014
Harper passou os dedos pelo rosto, limpando o suor frio e os resquícios de lágrimas. O sonho... ou melhor, o pesadelo, ainda estava vívido em sua mente. Thanos, a joia do espaço, a dor lancinante... Tudo parecia tão real. Harper abraçou os joelhos, tremendo ligeiramente enquanto tentava processar o que havia acontecido. O medo não a deixava voltar a dormir; cada vez que fechava os olhos, via o rosto cruel de Thanos e sentia novamente a sensação esmagadora de ser esmagada por ele.
Ela ficou acordada a noite inteira, a mente rodando em círculos, revivendo cada detalhe do sonho. Será que era apenas um pesadelo? Ou seria uma visão do futuro? A ansiedade apertava seu peito, dificultando a respiração. Olhou pela janela e viu o céu começar a clarear, os primeiros raios de sol pintando o horizonte com tons suaves de laranja e rosa. Era um alívio saber que a noite finalmente havia acabado, mas o medo persistia.
Ao ouvir sons indicando que Strange estava acordado, Harper pulou da cama, seus pés descalços batendo levemente no chão frio enquanto corria pelos corredores do Sanctum. Ela precisava contar a ele sobre o sonho, precisava que ele entendesse a gravidade do que havia visto. Encontrou Strange na sala de estudos, já vestido com seu manto, as mãos descansando sobre um livro antigo.
— Strange! — chamou ela, a voz carregada de urgência.
Ele levantou o olhar, surpreso com a intensidade da voz dela.
— Harper, o que houve?
— Eu tive uma visão — ela começou, tentando controlar o tremor na voz. — Tinha um... Titã roxo... Thanos... ele tinha a joia do espaço. Ele me machucou, Strange. Ele estava tão perto de conseguir todas as joias do infinito.
Strange franziu a testa, fechando o livro e caminhando até ela.
— Harper, foi só um sonho. Pesadelos acontecem, especialmente depois de tudo o que você passou ontem.
Ela balançou a cabeça vigorosamente, o desespero crescendo.
— Não, você não entende! Não foi apenas um sonho. Foi tão real, eu senti a dor, eu senti a presença dele. Ele vai conseguir a joia do espaço e vai usar ela para... para...
— Harper — ele interrompeu suavemente, segurando seus ombros com firmeza. — Pesadelos podem ser incrivelmente vívidos, mas isso não significa que sejam premonições. Você está exausta e sua mente está tentando processar tudo o que aconteceu recentemente.
— Não! — gritou ela, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Você não está entendendo! Eu vi... eu vi você entregando a joia do tempo para ele! Ele vai usar isso contra nós, contra você! Ele disse que eu era fraca e que você não ia conseguir proteger a joia!
Strange respirou fundo, seu olhar sério fixo no rosto desesperado de Harper. Ele apertou levemente os ombros dela, tentando transmitir uma sensação de segurança e controle.
— Harper, eu entendo que foi assustador, mas você precisa ouvir o que estou dizendo. — A voz dele era firme, mas havia um toque de suavidade que ele raramente usava. — Isso foi apenas um sonho.
Harper continuou a balançar a cabeça, incapaz de conter as lágrimas. O desespero em seus olhos era palpável, uma mistura de medo e impotência. Ela tentou se afastar das mãos dele, mas ele a segurou firme, não permitindo que ela fugisse da verdade que ele estava prestes a revelar.
— Não, Strange! — ela insistiu, a voz embargada. — Foi mais do que um sonho. Eu senti cada detalhe. Eu vi você entregando a joia para ele, vi a dor no seu rosto quando ele me machucou. Isso vai acontecer, eu sei que vai.
Strange soltou um suspiro pesado, percebendo que precisava ser mais incisivo para romper a barreira do medo dela.
— Harper, escute! — ele disse, a voz firme e autoritária, mas sem perder a calma. — Thanos não vai conseguir a joia do espaço. Isso que você viu, essa visão que te assusta tanto, não vai acontecer porque... porque já aconteceu.
Harper parou, confusa, as palavras dele finalmente penetrando a neblina de pânico que envolvia sua mente.
— O quê? — murmurou, a voz fraca, quase inaudível.
Strange afrouxou o aperto em seus ombros, mas ainda manteve um olhar firme e sério.
— Thanos já conseguiu todas as joias do infinito, Harper. — Ele fez uma pausa, permitindo que a informação afundasse. — Ele conseguiu todas elas e causou um imenso desastre, eliminando metade da vida no universo. Mas os Vingadores o derrotaram. Trouxeram todos de volta e restauraram a ordem. Isso é passado. Não vai acontecer de novo.
Harper piscou, a mente tentando assimilar a revelação. A respiração dela ainda estava rápida, mas a intensidade do medo começou a diminuir, substituída por uma confusão profunda.
— Então... o que eu vi... — começou ela, a voz hesitante.
— Foi um sonho distorcido pelo seu medo e exaustão, talvez algo de outro universo, eu não tenho certeza absoluta. — Strange completou. — Mas você não estava lá e isso não importa mais. Thanos foi derrotado.
Harper engoliu em seco, sentindo a tensão começar a deixar seus músculos. Ela ainda tremia ligeiramente, mas a compreensão começava a se instalar.
— Eu... eu sinto muito, Strange. Eu realmente achei que... — Ela não conseguiu completar a frase, a emoção transbordando em novas lágrimas, dessa vez de alívio.
Strange a puxou para um abraço, desta vez mais reconfortante, tentando acalmar a mente perturbada dela.
— Está tudo bem, Harper. — Ele murmurou, acariciando seus cabelos suavemente. — Você está segura aqui. E eu estou aqui para te proteger, para te guiar. Vamos superar isso juntos.
Ela fechou os olhos, deixando-se ser envolvida pelo conforto do abraço. Sentia-se exausta, mas também aliviada. O medo ainda estava presente, mas agora havia uma luz de esperança e entendimento.
Harper sentiu o calor e a segurança do abraço de Strange, o que a ajudou a se acalmar. Lentamente, a tensão em seus músculos começou a se dissipar, e ela se permitiu relaxar, sentindo-se protegida e compreendida.
— Obrigada, Strange. — Ela murmurou, sua voz ainda um pouco trêmula, mas mais controlada.
Strange afrouxou o abraço e deu um passo para trás, observando-a com um olhar carinhoso.
— Venha, vamos para a cozinha. — Ele sugeriu com um leve sorriso. — Vou fazer um café da manhã.
Harper piscou, surpresa.
— Você... cozinha? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. Ele soltou uma risada suave.
— Achou que eu só comia comida conjurada? — ele respondeu, divertido. — Eu posso estar enferrujado, mas ainda sei cozinhar. Além disso, sinto falta de comida feita no fogão ao invés de usar magia.
Enquanto caminhavam pelo Sanctum, Harper olhou ao redor, observando os detalhes do lugar. As paredes estavam cobertas com artefatos místicos e livros antigos, cada um contando uma história diferente. O ambiente era ao mesmo tempo acolhedor e misterioso, refletindo a essência de Strange.
Ao chegarem à cozinha, Strange começou a reunir os ingredientes, enquanto Harper se sentava em um dos bancos altos ao lado da bancada. A cozinha era uma combinação de elementos antigos e modernos, com utensílios de cobre pendurados nas paredes e aparelhos de última geração ao alcance das mãos.
— Você realmente vai cozinhar — Harper comentou, um sorriso começando a surgir em seus lábios.
Strange olhou para ela por cima do ombro, piscando um olho.
— Claro que vou. E você vai ver que eu ainda tenho habilidades.
Ele começou a preparar a massa para as panquecas, misturando os ingredientes com uma destreza surpreendente. Harper observava cada movimento, encantada com a habilidade dele. A visão da farinha, ovos e leite sendo transformados em uma massa suave era hipnotizante.
— Isso é... impressionante — admitiu Harper, com uma nota de admiração na voz.
— Como disse, sinto falta da comida feita no fogão — ele respondeu, sorrindo enquanto derramava a massa em uma frigideira quente. — Há algo especial em cozinhar com as próprias mãos.
Harper assistia atentamente enquanto Strange virava as panquecas com precisão. O cheiro delicioso começou a se espalhar pela cozinha, e ela sentiu o estômago roncar de antecipação. A visão das panquecas dourando perfeitamente a fez perceber o quanto estava faminta.
— Eu nunca imaginaria você fazendo isso — ela disse, os olhos brilhando de curiosidade.
Strange deu de ombros, ainda sorrindo.
— Todos temos nossos segredos. E um mago precisa de habilidades além da magia, certo?
Harper riu, sentindo o humor e a leveza retornarem. Era reconfortante vê-lo em um ambiente tão cotidiano, realizando algo tão mundano como cozinhar.
— Strange... — começou ela, hesitante, enquanto ele servia as panquecas em um prato. — Você... nunca entregaria a joia do tempo, certo?
Strange parou por um momento, o olhar dele ficando sério. Ele colocou o prato de panquecas na frente dela e sentou-se ao lado, os olhos fixos nos dela.
— Na verdade, Harper... eu entreguei — ele disse, a voz grave. — Eu entreguei a joia do tempo para Thanos.
Harper ficou em silêncio, surpresa e confusa. Ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Mas... por quê? — perguntou ela, tentando entender. — Como você pôde fazer isso?
Strange respirou fundo, olhando para baixo por um momento antes de encontrar os olhos dela novamente.
— Eu vi o futuro — ele explicou calmamente. — Vi milhões de possibilidades, e apenas uma em que nós vencíamos. Entregar a joia era o único caminho para alcançar aquele futuro. Era um sacrifício necessário.
Harper processou as palavras dele, tentando entender a profundidade da decisão que ele havia tomado. Sentiu uma nova onda de respeito e admiração por Strange, compreendendo o peso da responsabilidade que ele carregava.
— Deve ter sido uma decisão muito difícil — ela murmurou, a voz suave.
— Foi — ele admitiu, a expressão sombria. — Mas às vezes, as escolhas mais difíceis são as que mais importam.
Harper assentiu lentamente, sentindo a gravidade das palavras dele.
Strange continuou a virar as panquecas, mantendo-se ocupado enquanto Harper parecia imersa em pensamentos. Ele podia sentir a tensão que ainda pairava no ar, mesmo que a atmosfera na cozinha estivesse mais leve do que antes. Ele esperou pacientemente, deixando que ela processasse tudo o que ele havia revelado.
Finalmente, depois de alguns momentos de silêncio, Harper levantou os olhos para encontrar os dele. Havia uma mistura de curiosidade e confusão em seu olhar, como se ela estivesse tentando juntar as peças de um quebra-cabeça complexo.
— Então... — começou ela, hesitante. — O que aconteceu com as outras joias do infinito?
Strange parou por um momento, os movimentos das mãos congelados no ar enquanto ele considerava como explicar a situação para ela. Era uma história complicada, cheia de eventos trágicos e decisões difíceis.
— Elas foram destruídas — ele disse finalmente, escolhendo suas palavras com cuidado.
Harper franziu a testa, confusa.
— Destruídas? Como assim?
Strange suspirou, sentando-se ao lado dela na bancada da cozinha.
— Quando Thanos conseguiu reunir todas as joias do infinito, ele usou o poder delas para realizar seu plano. Ele quis eliminar metade da vida no universo, acreditando que isso traria equilíbrio. E... ele conseguiu. — As palavras dele saíram pesadas, carregadas com a lembrança da devastação que havia sido causada.
— Então... todas as joias... — ela murmurou, incapaz de terminar a frase.
— Sim. Todas elas foram usadas para concretizar o plano de Thanos. Mas... — Strange fez uma pausa, reunindo coragem para continuar. — Depois ele as destruiu.
O silêncio pairou sobre a cozinha enquanto Harper absorvia a magnitude das palavras de Strange. A ideia de todas as joias, fontes de tanto poder e potencial, sendo destruídas era quase inconcebível para ela.
Harper ficou em silêncio por um momento, processando as informações. Ela sentia uma sensação de perda, como se algo precioso tivesse sido perdido para sempre. Mas ao mesmo tempo, havia uma estranha sensação de alívio, sabendo que as Thanos não representava mais uma ameaça.
Então, uma pergunta surgiu em sua mente, uma que ela não conseguia evitar.
— Mas... como você ainda tem a joia do tempo? — ela perguntou, olhando para ele com curiosidade.
Strange engoliu em seco, desviando o olhar por um momento antes de encontrá-la novamente. Havia uma sombra de desconforto em seus olhos, como se ele estivesse relutante em responder.
— Eu... roubei de outra realidade — ele admitiu finalmente, sua voz quase um sussurro.
Harper arregalou os olhos, surpresa com a revelação. Ela não esperava uma resposta como essa, e a ideia de Strange roubando algo tão poderoso de outra realidade a deixou aturdida.
— Você... roubou? — ela repetiu, incrédula.
Strange assentiu, os ombros tensos.
— Foi uma decisão difícil, Harper. Mas eu sabia que precisávamos da joia do tempo para proteger o universo de ameaças futuras. E... eu faria qualquer coisa para garantir a segurança de todos.
O peso das palavras dele pairava no ar, carregado com o peso da responsabilidade e do sacrifício. Harper olhou para ele, vendo-o de uma maneira diferente agora.
Harper sentiu como se todas as peças de um quebra-cabeça finalmente se encaixassem, mas junto com a compreensão veio uma onda de emoções conflitantes.
Ela olhou para Strange, os olhos cheios de uma mistura de incredulidade e mágoa. As palavras dele ainda ecoavam em sua mente.
— Então... não é necessariamente a minha joia que está atraindo essas criaturas — murmurou ela, mais para si mesma do que para Strange. — Pode ser a sua também, ou as duas juntas.
Ele assentiu, os olhos abaixados em uma mistura de vergonha e arrependimento.
— Eu sinto muito, Harper. Eu deveria ter sido honesto com você desde o início.
— Por que você não me contou antes? — perguntou ela, a voz tremendo de emoção. — Eu pensei que...
Strange suspirou, tentando encontrar as palavras certas para explicar sua decisão.
— Eu... eu não queria que você se preocupasse mais do que já estava. E... Eu não sei, achei que eu poderia resolver sozinho, independente de quem tivesse causado isso.
Harper balançou a cabeça lentamente, as lágrimas começando a escorrer por suas bochechas.
— Você estava procurando alguém para culpar caso tudo desse errado? — perguntou ela, a voz embargada.
Strange estendeu a mão para tocá-la, mas ela se afastou, a expressão endurecida.
— Não é isso, Harper. Eu sei que você é forte. Eu só queria protegê-la de mais problemas... Eu sinto muito, ta legal?
— Você não confiou em mim.
Com isso, Harper se levantou abruptamente e saiu da sala, deixando Strange sozinho com sua própria culpa e arrependimento.
Ele correu atrás dela, tentando alcançá-la antes que ela desaparecesse, mas quando chegou ao corredor, não viu nenhum sinal dela. Ele amaldiçoou a si mesmo por sua falta de jeito com adolescentes e desejou poder voltar no tempo para consertar suas escolhas erradas.
Mas Harper já havia partido, perdida em um labirinto de emoções e incertezas que ele não sabia como ajudá-la a navegar. Ele sentou-se no chão do corredor vazio, sentindo o peso do mundo sobre seus ombros, lamentando a forma como havia deixado sua parceira se afastar.
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