015
Harper caminhava pelas ruas movimentadas da cidade, perdida em seus pensamentos tumultuados. As luzes dos postes de rua refletiam em poças d'água deixadas pela chuva da tarde, criando um ambiente sombrio e reflexivo.
Seu coração estava pesado com o peso dos segredos que carregava: o mistério das Joias do Infinito, a traição percebida de Strange, a responsabilidade de proteger algo tão poderoso em um universo estranho. E ela, uma adolescente que estava no meio de tudo isso.
Eram tantas coisas para uma jovem lidar. Ela só queria ser normal, ter preocupações típicas da sua idade, como provas na escola, festas de fim de semana, talvez um primeiro amor, sem as complicações cósmicas que agora invadiam sua vida.
"Porra", pensou ela, frustrada consigo mesma. "Eu nem tenho 18 anos ainda. Para onde mais minha vida pode ir?"
Enquanto suas pernas a levavam automaticamente pelas calçadas, Harper quase foi atropelada por um carro que virou bruscamente na esquina. Ela conseguiu se esquivar a tempo, mas seu pé escorregou na calçada molhada, fazendo-a cair de joelhos. Um leve machucado surgiu na pele, mas Harper ignorou a dor física, mais preocupada com a tormenta emocional que a consumia.
Levantando-se com um suspiro resignado, Harper continuou a andar, forçando-se a focar em algo trivial para afastar os pensamentos angustiantes. "Eu deveria estar pensando apenas no beijo de Peter", murmurou para si mesma com um pequeno sorriso irônico. "Isso sim era um problema adolescente..."
No entanto, logo a ironia da situação se impôs sobre ela. Sim, o beijo com Peter era um problema típico de adolescente, algo que ela deveria estar lidando com entusiasmo e ansiedade adolescente. Mas agora, graças aos eventos recentes, havia uma nova camada de complexidade nisso tudo. Ela devia a Peter explicações enormes sobre o que estava acontecendo.
Ela precisava encontrar um equilíbrio entre o extraordinário e o ordinário, entre salvar universos e ser uma adolescente comum. E acima de tudo, ela precisava enfrentar Peter Parker e explicar tudo o que havia acontecido.
Chegando ao seu prédio, Harper subiu os degraus, perdida em pensamentos oscilantes.
Ela se perguntava como seria morar com uma família "normal", com uma mãe e um pai que a amassem e cuidassem dela, ao invés de viver sozinha com o dinheiro que uma garota que teoricamente era ela, mas que também estava teoricamente morta, havia deixado para trás.
Seria reconfortante chegar em casa e ter um almoço pronto, alguém preocupado com você.
Enquanto suas mãos se apoiavam no corrimão frio, Harper imaginava se em algum universo paralelo ela tinha uma família feliz. Uma família com Strange ao lado dela, cuidando de sua mãe, sem o padrasto que arruinou tudo em ambos os universos que ela estivera.
Finalmente, ao chegar ao seu andar, Harper alcançou a porta de seu apartamento. Tirou a chave do bolso e abriu a porta, entrando no pequeno espaço que agora era seu refúgio. As luzes fracas da sala iluminaram o lugar, trazendo um sentimento misto de alívio e melancolia.
Agora, Harper estava sozinha novamente, encarando a realidade dura e solitária que era sua vida atual. Ela olhou para baixo e percebeu que sua calça jeans havia rasgado no joelho durante sua caminhada reflexiva pelas escadas.
Respirando fundo, Harper se levantou do sofá e caminhou até o banheiro pequeno de seu apartamento. Abriu o armário onde guardava suas poucas coisas pessoais e pegou seu kit de primeiros socorros. Ao abrir a caixa, porém, percebeu com uma pontada de frustração que a gaze e a água oxigenada haviam acabado. Provavelmente das vezes que cuidou dos machucados de Peter e agora só sobraram embalagens vazias.
Ela não queria ter que lidar com mais um obstáculo hoje. Sem muita escolha, Harper decidiu bater na porta ao lado, onde Peter morava.
Quando May abriu a porta, seu rosto se iluminou com um sorriso caloroso ao reconhecer Harper.
— Harper! Querida, o que te traz aqui? — May perguntou gentilmente, fazendo Harper se sentir um pouco melhor com sua presença acolhedora.
— Desculpe incomodar, May. Eu... meu kit de primeiros socorros está vazio e eu acabei caindo nas escadas. Será que você teria algum curativo ou algo assim para me emprestar? — Harper explicou, esperando não estar causando muita inconveniência.
— Oh, querida, você nunca incomoda. Entre, entre! — May respondeu imediatamente, abrindo mais a porta para Harper entrar. — Peter saiu rapidinho, mas já deve estar de volta. Sente-se, vou pegar o que você precisa.
Harper agradeceu sinceramente e entrou na sala de estar acolhedora de May. Sentou-se no sofá confortável, observando as fotografias familiares espalhadas pela estante. Era reconfortante ver aquele lar cheio de calor humano, algo que ela sentia falta em sua própria vida.
May logo voltou com um kit de primeiros socorros completo. Ela colocou gentilmente o kit sobre a mesa de centro da sala e olhou preocupada para Harper.
— Você quer que eu te ajude a fazer o curativo? — May ofereceu, sua expressão carregada de preocupação.
Harper sorriu levemente, tocada pela preocupação genuína de May.
— Obrigada, May, mas eu prefiro fazer sozinha, se não se importa. Eu estou acostumada a cuidar dessas coisas sozinha.
May assentiu compreensivamente.
— Claro, querida. Se precisar de alguma coisa, é só chamar. — Ela hesitou por um momento. "Ah, só para avisar, estamos com um encanador no banheiro consertando a pia. Mas você pode usar o banheiro do quarto do Peter para fazer o curativo."
Harper ficou um pouco surpresa com o convite, não esperava ter que entrar no quarto de Peter. Ela havia estado na casa dele, mas nunca tinha ido ao seu quarto.
O pensamento de entrar em um espaço tão pessoal de alguém a deixava um pouco desconfortável, mas ela também se sentia grata por May oferecer sua ajuda.
E também ela provavelmente não deveria estar dando tanta importância para isso uma vez que a dona da casa permitiu. E também tinha o fato de que Peter já havia estado no quarto dela antes.
— Ah, obrigada, May. Eu pretendia fazer isso em casa, mas já que você ofereceu, eu vou aceitar. — Harper respondeu, tentando esconder sua hesitação.
— Ótimo. Venha, vou te mostrar o caminho. — May sorriu gentilmente. Ela levou Harper até o corredor e apontou para a última porta à direita. — É o último quarto do corredor. Peter é meio bagunceiro, então não se espante com a desordem.
Harper assentiu e caminhou pelo corredor, chegando à porta do quarto de Peter. Ela hesitou por um momento antes de abrir a porta e entrar.
O quarto de Peter era completamente diferente do que Harper esperava. Ela viu prateleiras cheias de gibis, posters de Star Wars na parede, e uma coleção de miniaturas de personagens nerds sobre a escrivaninha. O quarto estava organizado, mas claramente habitado por alguém que tinha um gosto particular por tecnologia antiga e cultura pop.
Era tão diferente do quarto do Peter de seu universo, que era repleto de câmeras, skates e coisas de basquete. E também era definitivamente mais bagunçado do que esse.
Com um suspiro, Harper caminhou até o banheiro do quarto, um espaço pequeno mas bem organizado. Ela fechou a porta atrás de si e colocou o kit de primeiros socorros sobre a pia. Ao se olhar no espelho, viu seu reflexo cansado e um pouco abatido. Respirando fundo, abriu o kit e começou a limpar o machucado no joelho com um lenço umedecido.
Enquanto passava o antisséptico na pele ralada, sentiu uma leve ardência. Harper mordeu o lábio para não reclamar. Pegou um pouco de gaze e começou a enrolar cuidadosamente em volta do joelho, quando ouviu a porta do quarto de Peter se abrir e ele entrar.
— Harper? — A voz de Peter soou preocupada. — A May disse que você estava aqui. Está tudo bem?
Harper respondeu enquanto terminava de colocar a gaze no lugar.
— Estou bem Peter. Só um minuto.
Ela ouviu passos rápidos se aproximando da porta do banheiro, e antes que pudesse processar, Peter estava ao seu lado, olhando para o machucado com uma expressão preocupada.
— Eu te ajudo. — ele disse, pegando a gaze de suas mãos sem nem perguntar.
— Não precisa, Peter. Eu posso fazer isso sozinha. — Harper tentou protestar, mas ele foi determinado.
— Você já cuidou dos meus machucados antes, Harper. Deixa eu retribuir o favor, ok? — Peter sorriu levemente, mas sua expressão era firme.
Ele se ajoelhou ao lado dela e começou a ajustar a gaze com mais firmeza e precisão. Harper observou em silêncio, um pouco surpresa pela naturalidade com que ele assumiu a tarefa. Havia uma delicadeza em seus movimentos que a fazia sentir-se cuidada de uma maneira que ela não estava acostumada.
— Sabe, você não precisava se preocupar tanto — Harper disse, tentando aliviar a tensão. — É só um arranhão.
Peter deu um meio sorriso, sem desviar o olhar do machucado.
— Qualquer machucado pode ser sério. E além disso, você sempre me ajuda com meus arranhões. É justo que eu possa ajudar de vez em quando. Além disso, muita coisa aconteceu ontem, não é?
Ele não queria tocar no assunto, mas não conseguiu evitar. De qualquer forma, cedo ou tarde precisariam falar sobre o beijo, o ataque e aquela conversa entre Harper e o Doutor estranho que ele presenciou.
Harper suspirou, sentindo o peso das palavras de Peter. Ela sabia que não poderia evitar aquela conversa para sempre, mas não queria estragar o momento de cuidado e gentileza que ele estava proporcionando.
— Sim, muita coisa aconteceu — ela admitiu, tentando manter a voz firme. — Mas talvez possamos deixar isso para depois. Só por um momento, eu queria que as coisas fossem um pouco mais simples. Prometo de te explicar tudo depois.
Peter finalizou o curativo, certificando-se de que estava bem preso. Ele então se levantou e estendeu a mão para Harper, ajudando-a a se levantar com cuidado.
— Você tem razão, não precisamos resolver tudo agora — ele disse, tentando aliviar a tensão com um sorriso. — Mas quando quiser falar, estou aqui, tá?
Bem no fundo, Peter ainda tinha uma pontada de medo de Harper ser uma espécie de super vilã que descobriu a identidade dele e agora estava se fazendo de boazinha mas que na verdade estava enganando ele e conspirando com as ameaças do mal.
Ele assistia muitos filmes e lia muitos quadrinhos, então as vezes não podia evitar imaginar que tudo era uma grande conspiração.
Mas ele também conhecia o fardo de não ser um adolescente normal e ele também tinha vontade de manter as coisas normais as vezes, principalmente quando estava perto de Harper. E o momento mais normal que os dois tiveram, no Drive In, foi arruinado.
Harper assentiu, sentindo-se grata por ele entender. Quando se levantou, Peter a olhou com um brilho travesso nos olhos.
— E aí, quer um beijinho para sarar mais rápido? — ele perguntou, brincando.
Harper riu, balançando a cabeça em um misto de diversão e timidez.
— Ah, Peter, você não perde uma chance, hein? — disse ela, ainda rindo.
Peter deu de ombros, o sorriso travesso ainda no rosto.
— Ei, não custa tentar. Além disso, funciona melhor do que qualquer curativo, dizem por aí.
Harper sentiu suas bochechas corarem, mas havia algo reconfortante na maneira como Peter conseguia fazer uma situação difícil parecer um pouco mais leve. Ela olhou para ele, seus olhos encontrando os dele, e por um momento, todos os problemas e complicações pareciam distantes.
Peter ainda tinha aquele sorriso travesso no rosto, mas seus olhos tinham um brilho suave que mostrava uma profundidade de sentimento. Harper percebeu que ele também estava sentindo aquela conexão especial, algo que os puxava um para o outro de uma maneira que ela não conseguia explicar. Como na noite anterior antes de tudo ir pelos ares.
— Sabe, Harper — Peter começou, sua voz mais baixa e suave. — Às vezes eu acho que você é a única coisa que faz sentido em meio a toda essa loucura.
Ela sorriu timidamente, sentindo seu coração acelerar. A distância entre eles parecia diminuir a cada segundo, e Harper percebeu que eles estavam se inclinando um para o outro, quase sem perceber.
— Eu... eu sinto o mesmo, Peter — ela sussurrou, sua voz quase um suspiro.
A mão de Peter deslizou suavemente para segurar a dela, os dedos entrelaçando-se de forma natural e confortável. Harper sentiu um calor se espalhar pelo corpo com o simples toque. Eles estavam tão perto agora que ela podia sentir a respiração dele, quente e suave contra seu rosto.
Por um momento, hesitaram, as emoções conflitantes nublando suas mentes. Mas a atração era forte demais para ser ignorada. Peter levantou a mão livre para acariciar o rosto de Harper, seus dedos roçando levemente a pele macia. Harper fechou os olhos por um instante, apreciando o toque delicado e a sensação de segurança que ele proporcionava.
Quando ela abriu os olhos novamente, encontrou os de Peter fixos nos seus, a intensidade do olhar dele a envolvendo completamente. E então, sem mais palavras, eles se aproximaram lentamente, como se o tempo tivesse desacelerado para acomodar aquele momento perfeito.
Seus lábios se encontraram em um beijo suave e terno, um toque delicado que rapidamente se transformou em algo mais profundo e intenso. Harper sentiu seu coração disparar, cada batida ecoando a intensidade do momento. Os braços de Peter a envolveram, puxando-a para mais perto, enquanto ela se entregava ao beijo, esquecendo-se de tudo ao seu redor.
O mundo parecia desaparecer, deixando apenas a sensação dos lábios de Peter nos seus, a suavidade do toque e a força do sentimento que compartilhavam. Havia uma urgência e uma necessidade naquele beijo, algo que ia além das palavras e das complicações de suas vidas. Era um momento de pura conexão, onde tudo fazia sentido e todas as dúvidas se dissipavam.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, eles se afastaram lentamente, os olhos ainda fechados, os corações batendo em uníssono. Harper abriu os olhos e encontrou Peter olhando para ela com uma mistura de surpresa e felicidade.
— A dor passou? — ele perguntou suavemente, um sorriso brincando nos lábios.
Harper riu, sentindo uma onda de felicidade tomar conta dela.
— Sim, passou — ela respondeu, o calor em seu peito crescendo.
Peter sorriu, satisfeito.
— Viu? Eu disse que funcionava.
Eles ficaram assim por mais alguns instantes, aproveitando a proximidade e o conforto da presença um do outro. Então, a realidade voltou a se impor, lembrando-os de que ainda estavam no quarto de Peter e que May podia se perguntar por que estavam demorando tanto.
— Acho que devemos sair antes que May comece a imaginar coisas — Harper sugeriu, o rosto ainda corado. Peter assentiu, concordando.
Eles se levantaram e saíram do banheiro, voltando ao quarto de Peter. Harper não pôde deixar de olhar ao redor uma última vez, sentindo-se grata por aquele momento de normalidade em meio ao caos de sua vida.
Ao saírem do quarto, encontraram May na cozinha, ocupada com algumas tarefas. Ela levantou os olhos e sorriu ao vê-los, aliviada por perceber que Harper estava bem.
— Tudo certo por aqui? — ela perguntou, lançando um olhar curioso para os dois.
— Sim, tudo certo, May. Obrigada novamente pelo kit de primeiros socorros. Posso ajudar em algo? Talvez com a louça?
May abriu um sorriso caloroso.
— Ah, querida, isso seria ótimo. Eu estava mesmo precisando de uma ajudinha.
Harper foi até a pia e começou a secar os pratos enquanto Peter pegava os itens secos e os guardava nos armários da cozinha. Eles trabalhavam em um ritmo sincronizado, trocando olhares e sorrisos ocasionais.
O tempo passou rápido, depois de terminar de organizar a cozinha os dois foram para sala, Peter ligou a TV e colocou um pacote de pipoca dentro do micro-ondas, voltando minutos depois.
Dessa vez eles escolheram ''O Diabo veste prada'' só para preencher o silêncio da sala. Eles eventualmente soltavam uma risadinha, enquanto comiam pipoca sentados lado a lado com os ombros e joelhos levemente se tocando. Quando o filme acabou, Peter soltou uma respiração que nem sabia que estava prendendo0 e olhou para garota.
— Podemos falar agora? — Ele perguntou cauteloso, ele queria que partisse dela, mas estava demorando muito e ele estava ficando ansioso. Harper suspira e concorda, balançando a cabeça positivamente. Ela o segue, deixando o apartamento e subindo as escadas até o terraço do prédio.
Notas :
Oi amores, tudo bem?
Passando para pedir desculpa pelo delay nas atualizações. Estava atualizando essa sempre as sextas, mas não esta funcionando mais para mim, então provavelmente irei definir um novo dia.
Espero que tenham gostado do capítulo.
Se puderem, por favor me respondam aqui se estão gostando da história, pois estou meio "nheee'' com ela e queria muito um feedback de quem está lendo!
Beijos ♥
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