013
Harper atravessou o portal com Strange, sentindo uma mistura de alívio e apreensão. Quando emergiu do outro lado, foi recebida pela familiaridade do Sanctum Sanctorum. Com suas últimas idas até lá, ela já estava quase acostumada à misteriosidade do ambiente.
— Harper, preciso que você me escute com atenção — Strange começou, ainda com a voz firme, mas carregada de seriedade e uma pitada de preocupação. — Você foi imprudente enfrentando aquela criatura. Eu sei que te falei sobre a joia da realidade, sei que estou te treinando para esse tipo de coisa, mas isso? Isso deveria ter sido evitado, você não deveria ter ido sozinha. Foi muito irresponsável da sua parte.
— Eu sei, Strange. Eu sei. — Harper assentiu, sentindo a exaustão se instalar enquanto a adrenalina se dissipava. Seu tom de voz ainda era um pouco irritado, mesmo sabendo que não estava exatamente certa naquela discussão. — Eu só... Eu queria ajudar. Não posso deixar que essas criaturas machuquem mais pessoas por minha causa.
— Não foi por sua causa! — Strange respondeu firmemente e sem hesitar, mas Harper não acreditou nem por um instante.
— É claro que foi! Elas estão vindo para cá porque eu estou bagunçando o universo! Estou bagunçando essa realidade.
— Sim, eu sei, mas eu fiz o feitiço e — Ele ia continuar, mas ela o interrompeu novamente.
— Era exatamente igual à última vez! O feitiço falhou, não percebeu? — Harper disse como se fosse óbvio. Ela não queria levantar a voz para Strange, mas a tensão na sala, o corpo exausto e dolorido, a falta de conhecimento sobre a gravidade da situação e a constante pressão que ela colocava sobre si própria faziam ela querer explodir. No sentindo literal da palavra.
Strange respirou fundo, tentando manter a calma diante da agitação de Harper. Ele sabia que ela estava exausta, confusa e emocionalmente desgastada e não a culpava por isso. Ele não queria piorar as coisas para ela.
— Harper, ouça. — Ele disse mais suavemente, tentando alcançar a parte racional dela. — O feitiço não falhou. — Strange engoliu seco, sua capa vermelha saiu de volta de seu pescoço. Ele manteve a voz firme e não vacilou enquanto continuava. — Desta vez, foi minha culpa. Eu estava consultando um livro de feitiços e... acidentalmente, trouxe aquela criatura de volta. Eu estava pesquisando maneiras de conter a joia da realidade, tentando encontrar uma forma de ajudá-la a controlar melhor seus poderes. Acabei abrindo uma brecha que permitiu que a criatura retornasse. Não foi intencional, mas as consequências foram reais e perigosas.
Harper suspirou, sentindo a tensão diminuir um pouco.
— Então, o que fazemos agora?
— Precisamos intensificar seu treinamento — Strange disse, se endireitando. — Vamos começar do início, tampar as brechas e ir mais fundos no estudo. — Ele faz uma pausa e sorri. — Mas por enquanto, você precisa descansar. Você pode passar a noite aqui, tenho muitos quartos livres, além disso, é mais seguro.
Harper acabou aceitando, embora sua maior vontade no momento fosse ficar sozinha. Ela entrou no quarto que o Doutor Estranho indicou para ela e trancou a porta por dentro.
O quarto era ''mais comum'' que o restante do Sanctum Sanctorum, as paredes eram de madeira, o piso era marrom e o lugar não era o mais iluminado, ainda assim era mais confortável do que estranho ou intimidador.
Havia duas janelas grandes, cobertas por uma cortina de tecido grosso azul-escuro, alguns móveis de madeira, algumas plantas, uma cama grande e uma lareira.
Não era nada como o pequeno apartamento que ela vivia atualmente e nem como qualquer outra das casas que ela já viveu.
Harper foi cautelosamente até o banheiro, andando em passos extremamente leves, como se quisesse, por alguma razão, evitar fazer ruídos ou barulhos.
Ela prendeu o cabelo em um coque e entrou no banheiro, fechando a porta atrás dela e olhando à sua volta. Stephen com certeza tinha uma bela casa. Com uma ótima decoração e organização, é bem grande, principalmente para um mago que vive sozinho.
Se despiu, ligou o chuveiro e se permitiu tomar um banho quente. Afinal, o mago havia dito para ela se sentir a vontade.
A água quente ajudava a dor no corpo a ir embora. Mas, a essa altura, já não doía tanto. O feitiço de cura que Strange usou, a princípio, fora uma sensação extremamente estranha, mas agora ela estava grata, pois só a memória da fraqueza e da dor que sentiu após enfrentar aquele monstro já era o suficiente para fazê-la murmurar.
Depois de um banho rápido e quente, onde os pensamentos de Harper se dividiram entre "Deus, como vou contar toda a verdade para o Peter?" e "Será que o Strange paga conta de água ou faz algum feitiço para ter água e eletricidade em casa?" ela saiu do banheiro, vestida nas mesmas roupas de antes e deitou na cama, sentindo seu corpo afundar no colchão macio.
Ela puxou o cobertor para cima dela, a cama era tão grande e confortável que fazia ela se sentir estranha.
Harper pegou o celular dela, ou o que sobrou do aparelho, visto que a cada vez ele ficava mais trincado, e verificou que havia algumas mensagens de Peter, mas ela não teve coragem de abrir, por enquanto.
Na aba de notícias da internet, havia especulações sobre um monstro invadindo um Drive In, muitos diziam que era Photoshop, outros diziam que era verdade, havia comentários inclusive de testemunhas, daquele e de outros ataques.
A situação estava aos poucos indo a público, no entanto, ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo.
Harper bloqueou o celular e deixou ele cair sobre o peito. Ela fechou os olhos e puxou o cobertor branco e pesado sobre ela.
Se concentrou em preencher a mente com pensamentos bons, na tentativa de dormir mais rápido, então seus devaneios foram diretamente para o beijo com Peter.
Foi tão breve, e Harper nem se lembrava de como eles chegaram naquele momento, mas havia sido tão bom, tão certo, como se tudo tivesse levado ela até aquele instante.
Aos poucos ela foi relaxando, o estresse se esvaziando do corpo e ela se afundando ainda mais no colchão, com Peter ainda preenchendo os seus pensamentos, ainda quase sentindo o gosto dele em seus lábios, ela pegou no sono.
Quando Harper abriu os olhos novamente, percebeu imediatamente que não estava mais no Sanctum Sanctorum. Ao invés disso, encontrava-se em um ambiente vasto e desolado, com um céu empoeirado e todo o local ao seu redor tingido de laranja e tons terrosos. A atmosfera parecia pesada, quase sufocante.
Por reflexo, levou a mão ao pescoço e notou que o colar com a joia da realidade não estava lá. O pânico começou a se instalar, mas Harper se forçou a manter a calma. Olhou ao redor, perplexa, tentando entender onde estava.
Ela olhou ao redor, perplexa e imóvel. Próximo a ela, um grupo de pessoas se destacava. Um homem em uma armadura metálica vermelha e dourada, outro segurando uma arma esquisita, um homem robusto e tatuado, e uma garota com grandes olhos e... antenas. Todos pareciam preparados para uma batalha iminente.
Para seu alívio, Harper avistou Peter Parker em seu traje de Homem-Aranha, embora diferente do que ela estava acostumada a vê-lo vestindo. Ela firmou os pés no chão empoeirado e, ainda confusa, começou a caminhar em sua direção. Antes mesmo de se aproximar, Strange apareceu de repente, parando na frente dela e segurando seu ombro com firmeza, o olhar cheio de preocupação e uma pitada de medo.
— Harper, fique comigo. E não se atreva a fazer nada estúpido — Disse Strange, a voz baixa e urgente. Harper não entendeu bem o que aquilo significava e ia questionar, mas o mago continuou falando rapidamente. — Me escute, Harper, não se mova. Quando eu disser "corra", quero que você corra o mais rápido que puder para longe de Thanos. Você entendeu?
Thanos. O nome ecoou na mente dela, fazendo seu estômago revirar. Ela virou a cabeça, olhando além da figura de Strange, e viu uma presença imponente se aproximando. Um Titã Louco, roxo e cheio de pregas no rosto. Mesmo sem nunca ter ouvido falar de Thanos, ela rapidamente o identificou, ele estava ali, vestindo uma armadura de couro, cada passo dele parecia reverberar pelo chão empoeirado.
Stephen percebeu o medo nos olhos de Harper e viu uma lágrima escorrer por sua bochecha. Ele estendeu a mão e enxugou suavemente, dando a ela o olhar mais reconfortante que podia, apesar de também estar tenso e segurando um feitiço com a mão livre enquanto Thanos se aproximava, enfrentando os outros presentes.
— Harper, confie em mim — Ele disse suavemente. — Quando eu der o sinal, corra.
Harper assentiu, tentando conter o medo crescente. Strange aguardou o momento certo, observando Thanos se aproximar. Quando o Titã estava à distância necessária, ele lançou um feitiço enquanto gritava:
— Corre!
Harper correu ao ouvir o sinal, mesmo com as pernas bambas. Enquanto isso, os Guardiões da Galáxia e o Homem de Ferro atacavam Thanos, mas o Titã usou uma das joias do infinito para lançá-los longe. Antes que Harper pudesse escapar, Thanos a pegou com uma mão e a levantou, segurando-a firmemente.
— Você já tem a joia da realidade, não está mais com ela. Então, a solte! — Peter Parker disse, soando mais firme do que Harper jamais o tinha visto. A ideia de Thanos ter a joia da realidade a deixava aterrorizada. Ela sabia que aquele poder seria um problema em mãos erradas. Strange havia alertado sobre isso. Harper soltou um grunhido de dor, sentindo a mão roxa apertar seu corpo.
Os olhos de Harper fixaram-se em Strange, que começava a conjurar um feitiço, levantando runas em volta de Thanos e dela. Por alguns segundos, parecia que Thanos ia sufocar, mas ele deu um sorriso cruel e apertou mais a mão em torno de Harper.
— Vamos lá, mago. Me dê a joia do tempo e eu te entrego a sua garotinha. — Harper olhou confusa para Thanos, sem entender completamente o que ele estava dizendo, mas sabia que Strange jamais entregaria a joia do tempo.
— Vai ter que me matar antes de pegar a joia — Strange disse com firmeza, sem recuar e ainda mantendo os feitiços em volta de Thanos, fazendo-o levitar. O Titã, por outro lado, soltou uma risada amarga.
— Você não vai me deixar machucar ela. Vai me dar o que eu quero ou ela morre.
Os outros heróis sabiam que aquilo era um jogo psicológico. Thanos, agora tendo as outras joias do infinito e já sendo o ser mais poderoso do universo, não precisava fazer reféns para conseguir o que queria. No entanto, Harper não estava pensando assim. Ela se debateu e balançou a cabeça em negação.
— Não faça isso — Implorou Harper, a voz cheia de desespero. Stephen olhou diretamente nos olhos de Thanos, sem mostrar medo ou fraqueza.
— Essa menina significa tudo para você, certo? — Thanos provocou. — Bem, posso estalar os dedos agora mesmo e ela se vai, e não há nada que você possa fazer a respeito.
O aperto em torno de Harper se intensificou, mas ela tentou manter sua expressão de dor oculta. Ela sabia que Stephen estava em uma situação impossível, mas também sabia que ele nunca cederia às demandas de Thanos. Com a determinação firme, Strange continuou a manter os feitiços em volta de Thanos, buscando qualquer abertura para salvar Harper.
— Vou te dar dez segundos — Disse Thanos, sua voz ecoando pela planície desolada. Um silêncio tenso tomou conta do ambiente. Harper podia sentir seus ossos estalando sob a pressão e quebrando embaixo de sua pele, mas mordeu a língua para não gritar, fechando os olhos com força. - Dez, nove...
Strange observava a cena, seu rosto refletindo o conflito interno. Os outros heróis rapidamente formaram uma nova estratégia de ataque, mas foram derrotados novamente com o mínimo esforço de Thanos. Irritado, ele apertou ainda mais sua mão em torno de Harper e usou a outra para pegar a joia do espaço, ameaçando aproximá-la do rosto da garota.
— Três, dois...
Strange estava cada vez mais tenso, vendo Harper lutar para respirar, o medo e a angústia claramente visíveis em seu rosto. No fundo, ele sabia o que precisava ser feito. Com um movimento decidido, ele alcançou o Olho de Agamotto e usou sua magia para puxar a joia do tempo, entregando-a para Thanos.
— Você é fraco, mago. — Thanos disse, sorrindo triunfante com a penúltima joia do infinito em sua mão. — Eu venci. Vocês perderam.
Ignorando sua promessa, Thanos pressionou a joia do espaço contra o rosto de Harper. A garota gritou, sentindo sua pele queimar sob a energia e radiação da joia. Inicialmente, Harper pensou que, se podia suportar a joia da realidade, também poderia aguentar a do espaço. No entanto, estava errada. A dor era insuportável, seu peito se contraía e o ar sumia de seus pulmões.
O grito agudo de Harper perfurava a mente de Strange. Finalmente, Thanos a soltou, deixando-a cair pesadamente no chão empoeirado. O Titã se teletransportou para fora do planeta, deixando Harper com veias roxas pulsando em seu rosto queimado, agonizando e convlucionando no chão.
— Fique comigo, Harper. — Ele murmurou, a voz quebrando. Stephen se ajoelha ao lado de Harper, ele pega sua mão e a segura com força. Ele começa a verificar o pulso, mas está ficando mais fraco e parece que ela está ficando inconsciente. Strange fala com um tom desesperado e a voz quase embargada. — Me escute, você vai ficar bem. Apenas fique comigo.
A voz dele fica suave e gentil enquanto ele sente a desaparecer. Ele acaricia os cabelos de Harper com as mãos trêmulas, sussurrando, enquanto o Homem de Ferro segura Peter para ele não se aproximar.
— Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum. — Ele a segura com mais força, sentindo as lágrimas brotarem nos cantos de seus olhos. Ele nem se lembrava da última vez que havia chorado e agora estava prestes a fazer, mas tentava segurar, pois, se começasse, não sabia se conseguiria parar. — Eu vou sentir sua falta, não esqueça que...
Ele ia continuar falando, mas Harper sentiu uma pontada mais aguda de dor, enquanto todo seu corpo começava a tremer e ela tentou soltar um grito abafado que mal ecoou. Ela piscou, vendo a preocupação, a tristeza, a culpa e a dor no rosto de Strange. E quando abriu os olhos de novo, ela havia voltado para o quarto no Sanctum Sanctorum.
Harper se sentou na cama, ofegante, tocando o próprio corpo e a cama ao seu redor, como se estivesse se estava realmente ali, se havia realmente sido só um sonho.
Como poderia ter sido só um sonho se fosse tão real? Ela sentiu toda aquela dor, ela estava trêmula e coberta de suor, com lágrimas secas em suas bochechas e muito frio. Embora dez mil vezes mais fraca, a dor que ela estava sentindo no sonho ainda estava, de alguma forma, presente. Ela precisou se concentrar muito em manter sua respiração.
Ela estendeu a mão e pegou seu celular, viu que eram três horas da manhã, colocou as mãos sobre o peito e começou a repetir a si mesma que fora apenas um sonho e que estava tudo bem.
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