006
Harper levantou correndo e fechou a porta como se alguém fosse ver ou ouvir o que estava acontecendo ali dentro. Lilian havia descoberto a identidade do homem aranha. Harper realmente não achava que ela fosse uma ameaça mas ainda achava que não era para ter acontecido. Preferiu ficar quieta enquanto Lilian e Peter conversavam animadamente sobre coisas de herói.
- Você vai nos ajudar, não é? - Lilian perguntou, o cérebro de Harper tinha simplesmente desligado por alguns segundos, ela não havia prestado atenção em nada que os dois conversaram.
- Ajudar?
- A lutar com os monstros! Você não ouviu nada que eu falei? O Doutor Estranho esta agora fazendo um ritual bizarro para descobrir de onde o poder de ressuscitar mortos esta vindo! E quando ele descobrir, nós vamos formar uma equipe!
- Ele disse isso? - Harper perguntou.
- Não a parte da equipe, isso sou eu que estou dizendo, mas quanto mais melhor, não é? E você luta super bem! Deu uma surra no zumbi! - Lilian estava animada de mais.
- Ele me deu uma surra! E em você também, acho que não viu as coisas pelo ângulo certo. - Cruzou os braços, não conseguia entender de onde vinha tanta animação em lutar com criaturas quase decompostas mas estranhamente fortes.
- Ah que isso, você foi incrível, precisamos da sua ajuda! Nossa equipe será mais forte com você, você nem precisa de poderes, é corajosa e luta bem.
- Pode ser perigoso, não pode forçar ela a lutar. - Peter disse em um tom totalmente diferente do de Lilian.
- Deveriam deixar o Doutor Estranho cuidar disso! - Se levantou e foi para o seu quarto, aquela conversa já estava a cansando. Alertar que eles poderiam se machucar não era importante o suficiente para parar eles, então só podia torcer para que ficassem bem.
- Acho melhor eu ir embora. - Lilian falou baixo depois de ver Harper bater a porta. - Vou deixar vocês sozinhos, desculpe por atrapalhar, só vim ver se ela estava bem. - Falou um pouco chateada e saiu pela porta.
Peter ficou sem saber como agir. Que situação inédita. Caminhou até a porta dela e bateu levemente, como esperava não obteve resposta.
- Eu vou para casa, eu volto mais tarde se estiver tudo bem para você! Eu entendo que você não esta acostumada com esse tipo de coisa. Acredito que no Nebraska os mortos não saiam por ai atacando pessoas. Mas você não precisa lutar com eles, nem ficar preocupada. Eu não vou me machucar e a Lilian também não e mais que isso, você não vai se machucar, vou garantir que tudo fique seguro de novo.
- Só não se machuque, então. - Ela disse baixo mas perto da porta, Peter ficou até na dúvida se realmente tinha ouvido ou imaginado aquelas palavras.
Ele foi para casa como disse que faria e voltou algumas horas depois, bateu na porta e Harper atendeu casualmente como se nada esquisito tivesse acontecido mais cedo.
- Você já jantou? - Ela fez que não com a cabeça e Peter mostrou um balde de pipoca só que ao invés de pipoca dentro, seu conteúdo era frango frito. - A tia May fez frango frito e sobrou um monte, ela falou para mim trazer um pouco para você, o que foi ótimo porque eu ia precisar mesmo de uma desculpa para vir até aqui.
- Parece estar delicioso. - Ela sorriu animadamente sentindo água na boca, o cheiro também estava incrível. Deu espaço para Peter entrar e foi até a cozinha pegar uma garrafa de refrigerante que estava pela metade e dois copos. - Vamos assistir um filme?
Peter fez que sim, animado com a ideia, Harper parecia bem melhor agora e isso deixava ele mais tranquilo. Ela se sentou ao lado dele, servindo o refrigerante e ligando a tv. Harper cogitou colocar West Side Story mas Peter fez um olhar de quem não queria admitir de que não gostava de musicais, então acabaram colocando algum filme com exorcismo no titulo.
Começaram a comer prestando atenção total no filme, afinal filmes de terror necessitam de atenção extra para valerem a pena, a casa estava completamente silenciosa e para compor o clima Harper deixou as luzes apagadas. Não era a primeira vez que assistiam um filme juntos e o pensamento de que gostavam de fazer isso dessa forma passou pela mente de ambos.
Suas pernas se tocavam levemente, enquanto esperavam o suspense começar. Conforme o filme se desenrolava, a tensão no ar era quase palpável. Harper, instintivamente, agarrou o braço de Peter quando uma cena assustadora se desenrolou diante deles. Ele sorriu timidamente para ela, um pouco sem graça mas não tirou o braço dela dali.
Peter tinha a sensação de já ter visto alguns trechos daquele filme, talvez já tivesse visto na internet e por mais que fosse cheio de sustos e de cenas dignas de um estomago embrulhado ele não parecia chocado, pelo menos não nos primeiros 30 minutos do filme, depois disso se lembrou o motivo de preferir assistir Star Wars a filmes de terror.
Talvez fosse seus sentidos aguçados mas percebeu que Harper estava tão imersa ao filme que seu coração batia mais rápido do que o normal, principalmente em cenas onde ela ficava com medo de tomar um susto que as vezes nem vinha. Hesitou mas acabou passando o braço ao redor dos ombros dela, trazendo-a para mais perto, era um pouco clichê e constrangedor e ele não sabia se estava sendo invasivo mas ao ver ela se acomodando, percebeu que estava tudo bem. Não era nada demais.
Como da última vez, acabaram sentindo os olhos pesando e caíram no sono em algum momento mas dessa vez, quando Harper acordou não estava sozinha e coberta no sofá mas estava nos braços de Peter que também dormia despreocupado. Ela ouviu um grito na tv e o filme acabar mas não quis se mexer para procurar o controle, também escutou a chuva do lado de fora mas só fechou os olhos e dormiu novamente.
No dia seguinte, na hora de ir para escola Harper preferiu ir mais cedo. Vestiu uma calça de alfaiataria xadrez cinza claro, uma regata preta preta e uma jaqueta jeans oversize. Calçou um par de coturnos, pegou sua bolsa e foi, mandou uma mensagem para Peter pedindo que ele não a esperasse.
Não estava evitando ele, só queria passar um tempo sozinha com seus próprios (milhões) de pensamentos.
As primeiras aulas pareceram não ter fim, era como se todos os professores tivessem acordado extremamente inspirados a enche-los de conteúdos de uma vez só. Nem se quisesse teve tempo de conversar com Lilian ou Peter. Na última aula antes do intervalo, a professora de matemática anunciou dois projetos para arrecadação de fundos para as festas de formatura no final do ano. O primeiro era um show de talentos e o segundo um drive-in.
Metade dos alunos pareceu super animados a outra metade começou a reclamar mais que tudo. Quando a professora pediu voluntários para ajudar na organização, Harper levantou a mão. Ficou bem em dúvida no primeiro instante mas depois resolveu que era melhor se ocupar antes que acabasse ficando mais tempo com Lilian e Peter e o Doutor Estranho e mortos-vivos.
No intervalo ela não viu Lilian mas acabou se sentando com Ned e Peter como fazia todos os dias, eles conversavam animadamente, Harper participava da conversa mas não com tanta animação. O sinal tocou logo e ela foi direto para sala para mais algumas horas de cálculos que ela não estava entendo. Esse era o problema da matemática, você não entende uma coisa e de repente não entende mais nada nunca mais.
- Posso te ajudar a estudar, se você quiser. - Peter falou aparecendo atrás de Harper.
- Obrigada mas eu entendi a matéria, esta tudo certo. - Ela falou guardando os papéis dentro do caderno mas antes de guardar a última atividade ele a segurou.
- Você só acertou 6! - Ele falou como se fosse um absurdo.
- De 10! É mais do que a metade! - Ela pegou o papel da mão dele e guardou junto dos demais. Admitia que já teve notas bem melhores mas 6 dava para passar e ela nem sabia se ainda se importava com validação acadêmica. Não quando tanta coisa esta acontecendo.
- Vai para casa agora? Quer ir comer algo antes? - Ele perguntou animado mas ela fez que não com a cabeça.
- Me voluntariei para ajudar nos projetos de arrecadação de fundos, teremos a primeira reunião com os professores. - Explicou, pelo menos tinha uma justificativa de verdade.
- Entendi, posso te esperar se quiser.
- Não precisa, provavelmente vai demorar boa parte da tarde, não quero ocupar o seu tempo. - ela não esperou ele responder. - Vejo você amanhã! Tchau Peter, tome cuidado por ai! - Ela acenou e saiu pelos corredores da escola.
- '' Quer ir comer algo antes?'' - Ned apareceu dando um tapinha nas costas do amigo e afinando a voz. - Não é assim que se chama alguém para sair.
- Eu não estava chamando ela para sair! - Peter se defendeu. Ned fez uma careta e puxou Peter para fora da sala de aula também.
Foi interessante a reunião na escola, Harper precisava admitir. Foi pelo menos melhor do que ela esperava, mas também levou mais tempo que esperava.
Deixou suas coisas em seu armário, conectou o fone de ouvido no celular e deu play no aleatório, seu celular estava com a tela trincada graças ao acontecimento do dia anterior mas pelo menos ainda funcionava normalmente.
Cantarolava a música que tocava enquanto saia da escola já vazia pensando que realmente estava animada com os assuntos da reunião, e fazia muito, muito tempo que ela não se animava assim em relação a projetos estudantis.
Enquanto caminhava pela rua movimentada, uma garota notou outra garota caída no chão. Intrigada e preocupada, ela se aproximou rapidamente para ajudar.
- Você esta bem? - Agachou na altura da menina, que começou a se contorcer, essa foi ficando cada vez mais pálida enquanto sua pele parecia derreter sobre seu rosto, sua forma humana se distorcendo gradualmente em algo muito mais sinistro.
Sua boca, nariz e olhos desapareceram, só um olho apareceu no meio de seu rosto e ele era laranja. Harper se pois de pé rapidamente recuando, se amaldiçoando pois esse tipo de coisa continuar acontecendo com ela. Era como se fosse um ima para coisas ruins.
E antes as coisas ruins eram apenas humilhações da vida, agora estavam se tornando "coisas ruins" no sentido criaturas sobrenaturais aparecendo e a atacando. O que era muito pior.
Sem muita opção, procurou algo que pudesse ajudar a se defender, seus olhos pousaram em um pedaço de madeira quebrado próximo a ela. Sem hesitar, ela agarrou a peça, sentindo sua textura áspera em suas mãos trêmulas. Era como se ela pudesse prever que seria atacada e não demorou muito para que realmente fosse, ela devolveu batendo com a madeira na cabeça da criatura que continuava a se contorcer como se estivesse aumentando de tamanho, seu corpo também já havia deixado de ser humano e seus braços eram como tentáculos que tentavam a acertar.
Seus movimentos eram rápidos e desordenados, mas carregados de uma força sinistra. Harper evitou os ataques furiosos da criatura com seus bons reflexos ainda dando alguns golpes no monstro que agarrou sua madeira com um dos tentáculos e espremeu ate que não sobrasse nada. Harper xingou baixinho e correu na direção oposta mas logo sentiu as garras pegajosas envolvendo seu corpo.
Com seu corpo envolto pelas garras pegajosas da criatura, Harper lutava freneticamente para se libertar, se contorcendo e chutando da forma que era possível mas já estava sentindo o ar ficando denso quando notou um portal se abrir e o Doutor Estranho aparecendo mais uma vez com sua capa flamejante que saiu do seu redor para estapear a criatura, com um movimento ágil de suas mãos, ele conjurou algo como um feitiço de energia mística, atingindo as garras da criatura e libertando Harper. Com um grito de alívio, ela se afastou rapidamente.
O Doutor Estranho concentrou sua energia mística, formando símbolos complexos com as mãos enquanto recitava palavras em uma língua antiga. Um feitiço poderoso tomou forma e foi direcionado ao monstro, sua energia mágica brilhante e intensa envolvia a criatura, enfraquecendo-a gradualmente. Com um último golpe decisivo, o Doutor Estranho derrotou completamente o monstro. O ser sinistro desfez-se em fragmentos de sombras e dissipou-se no ar enquanto a escuridão que o cercava se desvaneceu, revelando a garota caída no chão.
- O-obrigada! - Harper falou meio tremula e se levantou, se colocando de pé e limpando as mãos na roupa, ela não conseguia nem piscar encarando o Doutor Estranho que deixou de levitar para se aproximar, ficando frente a frente fazendo ela ter um deja-vu do dia que entrou na casa dele com Peter atrás de Lilian.
- Preciso que venha comigo dessa vez. - Ele falava sério, mas não como se estivesse bravo, ela sabia que não tinha para onde fugir dessa vez e também acreditava que não tinha um motivo para fugir, fez que sim com a cabeça, viu ele abrir um portal e o seguiu.
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