012
Peter parou, ergueu os olhos e olhou em volta, perguntando-se se seu sexto sentido o estava avisando de que algo estava errado. Harper olhou para ele confusa, sem saber se o beijo era a razão para ele agir assim ou se havia algo a mais.
- Desculpe, eu... Tá tudo bem? - Harper perguntou, tentando ler o rosto de Parker, que apenas balançou a cabeça negativamente.
- Saia do carro. - Ele disse isso com firmeza e ela o olhou confusa.
- O quê? - A garota perguntou, surpresa. Por um momento, ela pensou que ele fosse expulsá-la do carro ou que estava a dispensando. Mas, quando o viu saindo do carro, o imitou e fez o mesmo, deixando o veículo com certa pressa e desconforto.
Harper sentiu seu coração bater mais forte e o medo começar a se instalar em seu ser ao olhar para a tela que exibia o filme. Alguém ou alguma coisa havia lançado um veículo contra a tela branca que agora piscava em várias cores.
As pessoas começaram a sair de seus carros e a correr para as estradas à volta. Estava claro que havia uma ameaça dentre eles, mas Harper não conseguia reconhecê-la.
Ele sentiu Peter pegar sua mão e sair correndo na mesma direção que o tumultuado de pessoas ia, meio que por osmose. Ele continuou andando, andando, seguindo-a enquanto ouvia um som alto e assustador.
De novo, não, de novo não.
Era o único pensamento que corria dentro de sua mente, enquanto o seu corpo, em piloto automático, seguia Peter. Harper estava com um pouco de medo de olhar para trás. Doutor Estranho havia dito que não haveria mais monstros ou criaturas, que ele havia controlado por hora, mas havia algo acontecendo agora, algo ainda estava lá.
Harper finalmente confirmou suas suspeitas quando olhou finalmente para trás e viu a criatura; parecia exatamente com a que havia atacado ela alguns dias atrás, as mesmas garras pontudas, os mesmos tentáculos e a mesma aparência repugnante.
- O que você está fazendo? - Peter perguntou enquanto continuava a puxar a mão de Harper, mas ela já havia cravado os pés no lugar, o impedindo de continuar a guiar. - Venha rápido, preciso te levar para um lugar seguro para que o Homem-Aranha possa entrar em cena.
– Não, não lute com isso. Apenas chame o Strange. -Harper disse soltando a mão de Peter, enquanto as pessoas que corriam em direção aos dois se esbarravam entre eles, e o rosto de Peter mostrava confusão misturada com medo, principalmente por Harper e sua súbita teimosia.
- Harper! - gritou ele, mas ela já corria contra a corrente e se misturava à multidão. - Mas que merda! - ele bufou.
Sem saber se devia correr atrás dela e a impedir de se aproximar ou fazer o que ela disse e se afastar para por seu traje e chamar por Strange, Peter acaba escolhendo a segunda opção, já imaginando que podia se arrepender por isso, enquanto se afastava rezando silenciosamente para que Harper não fizesse nada estúpido ou imprudente até que ele voltasse.
Harper correu descontroladamente no meio da multidão, passando pelas pessoas desesperadas e indo contra o fluxo. Seu coração batia forte não só pela adrenalina, mas também pela incerteza de enfrentar aquela maldita criatura. Ela já havia tentado uma vez e falhado, mas agora ela tinha alguns conhecimentos, sabia que a joia da realidade estava lá para mantê-la segura e esperava que ela realmente fizesse isso. Harper suspirou, se aproximando, as palavras estranhas lhe vieram à mente, a voz de Strange ainda era clara na memória dela, dizendo: "Você deve se conectar com a joia''
Ela fez progressos nos últimos dias, havia tido alguns avanços e estava indo bem, Stephen Strange disse ele. Então ela tinha que conseguir fazer algo para, pelo menos, ganhar tempo. Afinal, a culpa daqueles monstros continuarem aparecendo, ainda era dela. Strange havia tentado controlá-los, mas os monstros, haviam voltado, eles eram atraídos por ela, porque ela estava desequilibrado esse universo.
A garota chegou mais perto da criatura, que rugia e brandia seus tentáculos ameaçadoramente, causando estragos ao redor. Harper sentiu uma onda de pânico, mas tentou lembrar-se do treinamento. Fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar na energia da joia ao redor de seu pescoço.
A criatura se virou, como se tivesse sentido sua presença. Harper abriu os olhos e viu as garras afiadas e os tentáculos avançando em sua direção. Ela levantou as mãos, tentando invocar a energia da joia.
— Vamos, vamos, vamos... — murmurou, sentindo um calor crescente em suas mãos, mas nada concreto acontecendo. Ela sabia que aquela joia lhe dava tantos poderes, ela podia modificar a realidade, podia criar ilusões... Pode a trazer para esse universo, então por que diabos nada estava acontecendo agora?
O monstro estava cada vez mais próximo. Harper respirou fundo, com as palavras e instruções de Strange se repetindo na mente dela, ela tentou se concentrar em se lembrar das sensações que sentiu quando os poderes se manifestaram nos treinamentos, tentou não ficar nervosa e não ser consumida pelos próprios sentimentos, mas se concentrar estava sendo uma missão impossível.
Ela fechou os olhos novamente, ignorando o medo que pulsava em suas veias. Harper se concentrou na sensação da joia contra sua pele, na energia que sabia estar ali. Tentou se lembrar do que sentiu quando a joia a transportou para outro universo. Sentiu a onda de tristeza, raiva e desespero que a joia havia amplificado naquele momento.
— Por favor, funcione... — disse, sua voz quase um sussurro.
Ela abriu os olhos e tentou de novo, mas nada parecia funcionar. A criatura estava quase em cima dela agora, e ela sentiu a urgência do momento se intensificar. Desesperada, Harper tentou canalizar qualquer emoção forte que pudesse desencadear a resposta da joia.
Mas tudo que ela sentiu foi a sensação das garras pegajosas a pegando, ela era um maldito imã para aqueles monstros, eles queriam que ela parasse de despertar o caos daquele universo e por isso sempre apareciam onde ela estava.
As garras da criatura se fecharam ao redor de Harper, levantando-a do chão. Ela gritou, sentindo a dor lancinante onde as garras penetravam sua pele. Tentou se debater, mas os tentáculos eram fortes demais. O monstro a trouxe para mais perto, seus olhos grotescos fixos nela, e ela sentiu um medo avassalador se apoderar de seu corpo.
Ela estava sangrando e não conseguia fazer nada para parar, lágrimas cobriam seu rosto e o coração parecia que ia sair pela boca. Ela não queria que aqueles fossem seus últimos momentos.
— Não, não, não! — ela gritou, tentando invocar novamente a energia da joia enquanto se debatia tentando escapar. Mas a dor e o medo estavam impossibilitando se concentrar.
Foi então que ela viu uma luz familiar. Um portal dourado se abriu ao lado da criatura, e o Doutor Estranho surgiu, suas mãos brilhando com energia mágica, o Homem-Aranha logo atrás dele, lançando teias na estrutura que antes dava suporte ao telão. O Doutor Estranho não perdeu tempo, lançando feitiços que envolveram a criatura, fazendo-a soltar Harper e recuar com um rugido de dor.
Antes que Harper caísse no chão, Peter conseguiu a pegar, ainda pendurado em sua teia. Ele parou em um canto um pouco mais afastado, tentou a estabilizar no chão, ela ainda estava machucada, as suas pernas tremiam e as feridas em seus braços e ombros latejavam e sangravam. Peter não pode evitar em ficar preocupado.
— Harper, você está bem? — O Homem-aranha perguntou, enquanto a criatura se contorcia sobre o efeito dos feitiços do Doutor Estranho.
— Estou... Estou bem — Harper respondeu com dificuldade, tentando se levantar novamente. — Eu tenho que voltar para lá, ele não vai conseguir sozinho.
— Você está maluca? Perdeu completamente a cabeça? É claro que ele vai, além disso, você fez um discurso para mim não me machucar e olha só para você agora. — Peter disse, quase gritando, o que não era intencional. Ele não queria ser rude com ela, mas não podia deixar ela se meter em uma luta naquelas condições, mal conseguindo ficar em pé.
Harper observou enquanto Strange dominava a criatura com uma série de feitiços complexos. A criatura rugia e tentava se libertar, mas Strange era implacável. Ele criou uma prisão mágica ao redor do monstro, imobilizando-o completamente.
Strange murmurou, suas mãos movendo-se em padrões intricados. Mas em um movimento rápido, a criatura conseguiu quebrar a barreira mágica, estavam ficando cada vez mais mágicos.
— Não! - Ela disse em total impulso, se soltando do Homem-aranha e se jogando na direção de onde Strange lutava com o monstro. Mesmo ela estando consideravelmente longe, quando ela estendeu a mão por puro impulso, uma luz vermelha intensa envolveu a criatura, Strange aproveitou para repetir o feitiço de modo ainda mais rápido e assertivo e com um último rugido, ela desapareceu, sugada por um portal que se fechou rapidamente.
Harper se sentiu aliviada ao ver a criatura desaparecer, mas seu alívio foi substituído por uma dor lancinante em seu ombro ferido. Ela cambaleou, sentindo-se fraca e tonta. O Homem-Aranha correu até ela, preocupado, mas ela afastou sua mão com um gesto fraco.
— Eu... Eu estou bem — ela murmurou, tentando se levantar novamente. Mas suas pernas tremiam e ela parecia prestes a desmaiar a qualquer momento, enquanto estancava o fermento do ombro, que aparentava ser o mais fundo.
Peter olhou para ela com uma mistura de preocupação e culpa. Ele não queria tê-la gritado, não daquela maneira. Ele se aproximou dela, colocando uma mão em seu ombro com cuidado.
— Desculpe, eu... Eu não queria...
— Não... Não foi culpa sua — Harper disse, sua voz fraca. Ela olhou para ele, tentando sorrir apesar da dor. Ele suspirou e ajudou ela a se sentar, ainda sem tirar a máscara do Homem-Aranha e sem parar de observar o caos à sua volta. As pessoas haviam conseguido recuar, não tinha ninguém machucado ali perto, mas estava tudo destruído.
Antes que Peter pudesse responder, o Doutor Estranho se aproximou deles. Ele olhou para Harper, vendo-a tão machucada, e uma mistura de emoções cruzou seu rosto. Havia raiva, mas também preocupação e algo mais. Algo que ele não queria admitir para si.
— Você foi imprudente, Harper — Strange disse, sua voz severa. — Você não está pronta para enfrentar essas ameaças sozinha.
— Eu estava tentando ganhar tempo, aquele monstro me queria!
— Não, ele não queria você, queria apenas destruir o que estivesse na frente, e é exatamente por isso que você não deveria ter entrado na frente. Você não está pronta. — Strange disse com firmeza, quase um pouco de arrogância na voz. Peter não gostou de Strange estar repreendendo Harper daquela forma, mas Peter também não tinha informação o suficiente para entender a conversa dos dois e o que o Doutor Estranho queria dizer com ''estar pronta''
Strange olhou para a garota, machucada e exausta, não pode evitar ficar preocupado, principalmente quando ele notou que ela realmente ajudou, mesmo que nem ela tenha se dado conta. Ele suspirou e tentou falar mais calmamente, sendo o único adulto no local, não queria piorar as coisas, ele já conseguia ver que Peter e Harper estavam tensos o suficiente.
— Harper, pelo amor de tudo que é sagrado, o que você estava pensando? — ele perguntou, sua voz carregada de preocupação e frustração. Ele cuidadosamente examinou suas feridas, uma aura de energia dourada irradiando de suas mãos enquanto ele começava a curar seus machucados.
Harper tentou formar palavras, mas tudo o que saiu foi um gemido de dor. Ela se sentiu fraca e tonta, a adrenalina desaparecendo rapidamente de seu sistema. Peter, que assistia à cena com uma expressão de culpa, se aproximou lentamente. Ele estava se sentindo péssimo por gritar com Harper, especialmente vendo-a tão machucada agora. O Parker tentou pedir desculpas novamente:
— Harper, me desculpe, eu não queria... — ele começou, sua voz cheia de remorso.
Mas antes que ele pudesse terminar, Strange se virou para ele com um olhar afiado.
— Você acha que é a hora de pedir desculpas, Parker? — ele disse, sua voz fria como gelo. Strange voltou sua atenção para Harper, terminando de curar suas feridas. Ela sentia os machucados queimarem, mas, ao mesmo tempo, a força voltava para seu corpo, mesmo ela já sabendo que aquilo provavelmente era temporário. Ele então a levantou com cuidado, olhando-a nos olhos com uma intensidade que fez Peter se encolher sem entender o que estava acontecendo ali, ele nem sabia desde quando Stephen Strange era próximo de Harper.
— Você está bem agora? — Strange perguntou, sua voz suavizando um pouco.
Harper assentiu fracamente, sua cabeça girando com a vertigem.
— Estou bem, obrigada, Stephen — ela murmurou, seu tom de voz baixo e cansado. Ainda irritada, não com eles, mas com a sequência de acontecimentos e com o fato deles estarem em cima dela agora, e também por Strange ter sido bem desnecessariamente ignorante com Peter.
— Ótimo. Vou te levar para o Sanctum Sanctorum para cuidarmos propriamente dos seus machucados, além disso, precisamos ter uma conversa sobre... - Ele ia terminar de falar, mas ela o cortou, o olhando irritada.
— Para de agir como se fosse meu pai! Estou bem! — Ela disse sem pensar, na verdade, ela não queria ir para o Sanctum Sanctorum, ela só queria ficar sozinha e pensar em como ia explicar para Peter toda aquela conversa que ele estava presenciando.
— Isso não foi um convite, Harper. Você vem! — Strange disse firme, mesmo depois de um minuto em silêncio processando as palavras dela. — E você Parker... — Ele pensa em alguma missão para dar para Peter, mas nada lhe ocorre. — Vai para casa, garoto.
Strange se amaldiçoou mentalmente, ele era o mago superior, por que tinha que ficar cuidando de adolescentes? Primeiro Peter, depois Lilian e agora Harper. E o pior de tudo é que ele se sentia muito conectado a Harper, e por mais que ela negasse, ele não podia ignorar o fato de que ela era a filha que ele não teve. Ou que teve e nunca conheceu e acabou dando fim à própria vida. Ela era uma variante da filha dele e ele não queria que ela tivesse o mesmo fim que a variante daquela realidade teve.
Peter tinha muitas perguntas para fazer para Harper, e ainda estava incomodado por ter gritado. Ele também queria ficar a sós com ela, mas por hora concordava que talvez fosse mais seguro para ela ir com Strange. Ele soltou um suspiro frustrado enquanto o mago abria um portal.
Strange lançou um olhar firme para Harper, ela se despediu de Peter com um olhar e um aceno de cabeça e acabou entrando no portal, mesmo contra a própria vontade. Afinal, levar bronca do Doutor Estranho ainda parecia menos ruim do que ter aquela conversa com Peter agora.
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