hipnóticos.
Após o chá, eles retornaram ao treinamento que havia sido interrompido dias atrás. Stephen lançou feitiços de proteção nela, um brilho etéreo envolvendo Harper enquanto ele recitava palavras antigas de poder. Ele tentou fazer com que ela se conectasse com a Joia da Realidade, guiando-a com paciência. Os reflexos dela ainda estavam lentos, mas aos poucos, ela melhorava.
Cada gesto, cada incantação, era um passo em direção a uma conexão mais profunda com a joia. Harper sentia a energia pulsando ao seu redor, uma dança sutil de poder que ela começava a compreender. Eles ainda não haviam falado novamente sobre a joia dele, a Joia do Tempo. Havia um entendimento tácito entre eles de que certos assuntos precisavam de tempo para serem abordados, mas pelo menos as coisas estavam boas entre eles novamente.
No geral, o dia havia sido agradável. A mente de Harper estava ocupada com mais do que pensamentos escuros de vingança, e isso era bom e aliviador. Era quase uma sensação de família, algo que ela não experimentava há muito tempo. Stephen era rígido, mas justo, e sua presença oferecia uma estabilidade que Harper começava a valorizar.
À medida que o dia chegava ao fim, Harper se preparava para voltar para casa. Stephen ofereceu-se para levá-la ou abrir um portal, mas ela insistiu que queria ficar um pouco sozinha, desejando aproveitar o silêncio e o tempo para refletir.
— Obrigada, Stephen — disse ela, um sorriso leve nos lábios. — Foi um bom dia.
— Sempre aqui para você, Harper — respondeu ele, seus olhos suaves mas determinados. — Fique segura.
Harper assentiu, começando sua caminhada de volta para casa. O céu começava a se tingir com as cores do crepúsculo, e ela respirava fundo, sentindo a brisa fresca em seu rosto. Cada passo era uma pequena vitória contra os pensamentos obscuros que tentavam invadir sua mente.
Ela sabia que o caminho adiante não seria fácil, mas sentia uma nova força dentro de si, um fogo renovado. E, por enquanto, isso era suficiente.
A caminhada de volta para casa foi tranquila, cada passo ajudando Harper a organizar seus pensamentos. Quando chegou na frente do prédio, avistou Peter com algumas sacolas nas mãos, provavelmente voltando do mercado. Ele sorriu ao vê-la, um sorriso que trouxe um calor reconfortante ao coração dela.
— Oi, Peter — disse Harper, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. — Como você está? Teve problemas com a tia May?
Peter deu de ombros, o sorriso ainda presente em seu rosto.
— Não pude contar a verdade, então acabei levando uma bronca. Mas não foi nada demais. A May não está realmente com raiva de mim... Ela culpou os hormônios. — Ele disse um pouco baixo e envergonhado.
Harper sentiu uma pontada de culpa e mordeu o lábio inferior.
— Sinto muito por ter te metido em problemas.
Enquanto subiam as escadas, Peter balançou a cabeça, sua expressão suave e compreensiva.
— Tudo bem, Harper. — Ele fez uma pausa, olhando para ela com intensidade. — Por algumas pessoas, vale a pena se meter em problemas.
Harper sentiu o coração acelerar com aquelas palavras, uma sensação de calor e gratidão inundando-a. Ao chegarem ao andar deles, ela parou por um momento, olhando para Peter com sinceridade.
— Obrigada, Peter. Eu realmente aprecio tudo o que você fez por mim.
Peter sorriu, os olhos brilhando com uma mistura de carinho e determinação.
Quando chegaram ao andar deles, Peter olhou para Harper com curiosidade.
— E você? Teve problemas com Stephen?
Harper balançou a cabeça, seus olhos desviando para o chão.
— Não, não tive problemas. Mas... de qualquer forma, ele não é realmente meu pai. Não vai... Me deixar de castigo ou algo assim.
Assim que as palavras saíram de sua boca, ela sentiu uma onda de emoções conflitantes. Uma sensação estranha de culpa e mágoa a invadiu. Parte dela queria desesperadamente que Stephen fosse realmente seu pai, e não apenas uma figura de um universo alternativo. O que ele fez por ela hoje foi, literalmente, o mais próximo de uma interação pai e filha que ela já teve em toda a sua vida.
Peter percebeu a luta interna dela e sorriu suavemente.
— Teoricamente, ele é seu pai.
Harper deu um sorrisinho, quase como se estivesse tentando convencer a si mesma.
— Sim, teoricamente ele é — disse, sua voz baixa e pensativa.
Peter apertou a mão dela, oferecendo um conforto silencioso. Harper respirou fundo, sentindo-se um pouco mais leve com o apoio dele. Ao entrarem em seus respectivos apartamentos, Harper sabia que, independentemente dos universos e das realidades, havia pessoas ao seu redor que realmente se importavam com ela. E isso era o que mais importava.
Quando chegaram ao andar deles, Peter parou e olhou para Harper com um sorriso encorajador, embora uma leve preocupação fosse visível em seus olhos.
— Quer entrar e jantar com a gente?
Harper hesitou, mordendo o lábio enquanto seus olhos refletiam uma mistura de cansaço e incerteza. O corredor parecia mais silencioso do que o habitual, amplificando a tensão que ela sentia.
— Eu... não tenho coragem de encarar a May agora.
Peter assentiu compreensivamente, colocando uma mão no ombro dela para lhe dar apoio.
— Tudo bem, eu entendo.
Ele se virou para entrar no apartamento dele, enquanto Harper se preparava para abrir a porta do seu. Mas, antes de girar a maçaneta, Peter olhou para trás e a chamou, sua voz hesitante mas cheia de sinceridade.
— Harper?
Ela se virou, curiosa, seus olhos encontrando os dele.
— O que foi?
Ele parecia um pouco nervoso, esfregando a nuca enquanto tentava encontrar as palavras certas.
— Eu disse para a May que a gente está namorando.
Harper ficou surpresa, seu coração acelerando. Ela franziu a testa levemente, tentando entender o que isso significava.
— O quê? Por quê?
Peter deu de ombros, um sorriso tímido surgindo em seu rosto enquanto ele enfiava as mãos nos bolsos.
— Achei que fosse mais fácil explicar as coisas assim. E... eu meio que quero que seja verdade.
Harper sentiu um calor se espalhar por dentro, uma mistura de alívio e alegria crescendo em seu peito. Ela sorriu, sentindo-se grata e conectada a ele de uma forma que nunca havia sentido antes.
— Eu também quero que seja verdade, Peter.
Ele sorriu de volta, parecendo aliviado e feliz. A luz suave do corredor parecia mais calorosa, envolvendo-os em um momento íntimo.
— Então, estamos namorando?
Harper ficou em silêncio por um momento, seu coração batendo forte no peito. As palavras de Peter eram tudo o que ela queria ouvir, mas ao mesmo tempo, um medo profundo surgia dentro dela. Ela se lembrou de seu Peter Parker, do outro universo, e do quanto tinha perdido quando ele morreu. Ela ainda podia ver o rosto dele, sentir a dor da perda. E agora, estar com esse Peter, que também era o Homem-Aranha, trazia à tona todos esses medos.
Ela olhou para ele, que esperava pacientemente por sua resposta, a preocupação evidente em seus olhos. Ele não parecia se importar com o fato de que ela já tinha conhecido outro Peter Parker, que era o Homem-Aranha. Mas e se ele se sentisse um substituto? E se, no final, ele acabasse como o outro Peter... morto, por causa dela? Todas essas coisas ruins que pareciam ser atraídas por ela, que a cercavam e a faziam sentir-se uma ameaça para aqueles que amava.
Mas ao olhar para Peter, ela viu mais do que o Homem-Aranha, mais do que um Peter Parker. Ela viu o rapaz que esteve ao seu lado, que a apoiou e que estava lá por ela, sempre. Ele era ele. E ela gostava dele por quem ele era, não por quem ele poderia ser ou quem ela tinha perdido. E ela sabia que não podia recusar. Ele estava lá por ela, e ela não podia deixar o medo controlar sua vida.
— Sim, estamos. — Harper disse finalmente, sua voz firme, mas com um toque de vulnerabilidade.
Peter sorriu, um sorriso que iluminou o corredor e aqueceu o coração dela.
— Boa noite, namorada.
Ela retribuiu o sorriso, sentindo-se mais leve, como se uma grande carga tivesse sido tirada de seus ombros.
— Boa noite, namorado.
Peter deu um passo em direção a ela, segurando sua mão com ternura. Eles se despediram com um beijo suave e promissor, os lábios tocando-se com uma gentileza que prometia mais do que palavras poderiam expressar. O corredor, antes um lugar de incertezas, agora parecia um espaço seguro e cheio de possibilidades.
Finalmente, Harper entrou em seu apartamento, fechando a porta com um sorriso no rosto. Ela sabia que, não importa o que o futuro reservasse, ela não estava mais sozinha. E isso fazia toda a diferença.
Depois do doce momento de despedida com um beijo suave, Harper e Peter deram risadinhas bobas, como dois adolescentes que descobriram algo novo e emocionante. Ficaram ali, se encarando por alguns preciosos minutos, quase como se estivessem admirando a beleza um do outro de uma forma totalmente nova.
Finalmente, Peter suspirou suavemente, quebrando o silêncio.
— Eu realmente preciso ir. A May está esperando pelas compras.
Harper assentiu com um sorriso afetuoso, sentindo-se leve e feliz.
— Claro, não quero atrapalhar. Até amanhã?
Peter assentiu, os olhos brilhando com carinho.
— Até amanhã, Harper.
Com um último sorriso, Peter se virou para entrar em seu apartamento. Harper observou-o por um momento, sentindo-se grata por tê-lo em sua vida. Então, ela também entrou em seu próprio apartamento, fechando a porta atrás de si com um suspiro de contentamento.
Dentro de seu apartamento, Harper revivia mentalmente os momentos especiais que haviam compartilhado. O beijo suave ainda fazia seus lábios formigarem, e ela não conseguia parar de sorrir. Sentia-se como se estivesse flutuando e todos os pensamentos obscuros de mais cedo tivessem desaparecido.
Ela se perguntou o que o futuro reservava para ela e Peter. A ideia de estarem juntos, oficialmente namorando, era emocionante e assustadora ao mesmo tempo. Mas ela sabia, no fundo de seu coração, que valeria a pena; ele era alguém que entendia seu mundo complicado e a apoiava incondicionalmente.
Enquanto pensava nisso, Harper se preparou para uma noite tranquila. Ela sabia que tinha muito para refletir e processar, mas por agora, apenas desfrutaria da sensação de estar conectada a alguém.
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